O Chamado do Oceano escrita por Luana Cajui


Capítulo 4
Organização, Escalação e Preparação


Notas iniciais do capítulo

Oi, iae, já viram a capa nova? Eu realmente gostei muito dela e fiquei bem empolgada em terminar esse capitulo e mostrar ela para vocês, então sem mais enrolação vamos ao capitulo.



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"Nenhuma escolha é feita por acaso, muitas vezes aqueles que estão a aguardar o chamado já estariam o ouvindo a muito tempo sendo preparados para atendê-lo desde sempre até que finalmente eles estejam escalados para mergulhar nas ondas do Destino."


Quando o sinal da saída tocou, o grupo de garotas saiu da sala de aula apressadas assim como todos os alunos, elas desceram as escadas e finalmente estavam livres daquelas paredes de pedra fria e das regras rígidas de Navarro.

—Oh Glória! -exclamou Aqualtune se espreguiçando já do outro lado da rua junto as outras três. -Pensei que esse dia nunca ia acabar.

—Com o Navarro policiando as salas de aula toda hora, foi difícil mesmo o tempo passar. -Tainá concordou enquanto prendia os longos cabelos num rabo de cavalo.

Helena e Kátya concordaram, a russa tirava sua blusa de frio e a amarrava na cintura enquanto Helena amarrava seu tênis.

—Aquele homem parece que não tem mais o que fazer. -disse Helena assim que se levantou. -Então, qual o próximo passo agora?

Houve um instante de silêncio.

—Ah qual foi gente? Está mais do que na cara que vamos ter que fazer o trabalho fora da escola por que se formos depender dos livros e da internet vamos tirar um belo zero.

—E adeus a professora Juliana -lembrou Tainá, começando a andar com o grupo na direção do calçadão junto ao monte de estudantes que seguiam o mesmo caminho.

As três caminharam por alguns minutos.

—Vamos precisar organizar melhor o jeito que vamos ter que fazer a nossa pesquisa, sério —Tainá puxou o celular do bolso da calça verificando se não tinha nenhuma mensagem de seu pai. —Não é todo dia ou toda hora que estamos com tempo livre.

—Hoje a tarde vai ser impossível para mim —advertiu Aqualtune— O restaurante está com uma encomenda enorme para hoje a noite e vamos precisar de toda a ajuda possível.

—Eu dou aula de reforço pra três crianças hoje a tarde -contou Tainá, confirmando uma mensagem ‐Vou ficar indisponível até as 18h00 que é quando as mães vêm buscar eles.

Após alguns minutos as garotas chegam ao calçadão da praia, elas seguem reto o caminho, se aproximando do Sereia Negra.

—Eu estar livre, se querem que eu vá adiando arguma coisa. —contou a russa.

—Acho melhor não.- falou Aqualtune

Helena suspirou.

—Eu vou desembaraçar rede com o meu pai essa tarde, um tédio que só mas eu já combinei com ele não dá pra dar pra trás.

—Sei como é —Taina riu vendo a expressão um pouco cabisbaixa de Kátya. —A gente pode começar amanhã se preferir, eu só vou dar aula de novo próximo Sábado e vai ser de manhã.

Aqualtune concordou com um sorriso vendo quando elas chegaram na frente do Sereia Negra.

—Por que não entramos? A gente combina melhor, vou ter que cobri o almoço do meu pai no caixa e tem uma mesa quase que colada perto dá pra gente conversar de boa, isso se vocês não tiverem horário pra chegar em casa é claro.

—Não tem ninguém me esperando em casa de qualquer jeito. -Tainá e Kátya disseram em uníssono enquanto acompanhavam Aqualtune para dentro.

—Eu vou ligar para o meu pai e avisar que vou demorar um pouco, podem ir na frente. —assegurou Helena, remexendo em sua mochila.

Tainá fez um joínha para Helena e piscou fazendo a garota de cabelos castanhos rir.

Quando Tainá e Kátya adentraram o restaurante, puderam notar a decoração excêntrica do lugar, como redes de pesca devorando o teto e as vigas, conchas e âncoras nas paredes assim como uma bela estátua de Sereia próxima ao caixa, tudo ali tinha uma energia revigorante e muito calma.

"Agora entendo a razão das minhas tias gostarem tanto desse lugar."

Aqualtune se aproximou de um homem que estava parado atrás da caixa registradora, assim que ele a viu o homem sorriu e a abraçou assim que a garota havia passado para dentro do balcão. Aqualtune lhe disse algo e logo ele olhou na direção em que Kátya e Tainá estavam e fez um gesto para que elas se aproximassem.

As duas se encararam por alguns instantes mas logo andaram até perto do balcão.

—Eu nunca pensei que esse dia chegaria —disse ele de repente para as outras duas. —Aqua não é do tipo que trás as amigas para o Quiosque.

—A gente vai fazer um trabalho escolar pai! —Aqualtune protestou enquanto puxava uma cadeira para trás do balcão. —Tá valendo nota.

O homem ri

—Tudo sempre vale nota, querida, mas pelo menos você não está fazendo tudo sozinha como sempre.

—O senhor só tem uma hora de almoço e ela já começou, é melhor ir logo pois a minha tolerância é de dois minutos.

Kátya e Tainá seguraram a ponta de risada que queriam dar ao ver aquela pequena discussão.

—Sai pra lá senhora General, eu ainda sou seu pai. —falou ele em um tom mais brincalhão.

—E eu sou a pessoa que vai cobrir seu almoço, agora tchau tchau!

Aqualtune acenou para o homem enquanto ele adentrava numa porta ao lado do balcão e logo ela voltou a olhar para as colegas como se nada tivesse acontecido e logo apontou pra uma mesa que ficava no cantinho quase colada no balcão do caixa.

—Então gente pode sentar, o pessoal da tarde está no almoço temos tempo até eles voltarem.

Tainá e Kátya assentiram logo se acomodando nos bancos, não demorou muito e logo Helena se juntou a elas.

—Temos até as 14h00, ou meu pai vai vir me buscar -advertiu Helena.

—Então vamos ter que nos apressar —Tainá tirou um dos cadernos da mochila e o colocou na mesa abrindo em uma folha em branco. —Temos que ter uma linha de pensamento e tempo e com certeza fontes bem confiáveis.

—Monta uma linha do tempo, Origem, Surgimento da População, Cultura e depois a gente vai acrescentando a historia de Crescimento..

Tainá anotou alguma coisa do papel.

—Não podemos esquecer que temos que fazer a historia narrada, não simplesmente contar como se fosse sei lá, aqueles documentários sem graça e mentirosos lá de fora. —apontou a garota de cabelos negros.

Helena riu.

—Eles acham que Alienígenas construíram as pirâmides, esses documentários são uma piada no mundo arqueológico.

Kátya concordou, assentindo.

—E se fizéssemos como numa entrevista? A gente fórmula algumas perguntas e vamos formando uma historia mais complexa.

—Pode Funcionarr — Kátya concordou se ajeitando na cadeira.

—Tá, mas que tipo de perguntas seriam essas? Eu sou indígena e estou em fase de inicialização ainda, sou suspeita pra falar.

—Como vocês vêem o começo do universo? —perguntou Aqualtune — Vocês acreditam em uma só divindade ou mais de uma?

—Como funciona a sociedade de vocês? Por que homens vivem separados das mulheres? — Perguntou Helena — Como vocês fariam se algum pai quisesse tirar a guarda de uma das suas crianças?

—Como lida com os estranjeiros? Como foi ligar com invasorres Potuguases? — perguntou Kátya —Como se sustenta nos dias atuais?

Tainá olhou para as três garotas ao seu redor abismada por alguns instantes.

—O lado bom é que perguntas não nos faltam —começou ela a falar, voltando a anotar as perguntas no caderno.— o lado ruim é que não sou lá a pessoa mais indicada pra responder tudo isso.

A garota suspirou, largando a caneta em cima do caderno.

Non é algo que você possa responder com detalhe? —perguntou Kátya e como respostas Tainá assentiu. —Quantos anos você ter?

‐Tenho 15, por que?

Kátya assentiu

—Cleuza me contar que as jovens "canela" se iniciam no aniversário de 16 anos aqui.

—Inicializam? —Aqualtune perguntou batendo numa campainha de metal. —Pedido n°7 mesa 8!

Logo uma garçonete caminhou até o balcão e pegou uma bandeja de petiscos de Aqualtune e saiu para o salão.

—Quando a gente completa 16 anos, ficamos reclusas na aldeia por sete meses, onde aprendemos mais profundamente sobre as tradições da tribo, nossa historia e tudo mais, é como uma faculdade sacas? O ensino médio é um aprendizado por cima e na faculdade aprendemos com mais profundidade, só que quando saímos não paramos de aprender nunca, jamais. — Tainá explicou e logo já estava com o lápis de volta em sua mão. —Só que meu aniversário é só no final do mês que vêm, ou seja eu não tenho todas as resposta concretas que queremos.

—Não é possível a gente i lá e só perguntar? Se não ter resposta é ir na fonti.

As outras três olharam para a Russa em silêncio por alguns instantes.

—Kátya é uma genia! - um brilho tomou os olhos de Tainá, foi um brilho de empolgação. —Eu posso ligar hoje para a minha vó e perguntar se podemos ir lá amanhã.

O ânimo do grupo pareceu se elevar e logo todas as garotas estavam conversando empolgadas sobre isso, Tainá anotava mais algumas perguntas e observações em seu caderno, Kátya vez ou outra fazia umas perguntas um pouco sem noção mas que qualquer um de fora pudesse ter, Helena dizia o quanto aquilo ficaria muito bom em um vídeo e dava detalhes de como os efeitos visuais ficariam e Aqualtune basicamente observava um pouco distante mas é claro sem deixar de dar sua opinião.


Pedido N°5 mesa 10 ! -gritou Aqualtune uma última vez quando viu seu pai se aproximar. —Bom já temos a primeira parte do trabalho formulada, só precisamos colocar em prática.

—Eu posso criar um grupo no whatsapp, ai a gente combina direito sobre a hora e o local de se encontrar. —Tainá pegou o celular do bolso e o entregou para Kátya —Me dêem seus números que eu crio assim que chegar em casa.

Kátya pegou o pequeno pocket da mão de Tainá e anotou seu contato e assim que o fez ela entregou ele a Aqualtune.

—Mas gente, vocês não estão no grupo da sala? —perguntou Helena às outras três.

—Eu sai assim que os meninos começaram a me mandar trava zap, lembra? Perdi meu chip e meu outro celular por causa daqueles filhos da puta.

—Eu sai, não tava aguentando todo mundo que ficava me azucrinando pedindo desconto.

—Eu sair por razaum dos garrotos, non me deixaram em paz!

Aqualtune abriu espaço para o pai no balcão e saiu lá de trás indo até a mesa.

—Quer dizer que vocês ainda não souberam que o Ricardo terminou com a Alessandra? Genteee.

—Eles vivem no vai e volta. —Aqualtune revirou os olhos enquanto devolvia o pocket para Tainá.

—A chance deles continuaram nessa de "namora&separa" é a mesma que eu tenho de que não vai ter terceira temporada de "The lost Canvas". —mencionou ela,

guardando o celular no bolso da calça.

—Quem ser Ricardo e Alessandra? —perguntou Kátya genuinamente confusa.

 

—“The Lost Canvas”? — perguntou Aqualtune

Antes queTaína pudesse responder o pai de Aqualtune a chamou para entregar o pedido n°4 da mesa 8.

—Olha eu adoraria te explicar quem é Ricardo e Alessandra, mas o dever me chama, então a gente se fala mais tarde quando as coisas estiverem mais calmas, certo?.

—Pode pá! —Acenou Helena

—Eu chamo você.—assegurou Taína

—Bom serviço. —desejou Kátya.

Aqualtune acenou de volta, vendo o trio caminhando para fora do estabelecimento, assim que as outras garotas sumiram de sua vista, ela se virou para falar com seu pai que mantinha um sorriso nos lábios.

—Que sorrisinho é esse? —perguntou ela.

—Nada demais. —Ele assegurou. —Só estou feliz por FINALMENTE a minha filha estar fazendo amigas.

—Elas não são minhas amigas, —rebateu irritada. — eu já disse que a gente só vai fazer esse trabalho juntas, não tem amizade envolvida.

O homem bufou.

—Teimosa como sempre, vou deixar você com sua negação ai, mas se lembre, as coisas não andam como você sempre quer Aqua.

—É a lei de Murphy pai, se as coisas podem dar errado, elas vão dar errado.

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O trio formado por Kátya, Helena e Tainá seguiu seu caminho pelo calçadão da praia, Helena e Tainá conversavam animadamente sobre o que elas poderiam fazer no trabalho, mas elas falavam muito rápido, rápido mesmo, fazendo com que Kátya entendesse somente uma palavra ou outra fora de contexto.

—Isso vai ser tão legal! —Helena falou Eufórica —Eu sempre quis ir pro Vale da Lua.

A jovem de cabelos castanhos gesticulava com as mãos e sorria muito, ela era muito hiperativa ao ver de Kátya.

—Confesso que será divertido, ir a lugares no Vale que eu nunca fui antes. —mencionou Tainá acompanhando a garota, só que mantendo uma postura mais calma —Por causa da inicialização, eu ainda não tenho permissão para ir a todos os lugares do Vale.

Kátya olhou confusa para Tainá ao ouvir essa última frase, a loira colocou alguns fios de cabelo que caíram em seu rosto atrás de sua orelha antes de perguntar:

—Como você não ter permissão? —A russa se aproximou mais da dupla e ergueu um pouco o rosto para olhar Tainá.

—Bom, como eu não sou uma "Icamiaba" ainda, eu só tenho permissão de frequentar a área comum, que é onde as crianças e adolescentes que ainda não tiveram seu renascimento ficam até alcançar a idade, uma boa parte das adultas também ficam por lá pra educar, treinar e cuidar dos menores...

Helena e Kátya pareciam muito focadas nas palavras de Taína...

—...mas depois segundo minha avó, eu vou ter acesso a todo o resto, o que é todo o resto? Eu não faço a menor ideia.

...No caso Helena estava tão focada que acabou se distraindo quando andava de costas e acabou tropeçando e caindo de bunda no chão do calçadão arrancando risadas de Tainá e Kátya.

—Ai meus deuses Helena, você sempre tropeça por aqui —Tainá advertiu a amiga enquanto a ajuda a se levantar.

—A Culpa lá é minha? —esbravejou a garota —E a prefeitura que não tampa esse buraco?.

—Acho que a pefeiturra tem mais o que fazer do que tapar uma burraco de dez centimetras. —respondeu a russa segurando mais uma leva de riso.

Helena a olhou indignada.

—Qual foi? Tá me tirando?

—Ela tem razão, Hell —Tainá interveio —Se tem que parar de andar de costas.

Helena bufou irritada.

—Isso é um complô contra minha pessoa.

—É com certeza, Kátya e eu formamos uma aliança com a calçada pra te derrubar cada vez que passarmos por aqui.

A russa e a brasileira riram ao ver a indignação estampada no rosto da outra, que bufou e se virou de costas para as duas, andando como uma pessoa normal.

Kátya e Tainá se olharam mais uma vez e deram uma última risadinha antes que elas se aproximassem do pequeno cais para casas barco.

No cais só havia um homem em pé, ele enrolava algumas cordas nos braços e logo as encorava em um "negócio" para amarrar cordas de barcos no pier, deveria ter acabado de voltar para a costa e reparando um pouco mais, Kátya notou que ele fazia completamente o tipo de sua mãe (e o dela), ele era alto, tinha cabelos e olhos castanhos, sua pele branca estava levemente bronzeada e isso sem falar nos músculos aparentes por causa da blusa branca.

—Vocês duas não prestam, sabia? —perguntou Helena se virando para as duas, a voz dela acabou tirando Kátya de seus devaneios e a fez encarar a outra mas logo Helena voltou sua atenção a Tainá. —As vezes eu me pergunto por que raios eu sou sua amiga.

—É por que sem mim, você seria triste e média n°7 —Tainá brincou enquanto abraçava Helena —A gente se vê depois.

—Com certeza —ditou Helena antes de soltar Tainá e ir abraçar Kátya.

A Russa estranhou o abraço, estranhou muito pois ela era alguém difícil de ser abraçada pois ela não costumava cumprimentar assim na sua terra natal.

—Até depois Kátya. —Helena se despediu acenando, antes de descer as escadas do cais e ir correndo até o homem que estava no cais.

Helena pulou nos braços dele que não tardou em retribuir o aperto e girar com a garota nos braços.

—Irmão dela? —perguntou Kátya com um sorriso no rosto.

—Pai —respondeu Taína.

O queixo de Kátya caiu e seu sorriso morreu.

—Mentirrar! blya, eto yeye otets?



Tainá riu ao ver a reação da russa ao ver o pai de Helena, era uma reação até que bem comum das pessoas terem ao verem ele, tanto que as pessoas nem se preocupavam em serem discretas.

—Você não é a primeira a ter esse tipo reação, sério. —Tainá acenou para o homem que estava abraçado a Helena, tanto que ele desviou a atenção da filha e retribuiu o aceno da garota, Tainá sorriu para ele se voltou a caminhar pelo calçadão.

—Que reação? —perguntou Kátya voltando a acompanhar a morena.

—"OMG! Como assim, ele não é novo demais para ser pai?" —disse Tainá fazendo uma imitação caricata com uma expressão surpresa e as duas mãos nas bochechas, com certeza fazendo uma representação do que ela ou Helena já deveriam ter escutado sobre o assunto. —Acredite o pessoal se espanta muito quando o vêem.

—Desculpe, eu não fiquei desse jeito por ele parrecer mais novo, foi por que eu normalmente não achar homens adultos muito atraentes e eu não saber se você viu mas eu quase babar nele. —confessou Kátya, virando um pouco mais o rosto para poder ver só mais um pouco daquele homem, mas ele já deveria ter entrado para casa com Helena. —aah.

Quando virou o rosto para frente, Kátya precisou recuar um pouco pois Tainá estava parada a sua frente com uma cara nenhum pouco amigável, ela parecia ler o rosto de Kátya buscando algo e é claro Kátya não deixou de corar por tamanho constrangimento, ela se xingou em seus pensamentos por ter dito isso em voz alta, mas Tainá não parecia alguém que deixaria o assunto de lado e ela não deixou mesmo, um sorriso convencido surgiu no rosto da morena que só fez com que Kátya sentisse seu rosto ficar mais quente.

Tainá começou a rir de Kátya que estava com o rosto todo vermelho aquela altura do campeonato até mesmo suas orelhas estavam vermelhas.

—Ai minhas deusas! —exclamou ela em meio a gargalhadas precisando até mesmo segurar sua barriga para tentar se segurar.

Após alguns instantes constrangedores, o riso de Tainá diminuiu e ela colocou uma das mãos no ombro direito de Kátya.

—Ai ai —começou ela.— Ai relaxa, não precisa ficar que nem uma pimenta, com certeza você não é a única a ter uma queda pelo pai da Helena.

Kátya deu um sorriso tímido.

—Bom saber que eu não ser a única.

Katya começou a rir junto a Tainá e logo as duas voltaram ao seu trajeto, elas conversaram um pouco pelo caminho enquanto olhavam para a praia e durante o caminho a russa reparou bastante na garota ao seu lado.

Tainá era mais alta do que ela e um pouco mais baixa que Aqualtune, tinha cabelos negros muito escuros, sedosos e levemente ondulados que batiam no meio de suas costas, ela tinha um corpo magro porém levemente definido, seus ombros eram largos como o de uma atleta (algo que ela era), sua pele tinha algumas marquinhas de sol mas parecia bem macia e isso sem contar a expressão calma e serena que ela levava em seu rosto, fazia Kátya se sentir um pequeno globlim em comparação aquela Rusalka.

—Azul fica bem em você. —elogiou a russa em voz alta de repente.

Tainá virou o rosto para ela, seus olhos negros encararam os azuis da russa por alguns instantes antes dela desviar o olhar para o chão e ter as bochechas coradas.

—Obrigada, o rosa também fica bem em você!

Kátya sorriu.

—Obrigada.

As duas continuaram a caminhar pelo calçadão por alguns minutos até que finalmente elas chegaram até a última rua, onde Kátya morava com as tias.

Pararam na frente do portão da casa de muro baixo, ela começou a mexer em sua mochila a procura de alguma coisa e Tainá ficou ali com ela, esperando Kátya achar o que procurava, mas ela não o encontrou visto que seu xingamento em russo soou bem raivoso.

—Perdeu o que? —perguntou Tainá.

—A chave da casa.—resmungou a russa suspirando—Como que eu entrar agorra?

—É só pular o muro —sugeriu de maneira inocente —ele é baixinho, se quiser eu te ajudo a pular.

Kátya olhou para Tainá por alguns instantes tentando decifrar se aquilo era uma brincadeira ou se ela falava sério e acredite Tainá parecia falar sério.

—Eu até pularria, mas minha tia ter muita planta encostadas nesse lado do murro.

—Pular o muro então está fora de cogitação, mas tem planta encostada no portão? —Kátya negou com um aceno.— Pula o portão então, eu te jogo a sua mochila.

—Você parrece ter experriência em pular murros.

Tainá assentiu.

—Já pulei muito muro com meu irmão pra ir e voltar de festas.

—Tenho a sensação que seu irmão é má influência.

—Mau vocês sabem que sou eu a má influência. —Tainá brincou. —Mas então, você vai pular ou não? É melhor do que ficar pro lado de fora.

Kátya ficou em silêncio por alguns momentos cogitando a ideia, sua tia Halag só chegaria em casa às 19H00 e até lá já teria anoitecido e ficar fora de casa no escuro era o que ela menos queria.

—Vou pular! —Ela se decidiu.

Tainá sorriu e pegou a mochila de Kátya enquanto a loira começava a escalar o portão de ferro orientada por ela, a loira começou a subir barra por barra com cautela agradecendo mentalmente por suas tias terem optado por um gato e não um cão na hora de ter bichinhos ou então era provável que toda a vizinhança já estaria em seus portões pra ver o que acontecia.

Quando Kátya já estava no topo do portão com uma das pernas pro lado de dentro ela percebeu que Tainá tinha parado de falar de repente e foi quando o portão se abriu do nada.

—AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH! —Gritou a russa se agarrando com todas as suas forças nas barras de ferro.

Kátya pode ouvir a risada de duas pessoas vindo de baixo e quando olhou ela viu Cleuza cobrindo a boca de Tainá com uma das mãos enquanto ela empurrava o portão.

—TIA! —Gritou Kátya

Cleuza olhou a russa com um sorriso grande no rosto antes de começar a rir escandalosamente da cara de Kátya.

—Ah meus guias garota, o que você tá fazendo ai? —perguntou a mulher mais velha soltando Tainá que também começou a rir.

—Eu esto tentando em entrrar em casa! —gritou ela tentado não cair do portão. —Você perro visto tá tentandu me matar!

Percebendo isso, Cleuza segurou o portão com firmeza permitindo que Kátya pudesse passar a outra perna para dentro e enfim pular para o chão.

—Você não tem chave não menina? —perguntou a mulher.

—Eu esquecer em casa, por quê você sabe.

Por um instante a risada de Cleuza se silenciou e ela se voltou para Tainá.

—Obrigada por acompanhar a Kátya até em casa Tainá, mas na próxima não dá a ideia de pular o portão pra ela de novo não, Kátya tem pavor de altura.

Tainá pareceu ficar bem sem graça após essa afirmação.

—Desculpe, eu não sabia. —pediu ela.

Cleuza sorriu compreensiva.

—Não teria como saber, russas são teimosas e essa daqui no caso não é muito de falar de si mesma, pode ir indo pra casa, vou ficar te olhando daqui.

Tainá olhou uma última vez para Kátya como se perguntasse se estava tudo bem se ela fosse embora, a russa em resposta moveu os lábios sem emitir som algum formando um "Pode ir" silencioso, então Tainá entregou a mochila de Kátya e seguiu caminho para casa deixando Cleuza com ela.

Cleuza acompanhou Tainá com o olhar até que ela chegasse ao fim da rua e finalmente entrasse em casa, a mulher sorriu e entrou para dentro do portão o trancando logo em seguida.

—Tainá... tá ai uma ótima garota pra se fazer amizade, eu dei aula pra ela a um tempo atrás.

—Oi? —perguntou Kátya, pegando sua mochila das mãos de Cleuza. —Como que você saber o nome dela? E por quê seria bom fazer amizade com ela? —questionou Kátya ajudando Cleuza a abrir e segurar a porta para que ela passassem sem derrubar os matérias de suas aulas. —E por falar nisso, você dava aula pra ela onde?

Kátya olhou torto para Cleuza.

—Mas você não tinha sido demitida? —perguntou á Cleuza.

—Eu fui, Navarro me mandou embora no meio do ano, quando me casei. —Cleuza disse aquilo com certa naturalidade em sua voz enquanto cruzava o balcão para ir até a cozinha

Kátya pareceu ficar de mau humor de repente enquanto pegava o celular na mochila.

—Odeio aquele cara, homofóbico do caralho. —resmungou a russa.— Foi por causa de idiotas como esse que minha tia saiu da Rússia!

Cleuza olhou para Kátya surpresa por alguns instantes.

—Ai meus deuses, quer dizer que não foi o meu feitiço para atrair o amor que a trouxe para cá?!— A loira olhou para Cleuza por alguns instantes em choque antes de perceber o sorriso que queria se formar no rosto da mais velha.

—CREUZA!

A mulher gargalhou ao ver indignação no rosto de Kátya.

—Calma querida, não precisa me olhar assim eu sei por que Halag veio para cá, não sou ingênua de pensar que todo país na Europa é um paraíso, algo que com certeza eles não são. —Cleuza colocou três pratos e três pares de talheres sob o balcão para que Kátya os coloca-se sob a mesa.—E acredite, não foi Navarro que mandou me demitir, seria totalmente irônico isso vindo de alguém como ele, mas ele é o diretor e não dono da escola é só mais um funcionário como qualquer outro lá dentro.

—Pra eu, ele não pasa de un idiota, babaca na verdarde. —resmungou a loira, arrumando os pratos na mesa.

—Ah isso ele é com certeza, mas acredite se ele não fosse tão filha da puta íamos ter alguém bem pior na posição dele, alguém que o Estado mandaria de fora daqui.

Kátya ficou pensativa por alguns instantes antes de perguntar:

—Como assim alguém "de fora"?

Cleuza suspirou

—Isso só vou poder lhe contar em outra ocasião, querida.

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Tainá deu um último aceno para Cleuza antes de entrar para dentro de casa, ela trancou o portão e foi até a porta de trás para entrar pela cozinha, já era quase 15h30 e ela estava faminta, então assim que entrou dentro da cozinha ela não perdeu tempo e já montou um prato com a comida do jantar do dia anterior e o enfiou no micro-ondas para esquentar em 15m00 tempo suficiente para que ela pudesse tomar um banho, trocar de roupa e pegar as atividades que ela daria para as trigêmeas naquela tarde que deveriam estar chegando lá pelas 16h15.

Ser professora não era fácil, principalmente quando se dá aulas de reforço para três crianças de nove anos com dificuldades em língua portuguesa, mas valia o esforço, já que as três eram bem educadas e pareciam mesmo querer aprender sem falar no pequeno salário de 500 reais que valia muito a pena por apenas duas aulas por semana.

Quando Tainá se sentou a mesa para comer, ela pegou seu celular vendo que sua mensagem tinha sido respondida.

"Vamos estar ai no horário de sempre querida não se preocupe, as crianças estão bastante animadas para as aulas da professora favorita."


Tainá sorriu com cara de boba para o celular, ela adorava dar aulas para as trigêmeas e saber que elas também gostavam de estar ali com a fazia se sentir bem. Saindo da conversa com o pai das crianças, Tainá entrou no chat de mensagens com seu pai enquanto levava uma garfada de lasanha a boca.

 

Hiroshi: Boa tarde meu bem, como foi a aula? Navarro me ligou mais cedo e ficou mais de meia hora discursando sobre os seus atrasos.

Mais tarde vou ter que telefonar novamente na secretária de transporte. É um absurdo você e outras meninas chegarem atrasadas na escola pelo medo que os motoristas tem de subir a Serra.

No entanto também é um absurdo você chegar atrasada justo no dia que você sabia que teria que entrar muita mais cedo


Desculpa pai, eu tinha esquecido completamente.
Só me lembrei quando já estava mergulhando com a vovó a um bom tempo



Hiroshi: Isso não é desculpa Tainá, você tem celular, poderia muito bem ter colocado um aviso ou um alarme
Você foi irresponsável e essa não é a primeira vez
Você vai fazer 16 anos em breve, tem que começar a dar conta das suas responsabilidades sem deixar de descumpri-lás

Pai, eu não atrasei hoje por que quis

Hiroshi: Ninguém nunca atrasa por querer, Tainá.
Espero mais responsabilidade de você no futuro, principalmente por você querer fazer faculdade de biológia marinha
que nem eu


Ai pai, por favor já basta o choro compulsivo da mãe quando eu disse que queria fazer biológia ao invés de direito


Hiroshi: Eu venci essa batalha



Pois eu não sabia que tinha uma guerra, eu deveria ter escolhido Medicina se for assim


Hiroshi: Não se atreva



É brincadeira pai, não fica triste não


Hiroshi: De qualquer modo, nós vamos conversar quando eu chegar em casa
Não pense que vai fugir de mim assim tão fácil mocinha
Quando chegar, vamos conversar melhor e quando as trigêmeas já tiverem ido quero que esteja arrumada, temos um leilão de última hora para ir, é mais uma festa chique, mas mesmo assim nós dois vamos já que sua mãe não pode me acompanhar.


Diz que aquele seu colega italiano não vai estar lá, por favooooor


Hiroshi: Vai estar sim

Puta que pariu
PAI!

Se eu tiver que ouvir ele explicando algo pra mim que EU JÁ SEI
VOU DAR NA CARA DELE COM O
PRIMEIRO OBJETO QUE EU VER

Hiroshi:

Tu ri né? É por quê não é com você que ele tenta ensinar japonês
"Não por que em Tupi Guarani é assim, pipipi popopo"
EU JÁ SEI CARALHO, EU FALO E MUITO BEM!

Hiroshi: Então já vá mentalmente preparada, pois essa semana ele estava pesquisando sobre as pinturas tribais e as tatuagens

Ah não!

Hiroshi: Ah Sim!

O que eu fiz pra merecer isso?

Hiroshi: Chegar atrasada na escola por diversas vezes seguidas, mas anime-se você vai poder ver relíquias valiosas a venda.


Isso deveria me alegrar pai? Pois não conseguiu.

Hiroshi: Bom, quanto a isso não posso fazer nada
Vou voltar para meus alunos agora, peguei uns três colando enquanto falava com você
Até mais tarde meu amor, se cuide

Tchau pai, te amo


Hiroshi: Também te amo, querida.

 

 

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Assim que finalizou a conversa com Hiro, ela sentiu um formigar na boca do estômago ao se lembrar o quanto seu pai podia ser severo quando queria até mais do que sua própria mãe e isso a fez perder completamente a vontade de terminar de comer sua comida.

Tainá levou o prato de volta a geladeira, ela terminaria de comer mais tarde quando o pai do trio as viesse pegar então por enquanto ela só limpou a mesa da cozinha e ajeitou os materiais que ela usaria com as meninas, como faltava somente alguns minutos para que chegassem ela aproveitou e adicionou os números de Kátya e Aqualtune em seu celular e criou o grupo "Missão:Salvar o emprego de Juliana" com apenas às quatro integrantes.

A campainha tocou logo em seguida, Taina guardou o celular no bolso sem tempo de mandar alguma mensagem no grupo pois ela teria que atender logo a porta.

Quando chegou a porta de entrada já com a chave do portão em mãos a garota desceu os degraus correndo.

—TAINÁ, TAINÁ,TAINÁ!" — Gritaram as trigêmeas ao vê‐lá.

Na frente do portão tinha três garotinhas idênticas com roupinhas todas fru fru e coloridas, pareciam três bonequinhas de luxo feitas de porcelana, daquelas que valiam mais de 50 Mil dólares só que muito bonitinhas, aquelas eram a trigêmeas Hadassa, Pantéia e Zahara com seus cabelos muito pretos presos num rabo de cavalo e seus olhos negros brilhando.

—To chegando, to chegando...—respondeu ela chegando no portão. —Ufa cheguei!

As trigêmeos riram enquanto Tainá destrancava o portão.

—Eu disse que elas estavam animadas.

O homem parado atrás das meninas era completamente o contrário do trio arco-íris, Alexandre era um homem bem alto, pele pálida como papel e com os cabelos e olhos muito escuros suas filhas tinham puxado completamente a aparência dele pareciam até suas irmãs, ele se vestia apenas com preto e usava muitos adereços como piercing, pulseiras e anéis parecendo um daqueles roqueiros de velha guarda com a exceção de que ele não parecia ter mais de 27 anos e não era um chato resmungão que ficava resmungando na internet de como nos tempos dele as coisas eram melhores.

—O senhor disse animadas, não super animadas. —Brincou a morena dando espaço para as garotas entrarem.

—Bom, eu não sou lá uma pessoa muito animado, então não sei dizer bem o que é.— Tainá riu e viu as trigêmeos abraçando o pai para se despedirem. —Vou estar aqui para buscá-las até às 18h30, pretendo não me atrasar mas quando se tem o tipo de trabalho que eu tenho á sempre um imprevisto não esperado.

—Não tem problema, leve o tempo que precisar afinal você é um matador de monstros profissional.

Alexandre arqueou uma das sobrancelhas e deu um sorriso de canto que fez um leve arrepio passar por todo o corpo de Tainá.

—Toda trabalhada no deboche hoje, não é mesmo? —brincou ele. —Me diga, já viu algum monstro por ai?

Tainá riu com aquela pergunta e respondeu num tom brincalhão.

—Não, nenhum.

—Então meu singelo, Obrigado. —disse ele

—"Obrigado"? —repetiu ela

—De nada! —Alexandre sorriu e deixou um beijo na testa de cada filha. —Se comportem e obedeçam a Tainá, certo?

As irmãs assentiram e entraram para o lado de dentro do portão se juntando a morena, Alexandre acenou para as garotas e subiu numa moto que estava parada no meio fio da rua, Tainá trancou o portão mais uma vez e começou a subir as escadas com o trio.

—Tainá, o que vamos fazer hoje? —Perguntou Hadassa aos pulos á Tainá.

—É! O que vamos fazer hoje? —perguntou as outras duas irmãs em uníssono, Panteía e Zahara pareciam tão animadas quanto a irmã mais velha.

A animação das garotas pareceu animar Tainá que sorriu.

—Eu espero que gostem de histórias, pois hoje vamos criar uma incrível.

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Almoçar com seu pai era uma parte do dia que Helena mais gostava de fazer, seu pai cozinhava maravilhosamente bem qualquer tipo de comida

então toda vez que ela chegava em casa era certeza que ela deveria ter cozinhado algo muito bom pois a casa barco dos dois sempre era empestiada pelo cheiro maravilhoso da comida que ele preparava e naquele dia não tinha sido diferente, seu pai tinha feito feijão tropeiro, peixe cozido com leite de coco e arroz, algo simples mas não menos gostoso.

Durante a refeição, Helena contava o que tinha acontecido na escola naquele dia contando da divisão dos grupos (ao qual ela omitiu a parte de fugir dos professores pela escola só para ficar no mesmo grupo que Tainá) e de como ela estava feliz por estar no mesmo grupo que a melhor amiga em mais um projeto escolar (de novo), Eduardo ouvia com bastante atenção as palavras de sua filha e prestava atenção em cada detalhe que ela lhe contava mesmo que ele soubesse que ela estava escondendo alguns detalhes naquela história toda, ele sabia que Helena não era nenhuma santa e que ela gostava de aprontar quando podia e essa era a vantagem de também ter um bom relacionamento com a melhor amiga da filha, pois quando Helena se encrencava feio Tainá era a primeira a lhe contar e como não era o caso nessa situação ele deixou para lá.

Após o almoço, Helena foi a encarregada por lavar a louça do almoço para o desgosto da garota que odiava profundamente essa tarefa.

—Meu esmalte vai desgastar todinho! —resmungou ela enquanto esfregava uma panela com uma bucha de aço —E eu pintei ontem a noite pai!

Eduardo que estava do outro lado do cômodo acabou rindo enquanto alimentava os peixes dourados de um aquário bem grande que fazia a divisão dos cômodos, todos eles com mais de cinco anos de idade e com certeza com um apetite bem feroz também afinal eles tinham puxado a dona, Helena havia ganhado todos aqueles peixes em uma barraquinha em um festival de fora do país quando visitava os avós na Grécia, segundo ela os peixes serviam de prêmio em uma barraquinha de "Acerte o Alvo" em um festival que acontecia por lá que deixou a garota chocada pela maneira que os peixes estavam (presos em mini chaveiros) segundo ela e também segundo ela, Helena tinha feito os avós gastarem quase todo o dinheiro naquela barraquinha até que ela tivesse todos os peixes só para ela, inclusive segundo a avó da garota tinha dito, Helena havia batido em outra criança que tentou pegar um de seus chaveiros e no final dessa história a garota acabou trazendo para casa mais de 200 peixinhos dourados que atualmente eram apenas 79 peixes já que alguns já estavam doentes e só sobreviveram por poucas semanas outros morreram após um ou dois anos até que finalmente apenas os mais saudáveis estivem ali dentro.

Eduardo derramou a reação dos peixes na superfície da água enquanto observava os peixes nadando calmamente até a superfície em busca do alimento.

—É só pintar de novo Helena, isso não vai matar você. —respondeu o homem terminando de colocar a ração no aquário e fechava a tampa de cima.

—Fácil pro senhor dizer, não tem três mãos esquerdas!

Eduardo revirou os olhos por causa do drama da filha mas resolveu deixar para lá enquanto ia para o convés, ele só não deixava Helena cozinhar pois também odiava lavar a louça depois.

Quando Helena finalmente terminou de lavar tudo, a garota foi até onde seu pai a esperava, Eduardo estava sentado sob o convés com um bolo de redes espalhadas pelo chão onde ele estava a espera de Helena, a garota de cabelos castanhos foi até ele e se sentou a sua frente, começando a ajudar o pai a tirar o embaraçado das redes assim como outras coisas que faziam as linhas se prenderem uma nas outras.

Os dois ficaram ali por um bom tempo, fazendo com que Helena nem fosse mais capaz de sentir a própria bunda de tão adormecida que ela tinha ficado, mas tinha valido a pena afinal todas as redes agora estavam em perfeitas condições de pesca novamente tanto para pegar peixes quanto para pegar tesouros.

Quando ela se levantou sua bunda começou a formigar e a doer fazendo com que alguns xingamentos saíssem de sua boca, Eduardo a repreendeu é claro mas Helena não deu muita atenção, já era 17h23 e ela tinha que começar a se arrumar para aquela noite.

—É hoje! —ela fez questão de lembrar o pai.

—Eu sei, por isso sou eu que vou tomar banho primeiro. —disse o homem passando por cima da rede e correndo para dentro.

Helena tentou correr atrás do pai, mas não adiantou muito pois ela bateu com a cara na porta do deck.

—Qual foi?! E aquele ditado do primeiro às damas?

—Ah por favor Helena, de dama você só tem a aparência e a vaidade.

A garota quase retrucou mas seu pai tinha razão ela não era nenhuma Dama.


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Uma loucura, era isso que o Sereia Negra tinha se tornado logo após a saída das garotas do restaurante, de uma hora pra outra o restaurante quiosque começou a receber muitos pedidos de marmitas e lanches para entrega, o que sobrecarregou toda a cozinha que estava mais empenhada na grande encomenda que eles tinham para aquela noite.

—Na moral vai todo mundo tomar no cu!— Xingou a jovem em voz baixa enquanto entregava cinco marmitex para o motoboy—O endereço e a maquininha. Não se esquece, o pedido 87 tem troco de dez reais e cinquenta e ele vai pagar com vinte um, o pedido 93 tem o pagamento que é no crédito em duas vezes de quarenta e cinco já o 94 o pagamento será efetuado no débito de cento e vinte, entendeu?

O motoboy sorriu de maneira cafajeste e olhou para Aqualtune de maneira debochada.

—Pode deixar chefia, confia no pai! —assegurou o jovem

—Se você ligar pedindo para que eu explique de novo, quando você voltar eu vou estar a sua espera pronta para te dar uma panelada!

O mais velho riu da ameaça de Aqualtune, só pegou os pedidos, os endereços e o capacete e se foi deixando ela espumando para trás.

"Um dia eu ainda demito esse cara!" —pensou ela voltando ao trabalho.

Durante a tarde a cozinha tinha se tornado um loucura, uma bela loucura, não havia qualquer tipo de coordenação lá dentro nem mesmo a cozinheira chefe (mãe de Aqualtune) conseguia dar um jeito, alguns pedidos atrasaram e alguns outros sumiram.

—Chega! —tinha gritado a garota da porta do local!

Já irritada com as reclamações de atrasos, Aqualtune se viu obrigada a dividir a cozinha em duas, tendo quatro pessoas trabalhando no atendimento ao cliente e as outras quatro focadas inteiramente na encomenda.

Faltava cinco horas até o horário de entrega e pelo menos metade da encomenda já estava pronta, 500 camafeu já estavam prontos, assim como os 700 Canapé de Tartar de Salmão

e 400 Tarteletes, agora só estavam faltando os 500 Pão de mel de Tula mais 500 macaron e 900 melktert algo que agora com certeza o pessoal conseguia dar conta.

Aqualtune estava sozinha no Balcão, cuidando da caixa registradora, do Whatsapp do Quiosque, anotando os pedidos do delivery (que era realizado por aquele insolente) e é claro também estava responsável pelo atendimento no bar, ela tinha apenas 16 anos não podia beber mas a lei não dizia nada de que ela não podia vender se bem que aquela lei não valia muito ali, não na região das Três Estrelas, ali talvez fosse o único lugar em que menores de 18 e maiores de 15 podem beber em estabelecimentos familiares no país, mas ela não bebia só vendia mesmo.

—Uma dose de tequila verde com limão! —disse ela entregando o pequeno copo a um homem no Balcão antes de voltar sua atenção pra outro cliente.

Ele era um homem mau encarado, alto forte e com uma expressão cansada no rosto, pelos boatos na cidade ele era um caçador de tesouros que estava trabalhando com Eduardo temporariamente, mas Aqualtune o julgava mais como pirata do que caçador de tesouros, algo nele não inspirava confiança nenhuma nela, talvez fosse o sexto copo de bebida que ele pedia naquela tarde ou talvez fosse a fúria em seus olhos.

—Ei garota, você não é nova demais para vender bebidas? —Perguntou ele de repente com a voz arrastada tipica de um bêbado rabugento enquanto ela contava o troco de outro cliente.

—E não é muito cedo para se estar bebendo? —retrucou ela sorrindo para a cliente enquanto entregava o troco e o cartão do restaurante a ela.

O homem riu alto, enquanto deixava o corpo largado em cima do balcão.

—Calma aê, só fiz uma pergunta não precisa disso tudo, além disso eu sou cliente, você não deveria falar assim com alguém que está pagando.

Aqualtune revirou os olhos.

—Em nenhum momento eu me fui mal educada senhor, além do mais na maioria das vezes o cliente não tem razão.

O homem ergueu o olhar e encarou a jovem do outro lado do balcão.

—Olha só, entende de negócios, finalmente alguém que não fica me dizendo que os clientes tem sempre razão.

Aqualtune suspirou, como ela detestava esse tipo de cliente falador, bêbados ainda eram piores, por qual razão aquele homem não poderia apenas beber a sua bebida sem falar com ela? Inconveniência que se chama?

—Me chame quando quiser outra bebida. —ela lhe disse antes de voltar sua atenção ao telefone ao lado do caixa.

Aqualtune passou os próximos minutos contatando alguns clientes lhes perguntando de seus pedidos e lhes oferecendo alguns bônus por causa da demora.

—Eu sinto muito senhora, mas poderia me passar seu pedido novamente? Tivemos alguns problemas na cozinha com fogo e alguns pedidos se queimaram...hãram...hãram, sim eu entendo, vamos sim pode deixar e eu gostaria de oferecer alguma compensação pelo dano causado, estamos mandando dois pedaços de bolo para cada pedido que atrasou e eu gostaria de saber se a senhora estaria interessada...sei...hurum... com toda certeza, pode deixar eu os mando em potinhos separados, muito obrigada e desculpe mais uma vez pelo incômodo.

Aquela tinha sido a última cliente que tinha tido o pedido desaparecido e quando finalmente tinha terminado de retornar a todos clientes ela não pode deixar de dizer:

—Vaca!

A última cliente tinha feito um escarcel no telefone, dizendo que o restaurante não tinha responsabilidade com os pedidos e que ela já deveria ter recebido o que pediu pois estava no horário de almoço do trabalho então para não perder o cliente é claro que ela ofereceu uma cortesia como compensação afinal você segura os clientes de um restaurante pelo estômago ainda mais se ainda mais quando se oferece sobremesas de graça.

Ao todo foram cinco pedidos extraviados e Aqualtune já tinha conversado com todos sendo sua única reclamação da cliente de sotaque Português carregado.

Quando os pedidos em questão ficaram prontos (muito rápido por sinal) ela mesma fez questão de embalar tudo com cuidado e mandar um cartão de desculpas em cada um, além é claro dos pedaços de bolo para compensar a demora.

O motoboy também estava de volta nesse meio tempo e é claro que ele tinha ligado para Aqualtune pela questão de pagamento, mas não para perguntar sobre os pedidos e sim para perguntar se poderia mudar a forma de pagamento que naquela hora o cliente queria fazer em dinheiro.

—Pode sim, pega o notinha fiscal e risca o total e coloca: pago em dinheiro", também verifique as notas contra a luz para ver se não é falsa, sim? —tinha instruído ela.

Quando voltou ele entregou o total para ela que fez o que qualquer pessoa sensata faria, guardou e registrou o dinheiro no caixa e guardou as caixinha do garoto em outra caixa lacrada.

Explicando rapidamente por cima o que tinha acontecido a ele, Aqualtune começo a falar das entregas.

—Essa cliente estava muito irritada ao telefone então entregue para ela primeiro, sei que o pedido veio de Estrela Velha mas ela é prioridade okay?

—Okay!

—Certo, ela esta no quarto 23 do hotel Maresias, você sabe onde fica, ela vai pagar em cartão como a maioria dos gringos que você vai entregar agora, por incrível que pareça todos os pedidos foram daquela região então deve ser bem perto de um pro outro só um que não é de lá, e sim daqui da Baía mesmo. —Ela fez uma pausa para respirar— O senhor Bjorn da casa de leilões fez um pedido de cinco marmitas, vai ser no cartão também, então deixe ele por último, pois desses pedidos ele foi o último a pedir, certo Julian?

O jovem chamado Julian sorriu e acenou.

—Pode deixar chefia, vou ser mais rápido que o Flash.

—Se fosse mais rápido que o Flash você já estaria de volta a essa hora, agora vá logo antes que eu receba mais uma reclamação e tenha uma avaliação negativa no "Ifome"!

O motoqueiro sorriu, voltou a colocar o capacete e finalmente colocou todos os pedidos na caixa.

—Relaxa mulher, uma avaliação ruim não vai derrubar a reputação desse lugar não.

Aqualtune revirou os olhos e voltou sua atenção ao pedido de milkshake que a garçonete havia trazido, ela tinha acabado de voltar do almoço e agora eram só elas duas para cuidar do salão e do bar.

A garçonete foi atender outras pessoas que estavam na área do Quiosque na praia e Aqualtune ficaria ali sozinha com o bêbado rabugento no Balcão enquanto ela se concentrava no preparo dos milkshakes, ela colocou uma máscara e uma luva e começou o preparo das bebidas geladas quando o homem inconveniente decidiu que seria um ótimo momento para puxar assunto.

—"Bjorn", né ? Esse cara é um cretino.

De costas para ele, Aqua apenas revirou os olhos lamentando por aquele homem em específico não querer parar de falar com ela.

—Esse idiota mau olhou para as relíquias que eu levei e me deu apenas 12% no lucro se qualquer uma das peças passar da casa dos mil reais. —lamentou ele.

Ela quis xingar nessa hora.

Leilões de relíquias era algo bem comum de acontecerem na cidade e o proprietário da casa de leilões era um dos descendentes das familias mais antigas da cidade Bjnor Solveig , um homem difícil de se lidar conhecido por ser bem ganancioso e bom em negócios principalmente por que em sua casa de leilões nenhuma peça saia por menos de 20 mil dólares, ele não era do tipo que se mete em enrascadas ou seja ele não fazia negócios com desconhecidos e quando fazia ele nunca deixava que estes saíssem por cima.

12% de 5.000 eram apenas 600,00 e se formos julgar pelo valor mínimo que suas peças eram vendidas ou seja 20.000 os 12% seria o equivalente a 2.400, muito para alguns mas para caçadores de relíquias era muito, mas muito pouco, 600,00 então era inadmissível quando se tem manutenção de equipamentos, 600,00 mau pagava as contas de casa e o salário mínimo era muita maior.

"Esse cara se fudeu!... —pensou ela —...é melhor ele torcer para as peças dele alcançarem a casa dos 50 mil para que ele pudesse pelo menos conseguir 6.000 ao menos."

—Maldito, como ele conseguiu 40% com aquele velho? Com certeza foi em troca de favores, eu não aceito uma coisa dessas.

Assim que terminou os dois milkshakes, Aqualtune montou as duas taças em que eles estariam e montou tudo em cima da bandeja antes de tocar a campainha e chamar a garçonete com os pedidos, quando a outra os levou, Aqualtune fez questão de preparar um shot com a cachaça mais forte que se tinha ali e servir para o homem lamentador.

Assim que viu o copo a sua frente o homem levantou os olhos para a jovem a sua frente.

—Eu não pedi mais bebida! —disse ele.

—Essa é por conta da casa, afinal não posso deixar que você saia daqui e vá encarar o Bjnor sobreo enquanto ele fica com boa parte do lucro do seu trabalho duro.

—Ele é um cretino que só pensa em dinheiro! —resmungou ele.

—Não posso concordar, eu sou igualzinha a ele, agora beba antes que eu tome esse shot de você!


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