Pictures of Us escrita por Ellen Freitas


Capítulo 8
Someday I will understand || Felicity


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!! Como estão?

Bom, do lado daqui as coisas estão bem corridas, daí a demora do capítulo. A maioria está presa em casa, mas por ser da área da saúde, eu estou trabalhando mais do que nunca. Faz parte. Aliás, um pedido pessoal da minha pessoa... Fiquem em casa!!

Agora ao capítulo... Nosso casal está oficialmente completando um ano!! Chegou mais rápido do que imaginávamos, e mesmo indo contra todas as previsões, estamos aqui!! Mas não será um dia calmo, de nenhuma maneira.

Enfim, vou deixar de conversa por aqui. Muito obrigada a todos os favoritos e reviews, vocês são demais!! Boa leitura!! Bjs*



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A primeira coisa que detestei foi o cheiro. Álcool e produto de limpeza. Então a claridade exagerada. Tudo tinha mesmo que ser tão branco? Mamãe sempre sonhou em ter uma filha médica, mas como isso seria possível se eu odiava hospitais com todo o meu ser?

Aliás... Como eu vim parar aqui? Voluntariamente é que não foi.

― Oliver? ― O loiro estava de costas para mim inclinado sobre algo, mas não era como se eu pudesse confundir aquelas costas, mesmo que minha internação fosse em um manicômio. Era um das minhas partes preferidas nele.

― Babe, você acordou! ― exclamou animado, sorrindo para mim e me fazendo sorrir de volta no automático. Eu não me lembrava de tê-lo visto tão feliz em todo esse tempo, e isso era no mínimo falta de consideração.

Eu estava no hospital, respeito aqui, parceiro!

― O que aconteceu? ― perguntei coçando os olhos. Ele riu ainda mais parecendo estranhar minha confusão, e voltou a ficar de costas para mim, se abaixando para pegar algo em seu colo.

― Adivinha quem quer dar um oi para a mamãe?

Como é? Mamãe quem? Meus olhos quase saltaram das órbitas quando percebi que o pacote envolto em uma manta colorida no colo dele era um bebê.

― Peixinho, de quem é essa criança? ― Apontei sem jeito para o recém-nascido que bocejava.

― Nossa, por enquanto ― comentou reflexivo. ― Mas ouvi dizer que quando eles ficam adolescentes não querem mais ser. Não me importo, ela sempre será.

― Eu não tive um filho.

― Está certa, você teve uma filha. Vai pro colo da mamãe, princesa.

Sem esperar minha contestação sobre como eu havia esquecido toda uma gravidez e parto, Oliver já colocou a pequena em meus braços, indo em direção à uma bolsa infantil em cima de um sofá.

A criaturinha abriu os olhos e eles eram azuis como os de Oliver, e davam muita atenção ao meu rosto. Ela usava roupinhas brancas, tinha um lacinho verde ornando seus poucos cabelos loiros e seus bracinhos curtos e gordinhos se movimentaram tentando pegar algo no ar.

Não importa se eu não lembrava de como havia tido uma filha, eu só conseguia sentir identificação e aquele amor imenso. Quer dizer, eu amava minha mãe, e amava Oliver de todo o meu coração, mas com aquela coisinha desconhecida, foi algo totalmente novo e muito mais forte, e ela só precisou segurar meu dedo com a mãozinha.

― Ela é o bebê mais lindo que já vi na minha vida!

― Concordo, a gente caprichou, hein? Você está chorando? ― Eu estava? Oliver franziu o cenho e fez um biquinho de dó ao se aproximar.

― Eu já a amo tanto!

― Eu também, é como se… Sei lá, não dá pra descrever nem comparar. ― Ele passou um braço por meus ombros, e com a mão livre, fazia carinho na cabeça dela. ― Obrigado, amor. ― Ele beijou meus cabelos e entendi toda aquela felicidade que emanava dele. Eu deveria estar igual no momento.

― Lissy? ― a voz de Caitlin me chamou, mas eu não sabia de onde. ― Lissy, acorda. Felicity!

Levantei a cabeça da mesa ao sentir a sacudida no meu ombro, entendendo na hora que tudo havia sido um sonho.

― Por que você está gritando? ― Esfreguei os olhos e passei a mão pelos cabelos, que deveriam estar uma verdadeira bagunça.

― Você dormiu aqui, criatura? ― questionou com reprimenda. Endireitei minha coluna e estalei meu pescoço.

― Se por dormir, você quer dizer cochilar por uma hora depois que amanheceu, então sim ― falei depois de consultar rapidamente o relógio de parede da minha sala.

― Que merda, amiga, você vai ficar doente.

― Claro que não, eu não tenho tempo para ficar doente e meu corpo entende isso ― retruquei sem me abalar com sua bronca, começando a organizar os papéis em cima da minha mesa, lembrando de onde havia deixado o trabalho antes de dormir.

― Você ao menos comeu algo?

― Óbvio.

― Algo além de salgadinhos? ― Encolhi os ombros. ― Droga, Felicity! ― Deu um tapinha na mesa. ― Vou ligar pra Donna ― ameaçou.

― Cait, melhor amiga da minha vida toda… Eu te amo, mas se continuar a me encher o saco, te chuto para fora daqui.

― Boa sorte com isso, você está pálida e parece tão fraca que te derrubo com um sopro. Tem certeza que está passando bem?

― Talvez eu tenha vomitado umas duas vezes noite passada, mas é normal. Meu estômago fica louco quando minha menstruação atrasa.

― Espera, o quê? ― Seu queixo quase foi ao chão, ela exagerada como sempre. Caitlin era levemente hipocondríaca, então, na cabeça dela, quase todos os sintomas levavam a câncer.

― Relaxe ― a cortei antes que viesse mais uma palestra sobre hábitos saudáveis. ― Vou jogar uma água no rosto, você pode pegar um sanduíche pra mim na cafeteria?

― Felicity, você não está ligando os pontos?

― Os únicos pontos que tenho que ligar são os que dão a casa de volta ao meu cliente em um julgamento daqui a uma hora, então... Por favorzinho!

― A gente vai conversar quando eu voltar. ― Apontou o indicador para mim antes de sair.

Doida.

Me apressei em lavar o rosto, refazer minha maquiagem e usar minha troca extra de roupas que mantinha no escritório para casos que não conseguia ir em casa.

Eu sabia que Cait não estava totalmente errada, eu vinha trabalhando demais, mas os meios justificariam os fins. Eu tinha duas semanas de férias planejadas com Oliver no mês que vem, para comemorar, mesmo que um pouco depois do prazo, nosso aniversário. Por isso precisava trabalhar mais agora.

Lembrar disso trouxe meu sonho de volta. O rosto daquele bebê era tão nítido, e eu estava tão feliz. Não, não, garota! Segura essa felicidade aí, vocês não têm tempo ou estrutura para um bebê agora ou nos próximos anos!

Já me sentia renovada quando terminei a ducha rápida, mesmo com a náusea e dor nas costas que ainda me perseguia, mas já finalizava uma maquiagem simples quando Caitlin voltou.

― Trouxe suco de laranja, sanduíche de atum, maçã e banana, e umas torradas. E você não vai sair daqui até comer tudo.

― E meu café, amiga? Poxa ― reclamei com um beicinho, abrindo as sacolas que ela trouxe.

― Melhor você evitar café por enquanto ― respondeu evasiva. Fiz uma careta, precisava do meu café, mas foi quando abri o saco pardo do sanduíche, o gosto azedo veio até a minha garganta.

― Vou vomitar! ― Quase não consigo chegar a tempo no banheiro e todas as bobagens que comi durante a madrugada saíram direto para a pia. ― Eca. Nojo.

― A gente já pode conversar sobre isso? ― Minha amiga estava com o ombro encostado no batente da porta, me olhando com compaixão.

― Tá, eu admito! ― me rendi às preocupações dela, depois de escovar meus dentes e voltar a minha sala. ― Preciso ir no gastroenterologista, talvez minha gastrite tenha voltado.

― Gastrit… Felicity, você está claramente grávida!

― Não estou não ― rebati, girando meus calcanhares para ela em completo susto, mas o bendito sonho ficava voltando e voltando na minha cabeça.

― Cansaço, atraso menstrual, náusea e vômito. Tudo sintoma de gravidez.

― Ou sintoma de estresse e gastrite. Caitlin, não viaja, eu não posso estar grávida!

― Por quê? Até onde sei, só precisa ter feito sexo para engravidar.

― Eu tomo pílula.

― Que não é cem por cento seguro.

― E a gente usa camisinha.

― Toda vez? ― Ergueu uma sobrancelha para mim. Okay, tinha que admitir que o preservativo estava sendo esquecido com mais frequência do que o normal ultimamente.

― Toda vez que transamos no meu período fértil, sim.

― Felicity, a tabelinha é o pior método anticoncepcional de todos! Caramba, vocês têm doze anos, como vão me conseguir uma gravidez não planejada a essa altura da vida?

― Para de gritar comigo, eu não estou grávida! ― Cobri os ouvidos com as mãos, a beira de um surto. ― Meu corpo entende que eu não estou pronta.

― Você não manda no seu corpo desse jeito, sua maluca! Oh, meu Deus, eu vou ser tia! Não estou pronta pra ser tia! Onde vou colocar todos meus vasos de cristais com um pestinha correndo na minha sala? ― murmurava enquanto andava de um lado a outro da sala.

― Para, você está me deixando nervosa.

― Eis o que vamos fazer… ― Ela parou de caminhar bruscamente. ― Você vai marcar uma consulta pra essa tarde e eu vou comprar um teste de farmácia pra você e agendar uma laqueadura pra mim. ― Apontou para mim, então para si. ― E vê se come alguma coisa, sua irresponsável!

― Pega leve comigo, amiga.

― Eu pego leve se o teste der negativo, o que não vai acontecer. Até lá, você está de castigo.

― Mas eu…

― Tome seu café! Estou indo na farmácia e você já vai pensando em como contar ao Oliver.

― Me contar o quê?

― Jesus amado! ― gritei, levando a mão ao peito ao ser surpreendida com Oliver ali na minha sala no momento mais inoportuno da história.

― Meu Paizinho do céu! ― Caitlin girou para vê-lo, quase caindo no chão no susto.

― É, eu sei… Minha beleza nunca deixa de ser surpreendente ― Tommy gabou-se, parado atrás do meu namorado, enquanto nós duas apenas lutávamos para tentar voltar a respirar normal.

― O que vocês estão fazendo aqui a essa hora da manhã? ― os questionei, recebendo um dar de ombros duplo.

― Tommy tinha que entregar um relatório e eu estava com saudades de você, amor. Fui pra sua casa ontem e você não apareceu. ― Oliver se aproximou, me abraçando e depositando o queixo sobre minha cabeça.

― Eu estava trabalhando.

― Sem comer, aparentemente ― deduziu, olhando toda aquela comida que Cait em cima da minha mesa. ― Você está bem? Tá ficando meio verde. ― Segurou meu rosto, o analisando mais de perto. ― É minha cor preferida, mas não curti a homenagem.

― Alguém tira esse atum de perto de mim? ― Peguei o saco pardo e atirei na direção de Caitlin, do outro lado da minha sala.

― Eu cuido disso, estou morrendo de fome! ― Tommy pegou o pacote da mão da minha amiga e já foi abrindo e comendo tudo em grandes mordidas. O cheiro e a cena como um todo fez aquele gosto azedo voltar a minha garganta.

― Vou vomitar! ― Cobri a boca com a mão para não sujar Oliver, respirando fundo para segurar a ânsia.

― Amorzinho, sua gastrite está voltando? ― meu namorado perguntou preocupado.

― Deus, estou lidando com dois retardados! ― Cait exclamou. ― Vamos deixar eles conversarem, vem, Thomas. ― Pegou o moreno pelo braço, começando a arrastá-lo para fora.

― Mas eu quero ouvir a conversa! ― retrucou como uma criança birrenta.

― Vem, vou te apresentar pra Johanna. Ela é pior pessoa que eu conheço, vai dar certinho com você, oferenda. ― O interesse dele mudou e logo ele já estava a seguindo para fora.

― Ela é gostosa? ― Ainda conseguimos ouvir ele perguntar antes da porta ser fechada.

― Esses dois ainda vão casar. ― Eu discutiria a percepção questionável de romance de Oliver, se não estivesse quase sentindo mais uma forte onda de náusea chegar.

― Precisamos conversar, peixinho. ― Sentei no pequeno sofá de dois lugares da minha sala, o levando comigo. ― Aconteceu uma coisa.

― Você está me deixando preocupado, Felicity. ― Segurou minhas mãos entre as suas, franzindo as sobrancelhas. ― Amor, pode falar.

― Okay… ― Respirei fundo, tomando coragem. ― Lá vai… ― Mais uma respiração profunda. ― Cait acha que esses sintomas podem não ser gastrite.

― É algo mais sério? Alguma doença grave?

― Não exatamente uma doença. Deus, como isso é difícil! ― Levei uma das mãos à testa, e ele me olhou ansioso. ― Oliver, eu posso estar grávida.

― Como é?

― É só uma suspeita, claro, mas está fortalecida por uns argumentos bem fortes, como esses enjoos e minha menstruação atrasada e o fato de termos pulado o uso da camisinha algumas vezes.

― Você disse que tomava remédio ― falou, ainda meio em choque.

― Eu disse, eu tomo, mas não é cem por cento eficaz, segundo Caitlin. Desculpa, Oliver, a gente ainda não tinha nem conversado sobre filhos, nem sei se você quer tê-los, eu com certeza não queria agora.

― Calma, amor, isso não é sua culpa.

― E se o teste der positivo, não estamos preparados! ― Já sentia minha respiração acelerar, novamente à beira de um surto. ― Ainda não comecei a tomar a vitaminas, e se o bebê tiver problemas porque não tomei as vitaminas? Minha ginecologista não atende como obstetra, eu preciso de uma obstetra, e de uma doula e pelo menos uma doula reserva. Eu não fiz a playlist do parto, não pensei no tema do quarto, não pensei nem em um nome se for menina. Como vamos chamá-la se for menina? Ei, coisinha?

― Felicity, respira.

― Eu tinha um plano, ele era detalhado. Oliver, e sobre a situação da escola? Tínhamos que ter uma reserva, só assim se consegue vaga nas boas. Nossa filha sem nome não vai estudar, provavelmente já vai estar traficando aos quinze, se tornando uma rebelde contra o sistema que a gente defende. ― Apertei o braço dele com força. ― Oliver, eu vou ter que tirar ela da cadeia e você vai ter que usar todos os seus contatos na polícia para ela não passar a vida toda presa, minha mãe vai morrer de desgosto!

― Felicity…

― Meu Deus, sua mãe! ― Levei a mão à boca, já sentindo as lágrimas brotarem. ― Moira vai achar que estou dando um golpe da barriga, vai passar mal, vai pro hospital... Oliver, sua mãe vai morrer por minha causa!

Enfiei a cara dentro da minha bolsa e comecei a hiperventilar ali. Oliver não falou nada, se antes ele estava chocado, agora eu o estava assustando de verdade. Logo senti sua mão acariciar minhas costas, subindo e descendo em um movimento contínuo e tranquilo. Como ele não estava surtando comigo?

― Isso, respira… ― orientou, mas ainda demorou alguns minutos para a crise passar, e meu coração baixar os batimentos para menos de cem. ― Ei, olha pra mim ― pediu, segurando minha mão.

― Eu não vou tirar minha cabeça daqui nunca mais.

― Nunca mais? ― Quase ouvi uma risada em sua voz. ― Sério, babe, olha pra mim. ― Tirei a cabeça de dentro da bolsa devagar, e me surpreendi ao encontrar um pequeno sorriso em seu rosto. ― Isso aí. ― Oliver começou a enxugar as lágrimas que ainda molhavam meu rosto.

― Você me odeia?

― Como te odeio, se te amo? ― questionou retoricamente. ― Vai ficar tudo bem. ― Me puxou para si, e me aconcheguei em seu peito, aceitando o conforto que só aquele abraço conseguia me dar.

― Não estamos prontos para ser pais.

― Acho que ninguém está, Felicity. Mas vai ficar tudo bem.

― Por que fica repetindo isso? ― Ergui minha cabeça um pouco para ver seus olhos.

― É o que estou falando para mim mesmo, amor. ― Seu agora sorriso foi nervoso. Tadinho. ― E outra, precisamos fazer algum tipo de exame para confirmar, então partimos daí… Não vamos surtar antes do tempo.

― Você está certo, você está certo. ― Olhei de relance para meu relógio. ― Merda, o julgamento! ― Saltei do sofá, recolhendo de qualquer jeito os documentos em cima da mesa.

― Tem certeza que consegue ir? Parece cansada.

― Eu não tenho escolha, Oliver. ― Calcei meus saltos, jogando celular e chaves dentro da bolsa.

― E o teste?

― Compro no caminho e faço lá. Droga, estou tão atrasada, aquele juiz vai comer meu fígado.

― Okay, respira, bebe uma água e eu te levo. Vou só chamar Tommy, a delegacia fica no caminho, eu deixo ele lá. ― Confirmei com a cabeça para seu plano. ― Hey! Eu te amo, tá?

― Também te amo. ― Sorri para ele, então saímos da sala.

~

― Isso não pode ser verdade, eu não estou pronto para ser tio! ― Se eu achei que o surto de Caitlin foi grande, não estava preparada para o que foi o do Tommy. ― Onde eu vou colocar toda a pornografia com um pestinha correndo na minha casa?

― Tommy, quieto ― Oliver pediu massageando as têmporas, mas já estava prestes a perder a paciência com ele.

O moreno vinha falando coisas do tipo desde que soube da possibilidade, e insistiu em nos acompanhar até o tribunal, segundo ele, para saber logo de uma vez. O julgamento tinha atrasado alguns poucos minutos, mas já começaria em dez, e eu teria outra crise se Cait não chegasse logo com o maldito teste de farmácia.

― É sério, qual o problema de vocês dois? Custava usar uma merda de preservativo?

― Cala a boca, você não está ajudando.

― Não, Ollie, não vou calar, agora vocês dois vão ouvir uma palestra de educação sexual! ― refutou, andando pela sala. ― Alguém me traga uma camisinha e uma banana! ― gritou para ninguém específico.

― Cheguei! ― Caitlin chegou, interrompendo por pouco Oliver de dar na cara do amigo. ― Tive que ir em três farmácias pra achar.

― Me dá.

Peguei a caixa e corri para o banheiro. Oliver me fez beber tanta água que eu já estava apertada demais para fazer xixi, tanto é que nem responder as provocações de Tommy eu respondia.

Foram sem dúvida os cinco minutos mais longos da nossa vida, todos olhando para o palito e o cronômetro em cima da mesa com apreensão. Eu sentia minha cabeça rodar, a tensão estava me matando, mas diante de todas as provas, era como se já soubéssemos a resposta.

― Doutora Smoak, vamos começar. ― Um funcionário veio me chamar para descer ao plenário.

― Estou indo. ― O homem assentiu e saiu.

― Quanto tempo falta?

― Trinta segundos.

― Não tenho coragem de olhar. ― Abracei Oliver, escondendo meu rosto em sua camiseta.

― Eu olho ― Tommy se voluntariou, pegando o palito. ― Dois tracinhos positivo, só um negativo, certo?

― Claro, sua besta quadrada! E por que você tem que olhar, eu deveria olhar.

― Mas eu pedi primeiro! ― Correu infantilmente pela sala fugindo dela.

― Alguém pode só dizer logo o resultado e pararem com as brincadeiras? ― Oliver exigiu.

― Eu não tenho tempo, nem água na bexiga para produzir mais urina.

― Isso tava sujo de xixi? Eca!

Tommy tentou jogar o palito para Caitlin, mas como ela estava perto demais da janela, o teste voou direto para fora, caindo no meio da rua, cinco andares abaixo de nós. Se não fosse tão trágico, seria até cômica nossas caras na janela olhando para baixo.

― Você é um imbecil. Um imbecil!

― Será que ainda dá pra ver o resultado? Me dá uma luva que eu vou buscar o trocinho lá em baixo.

― Você nem olhou o resultado antes de jogar ela pela janela?! ― Cait esbravejou com Tommy.

Ainda olhávamos desolados para o palito distante prontos para ter que esperar Tommy ir buscá-lo, quando um carro em alta velocidade atropelou o coitado, partindo ele vários pedacinhos de plástico.

― Ih, já era.

― Eu vou te partir no meio, seu idiota! ― Caitlin começou a estapear o moreno. ― Como alguém consegue sobreviver só com meio cérebro?

― Foi um acidente, sua lunática! Ollie, ela está me agredindo! ― Buscou ajuda do amigo, tentando inutilmente desviar dos tapas.

― Você merece isso.

― E eu vou ter que pular a discussão super madura e ir trabalhar. Eu faço outro quando voltar, não tenho mais tempo.

― Você vai ficar bem lá? ― Oliver me interrompeu antes que eu saísse. ― Parece mais pálida.

― Vou sim. Obrigada. ― Lhe dei um selinho, pegando meus documentos. ― Pode voltar ao trabalho também, eu te ligo quando acabar e a gente refaz o exame. ― Ele mastigou os lábios, então me encarou decidido.

― Nada disso, vou com você. Não vou te deixar sozinha lá nesse estado, amor. ― Concordei sem discussão apenas porque conhecia sua teimosia o bastante para saber que ele não desistiria. Essa angústia teria que esperar mais algumas horas.

~

Não entendi como aquela audiência estava demorando tanto. Era um processo imobiliário não tão complicado, já deveria ter acabado a esse ponto, se o advogado da outra parte não falasse e se movimentasse como uma lesma. Isso, ou a ansiedade estava me fazendo ver o relógio andar mais devagar que o de costume.

― Considerações finais, doutora Smoak.

― Obrigada, excelência.

Tive de segurar a borda da mesa com força, quando a sala toda rodou como um brinquedo de parque de diversões. Fechei os olhos com força, meus dedos os cobrindo em um gesto automático, a bile subindo até minha garganta.

― A senhorita está bem, doutora? ― Ouvi o juiz perguntar, e concordei com a cabeça, mesmo sendo uma mentira deslavada. Eu sentia que ia desmaiar.

― Felicity ― meu namorado, que estava ali o tempo todo, me chamou e só então abri os olhos.

Péssima ideia, já que, se antes tudo parecia um carrossel para criancinhas, agora eu me sentia numa montanha russa desgovernada e ainda consegui ver Oliver correr antes de tudo ficar escuro e eu perder a consciência.

Acordei com uma dor de cabeça gigantesca, e claramente não estava mais no tribunal, já que não haviam camas por ali. Torci para estar em casa, mas logo a decepção veio quando acordei em uma cama de hospital como no sonho de hoje de manhã. Merda!

Eu até tentaria ficar irritada ou frustrada por ter desmaiado como uma fruta pobre no meio de um julgamento, mas foi só olhar para o lado e já me senti relaxar. Mais uma vez Oliver estava ali, só que ocupava uma cadeira e tinha um sorriso de alívio no rosto. Soltei um murmúrio, ajustando melhor minhas costas na cama.

― Há quanto tempo está aí me encarando como um psicopata? ― testei a brincadeira.

― Não o bastante ― respondeu de pronto, pegando minha mão e beijando o dorso. ― Bem-vinda de volta. ― Havia algo estranho nele. Era como se estivesse feliz por me ver acordar, mas no fundo havia algo o deixando muito, muito triste. Ah, não.

― Nosso bebê. ― Levei a mão que ele não segurava à minha barriga. Ele suspirou pesado, seus dedos envolvendo os meus com mais força. ― Eu o perdi?

― Amor, nunca houve um bebê ― falou pausadamente, me deixando absorver as palavras aos poucos.

― Como assim, nunca houve?

― Você não estava grávida ― explicou. ― O médico disse que estava exausta do trabalho. Anêmica, um pouco desidratada, muito cansada e com uma crise de gastrite ulcerativa ou algo do tipo.

― Ah.

― Você vai ter que ficar aqui mais um dia de repouso, e depois tirar uns dias de férias, comendo bem e bebendo muita água, então logo vai estar novinha em folha.

― Isso é bom, não é? A gente não estava pronto ― ponderei, me forçando a ver pelo lado positivo.

― Não estava ― concordou comigo.

― Vitaminas, escola, doula, playlist de parto, tema do quarto, não tínhamos nada disso.

― Não tínhamos.

― E seriam tantos problemas com nossa família e amigos, eles também não estavam prontos.

Só percebi que chorava quando a mão dele enxugou uma lágrima que escorreu em minha bochecha.

― Tudo bem, pode chorar, babe.

Me agarrei a ele como a Rose se agarrou na porta do Titanic deixando o pobre do Jack pra morrer sozinho no mar gelado, e em resposta, ele me abraçou mais forte ainda. E mesmo que os abraços dele sempre fossem incríveis, esse era diferente. Havia uma cumplicidade e dor compartilhada que ainda não havíamos experenciado juntos.

Nenhum dos dois falou nada, mas não precisávamos, eu podia ler claramente cada um de seus movimentos. A gente concordava que não estava pronto, mas já queria aquele bebê. Como era possível amar tanto alguém que não nunca existiu? Talvez um dia eu entendesse.

― Eu tenho um plano ― falou quando parei de chorar, ele sentou na beira da minha cama, fungando de leve, mas sem jamais soltar minha mão. ― Duas semanas só nossas no Hamptons na casa da minha família. Quando você receber alta, a gente pega o jato da empresa e voa para lá. Ainda não é Aruba como queríamos, mas vai ser melhor pra você se recuperar ― elucidou seu plano com uma animação crescente.

― Oliver, você não precisa aceitar essas coisas da sua família só por minha causa.

― Minha mãe insistiu, acredita? Aparentemente, a nova Moira é generosa. E é a melhor solução para fugir da sua mãe, foi o jeito que consegui dissuadi-la de estacionar aqui ainda hoje.

― Você ligou para ela?

― Eu tive. Não me julga, você sabe que não tenho força de vontade alguma contra vocês duas.

― E nossos trabalhos, Oliver? Não posso simplesmente…

― Já falei com seu chefe e com o meu, tudo acertado. Saindo daqui a gente faz uma mala pequena, já que roupas é o que menos usaremos por lá, e partiu Hamptons.

― Você planejou tudo. E está cheio de péssimas intenções, pelo que estou vendo.

― Ao contrário, minhas intenções são melhores possíveis. Só não são tão inocentes, ué. ― Sorriu, beijando minhas mãos. ― Então, topa uma fuga romântica comigo? Comemorar nosso aniversário de um ano juntos?

― Eu já disse como você é incrível? Te amo tanto, feliz aniversário, peixinho.

― Feliz aniversário, babe.


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Notas finais do capítulo

Ain, gente, não foi dessa vez que tivemos um baby Queen, mas essa não-gravidez vai mudar as coisas, principalmente para o Oliver. Mas isso é história para o próximo capítulo.

Comentem, favoritem, recomendem!! Deixem suas opiniões nos reviews!!
Muito obrigada por acompanhar.
Bjs*

p.s: Felicity sou eu na vida dando crise, tadinha. Kkkkkkkkkkk



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