Click! et Brille escrita por Biax, EsterNW


Capítulo 15
Pingos nos i's




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Era incrível como em quase um mês trabalhando na agência, não encontrei Nathaniel pessoalmente nenhuma vez. Porém, parecia uma brincadeira do universo que eu encontraria meu chefe justamente na primeira vez que eu voltasse à agência após toda a treta no Fulano na terça. E eu nem ia fazer casting ou shooting nenhum, pra piorar.

Me chamaram pra ajustar algumas medidas pra um dos próximos shootings que eu faria — e não foi daquela vez que eu encontrei Leigh, o estilista famoso que apenas eu não conhecia e noivo da Rosalya, só uma assistente dele — e resolvi esperar a Júlia terminar o trabalho para irmos embora juntas. Ela estava fotografando alguns modelos sabe-se lá pra quê.

Ah é! Nathaniel Bonnet.

O meu chefe/amigo de cantina/talvez galã de filmes românticos apareceu na recepção, provavelmente vindo da sala dele no segundo andar. Nath ergueu as sobrancelhas assim que me viu sentada no sofá dos visitantes, praticamente ignorando a pobre da Amália, a secretária, que tentava conversar com ele sobre alguma coisa.

— Marimar? — Ele se aproximou de mim, a surpresa desaparecendo aos poucos dele.

— Oi... Bonnet — corrigi o cumprimento, chamando-o pelo sobrenome. Será que pegaria mal eu chamar meu chefe pelo primeiro nome em pleno ambiente de trabalho?

A torta de climão se instaurou entre nós, tanto que a Amália muito bem poderia trazer talheres para pegar um pedaço. Porém, a mulher parecia mais ocupada em digitar algo no computador dela, totalmente alheia ao momento novelístico bem ao lado.

— Você não vai participar do shooting? — questionou, muito provavelmente ciente de tudo o que acontecia na agência dele. Ou quase tudo.

— Não dessa vez — respondi baixo e limpei a garganta, pra tentar voltar ao normal. — Só vim ajustar umas medidas pro meu próximo shooting e estou esperando a Júlia. 

— E como ela está? — questionou, sentando-se no lugar ao meu lado no sofá. — Parecia um pouco... Abalada depois do que aconteceu.

Assim que Nath ocupou o lugar ao meu lado, Amália passou a digitar com um olho na tela do computador e outro na gente, muito provavelmente querendo pegar uma fofoca em primeira mão. Bonnet percebeu para onde eu olhava e quase pegou a secretária no flagra, mas ela desviou o foco de volta para o trabalho, digitando sem parar no teclado.

— Quer um café? — ofereceu, se levantando.

— No Fulano? Mas eu tenho que esperar a Júlia.

— Na cozinha do segundo andar — explicou e eu me censurei por esquecer do óbvio. Parabéns, Marimar, passando vergonha desde sempre.

Acabei aceitando — porque era inegável que a gente precisava conversar — e subimos juntos as escadas para o segundo andar.

— Ela tá bem, sim — respondi sua pergunta anterior enquanto passávamos pelo corredor, com a porta fechada na sala onde a Júlia editava as fotos com os outros.

— Fiquei preocupado pelo jeito que vocês duas saíram da cantina naquele dia — disse, abrindo a porta da cozinha e deixando que eu entrasse. Nathaniel era um gentleman em qualquer lugar.

— Tá tudo bem, sério — garanti com um sorriso falso de propaganda e pareceu que surtiu um pouco de efeito, com ele encerrando aquele assunto e pegando um café da máquina.

Me entregou o copinho quente e me encostei na bancada oposta.

— E você? Não foi ao Fulano ontem — comentou, pegando um copo de café para ele próprio e parando ao meu lado.

— Estava ocupada — menti, dando um sorriso amarelo e aparentemente não convencendo ninguém daquela vez. Nathaniel arqueou uma sobrancelha e eu bufei. — Só é estranho, sabe? Sair com o ex da minha amiga. Tá que vocês não eram namorados ou coisa séria assim, mas vocês tinham um lance e ela gostava de você. — Mordi a língua quando soltei a informação do final. — E você também gostava dela — tentei consertar.

Nathaniel abriu a boca, abaixando o copo de café e eu continuei.

— Não sei, mas eu sinto como se tivesse traindo ela, sabe? Tá que não tem mais nada e tudo mais, mas é estranho, entende? Não sei, eu acho que vou ficar pensando em vocês dois quando eu estiver sentada com você lá no café. Eu sei que é só uma amizade e tudo mais, a gente é só amigos e tudo mais...

— Mari — Bonnet interrompeu meu momento monólogo sem plateia. 

Bebi mais um gole do meu café pra parar de falar. Quem tomava um café amargo daquele jeito?

— Tudo bem se você não se sentir à vontade para voltar a se encontrar comigo, eu entendo — ele acalmou, com direito a uma mão como se dissesse “calma”.

— É mesmo?

Ele assentiu, terminando de tomar o café e ficando com o copo na mão.

— Apenas saiba que eu ainda vou ao Fulano. Então, caso queira conversar, estarei lá no horário de sempre. — Ainda terminou me oferecendo um sorriso de menino moço.

— Não precisa, Nath — tentei convencê-lo. — Você deve ser ocupado e não precisa ficar todo dia indo lá... — Quando ele estava prestes a dizer algo, foi que eu me lembrei da primeira vez que nos encontramos. — Você já ia lá antes, né? Então esquece essa última parte.

Nathaniel riu, jogando o copo de plástico vazio no lixo. A porta da cozinha se abriu, entrando dois modelos aleatórios mais o Castiel, com as mãos no bolso da roupa preta que ele sempre usava, o rockeiro raiz.

— Até outro dia. — Nathaniel se despediu com um aceno de cabeça e aquele sorriso encantador dele. 

Observei-o sair e ir embora, sequer me dando conta que o lugar em que ela estava antes foi ocupado.

— Tá tudo bem com você? — Virei o rosto na hora que ouvi a voz, vendo Castiel me observar com um copo de café na mão e o celular na outra.

Pisquei algumas vezes, tentando processar o que estava acontecendo. Era brincadeira encontrar os dois crushs um atrás do outro?

— Claro. — Sorri sem graça e com certeza não convenci. Mas Castiel não era do tipo que parecia insistir com gente que não era próxima e apenas assentiu, voltando os olhos para o celular.

Os dois modelos aleatórios sentaram-se à mesa com seus cafés e conversando qualquer coisa em um idioma que eu não fazia ideia de qual era.

— O shooting já acabou? — questionei e recebi uma resposta afirmativa. — Tava esperando a Júlia. 

— Faz alguns minutos. Ela deve ter ido levar o cartão para a edição — explanou, bebendo distraidamente do café e digitando no celular com apenas uma mão. O que tanto ele conversava naquele negócio? Era a segunda vez que eu o via com os dedos se movimentando sem parar naquilo. 

Bebi de uma vez o que tinha no meu copo e fiz uma careta quando senti o gosto amargo. Deviam arranjar uma cafeteira melhor. Talvez não fosse má ideia pedir para Nathaniel trocar… Não, espera, sem Nathaniel. 

— Que cara é essa? — Castiel me trouxe de volta pra realidade. — Nunca provou café puro? — riu, tomando do copo dele e jogando o plástico vazio no lixo.

— Não é culpa minha se vocês têm uma máquina que faz um café ruim desse jeito — reclamei, cruzando os braços. — Você devia falar pra comprarem uma melhor.

— E o que te faz pensar que eu tenho essa influência toda? — devolveu com uma sobrancelha arqueada, finalmente tirando os olhos do celular e mirando diretamente pra mim. Agora eu entendia porque ele olhava tanto pra aquele celular. Talvez fosse pra não hipnotizar as pessoas desavisadas. Ou talvez o problema fosse eu mesma.

— Ah, sei lá… — Dei de ombros, meio sem jeito de tratá-lo naquele modo fangirl. — Vou ver se a Júlia já tá indo embora. — Dei uma escapada, sabendo que eu ia estragar tudo se continuasse ali.

Ponto para mim, que estava conseguindo me controlar um pouco melhor perto dele.

Castiel se despediu de mim apenas com um aceno de cabeça, voltando a olhar para o celular e eu acenei para o vácuo.

Sai da cozinha e parei do lado de fora da sala em que Júlia, os demais fotógrafos e um outro povo trabalhava. Esperei alguns minutos até que a porta se abrisse e minha amiga em pessoa saísse de lá.

— Jú! — exclamei, sequestrando ela de se despedir dos seus colegas. — Mais um pouco e ia achar que você tinha ido embora.

Enlacei meu braço no dela e começamos a descer as escadas para o térreo, com a bolsa no ombro dela balançando.

— Ué, que você tá fazendo aqui? — ela perguntou aparentemente confusa. — Pensei que só fosse vir pra ajustar as medidas.

— Eu avisei que ia te esperar pra gente ir embora juntas. Você não leu a mensagem? — Acenamos em despedida para Amália e saímos na rua. — Que tal um sorvete na rua de trás, hum? Até hoje você não experimentou os sorvetes de lá, e aproveitar que por enquanto ainda tá calor.

Sim, eu estava comemorando que ainda tínhamos alguns dias de calor antes do outono começar a chegar. Mas pelo menos não estava tão insuportável quanto antes e podíamos caminhar pelas ruas sem a sensação de estar em uma grande sauna.

— Minha bateria descarregou — explicou e mudamos o caminho antes que virássemos a rua de trás, ainda de braços dados e seguindo na direção da estação de metrô. — E eu tenho aula hoje, Mari. Vai ter que ficar pra outro dia — sugeriu naquela cara que só a Júlia tinha de "sinto muito".

— Mas então, como foi o trabalho hoje? — Mudei de assunto repentinamente enquanto atravessávamos a rua. — Tirou muitas fotos? Falando nisso, de que propaganda era mesmo? Vi o Castiel quando estava na cozinha…

— Normal; sim; moda outono-inverno de uma marca de roupas; e o que você estava fazendo com o Castiel na cozinha?! — respondeu cada uma das minhas perguntas em ordem, mostrando-se surpresa com a última.

Entramos para o subterrâneo da estação e fomos obrigadas a dar adeus à luz do sol por alguns minutos. Lá embaixo era um formigueiro e com a voz chata anunciando coisas no alto falante.

— Ah, só fui lá tomar um café e ele entrou, daí a gente ficou conversando — expliquei e paramos em uma das plataformas. — Você sabia que aquele café é tão amargo? Alguém tem que falar pra trocarem aquela máquina.

— Sei… — estendeu a sílaba, me olhando como se soubesse que ali tinha.

Às vezes eu me perguntava se todo esse modo zen da Júlia dava algum tipo de habilidade especial, como perceber quando a gente estava agitada ou estranha demais. Ou talvez ela fosse só perceptiva mesmo.

— Encontrei com o Nathaniel e a gente tomou um café na cozinha — expliquei simples, sem dar detalhes.

O metrô chegou e entramos junto de um pequeno bolo de gente. Pra nossa sorte, encontramos dois lugares vazios e nos sentamos, o subterrâneo escuro passando rápido do lado de fora.

— E o que ele disse? — ela perguntou, claramente interessada.

— Ah, nada demais. Só perguntou se você tava bem… — Não deixei de perceber quando Júlia sussurrou um "fofo". É, eu não era tão desatenta assim. — E se eu estava bem, porque não fui no Fulano ontem, e disse que ia continuar indo lá e que eu sabia onde encontrar ele, caso quisesse voltar a conversar.

— E por que você não vai voltar a conversar com ele? — Júlia questionou de supetão, esquecendo a parte fofa da história.

— Porque ele é seu ex, Jú! Ex peguete — corrigi antes que ela o fizesse. — Mesmo que a gente seja só amigo e tudo mais, vou ficar pensando em vocês dois quando estiver com ele.

— Tá tudo bem com isso, Mari — ela tentou tranquilizar, colocando a mão sobre o meu braço. — Sério, tudo bem vocês dois continuarem se encontrando no café.

— Ah, sei lá! — exclamei, batendo o pé no piso de metal, impaciente e querendo andar pra lá e pra cá. — Melhor deixar pra lá. Quem sabe o Nath encontra outra pessoa legal, que não meta ele nesse rolo todo.

Júlia apenas suspirou e balançou a cabeça, preferindo não insistir no assunto. A voz mecânica anunciou a estação, o metrô começando a diminuir a velocidade.

— Vem, senão você vai esquecer de descer na estação certa de novo.

Júlia ficou de pé e saímos, mesmo que eu reclamasse que nunca fiz isso.

Bem, talvez uma vez...


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Notas finais do capítulo

Ester:
Parece que agora tudo resolvido, né? Só resta ver o que vai sair desse triângulo amoroso + rolo todo xD
Até mais, povo o/

Bia:
Se vocês fossem a Mari ou a Ju, como reagiriam diante desse rolo todo? Fiquei curiosa agora xD
Até mais o/



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