Sempre Em Minha Vida escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 10
Capítulo 10 — A Despedida




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A noite não estava sendo fácil para Rosalie, nem mesmo para Emmett. Tão perto um do outro, sob o mesmo teto, após anos separados, e, ao mesmo tempo, tão longe um do outro.

O passado insistindo em fazer parte dos pensamentos, retornando em memórias.

Rosalie rolou na cama de um lado para o outro, pensando nele, desejando que o momento fosse diferente. Que a mágoa que os afastava agora, não existisse.

Recordou a forma como segurou sua cintura mais cedo, quando brincavam com Joshua de parque dos dinossauros. A maneira como olhou em seus olhos, deixou transparecer desejo e saudade. Desejou que ele a tivesse beijado.

Por um momento, chegou a pensar se teria acontecido caso Joshua não tivesse presente quando o momento surgiu. Por outro lado, sabia que não estariam os três juntos se não fosse por Joshua. Talvez nunca tivessem se separado se tivesse dito a ele a verdade ainda no início, em vez de ter terminado o namoro com desculpas, que mesmo ela, hoje julgava absurdas.

Não aguentava mais pensar nas possibilidades. Estava ficando louca.

Sentou na cama empurrando as cobertas para longe.

No quarto ao lado, Emmett fez o mesmo, sentando no colchão ao lado da cama de Joshua. Tentando não pensar no que poderia ter sido. Resistindo ao desejo de estar com ela. De fazê-la sua mais uma vez.

Na pouca luz, observou Joshua dormir. Pensar no tempo perdido, longe do filho, trouxe de volta a mágoa em relação à Rosalie. Não tinha o direito de privar pai e filho de estarem juntos.

Chegou à conclusão que a decisão de ficar para passar a noite não havia sido uma boa escolha.

Passado um momento, percebeu por debaixo da porta, luzes se acenderem no corredor. Ela estava também tendo dificuldades para dormir, imaginou. Quem sabe, tão atormentada quanto ele com o que estava sentindo.

Rosalie seguiu pelo corredor tendo o cuidado de não fazer barulho. Mal sabia ela que Emmett estava também acordado, notando seu passeio noturno pela casa.

Entrou na cozinha na intenção de tomar um pouco de água. Encheu um copo com água gelada, e os pensamentos em Emmett. Enquanto bebia, observou a escuridão do lado de fora pela janela. O céu estrelado, livre de obstáculos que interferissem em sua beleza noturna. O que a levou pensar nas noites em que ela e Emmett deitaram-se no gramado e ficaram observando as estrelas, idealizando um futuro juntos.

Tomou um susto ao perceber que Joshua chamou por ela num grito, dando a entender que estava com medo de algo. Largou o copo na beirada da pia, ele caiu de lá e quebrou.

— Mamãe — Joshua chamou uma vez mais. Ao tentar sair da cama, caiu sobre o corpo grande e forte do pai.

Emmett, assim como Rosalie, também se assustou com seu grito. Depois o menino caindo em cima de suas pernas, tateando tudo em volta como não soubesse onde estava.

— Mamãe.

Emmett o ajudou a sentar.

— O que aconteceu filho? — pediu, tentando enxergar o rosto do menino na pouca luz.

A porta do quarto foi aberta por Rosalie, espalhando a luz do corredor no interior do cômodo.

— Josh! — chamou por ele no desespero que chegou ali. Alcançando o interruptor, devolveu a claridade total ao ambiente.

— Papai — Joshua agarrou o pescoço do pai ao se dar conta que era ele quem estava ao seu lado. — Papai.

Emmett afagou suas costas. O olhar encontrou o de Rosalie, olhando-a sobre os ombros do menino.

— Josh. — Ela chegou mais perto. Ficando então de joelhos no colchão.

Emmett não pôde evitar notar o quanto estava atraente naquele pijama de seda num tom que beirava o marsala. Os cabelos louros, presos no alto da cabeça de maneira irregular.

— Você está aqui — murmurou Joshua, apertando os braços em volta de seu pescoço.

— Estou sim, filho.

— Pensei que eu tinha sonhado com isso — confessou Joshua. — Achei que não estava aqui de verdade.

— Eu estou aqui com você. Pode voltar a dormir tranquilo. Papai está com você agora.

— Ainda vai me levar na escola amanhã?

— É claro que sim. Eu prometi, não prometi?

Joshua desfez o abraço para ficar de pé no colchão.

— Mamãe, eu posso dormir no colchão com meu pai?

— Isso você tem de pedir ao seu pai.

Ele olhou para o pai novamente.

— Eu posso dormir com você no colchão, papai?

— Pode filho. Você pode, sim.

Satisfeito, Joshua se dobrou sobre a cama pegando o travesseiro e o cobertor. E também o dinossauro de pelúcia que há tanto tempo estava com ele.

— Quer ficar na minha cama, mamãe?

— Não, vida. Eu vou voltar para meu quarto. Se quiser ir para a cama da mamãe, você sabe que é sempre bem-vindo.

— Hoje eu quero ficar com meu pai.

— Tudo bem. Não tem problema algum em ficar com seu pai.

Ficou um pouco enciumada que Joshua preferiu ficar com o pai em vez dela. Mas tudo bem, devia isso a eles. Joshua dormiu tantas vezes em sua cama, era vez de Emmett cuidar dele. Lidar com seus medos e pesadelos.

Antes de deixar o quarto de Joshua, o viu colocar seu travesseiro ao lado do travesseiro do pai e se deitar. As cabeças ficaram bem próximas, os cabelos escuros do pai encostando-se aos cabelos claros de Joshua.

— Que tal se eu te contar uma história agora? — Emmett tentou. — Mas essa não seria de nenhum livro.

— Uma história inventada? — o menino quis saber.

— Digamos que sim.

— Maneiro — Joshua se alegrou com possibilidade de ouvir histórias inventadas pelo pai.

Rosalie não ficou para ouvir a história. O momento pertencia somente a eles.

[…]

Rosalie tentava dar um jeito nos cabelos de Joshua. Ele tinha penteado do seu próprio jeito, o que dava a impressão de estar sempre bagunçados.

Terminaram o café da manhã não fazia muito tempo. Agora, ela se despedia dele em frente a casa.

— Eu vou te buscar na saída — prometeu.

— Tá — resmungou Joshua, voltando a esfregar a mão nos cabelos que a mãe acabou de arrumar.

Emmett aguardava por ele do outro lado da cerca, encostado ao carro.

— Se comporte. Não quero ouvir queixas da parte da escola.

— Eu sei — o menino rolou os olhos, parecendo cansado de ouvir as mesmas coisas.

— Eu vi isso, mocinho.

Joshua suspirou. A mochila estava em suas costas, parecendo pesada demais para ele.

— Meu pai está esperando. Eu já posso ir? — pediu com impaciência.

Ajeitou as alças da mochila nos ombros dele, terminando com um beijo na testa.

— Te amo — ela murmurou.

— Também te amo — Joshua respondeu de volta. E, no minuto seguinte, correu para junto do pai, segurando sua mão antes de ele abrir a porta do carro. Joshua se acomodou no banco de trás e colocou o cinto.

Emmett foi até Rosalie falar com ela.

— Voltarei para Raleigh, após deixar Josh na escola. — contou. — Volto para Nova York hoje à noite. No próximo fim de semana estarei de volta. Quero levar meu filho ao treino de futebol. E farei o mesmo no aniversário dele.

Rosalie assentiu.

— Ele vai ficar contando cada segundo para o fim de semana chegar de novo — confirmou.

— Se durante a semana acontecer qualquer coisa com meu filho, você pode me ligar. E eu estarei aqui o mais rápido possível. Pelo Josh — deixou claro.

— Pelo Josh — Rosalie repetiu sem conseguir disfarçar a amargura em sua voz.

— Preciso que me envie seus dados bancários. Quero fazer um depósito para as despesas de Josh. — Ele se virou sem dar tempo para cumprimentos de despedidas.

Joshua olhava aos dois pela janela do carro.

— Vamos para a escola? — Emmett deu uma batidinha no vidro. Joshua aceitou, esbanjando o sorriso herdado dele.

— Tchau, mamãe.

— Tchau, vida. Tenha um bom dia na escola.

Ela esperou Emmett sair com o carro para então entrar no seu e segui para o trabalho.

[…]

Estava no carro, no estacionamento da pousada, quando foi surpreendida por Alice a bater no vidro. Levou um susto com a abordagem deixando a chave cair aos seus pés.

— Caramba, Alice! — se queixou.

A amiga, sorridente, bateu outra vez do vidro.

Rosalie recolheu a chave no chão do carro, a bolsa no banco do carona, antes de lhe dar atenção.

Alice se afastou dando espaço para abrir a porta.

— Você me assustou — tornou se queixar, garantindo que dessa vez Alice estivesse ouvindo.

— Desculpe, não foi minha intenção fazer isso.

— Por que toda essa agitação? Quer dizer, está sempre saltitante, mas hoje parece um pouco mais.

— É que estou ansiosa.

Rosalie fechou o carro. Alice pulou ao seu lado colando o braço ao seu.

— Ansiosa com o que, maluquinha?

— Com a visita do seu ex-namorado. Aquele que é seu eterno amor. Nem tente negar. Ainda é arriada por ele, dos quatro pneus, que eu sei.

As duas seguiram caminhando.

— Então é por isso que está tão afoita?

Alice praticamente saltitou, grudada a seu braço.

— Me conte como foi?

O homem cuidando do jardim olhou em direção as elas, provavelmente, imaginando o que estaria acontecendo.

— Ela é maluquinha — Rosalie entregou.

Alice seguiu quase saltitando para onde ficavam as mesas do café da manhã no jardim.

— Fala logo — insistiu.

— Falar o quê? — Rosalie moveu os lábios pedindo desculpas a um casal de idosos que ocupavam uma das mesas.

— Como foi ter seu grande amor debaixo do mesmo teto, após tanto tempo.

— Não tenho muito a dizer sobre isso.

— Como assim, não tem muito a dizer? É brincadeira, não é?

— Ele veio pelo Josh, não por mim.

Alice balançou as mãos.

— Ah, fala sério! Não pode ser apenas isso. Me recuso aceitar essa resposta.

— Se quer saber se estou feliz? Eu estou sim. E é pelo meu filho que passou um dia maravilhoso ao lado do pai dele. Eles conversaram, brincaram, saíram para almoçar juntos e tomaram sorvete. O pai dele leu para ele antes de dormir. E terminou a noite contando uma história que ele mesmo inventou. E, nesse momento, deve estar na escola conhecendo os melhores amigos de nosso de filho.

— Espera! — Alice interrompeu. — Vá com calma aí minha filha. Volte um pouco na conversa. Você disse que ele leu para Josh e depois terminou a noite contando uma história inventada. Isso significa que ficou para dormir em sua casa?! — Alice falou tão alto que atraiu a atenção do casal de idosos e de mais duas pessoas que estavam nas proximidades tomando café da manhã ao ar livre. Chegou mais perto de Rosalie, tentando ser menos escandalosa. — Rolou alguma coisa? Vocês… vocês transaram?

— Alice… — Rosalie resmungou.

— O quê? Não me venha com essa agora. Vocês têm até um filho juntos. Não estou falando nada tão assombroso assim.

— Não sei o que faço com você, sabia? — Entrou na recepção com Alice em seu encalço.

— Me põe num potinho e me leve para casa. Porque sou muito fofuxa, quase irresistível.

— Você é maluca, isso sim.

— Pensando bem, não me põe num potinho não. Perigoso eu morrer por falta de ar. Isso seria muito triste.

— Vá trabalhar Alice.

— Eu vou, mas antes, me diz se rolou uma recaída?

Rosalie rolou os olhos.

— Você é um caso sério, hein? Houve sim, um momento que quase nos beijamos.

— Há, eu sabia!

— Mas foi só isso, um momento. Passou tão rápido quanto surgiu.

— Bem, já é alguma coisa. Quer dizer que ele está na escola agora? E depois?

— Depois, ele vai embora.

— Tão rápido?

— Ele tem uma vida fora daqui. Mas disse que vai voltar no próximo fim de semana. E em todos os outros.

— Acho que esse será, para Josh, o melhor aniversário de todos. Vai mesmo comemorar depois da data, esse ano?

— O aniversário dele é numa sexta-feira. No sábado ele tem treino e na sexta-feira não dá, os amiguinhos dele não poderiam vir devido à escola. Vamos comemorar só no domingo. Mas, é claro que recebera alguns mimos na sexta.

— Por falar nisso, estou ansiosa para encontrar de novo aquele seu irmão gato. Não consigo parar de pensar nele.

— Você não toma jeito.

— Prefiro champanhe.

Rosalie teve de rir. Ainda assim, deixou Alice na recepção com sua curiosidade e falação.

[…]

Joshua entrou na escola de mãos dadas com o pai. Depois de apresentá-lo a professora, a senhora Sanders; uma mulher na casa dos quarenta anos, um pouco acima do peso, de cabelos escuros presos num coque bem feito, e um sorriso simpático, Joshua finalmente pôde levá-lo para conhecer seus amigos.

— Pessoal — chamou a senhora Sanders. — Joshua quer que conheçam uma pessoa.

Brian balançou a cabeça fazendo pouco caso. Summer e Dilan se mostraram sorridentes, felizes pelo amigo. Os demais se mostraram apenas curiosos.

Joshua sinalizou para que o pai entrasse em sala de aula.

Emmett balançou a mão cumprimentando a todos de uma só vez.

— Oi, galerinha.

Brian fez questão de expor sua desconfiança e falta de companheirismo acusando Joshua de novo.

— Contratou alguém para vir aqui fingir que é seu pai?

Antes que Joshua pensasse numa resposta, Emmett falou em seu lugar.

— Você é…?

— Brian — o menino respondeu.

— Brian — repetiu Emmett. — Eu sou o pai de Joshua, de verdade. Aproveitando a oportunidade, soube que não tem sido muito legal com meu filho, então quero te pedir que daqui em diante pare de implicar com ele.

O restante das crianças virou as cabeças para olhar para Brian. Com tantos olhares voltados para ele, Brian se mostrou envergonhado.

— Com essa implicância só está perdendo a oportunidade de ter um bom amigo.

— Está dizendo isso só porque é pai dele.

— Estou dizendo por que é verdade.

Joshua abriu um sorriso para o pai, se sentindo importante.

— Papai — Joshua chamou. — Quero que conheça meus melhores amigos, Summer e Dilan. — Ele mostrou com a mão os dois melhores amigos em cadeiras próximas.

— Olá, pai do Josh — disseram os dois ao sacudir a mão.

— Josh estava ansioso por sua chegada — declarou Summer.

— Seu pai é muito alto, Josh — Dilan se mostrou admirado. — E forte também. Aposto que meu pai vai querer viver na academia, depois de conhecer o seu.

O restante da turma deu risada de seu comentário.

— Josh tem seus olhos — notou Summer.

— O sorriso, também — completou o próprio Joshua.

— No caminho até aqui, meu filho falou muito bem de você, Summer.

A menina balançou o corpo, se mostrando envergonhada.

— E de mim? — Dilan se adiantou. — Josh falou de mim?

Com um sorriso no rosto, Emmett respondeu:

— De você também, Dilan. Ele disse, inclusive, que ninguém desenha tão bem quanto você.

Dilan ficou todo orgulhoso.

Joshua ficou conversando com os amigos enquanto Emmett falava com sua professora. Depois disso, pai e filho saíram para o corredor para se despedir um do outro.

Emmett se abaixou ficando na mesma altura que Joshua.

— Eu volto no próximo fim de semana, está bem?

— Para me levar no treino? Depois para meu aniversário?

— Isso mesmo. Pode esperar por mim, filho.

— Vou sentir sua falta — Joshua lamentou entristecido.

— Vem cá — Emmett o tomou num abraço de despedida. — Eu volto logo, prometo. Não fique triste.

— Queria que você não tivesse de ir embora.

— Eu sei… — Joshua estava com a cabeça no ombro dele quando disse o que pensava. — Voltarei para te ver sempre. Vamos comemorar seu aniversário juntos. E num fim de semana desses, você pode ir comigo.

— Para Nova York?

— Sim. E em Raleigh, onde vivem os meus pais, minha irmã com o marido e a filha deles.

— Tá bom.

Emmett o abraçou de novo.

— Te amo, filho.

— Também te amo, papai.

— Você é um bom garoto. Não dê ouvidos as provocações de Brian.

— Tá bom. Vou contar os dias para seu retorno — admitiu Joshua.

— Eu vou te ligar todas as noites.

— Promete?

— Prometo.

— Mas tem de ser para o telefone fixo ou para o celular de minha mãe, porque eu não tenho um celular, nem nada disso.

— Não tem problema. — Emmett beijou sua cabeça loura, em seguida, se levantou.

Joshua acenou ao retornar a sala de aula. Triste em ter de se despedir do pai.

A senhora Sanders falava com os demais alunos a respeito da matéria, relanceando um olhar a ele ao retornar a sala de aula.

Pelo pequeno espaço de vidro no alto da porta, Emmett viu Joshua ocupar seu lugar atrás de Summer, ao lado de Dilan. Os dois falaram com ele. Percebeu Joshua olhar na direção da porta procurando sua presença. Acenou, reconhecendo o quanto o filho ficou triste com a despedida.

Summer segurou na mão de Joshua, sacudindo como fosse ele mesmo a fazer isso. Emmett a viu dizer algo e Joshua sorrir. Com essa imagem, conseguiu finalmente deixar as dependências da escola primaria e entrar no carro.

[…]

Rosalie aguardava no carro, em frente à escola. Deixou o celular de lado ao avistar Joshua saindo do prédio na companhia de Dilan e Summer.

Joshua se despediu dos amigos. Deu uma olhada ao redor, procurando pelo carro da mãe na fileira de veículos de pais que aguardavam seus filhos. Correu para lá assim que avistou o carro dela.

A porta se fechou com um baque assim que entrou, dispensando a mochila e a lancheira no banco.

— Oi, vida — Rosalie cumprimentou aguardando que pusesse o cinto de segurança.

— Oi, mamãe.

— Como foi o seu dia?

— Ah, foi legal.

— Só legal? Seus amigos conhecerem seu pai?

Joshua terminou de fechar o cinto, se aprumando no assento.

— Sim. Todo mundo achou legal, ele ter vindo. Até mesmo o chato do Brian.

— É mesmo?

— Mesmo meu pai falando umas coisas que deixou ele envergonhado.

— E o que seu pai disse?

— Ah, ele me defendeu das bobagens do Brian.

— E você gostou que ele fez isso?

— Sim, gostei muito.

— Você sabe que a mamãe sempre te defendeu.

— Eu sei. É que foi a primeira vez que meu pai fez isso. Foi diferente.

O motor do carro ganhou vida ao girar a chave na ignição.

— Ah — Joshua pareceu lembrar-se de algo mais. — E todo mundo achou ele muito alto e forte, também. — Um sorriso brincalhão marcou seu rosto. — Dilan até falou que o pai dele iria querer frequentar academia depois de conhecer o meu.

— Parece que seu pai fez sucesso na sua escola hoje. Você percebeu se alguma funcionaria olhou para ele diferente?

— Diferente como?

— Deixa pra lá, vida. Então, seu dia foi perfeito?

— Pena que meu pai teve de ir embora — lamentou, olhando para o lado. De uma hora para outra, ficando cabisbaixo.

— Seu pai vai voltar filho. Vai estar aqui no próximo fim de semana. E vocês poderão se divertir juntos novamente.

— Não deveria ser assim — a forma como falou deixou Rosalie preocupada.

— Como assim? Do que está falando?

— Eu odeio que você tenha mentido para o meu pai. Odeio. Eu odeio.

— Josh… — Rosalie ficou surpresa tanto pela forma como falou, quanto pela palavra usada para dizer como se sentia em relação ao que aconteceu no passado dela com Emmett. — Odeio é uma palavra muito forte. Você nunca foi de falar desse jeito.

— Mas agora eu falo — ele respondeu como a desafiasse. Levando a mãe olhar para trás, em seu rosto, para ter certeza de que era mesmo ele a agir dessa maneira.

— O que é isso? — questionou sem acreditar. Voltando olhar para a estrada, completou: — Não vou tolerar esse tipo de comportamento. Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito?!

Joshua sacudiu os ombros. Ele estava saindo dos limites, pensou Rosalie.

— A culpa é sua que meu pai não esteja aqui. Não deixou que ele ficasse perto de mim. Contou coisas que não eram verdade.

Rosalie mal conseguiu acreditar que seu garotinho adorável, estava mesmo sendo tal malcriado a esse ponto. As palavras de Joshua a magoou de verdade. Os olhos lacrimejaram. Teve de se esforçar para não chorar diante dele. Pois, naquele momento, era o que Joshua queria. Atingi-la.   

Nenhum dos dois disse qualquer palavra pelo resto do caminho.

Assim que o carro parou na entrada de veículos, Joshua saltou sem a chance de ela dizer qualquer coisa.

Rosalie fechou os olhos, mantendo as mãos ao volante, respirando fundo, antes de pensar em sair do carro.

— O que vai querer para o jantar? — Ela tentou não manter a conversa no assunto do pai de Joshua. Se esforçando para não perder o controle com o modo como ele estava agindo. Joshua não respondeu. Ela abriu a porta da casa. Joshua passou correndo por ela e foi para o quarto. — Filho…

A porta bateu. Achou melhor deixar ele sozinho por um tempo. Dedicando-se a preparar o jantar para somente então ir atrás dele.

Deu uma leve batida na porta antes de abrir e espiar no lado de dentro.

— Josh…?

Joshua estava deitado na cama, de costas para ela. Rosalie entrou no quarto sem saber bem o que esperar.

— É hora do banho… — ouviu uma fungada. Ele estava tentando esconder o rosto. — Está chorando filho?

— Eu quero que meu pai fique com a gente.

Rosalie chegou à conclusão que ele estava usando a raiva como defesa por não conseguir lidar com tudo o que estava sentindo, agora que sabia a verdade.  E pelo pai ter precisado se despedir quando queria que ficasse.

Chegou mais perto, sentando na beirada do colchão. Joshua virou de barriga para cima e secou as lágrimas no rosto grosseiramente.

— Quero que sejamos uma família — desabafou.

Rosalie afagou sua barriga, então, seu rosto.

— Não é assim que funciona — tentou fazê-lo entender.

— Eu não gosto que seja assim. Me dá muita raiva.

— Há muitas coisas das quais não gostamos ou não vamos gostar durante a vida. E não é por isso que deve sair por aí magoando as pessoas com palavras e atitudes grosseiras.

— Você ficou magoada comigo? — Joshua arriscou, começando demonstrar arrependimento.

— Não vou negar você me magoou, sim. É a pessoa a quem mais amo na vida. Por quem faria qualquer coisa.

Joshua sentou no colchão.

— Desculpe, mamãe — se desculpou, em seguida, lhe deu um abraço.

— Você é um bom garoto. Só precisa se acostumar com tudo que está acontecendo.

Joshua finalizou o abraço. Estava de joelhos na cama agora.

— Já está na hora do meu pai me ligar?

— Acho que ainda falta um tempinho. Por que não vai tomar um banho? Depois come um pouquinho do jantar que a mamãe preparou.

— Quando meu pai ligar, você me chama?

— Claro que sim. Você não precisa se preocupar com isso.

[…]

O jantar foi servido já tinha um tempo. Mãe e filho estavam juntinhos no sofá da sala assistindo ao filme O Bom Dinossauro. Mesmo tendo assistido algumas vezes, Joshua ainda conseguia ficar triste com uma cena ou outra.

Estava tão focado nas cenas que custou a perceber o telefone tocando.

— Oi — Rosalie atendeu, ansiosa como a ligação fosse para ela.

— Posso falar com meu filho? — Emmett se mostrou frio. Incomodado por ter de falar com ela antes de falar com o filho.

— É o seu pai, vida — Rosalie estendeu a mão com o celular para Joshua, sem questionar a atitude do pai dele.

Joshua saltou no sofá.

— O meu pai? — Num instante, estava atento ao que acontecia ao redor, esquecendo completamente do filme. Pegou o telefone, soando animado ao falar: — Oi, papai.

Rosalie não pôde deixar de notar o sorriso que desenhou covinhas no rosto dele, no brilho em seus olhos. Joshua estava realmente contando as horas para aquele momento. Estava apaixonado pelo pai. Pela ideia de tê-lo fazendo parte de sua vida.

Ficou os ouvindo conversar sobre a escola. Sobre o dia que tiveram juntos, relembrando momentos que acharam divertidos. Ouviu Joshua questionar o pai quanto a seu retorno. E o sorriso voltou brincar em seu rosto com algo que ouviu dele.

Em outro momento da conversa, entendeu que Emmett estava no aeroporto aguardando o voo de volta para Nova York.

Sentiu um leve desespero ao ouvir Joshua mencionar que gostaria de estar com ele. Que queria conhecer o lugar onde o pai morava. E o trabalho dele.

Levou mais alguns minutos para perceber que se despediam.

Quando Joshua entregou o celular na sua mão, reconheceu que a ligação havia sido encerrada. Emmett nem mesmo esperou para se despedir dela. Tentou disfarçar o mau jeito perguntando a Joshua se estava feliz por falar com o pai? A resposta foi a mais animada possível. Estava gostando de cada momento, fosse pessoalmente ou por chamada de vídeos, toda atenção que o pai vinha dedicando a ele.

 


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