Akai ito escrita por R Marxx


Capítulo 18
Porcos não soam


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal, tudo bom?

Ando me sentindo especialmente inspirada para escrever essa fic nos últimos dias, tudo graças aos comentários de uma pessoa que fez meu coração ficar quentinho.

Parece que não, mas isso nos inspira e nos motiva bastante, por isso eu peço que, caso estejam ai, silenciosamente acompanhando a história, me de um oi nos comentários, me conte o que está achando, do que gosta, do que espera para a história, se tem algo a acrescentar ou só um "Iai, beleza?". Eu já agradeço do fundo do coração❤️

Espero que gostem do capítulo novo.
Um grande beijo!



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Quando acordei Jason já não estava mais na cama. Há um tempo atrás costumava ser ao contrário. Por conta das minhas dificuldades com meu sono desregulado eu tendia a acordar antes dele, mas ultimamente, graças a fatos já muito exemplificados aqui, eu tenho conseguido dormir muito melhor. Dessa vez talvez tenha sido a felicidade que me preenchia e atenuava tudo que costumava me impedir de ter uma boa noite de sono, mesmo que a ansiedade continuasse aqui, sempre a espreita, é como se ela tivesse perdido espaço e pouco a pouco se tornava mais obsoleta dependendo do contexto. Ou talvez fosse só o remédio que me capotou mesmo.

O cheiro do café dominava os cômodos. Essa era uma das vantagens de se ter uma casa pequena – a única junto da facilidade de se limpar poucos metros quadrados. Quando entrei na cozinha a mesa já estava posta e Jason havia feito o meu favorito: pão na chapa com queijo e orégano. Comemos em silêncio, como era confortável entre nós, mas eu sentia que ele estava remoendo algo. Ele parecia não ter decidido ainda como contar o que quer que tivesse para contar, então permaneci aguardando. Aguardei enquanto comemos, enquanto eu organizava a mesa, enquanto eu lavava a louça e o deixava sentado terminando de tomar seu café (a terceira xícara) e finalmente eu só aguardava, sentado em sua frente, respeitando o seu tempo.

“Bom dia amor”

“Obrigado por ontem. E por antes também.”

“Meu pai te amou e já queria te incluir no passeio de hoje (vamos para a praia), mas não se preocupe, eu te salvei dessa.”

“Ele gosta de me arrastar para praticar esportes estranhos em qualquer oportunidade que encontra, e decidiu que seria legal um aquático nesse frio desgraçado”

“Bom, a gente se vê amanhã.”

“Tudo bem eu continuar te buscando no café né?”

As primeiras mensagens chegaram as cinco da manhã, já a última tinha um intervalo de quase cinquenta minutos, como se ele tivesse hesitado bastante antes de manda-la. Ainda era meio incrível para mim pensar que Will, com toda sua “presença” e carisma sentia-se inseguro assim como eu – que não possuía nenhum dos dois.

“Bom dia amor”

“Eu que preciso agradecer, sério, foi uma das melhores pizzas que eu já comi. E eu tive a oportunidade de vivenciar um pouco como é ser um burguês safado, então muito obrigado por ter me convidado.”

“Na verdade, obrigado por ser presente na minha vida e por me convidar mesmo estando inseguro. As vezes eu posso hesitar sobre algo, e ter medo, e ficar ansioso, mas sendo com você eu quero tentar, apesar de tudo.”

“Dito isso, eu estou muito agradecido de você ter me livrado dessa hahahaha eu definitivamente não me dou bem com esportes aquáticos. De resto, eu posso dar uma chance. Agradeça seu pai por mim... eu gostei bastante dele também ^^”

“A gente se vê amanhã, caso você sobreviva a hoje.”

“E....”

“Por favor, continue vindo”

Quando bloqueei o celular e me voltei novamente para Jason, este tinha um sorriso divertido no rosto.

— Eu não preciso nem perguntar para saber com quem você estava falando. Quem diria que um dia Nico Di Ângelo sorriria para o celular dessa forma. – O puto gargalhou. E digo puto porque ele havia tirado uma foto de mim sorrindo para o celular que já estava enviada em seu chat com Piper.

— Eu preciso de cinco bons motivos para relembrar porque ainda somos amigos, sinceramente. – Suspirei. – Eu estou aqui te dando tempo para pensar, elaborar e começar a falar sobre a grande merda que você claramente tem para falar para mim e em contrapartida você está me expondo para sua namorada.

Meu drama pareceu surtir algum efeito nele, mais do que eu achei que surtiria, porque Jason normalmente era inabalável quanto ao seu papel de me expor a toda e qualquer oportunidade que surge. Sua cara se contorceu como na noite passada e ele soltou um suspiro pesado. Sua lamentação era quase palpável.

— Você está tão feliz. Eu realmente odeio ter que tocar nesse assunto que eu sei que vai tirar esse sorriso de você. Nunca pensei que fosse odiar tanto alguém como o odeio.

E eu não precisei de muito mais do que isso para saber de quem ele se referia. O ar se tornou rarefeito rápido, como se tivessem me catapultado diretamente para o topo do Monte Everest. Foi incontrolável a velocidade com que o fio se tornou rubro. Eu ainda não entendia muito bem o seu funcionamento, mas aquela avalanche de sentimentos que estava perpassando por mim o ativou involuntariamente. Não saberia dizer que tipos de sentimentos eu estava compartilhando agora, porque eu me sentia incapaz de senti-los verdadeiramente. Incapaz de absorver qualquer coisa. Incapaz de respirar.

— Nico. Eu tô aqui. Olha para mim. NICO! – Jason estava parado na minha frente, mais precisamente ajoelhado enquanto segurava minha cabeça por ambos os lados me forçando a encará-lo. – Você ta bem. Nós estamos em casa, você está seguro e você pode respirar. – Eu o encarei desesperado. Não, eu não podia respirar. – Você pode. Respira comigo. – E ele pousou a minha mão sob o seu coração, me fazendo sentir seus batimentos cardíacos muito mais estáveis que os meus, que eu sentia bombear sangue diretamente para os meus ouvidos.

Era a nossa técnica. Elaboramos ela durante nossos anos de convivência. Eu focava nos seus batimentos cardíacos e tentava igualá-los aos meus, ao mesmo tempo que que respirava em sincronia com ele. Jason puxava e soltava o ar teatralmente, para que eu pudesse segui-lo. E eu o fiz. E então eu estava respirando – embora verdadeiramente não tenha deixado de fazê-lo em momento algum.

— Vem, vamos para o sofá. – Jason me levantou e me guiou. – Desculpa, eu sabia que você não reagiria bem, e mesmo tendo pensado tanto sobre como falar sobre isso eu ainda te fiz ficar assim.

— Cala a boca. – Consegui murmurar e percebi que chorava quando uma lágrima adentrou minha boca. – Se eu não consigo controlar isso, você que é externo a mim nunca conseguirá também. Não é sua culpa. – Jason ainda parecia querer rebater. – Sério, se não fosse por você seria muito pior. É o meu cérebro o culpado. – Isso o fez sorrir um pouco. Continuamos juntos e abraçados durante um período até que eu me sentisse preparado para continuarmos. – O que meu pai fez?

— Ele veio a cafeteria outro dia. Logo depois de você ir embora. Pediu minha ajuda para falar com você.

— O que você disse?

— Nem ferrando. – Eu ri. – Eu não queria tocar no assunto com você, mas é seu direito saber. Até porque acho que dessa vez ele não vai desistir e uma hora vai te abordar de verdade, então é melhor você estar preparado. – Assenti em silêncio. – E também, é impossível esconder algo de você.

— É, isso é verdade. Sem falar que você é péssimo em esconder quando tem algo te incomodando. – Sua mão fazia carinho no meu cabelo. – Ele disse algo? – Perguntei depois de muito tempo.

— Disse que não sabia e que se soubesse não teria dito aquelas coisas. – Ele me lançou um olhar significativo antes de acrescentar. – E que te amava independente de você ser gay ou não. – Meu coração deu uma guinada violenta nesse momento e Jason apertou minha mão. – Também usou as desculpas de sempre, de que estava sem a medicação e por isso ficou tão irritado.

 - Algumas coisas nunca mudam certo? Se essa desculpa funcionou em todas as outras vezes porque não funcionaria agora. – Murmurei irritado.

— O que vai fazer? – A conversa já acontecia a mais de uma hora, apesar de não termos falado quase nada. Nossas pausas eram grandes, Jason respeitava meu silêncio e a dificuldade que eu tinha de digerir e absorver tudo.

— Eu tenho que fazer algo?

— Não, não tem. E eu te defenderei até o fim em qualquer escolha que tomar. – Seu sorriso brilhou em minha direção.

Eu amava o meu melhor amigo. Eu realmente amava esse puto.

Ficamos naquela posição – e provavelmente ficaríamos até que um de nós precisasse ir ao banheiro – até a campainha começar a tocar freneticamente. Jason levantou para atender uma vez que eu ainda estava em um estado de semiconsciência que normalmente me acometia após um ataque de pânico. E não era só a crise em si, e sim toda a informação sobreposta na minha mente que eu não queria entrar em contato com, pelo menos não agora.

— Nico? Você ta bem? – Quando me virei em direção a porta Percy Jackson entrava esbaforido e aos gritos. – O que aconteceu? De repente o fio começou a esquentar, foi a primeira vez que esquentou tanto. Eu cheguei a ficar até zonzo. Senti como se você tivesse morrendo, sério, foi assustador. Eu vim correndo, tipo, literalmente. Eu to suando frio que nem um porco no cio, embora eu tenha descoberto recentemente graças a minha sabidinha que porcos não soam. 

E ele desatou a falar. Percy era claramente uma pessoa que não sabia lidar com situações fora de seu controle, muito menos com estresse. Ele continuava discorrendo sem parar sobre coisas sem sentido mesmo agarrado a mim que nem um carrapato com a garantia de que eu estava vivo e não iria a lugar nenhum.

Percy Jackson era fofo.

***

Eu acabei contando a Percy sobre a situação. Foi meio difícil, mas Jason me ajudou – na verdade contou 100% da história e eu contribui com acenos. Ele não parecia saber como reagira tudo.

— Seu pai é um babaca. – Sussurrou contra o meu ouvido após me abraçar uma (o que eu esperava ser, pelo menos por aquele dia) última vez. Percy tentou esconder, mas seus olhos estavam marejados. – E você deveria mandar algo para Will, porque talvez... só talvez, eu tenha ligado meio desesperado para ele quando vocês não atenderam as minhas ligações.

Corri para onde estava meu celular e lá estavam: 23 ligações perdidas de Percy e 3 de Will. Cliquei na opção de retornar à ligação.

— Amor? Você ta bem? – Will parecia completamente exaltado no telefone. – Percy disse que você estava morrendo. – Acredito que o olhar que lancei ao dito cujo deu o recado de que ele era um completo sem noção.

— Eu to bem, juro. Eu tive um ataque de pânico, só isso. – Ele resmungou através do telefone “só isso”. – Mas eu to bem, de verdade. Vivo.

— O que aconteceu? – Ele enfim perguntou depois de uma longa pausa.

— Meu pai. – Respondi supreendentemente (para mim) sincero. Will continuou na linha esperando pelo que seguiria aquela frase, até porque ele não sabia sobre nossa relação conturbada. – Eu te conto tudo amanhã, pessoalmente. Vai vir me buscar, certo?

— Eu iria agora se pudesse. – Ele riu suavemente contra o meu ouvido e negarei que me arrepiei. – Nos vemos amanhã então. Posso falar com o Percy rapidinho antes? Ele está aí, certo?

— Sim, está. Vou passar para ele, até amanhã amor.

Não esperei pela sua resposta porque já estava ficando corado e era justamente na frente das hienas, então passei o telefone direto para Percy. Ele escutou bastante antes de responder algo.

— Sim, eu sei eu sei, desculpa primo. É que eu surtei um pouco, mas não vou mais dizer que acho que alguém está morrendo ao menos que alguém esteja realmente morrendo na minha frente. Prometo. – Percy parecia meio encabulado pela bronca ao devolver o celular para mim. – Eu esqueço as vezes o que aconteceu. Não acredito que fui um merda tão insensível assim, quero morrer.

— Insensível porquê? O que aconteceu?

Percy ficou acuado ao escutar a pergunta. Seu rosto demonstrava que havia falado mais do que deveria, de novo.

— Bom, aparentemente ele ainda não te contou. O que faz sentido, porque vocês se conheceram a pouco tempo e isso é meio que pesado, mas eu achava que depois do que aconteceu naquele jantar que ele não pode vir vocês tinham conversado. Claramente estou errado de novo.


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Notas finais do capítulo

É isso!!!! Espero nos vermos nos comentários ;)



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