Rey foi despertada daquele vazio completo e escuro, um vazio sem começo ou fim algum, por uma sensação familiar... mas diferente em tantas formas. Dessa vez, a sensação não começou com um formigamento na ponta de seus dedos, a estática causando aquele leve arrepio que trazia o prenúncio de que sua conexão através da Força com Kylo Ren estava se abrindo.

Não, qualquer coisa que houvesse sentido antes, nada se comparava a isso.

Rey soube que era Ben quem a despertava assim que pôde sentir a Força pulsando ao seu redor novamente – a Força que envolvia ambos – mesmo que sua visão estivesse tão turva que não fosse capaz de enxergar nada além das descargas de eletricidade que ricocheteavam pela atmosfera carregada de Exegol acima.

Ainda não tinha forças o suficiente para se mover, mas sentia, do fundo de seu ser, como se Ben a estivesse puxando através do frio e da escuridão de volta ao seu calor, aos seus braços. Era como se ela estivesse afundando na areia movediça em Jakku, e Ben fosse uma corda firme e constante que a erguia de volta à superfície.

Rey não saberia dizer onde havia estado, nem quanto tempo tinha se passado, ou mesmo se havia tempo ou algum lugar para onde seu espírito houvesse ido, fluindo em meio à completa paz do absoluto nada. Sabia apenas que estivera à deriva, à espera daquela faísca capaz de salvá-la do completo nada, que somente seu toque era capaz de causar. A faísca de esperança trazida por Ben Solo, o impulso que fazia seu sangue correr de novo e devolvia o ar de que tanto necessitava para respirar ao seu peito.

Ele a trazia de volta à vida.

Rey respirou aquele sopro de vida e, como que por instinto, agarrou a mão que sentia por sobre seu ventre, canalizando a sua própria energia vital para seu corpo, agora quente mais uma vez. Quando seus olhos puderam focar novamente, o rosto ferido de Ben Solo surgiu em meio à desolação do antigo templo sith destruído e um sorriso sincero – de alívio, de felicidade, de puro êxtase e, porque não, paixão e admiração – tomou conta do rosto de Rey, que não conseguiu formar qualquer pensamento racional diante da surpresa em vê-lo ali bem à sua frente, genuinamente aliviado por tê-la de volta em seus braços.

“Ben!” ela exclamou, aquela curta palavra expressando mais que qualquer outra frase que pudesse pronunciar naquele momento. Como que para certificar-se de que aquilo era mesmo verdade, Rey segurou o seu rosto nas mãos, como tantas vezes antes havia imaginado, o olhar que dividiam nunca se quebrando. O reconhecimento de que era Ben Solo quem a segurava nos braços traduzia tudo, tudo aquilo pelo que estivera esperando e lutando. Eles haviam vencido, juntos. Não havia mais obstáculo algum entre ambos.

Com essa percepção súbita, Rey finalmente cedeu ao impulso de beijá-lo, e foi como nada que houvesse experimentado em toda a sua vida. Aquele era o momento pelo qual o universo conspirava desde o amanhecer dos tempos e, então, toda a Força pareceu ressoar com a energia pura e poderosa que envolvia o entrelaço entre ela e Ben. Seu coração pulsava acelerado, seus sentidos se aguçaram e os pêlos em sua nuca se eriçaram com a sensação dos lábios quentes e macios de Ben sobre os seus.

Ele a puxou mais para perto de si, como que dizendo sem palavras que nunca deixaria que ela partisse novamente, e segurou-a como se perdê-la fosse mais do que poderia aguentar. Rey não tirou sua mão do rosto de Ben nem por um momento, e sentiu quando as lágrimas que ele não conseguia mais conter se derramaram por suas faces, inundando ambos com a urgência do momento que Ben sabia ser incapaz de fazer durar para todo o sempre, por mais que nunca tivesse desejado tanto algo em sua vida.

Cada toque de Ben enviava correntes elétricas por seu corpo, que Rey sentia reverberarem através da Força viva que os circundava e a tudo o mais que havia; dois que finalmente eram um, a díade que se unia, o poder da própria vida que permeava cada ser no universo e unificava as duas almas, destinadas a uma conexão eterna e inquebrável.

Ben, então, se afastou apenas o bastante para olhar bem dentro dos olhos de Rey. Assim, ainda inebriados pelo beijo que haviam estado tão desesperados para compartilhar, por um breve momento que pareceu durar todas as eras que os mundos ainda viveriam, eles viram, refletida nos olhos um do outro, como um presente da Força entre eles, a visão do futuro que poderiam viver, em outro tempo, outro lugar, em um mundo que tivesse mais que apenas um doce momento reservado aos dois.

Vislumbres de um futuro que ainda nem mesmo haviam tido tempo de pensar surgiram como flashes, a Força de seu toque os inundando com visões que mais lhes pareciam recordações, lembranças de uma vida juntos que nunca teriam. O perdão, a vitória, a redenção. A reconstrução dos jedi, pedra por pedra. Planos e sonhos. Um pedido. A bênção de Leia e de Luke. Mãos entrelaçadas. O pôr do sol. Um beijo. Amor. Dor. O choro e a alegria. Noites em claro e um céu estrelado. Passos pequeninos e determinados ecoando pela Millennium Falcon. “Dada!”. Um lar. Uma família.

Mas o para sempre foi apenas um momento.

Ben sorriu, o que Rey pensou ser o sorriso mais bonito, amável e encantador que já vira, que se estendia até seus olhos marejados, iluminando seu rosto com a felicidade mais pura e sincera. Só então, ela entendeu o que Ben havia feito por ela... para ela. E, para ele, isso já era o bastante.

Para que a eternidade quando alguns segundos podem durar toda uma vida?

***

“E Jaina o escuta sussurrando para ela em seus sonhos, dizendo que ninguém que você ama precisa realmente morrer um dia – não se você não quiser... Tudo o que precisa fazer é manter um lugar para eles em seu coração.” – DENNING, Troy. Legacy of the Force: Invincible, pp. 196.