Sete minutos escrita por Matt Yamato


Capítulo 1
Capítulo 1 - Verdade ou desafio




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Eu me arrependeria para sempre daquela noite, para ser mais preciso do exato momento em que aceitei brincar daquela ridícula brincadeira de colegiais “verdade ou desafio”. Claro que por sermos universitários as regras não seriam as mesmas de quando tínhamos quinze anos, éramos adultos afinal de conta. E na minha opinião a pior coisa que fizemos naquela noite foi ter deixado Allura e Romelle – duas pervertidas – decidirem as regras.

O jogo e as regras criadas eram bem simples, bastava girar a garrafa, a pessoa indicada pela boca da garrafa perguntava e a apontada pelo fundo da garrafa respondia, para cada desafio ou resposta negada você perdia uma peça de roupa, quando o total de roupas chegasse a zero uma penitência seria dada ao jogador em questão. Esta penitência seria decidida pelas duas, e só de pensar nisso já sentia meu corpo todo se arrepiar, nada seria pior do que ter aquelas duas entidades pervertidas decidindo seu castigo.

Sentamos em círculo, Hunk estava no meu lado esquerdo e Adam do meu lado direito, Shiro a minha frente ao seu lado esquerdo estava Allura e Katie estava a sua direita. Na esquerda dela estava sentado seu irmão Matt, Romelle estava sentada ao seu lado, ao lado dela estava Lance e minha irmã Acxa estava entre Hunk e Allura.

Uma garrafa vazia de vodca foi colocada no meio e Shiro por ser o mais velho da roda foi o primeiro a girar a mesma. Quando a garrafa parou de girar ela estava apontando para Allura perguntar e Adam responder. Adam era o novo namorado do meu irmão postiço Shiro e contra a sua própria vontade foi arrastado para esta festinha assim como eu.

— Verdade ou desafio? — Allura perguntou com aquela voz doce e fina que tanto me dava nojo.

Não me leve a mal, Allura era uma mulher negra linda com seus cabelos platinados e seus olhos azuis cristalinos, mas ela era também a pior pessoa que eu conhecia. Uma megera que infelizmente era melhor amiga de Shiro, então eu me via sendo obrigado a conviver com ela desde que eu me entendia por gente.

— Verdade — Adam respondeu de maneira tímida quase como se quisesse se encolher e desaparecer dali.

— Qual a razão mais ridícula pelo qual você terminou com alguém? — falou com aquela voz doce dela que me dava nojo.

— A pessoa peidou em um jantar de família e culpou o cachorro. Não aceito culpar o cachorro — Todos na roda riram com a resposta do moreno.

Eu nunca saberei se esta resposta foi verdadeira ou se foi apenas medo de tirar alguma peça de roupa na frente de desconhecidos. Se bem que com a Allura naquela sala eu também ficaria com medo, qualquer pessoa esperta ficaria com medo.

— Ahhh mano! Não acredito nisso — indignou-se Lance

— Sério que a pessoa fez isso? — Matt perguntou segurando as gargalhadas.

— Sim — respondeu seco dando por assim um fim naquela conversa. Após a crise de riso, Adam girou a garrafa. Quando a garrafa parou de girar ela estava apontando para Katie perguntar e Hunk responder.

— Verdade ou desafio?

— Desafio

— Desafio você a ligar para uma lanchonete ou pizzaria e tente desabafar com o atendente, dizendo que sua namorada terminou contigo. — Seus olhos brilhavam em expectativa.

— Pidge você sabe que serei obrigado a recusar este desafio né?

— Ué por quê? — Acxa perguntou visivelmente confusa.

— Os pais deles são donos de uma lanchonete — respondi

— Conhece as regras grandão, se não vai fazer o desafio vai ter que tirar uma peça de roupa — Romelle falou, um pouco feliz de mais para uma garota comprometida como ela. Mas como todos sabiam ela era uma entidade pervertida.

Hunk tirou o casaco e rodou a garrafa novamente. Quando a garrafa parou de girar ela estava apontando para Shiro perguntar e eu responder.

— Verdade ou desafio?

Shiro era conhecido pelos seus desafios insanos e apensar dele saber muitos podres meus e talvez eu me arrepender de escolher verdade, na situação atual era a escolha mais segura de se fazer.

— Verdade

— Qual é o apelido mais vergonhoso que alguém já lhe deu?

— Mullet, todo mundo nesta roda sabe disso... — falei lançando um olhar de ódio para o cubando, que abriu um sorriso inocente. Senti meu coração se apertar com aquele sorriso.

Girei a garrafa. Quando a mesma parou de girar ela estava apontando para Acxa perguntar e Romelle responder.

— Verdade ou desafio?

— Verdade

— Qual é a mania mais nojenta que você tem?

— Comer as unhas dos pés — respondeu dando de ombros.

Ninguém na roda aguentou tamanha sinceridade vido da loira, todos caímos na gargalhada.

(xxx)

As rodadas até agora estavam sendo muito engraçadas ou divertidas.

A garrafa foi girada mais uma vez e foi assim que meu destino foi traçado, pelas mãos da perversa Katie Holt. Na rodada final – pelo menos para mim que já estava praticamente nu – caiu para Katie perguntar e eu responder, ao ver seu sorriso macabro pude perceber que eu estava ferrado.

— Bom... — começou Pidge fingindo coçar sua barba imaginária, enquanto pensava no desafio que me daria — Eu te desafio a passar sete minutos preso no armário com o Lance — disse por fim abrindo um sorriso maléfico. A minha frente vejo Lance arregalar os olhos e abrindo e fechando a boca procurando pelas palavras certas.

— O desafio é dele, por que estou sendo punido também? — falou indignado.

Eu estava estranhamente calmo com a ideia de ficar preso apenas de roupa íntima com Lance, Pidge realmente tinha me pegado no pulo do gato, a menos que eu quisesse - o que não era o caso de jeito nenhum - ficar pelado na frente daquelas garotas assanhadas.

— Ue Keith está com medo? — Allura provocava devido a minha demora em aceitar o desafio.

— Não. Apenas ponderando qual seria pior, ficar nu na sua frente ou me trancar num armário com a mala sem alça do Lance — devolvi com um riso malvado. Não era segredo para ninguém que eu odiava a vadia da Allura, talvez até mais do que o próprio Lance em si — Acho que este foi o pior desafio da noite, muito perspicaz Pidge — assim que a castanha ouviu o elogio abriu um sorriso todo orgulhoso de si mesma e seu feito.

— Muito obrigada Kit, sabia que iria gostar — falou em meio a uma piscadela e um sorriso travesso

— PERAI! —  Gritou Lance acabando com o clima descontraído da festa — Por que raios vocês acham que eu vou ficar trancado num cômodo com ele? — desabafou apontando para mim

— Lance calma é só uma brincadeira — a voz doce de Allura foi ouvida e logo ela estava ao lado do cubano

— Ora se é só uma brincadeira então fique você presa com ele.

— Você está de brincadeira com a minha cara né??? Se eu tivesse de ficar trancado num cômodo com ela, eu me mataria. — gritei indignado com a idiotice do mais novo

— Aí o problema já não é meu. Não é mesmo?

Me pus de pé, aquela discussão já tinha durado mais do que eu gostaria e não poderia garantir a segurança ou que o moreno sairia daquela brincadeira com o rosto intacto.

— Lance infelizmente eu não posso fazer nada. Acredite em mim se tivesse algum jeito de mudar isso eu faria, odeio esta ideia tanto quanto você, porém caso não tenha reparado não tenho mais roupas para tirar e se está pensando que vou ficar pelado nesta festa está muito enganado — falei por fim recebendo um olhar emburrado do moreno. Sem ter mais do que falar apenas dei as costas para o cubano e fui para dentro do armário do segundo andar.

Não precisei esperar muito lá dentro até que Lance decidisse me agraciar com sua humilde presença. Ele ainda parecia emburrado com nossa discussão mais cedo, porem tentava não demonstrar muito, atrás dele estava Katie.

— Bom Keith as regras são simples vocês dois ficaram trancados aqui por 7 minutos enquanto o jogo continuará lá embaixo, alguém virar abrir porta para vocês quando o tempo acabar. — Seus olhos castanhos pareciam cintilar a cada informação nova que ela nos dava — Também vou ter que pedir para que coloquem seus celulares e relógios nesta bolsa, tudo bem? — fizemos como foi mandado, tiramos nossos relógios e entregamos nossos celulares.

Particularmente o fato de ficar trancado num lugar escuro com Lance, sem noção alguma de tempo e espaço me deixava agoniada.

— Mas alguma coisa?

— Não, só isso. — falou fechando a porta — Ahhh... Keith. Não faça nada que eu não faria.

A porta enfim foi fechada e o silencio dominou. Ela um silêncio tenso e pesado, mas não tinha muitas coisas a serem feitas, afinal nós nuca fomos amigos e muito menos nos dávamos bem desde que tínhamos nos conhecido a dois anos atrás.

Eu não fazia ideia do que sentia por Lance Mcclain, pelo menos não até aqueles malditos sonhos começarem a duas semanas. Agora tudo relacionado ao moreno era constrangedor ou confuso ou estranho.

Lance Mcclain é um mulherengo, arrogante e egoísta. Não acredito que acabei me apaixonado pelo palhaço canalha da classe. E pior não faço a mínima ideia de como “sair do armário”.

Afastei os pensamentos conturbados da minha cabeça. O simples fato de ter que respirar o mesmo ar que ele já me dava nos nervos, mas dessa vez era diferente, sua presença que me irritava tanto em todos os momentos, só estava servindo para me excitar.

Eu não saberia dizer o que exatamente estava me excitando, se era o cheiro dele, ou sua presença tão próxima a mim. Nunca tínhamos passado tanto tempo em um ambiente fechado e juntos, na verdade eu nem consigo me lembrar qual foi a última vez – tirando a noite de hoje – que ficamos na mesma sala juntos por mais de cinco minutos.

Ainda me lembro da primeira vez que nos encontramos, dos olhos azuis cobalto perdidos no vasto oceano. E do esbarrão que o moreno meu deu fazendo com que meu suco de uva caísse em cima da minha camiseta favorita, manchando-a toda.

Dias depois descobrimos estar na mesma turma de estrutura de dados I. E era como se nossos santos não batessem qualquer palavra dita, virava um motivo para alguma alfinetada no ego do outro.

Com o passar dos meses as coisas entre nós, foi piorando até chegar ao ponto de não conseguirmos mais frequentar qualquer lugar sem brigar. Não era por falta de amigos em comum, não era isso. Basicamente todos os nossos amigos eram os mesmos, mas silenciosamente acabamos por criar uma regra, nos revessávamos para conversar com eles, quando um estava ali o outro mantinha distância e verse-versa.

Nos dois apenas não conseguimos conviver um com o outro, nós dávamos mal. Nossos amigos pareceram entender esta relação tensa e optarem por deixar de nos reunir para sairmos todo mundo em grupo. Shiro e Acxa por outro lado não paravam de dizer que isso não passava de "tesão", mal resolvida entre nós. E talvez, mas só talvez esta fosse a razão primaria desse desafio dado pela Pidge.

— Mas que SACO!

— Mas que porra foi isso Keith? — gritou de volta devidamente assustado com o meu descontrole. E o soco que atingiu a porta fazendo um estrondo.

— Quando tempo acha que já se passou?

— Dois minutos talvez

— Merda!

O cheiro de sorvete de flocos que emanava de Lance estava começando a me fazer perder o pouco do meu autocontrole que ainda me restava. Tinham se passado apenas alguns minutos e aquele cheiro já tinha conseguido impregnar todo o cômodo.

Lance foi o primeiro a interromper aquele silencio.

— Keith? — chamou baixinho.

— Hm

Lance estava sentado abraçado em seus joelhos, sua cabeça estava baixa apoiada entre os joelhos. Aquela era a primeira vez que eu o via de uma forma tão vulnerável, e eu sentia algo dentro de mim se apertar com tal cena.

— O que eu fiz para você me odiar? — perguntou olhando para mim pela primeira vez desde que Katie nos trancou ali. O moreno tinha um ar de melancolia, quase como se tivesse chorado. No fim aquela pergunta havia me pegado de surpresa e sem uma resposta o cubano continuou. — Eu não consigo entender sabe? A gente faz o mesmo curso, temos o mesmo ciclo de amigos e mesmo assim não conseguimos ficar na mesma sala sem brigarmos. Hoje foi tão divertido não acha? Tudo bem que a Allura estava um pé no saco, admito — disse soltando uma risada enquanto dava de ombros — Porem foi a primeira vez que nos demos bem e foi tão divertido. Então o que eu fiz para você me odiar? Hein Keith? — Perguntou se levantando para olhar diretamente nos meus olhos. Mas não adiantava ele perguntar, pois eu não sabia o porquê.

— Lance não me olhe assim, por favor — falei baixando a cabeça e dando as costas para o mais novo.

Alguma coisa no seu olhar mexia comigo, chutava um caquinho daquele suposto amor que eu sentia por ele, e isso parecia fazer com que meu peito doesse de uma forma que eu nunca pensei que seria possível. Era como estar sendo sufocado, mesmo podendo respirar e aquilo era horrível.

— Você me deve uma explicação Keith — senti sua mão no meu ombro me fazendo virar em sua direção. Seus olhos azuis cobaltos me imploravam por uma resposta.

— Eu não sei Lance. Depois daquele episódio do suco de uva, parece que nunca estamos em sintonia, que qualquer coisa causa uma grande ferida nos nossos egos. — falei olhando para baixo. Sentia minhas bochechas rosadas devido a vergonha.

— Sério que não nos damos bem por um motivo tão bobo como este? — perguntou tentando esconder a vontade de cair na gargalhada.

— Lance... — sussurrei

— Keith... — sussurrou

E de repente quase como magia, parecia que o tempo tinha sido congelado. Nossas bocas se tocaram e tudo a minha volta parecia ter desaparecido, era como se nada mais importasse além de Lance.

Nossas bocas se tocavam como se travassem uma batalha em busca de um vencedor, porem éramos orgulhosos demais para admitirmos uma derrota. O beijo era avassalador, molhado e desajeitado.

E por mais que me doesse admitir a fama de mulherengo de Lance Mcclain, era algo a ser respeitada. Aquele foi o melhor beijo que já tive na minha vida.

— O que pensa que está fazendo Keith? — perguntou quebrando o beijo. O moreno não conseguia entender de onde vinha minha ousadia e sinceramente nem eu.

— Shiiii — sussurrei colocando o dedo em sua boca.

Lance estava tremendo e eu não conseguia entender se era de excitação assim como eu ou se era de medo pelo o que eu poderia fazer com ele, ali naquele cômodo escuro. Nunca tinha sentido aquela adrenalina na minha vida, sentia cada parte da minha pele arder. Eu precisava dos toques dele.

— O tempo acabou crianças — ouvimos a voz de Shiro antes da porta ser aberta e eu sair de perto de Lance num pulo.

Nunca me separei tão rápido de alguém como naquele instante. O medo e a excitação de sermos descobertos, se misturando e fazendo um bolo na minha garganta. Sai do armário com uma cara de tacho como se nada tivesse acontecido.

Na minha cabeça apenas uma dúvida, o que seria de nós dois agora?


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