Building Blocks escrita por Bia


Capítulo 3
Bloco 1: Confiança




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Bloco 1: Confiança

— Sem histórias hoje?

Rony questionou na sexta-feira seguinte, balançando a garrafa vazia em cima da mesa do bar. Estava perto da hora de irem  para casa e, até agora, sua conversa com o Potter não estava muito animada e nem ido além de trivialidades.

Harry engoliu a cerveja lentamente, arqueando a sobrancelha.

— O que quer dizer?

Deixando a garrafa de lado, o Weasley se curvou sobre a mesa cruzando os braços.

— Pensei muito no que me disse da última vez... Sobre o meu relacionamento com a Lilá, sobre companheirismo e essas coisas...  Bem, talvez você tenha razão.

O Potter encarou o amigo. Os olhos verdes estavam brilhando com uma satisfação mal disfarçada enquanto unia as pontas dos dedos, exatamente como Dumbledore. Esperou em silêncio.

— A verdade é que...  — o ruivo coçou a nuca, incômodo. — A verdade é que fiquei com raiva de toda aquela conversa e  acabei desabafando com Gina. Você não ficará surpreso ao saber que ela me disse que concordava com tudo, com cada palavra e que, como meu amigo, você tinha demorado muito para me trazer para realidade.

— Gina é uma mulher incrível. — disse Harry dando de ombros. — Ela tentou te trazer para a realidade muito antes de mim, na escola... Mas por algum motivo você nunca escutava.

Por algum motivo, Rony repetiu mentalmente, devagar. Sabia que, de forma sutil, o amigo estava lhe fazendo uma nova crítica. Recusou-se a pensar nisso. Seu interesse estava em outro assunto no momento.

— E então, conselheiro amoroso, o que me diz hoje? Qual será a sua segunda lição? — ironizou, mas não conseguiu disfarçar o entusiasmo.

Potter fez uma careta, provavelmente se questionando se aquele seria seu mais novo apelido. Depois relaxou os ombros e disse:

— Bom, não sei.

Rony quase caiu da cadeira, surpreso. Honestamente e apesar de tudo, estava disposto a aprender, a enxergar seus erros, consertá-los. E, se Harry estava disposto a ajudá-lo com isso, deveria tentar. Remexeu-se desconfortável e fez sua melhor expressão de descrença.  

— Pois eu acho isso realmente impossível. Te conheço, sei que quer me dizer algo.

Harry jogou a cabeça para o lado, fingindo-se ofendido e fazendo o amigo rir. Por fim, cedeu.

— Ok, ok. Você é extremamente desconfiado, Rony.

O Weasley, por sua vez, não precisou fingir:

Eu?!

— Sim. Você desconfia de todos, Rony! Amigos, família, namorada, coruja...

O ruivo se defendeu, negou com a cabeça e as mãos.

— Isso é absurdo!

— Por que me pergunta as coisas se não está disposto a ouvir? — Harry perguntou calmamente, erguendo as sobrancelhas.

— Ok, ok. Desculpe. — Rony bufou. — Então, conte. Na sua visão, eu sou desconfiado?

— Você é desconfiado. E isso não é um ponto de vista.

— E o que faz pensar assim? — perguntou em desafio.

Harry olhou para sua própria garrafa e bebeu antes de continuar. Rony quase pôde ouvir as engrenagens girando loucamente debaixo dos cabelos negros; ele estava desviando-se para achar uma forma de colocar em palavras gentis algo difícil de dizer.

— Bem, podemos usar o exemplo da Lilá, novamente. Ela sempre tinha que provar coisas para você, Rony. Coisas que não deveriam ter que ter comprovação. Era meio doentio.

— Ora, vamos, Harry. — exclamou exasperado, batendo na mesa. — Vai me dizer que você nunca, nunquinha desconfiou de Hermione ou ela de você?

— É claro que já houve desconfiança.

— Olha aí.

Foi algo estúpido, mas aquele momento foi sublime para Rony. Tinha conseguido vencer Harry em um ponto além de destruir um pouco seu relacionamento perfeito. Deveria saber, no entanto, como melhor amigo do Potter que ele não se rendia facilmente.

O escolhido curvou-se sobre a mesa e falou de forma categórica:  

— Sim, é claro que já houve desconfiança e de ambas as partes, mas sempre percebíamos o quanto era ridículo e de que esse era o caminho para o fim.

Rony fez careta e cruzou os braços, incrédulo, sem se importar por estar parecendo um menino de cinco anos.

— Escute, quando a confiança morre, o relacionamento morre. Hermione nunca me deu nenhum motivo para desconfiar dela, assim como Lilá, até onde sei. Cada vez que você desconfia de uma pessoa sem nenhum motivo, só acreditando em vozes da sua cabeça, acaba desacreditando do sentimento que essa pessoa tem por você. Não é bom pra nenhum dos dois. Você ficará sempre em estado de alerta e a pessoa fica constantemente com medo de você achar que ela mentiu.

—Ah! É? E como você sabe de tudo isso, senhor confiança?

Harry soltou um riso forçado. Apoiou o cotovelo esquerdo na mesa e a cabeça na mão.

— No começo do nosso relacionamento... — disse com o olhar distante. Parou durante alguns segundos reflexivos. Limpou a garganta e prosseguiu:

— Como você sabe, no começo do nosso relacionamento, Hermione e eu decidimos deixar tudo às escondidas. Naquela época seria muito arriscado assumir que nosso laço se estendia pra lá da amizade e eu não estava disposto a arriscar. E, como você também sabe, Hermione não era muito popular e eu, por outro lado... E tudo por causa da minha cicatriz, minha história. A adolescência estava no auge e as meninas queriam se aproximar; achavam que eu estava solteiro, então não existia nenhum impedimento. Tentei ser simpático e desinteressado ao mesmo tempo. Foi uma fase complicada...

Harry ficou novamente em silêncio pensativo e Rony estava quase abrindo a boca para exigir uma explicação, quando o Potter tornou a falar:

— Foi na época da Armada de Dumbledore... E, bom, desde que a Armada iniciou, nossos encontros começaram a parecer o inferno. Hermione estava cada vez mais fria, mais distante e, por mais que eu perguntasse, ela não me dizia o porquê. Isso me deixou nervoso. Um dia explodi e disse que, se ela queria terminar, era melhor que fizesse de vez. Ela ficou furiosa e retrucou dizendo que com certeza terminaria, pois se recusava a ficar com um homem que não era fiel. — parou exasperado, deslizando a mão no cabelo. — O engraçado é que as pessoas acham que ciúmes, desconfiança, é o  que move o relacionamento... Mas é uma mentira tão idiota. Eu nunca me senti tão chateado e era visível que Hermione sofria o que, obviamente, não era o meu objetivo. Ela me disse que sabia sobre meu beijo com Cho. Eu neguei umas cem vezes, disse que isso não tinha acontecido. Ela não acreditou e...

— Calma, calma. — Rony interrompeu, confuso. — Então você não beijou Cho Chang?

Harry revirou os olhos.

— Não, eu não beijei Cho Chang.

— Eu podia jurar que vocês tinham dado uns amassos naquela noite em que ficaram sozinhos, depois das aulas da Armada... — admitiu perplexo.

— Sim, em uma das noites ficamos sozinhos; descuido meu, admito. Ela chorou e tentou me beijar mas me afastei.

— E nunca me contou?

— O que isso importa?

— Nada, nada. Continua a história.

— E terminamos. Fiquei deprimido e furioso por ela não acreditar no que eu estava dizendo. Ela me disse que não poderia ficar com alguém em quem não confiasse e eu respondi que era eu quem não poderia ficar com uma pessoa que não confiasse em mim.

— Ah! Eu me lembro que depois dessa noite com a Cho você ficou insuportável por uns tempos. ­— Rony comentou rindo, recostando-se na cadeira. — Foi por isso...Eu pensei que fosse por causa de seus hormônios juvenis.

O Potter arregalou os olhos e torceu a boca confirmando.

— Sim, isso também não ajudou.

Rony permaneceu em silêncio para ouvir o restante do relato e, simplesmente, não pôde acreditar em seus olhos ao testemunhar Harry corando. O olhar brilhante na garrafa de cerveja, as bochechas muito vermelhas.

— Para a minha sorte, Hermione sempre foi muito madura e sábia. Ela matou uma aula para podermos conversar. Fomos para a sala Precisa e, antes que eu pudesse vencer meu orgulho e jurar que não tinha acontecido nada entre Cho e eu, ela me pediu desculpas. Me disse que estava lendo livros sobre relacionamentos e percebera como agira de forma injusta; que não devia ter desconfiado de mim e pulado no meu pescoço sem que eu pudesse me defender. Principalmente quando não existiam motivos concretos para desconfiança. Explicou que se sentia insegura e que isso não tinha nenhuma relação comigo, pois eu sempre fazia com que se sentisse única e especial. Era um problema dela e que ela resolveria. Jurou estar apaixonada e arrependida, entrelaçou nossos dedos e afirmou que, se quiséssemos andar de mãos dadas e ir em frente, não deveríamos ter os pés atrás.

— Uau. — o Weasley comentou por fim e voltou a balançar a garrafa de cerveja. De certa forma isso o acalmava. Não gostava de pensar que não se tinha dado a chance de ser como Hermione, de ter tanta coragem. — Leu um livro, nada mais Hermione.

Harry gargalhou jogando a cabeça para trás.

— Sim, realmente. É claro que tudo não se transformou da noite para o dia. Tivemos várias derrapadas ao longo do caminho, vez ou outra ainda temos, mas também mantemos em mente que, se desejamos permanecer juntos, esse não é o caminho certo. O que eu estou dizendo, Rony, é que relacionamentos são baseados na confiança, se você não tem isso, não tem nada.


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