Diferente do dia em que te conheci, hoje faz calor. Não é uma quentura insuportável, é um clima acolhedor e agradável. Mesmo assim, o vento ameno do lado de fora me fez colocar um casaco fino, apenas por força do hábito. 

Diferente do dia em que te conheci, hoje não há ameaça de chuva. O céu está todo azul e as escassas nuvens brancas correm rapidamente por ele, o enfeitando como um quadro inacabado ou alguma pintura contemporânea que eu não compreendo. Freio o impulso de tirar o celular do bolso para fotografá-lo; seria mais uma foto do céu para a sua coleção.

Diferente do dia em que te conheci, hoje eu não estou completamente feliz. Sinto mais um sentimento de incômodo e uma crescente irritação dentro de mim, algo borbulhando doido para sair e ser livre. Quanto mais me aproximo do destino, mais frustrado me sinto. 

Contudo, mesmo com tantas diferenças, há algo igual: você. Hoje é o nosso aniversário de 800 dias, porém você não sabe ainda que essa será a nossa última comemoração juntos.

Fiz questão de terminar onde o nosso namoro começou e onde tudo também ruiu: Parque Hangang.

Nossos amigos em comum nos apresentaram em uma tarde divertida de piquenique. Foi amor à primeira vista, não?

Bom, da minha parte foi. Talvez eu tenha sido muito afobado, mas o seu sorriso ficou rodando minha mente o resto da noite quando eu fechava os olhos deitado na cama, e o seu cheiro bom impregnou no meu casaco. Quando a chuva começou a cair e estragou o resto do nosso passeio, você me abraçou mais forte e caminhamos juntos debaixo do meu pequeno guarda-chuva; deixamos todos para trás terminando de juntar as comidas e fomos embora grudados como se fôssemos íntimos.

Levei o seu corpo frágil envolto pelo meu até o carro e ali mesmo demos o nosso primeiro beijo. Tímido, doce e suave. 

Você brincou comigo desde então.

Seus lábios balbuciavam que me amava até o infinito, no entanto seu corpo marcado com os lábios de outros homens te desmentia.

Suas mãos apertavam as minhas carinhosamente enquanto sussurrava planos para o futuro, porém essas mesmas mãos arranhavam as costas de outros homens enquanto sussurrava sacanagens para eles.

Seus braços longos me rodeavam buscando por proteção e calor, do mesmo jeito que fazia com tantos outros homens após uma noite longa de sexo.

Os vestidos e joias caras que eu comprei com todo o amor, enfeitavam a sua pele de forma tão bonita que era fácil esquecer as dívidas em que havia me enfiado por culpa deles, serviam de acessórios baratos para suas conquistas milionárias.

Você achou que eu nunca descobriria. Ah, estava muito enganada, você não é tão esperta quanto pensa...

— Onde você está, amor? — A voz fina parecia afobada assim que atendi o celular. Suspirei fundo e encostei a cabeça no banco, batucando meus dedos no volante. Antes, ouvir a sua voz era como um bálsamo, entretanto agora você só me deixa enjoado.

— Preso no trânsito.

— Vai demorar muito? — Percebi o leve tom de irritação em sua voz, algo que começou a se tornar comum depois de alguns meses de namoro. No começo eu relevava, achava que era algo de momento, até se tornar o único tom que eu escutava saindo dos seus lábios. "Você é um namorado horrível": essa mesma frase foi dita inúmeras vezes por você, sempre fazendo questão de frisar isso durante nossos desentendimentos e tentando colocar a culpa do seu comportamento estranho em mim. — Você sabe que esse horário é infernal nas ruas, por que não saiu um pouco mais cedo? 

Não consigo evitar de pensar que você já deve ter marcado algum compromisso com outro, não é?

Eu estou bagunçando a sua agenda, que situação! O seu próprio namorado está estragando os seus outros encontros românticos.

— Chego logo.

Desligo o telefone sem esperar uma resposta. Provavelmente você começaria a reclamar de novo que eu sou desleixado e não me importo com você. Logo eu... O único que amou de verdade nesse relacionamento.

Quem consegue suportar um amor unilateral?

Dia após dia eu comecei a te desprezar. Não por você não me amar, mas sim por fingir todo esse tempo. Você saia com outros enquanto eu passava a noite toda acordado esperando uma mensagem sua, na manhã seguinte o seu cérebro ágil inventava qualquer desculpa mediana e eu aceitava. As minhas olheiras cada vez maiores, as garrafas de soju ficando cada vez mais empilhadas no balcão da cozinha e o meu sorriso cada vez mais raro. Por que eu aguentei tanto?

Eu me senti sufocado com o meu próprio amor quando te vi com outro homem pela primeira vez. Doeu como um inferno e tive vontade de arrancar o meu coração com as minhas mãos trêmulas. Precisei ver com os meus próprios olhos a sua boca beijar a de outro na saída de um restaurante caro.

Você só queria um pouco de conforto e um babaca para te proteger nos tempos ruins. Eu era esse infeliz, um perfeito cego apaixonado que nunca mediu esforços para te ver feliz.

Dinheiro nenhum será capaz de me fazer recuperar o tempo perdido com você; os momentos ruins berram mais alto do que as lembranças boas que tivemos.

E imaginar que quase te pedi em casamento...

E foi por isso que pedi para que me encontrasse no parque. Acordei decidido a não ser mais o seu guarda-chuva como sempre fui. Você agora está sozinha na chuva.

Parado no trânsito infernal e ponderando se estou fazendo o certo, pude perceber que quem saiu perdendo foi você porque você nunca foi o suficiente para mim.

Porque você não mostrou fidelidade o suficiente.

Porque você não se preocupou o suficiente.

Porque você não me deu carinho o suficiente.

Porque você não mostrou companheirismo o suficiente.

Porque você não se entregou o suficiente.

Porque você não me deu amor o suficiente.

Hoje faz calor e tudo está diferente do dia em que te conheci, Oh Hyerin.

Principalmente eu mesmo.