Explore escrita por LC_Pena, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 1
Capítulo 1 A ideia


Notas iniciais do capítulo

Essa é a segunda fic que dedico a Gabi Germano e, sinceramente, espero que goste deste presente, amiga não mais tão secreta, rsrsrs.

Estou tentando trazer o universo da educação física para o mundo bruxo, mas é possível que desvie um pouco para a fisioterapia, por causa da minha referência familiar, viu? Mas espero que você se identifique mesmo assim com as escolhas dos personagens.



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Pronto, havia concluído sua nota pessoal sobre o campeonato de Quadribol dessa temporada, apenas esperou a tinta secar, antes de enrolar o pergaminho milimetricamente e guardá-lo na bolsa para entregar a sua colega de classe na manhã seguinte.

Evangeline Parkin podia ao menos se gabar de uma escrita quadribolística decente, embora não se dedicasse tanto ao seu óbvio talento desperdiçado, segundo a equipe do jornal da escola.

A garota sorriu para si mesma ante o pequeno espelho na sua carteira de estudos, antes de se levantar. Não que pudesse realmente reivindicar o espaço para si, já que o dividia com mais quatro garotas no dormitório do sétimo ano.

Terminou de prender o cabelo escuro, recém cortado na altura dos ombros, em um meio rabo de cavalo, o seu penteado oficial de treino. Pegou sua vassoura e se encaminhou para a saída da torre da Corvinal, mesmo sabendo que a essa hora suas amigas ainda estavam acordadas no salão comunal e que o toque de recolher já tivesse soado nas outras dependências da escola.

Metaforicamente falando, claro, seria um despautério Hogwarts ter realmente um toque de recolher que soasse de verdade!

Ignorou a sua própria linha de raciocínio tola, para se esgueirar pela escada, agachada, então passar despercebida pela entrada do salão, ainda barulhento por conta dos grupinhos mais relaxados de colegas, tranquilos agora que as principais provas já haviam passado.

Só restava como atividade acadêmica, de fato, algumas correções em grupo para saber se todos haviam ido bem em seus NIEM, cujas notas receberiam em casa e a grande final do campeonato estudantil de Quadribol, entre a Lufa-lufa e a Corvinal, em um par de dias.

E era exatamente por conta desse jogo que Eva precisava quebrar as regras da escola nesse exato momento.

A garota suspendeu a respiração por alguns segundos e ficou feliz ao constatar que ainda tinha os passos leves e seus colegas de casa estavam relaxados o suficiente para não notarem sua saída.

Tendo alcançado a tão sonhada liberdade, tinha que ser cuidadosa agora, porque os quadros dos corredores desertos da escola pareciam perder a noção do aceitável e tentavam sempre conversar com os alunos que escapavam de seus dormitórios à noite, embora estivesse óbvio que ninguém quisesse conversar com eles de madrugada!

Seguiu silenciosamente, frustrada com as tochas iluminando todo o longo caminho da torre da Corvinal até o primeiro pavimento com uma janela decente, pela qual pudesse escapar para o estádio sem ser percebida.

Em algum momento da década passada, haviam reforçado os feitiços de proteção das janelas mais altas de todas as torres, então Eva não poderia sair pela janela de seu próprio dormitório, o que teria sido muito mais conveniente.

Havia discutido com os amigos que aquela poderia ter sido uma decisão tomada por conta das novas e criativas maneiras que os colegas haviam descoberto para burlar o sistema que não permitia o acesso de meninos no dormitório das meninas, mas eles haviam levantado o ponto de que burlar as regras sempre ocorrera, o que havia mudado agora eram os eventos traumáticos do pós-guerra.

Janelas altas eram perigosas para pessoas com a saúde mental frágil.

Eva ignorou a conclusão sombria, sorrindo feliz ao finalmente encontrar o vitral de sereia, que sempre se abria com um feitiço simples. A criatura desenhada nos vidros coloridos jogou seu cabelo comprido por cima dos ombros, mas a setimanista nem sequer pôde admirar o gesto, pois já se atirava do batente em direção a noite clara, cheia de estrelas.

Se permitiu cair por alguns segundos, antes de ajeitar a vassoura de estimação entre as pernas e alçar voo como a atleta bem habilidosa que era. Adorava a sensação de recuperar altitude em pleno voo, com as pernas se agarrando automaticamente ao cabo da vassoura e seu corpo se alinhando ao assento invisível do artefato mágico.

O frio agradável do final de primavera escocês brindava seu voo com uma brisa suave, que fez seu nariz coçar de leve. Ganhou velocidade para circundar o castelo, apreciando a vista formada pelas torres da escola iluminadas apenas pela lua cheia.

Avistou rapidamente o campo de Quadribol e fez a distância para os aros, ainda grande, diminuir segundo a segundo. A estrutura de madeira antiga do estádio ainda estava nua, sem suas bandeirolas e flâmulas coloridas características, mas era tão familiar que doía no peito pensar que não jogaria nunca mais nesse lugar.

Eva planou sobre o campo, dando uma volta completa pela área, como se estivesse tentando gravar cada detalhe dos entalhes simples das madeiras e encaixes das arquibancadas, dos camarotes, a grama verdinha sob seus pés...

Suspirou pesado pela nostalgia, lembrando de seus primeiros momentos jogando Quadribol entre aqueles aros: se arriscando nos testes de time da Corvinal no terceiro ano, sua primeira partida oficial e todos os treinos, jogos oficiais, amistosos e brincadeiras estafantes, porém incríveis, antes e depois disso.

Mesmo naquela época inicial, Evangeline já sabia que iria fazer do Quadribol sua carreira e trabalho da vida toda, porque amava o esporte e amava como ele fazia parte de sua identidade e de tudo que era.

Era uma Parkin, vinha de uma família cujo nome abria portas e a história a precedia em qualquer estádio de Quadribol que se atravesse a ir. A verdade é que havia ganhado sua primeira vassoura de brinquedo antes que soubesse falar e desde então não sabia falar em outra coisa.

Seus ancestrais, fundadores e jogadores do primeiro elenco do Vagamundos de Wigtown, estariam orgulhosos, tinha certeza, porque Eva sentia em suas veias a responsabilidade de carregar o nome daqueles que ousaram fazer do esporte mais amado do mundo bruxo um negócio de família.

Desde sua fundação, nenhuma das equipes dos Vagamundos esteve sem um Parkin no elenco, mesmo que fosse no time reserva. Eles eram um dos orgulhosos 13 times da Liga Britânica e embora não tivessem chegado a uma final em anos, ainda eram considerados um dos melhores do campeonato.

Não era arrogante de pensar que sua vaga estava garantida desde o berço, inclusive porque seu tio, Simon Parkin, já representava muito bem a família na sua vaga de artilheiro titular no elenco atual. Porém também era verdade que seu tio Simon estava mais perto de se aposentar do que estava do início de sua carreira, então era apenas uma questão de tempo antes de alguém ter que assumir o manto da família.

Todos os seus primos e primas eram muito jovens e seus tios e tias muito velhos, então, mesmo contra os melhores votos de seus pais, Eva estava pronta para ser a próxima Parkin a perpetuar a tradição no Quadribol da família de açougueiros talentosos, com o cutelo em uma mão e vassoura na outra.

Para ser honesta, entendia muito pouco de carne, sabia apenas comer, mas compensava o fato sendo uma excelente apanhadora carnívora, o extremo oposto de sua prima de idade próxima, Grace, que havia cometido o grave erro de se declarar vegana no Natal passado.

Seu avô quase havia dado adeus a esse mundo naquele dia.

Sacodiu a cabeça para tirar a imagem mental do senhor robusto - que comia mais carne do que seus curandeiros recomendavam - com o rosto pálido por causa da declaração rebelde da neta, para deixar escapar por entre os dedos o pequeno diabinho que guardava no bolso há algumas horas.

O pomo de ouro praticamente lhe cumprimentou ao rodear sua cabeça, depois desapareceu em algum lugar entre as vigas de sustentação do setor Norte do estádio. Deixou que ele tomasse a dianteira por 30 segundos, então finalmente começou a sondar o ar noturno atrás dele, a sério.

Passaria algumas horas apurando seus sentidos, permitindo que seus reflexos se acostumassem com a penumbra da noite e que cada farfalhar de asas fosse toda a pista que precisasse para seguir o rastro do seu tesouro dourado.

Treinar de noite era importante, sabia, porque forçava sua visão periférica a trabalhar em pequenos movimentos e fazia seu cérebro focar nos únicos contornos importantes de verdade: o do pomo de ouro.

Tiraria algumas horas amanhã para treinar o seu jogo de corpo e desvio de balaços com seus colegas de time, mas no momento o que queria mesmo era afiar suas habilidades de apanhadora.

Eva parou de voar por um momento, porque havia visto um movimento mais ao longe, na relva bem cuidada antes da orla da Floresta Proibida. Se tratava de um vulto humanóide caminhando, tinha certeza, então não era realmente algo digno de nota, devia ser apenas o guarda-caça voltando de uma ronda, daquela distância era difícil até dizer se era bruxo ou uma das criaturas mágicas do bosque.

Mas não era um pomo, então isso era tudo o que importava.

Voltou sua atenção para o trabalho que tinha pela frente e em poucos minutos conseguiu alcançar o seu objetivo da noite. Deixou o pomo ir mais um par de vezes, até que o tempo se fechou e a noite clara deu lugar a uma nuvem densa e escura.

Eva acelerou a velocidade da vassoura, escolhendo a rota mais rápida para o seu vitral favorito, antes que a chuva a alcançasse.

Assim que tocou os pés no batente da grande janela, executou o feitiço de abertura e se esgueirou para dentro do castelo, mas parou de pronto, porque fora recepcionada por uma varinha apontada bem para seu nariz. Um xingamento em uma voz masculina por baixo do fôlego foi a única pista de quem havia feito aquilo.

— Meu Merlin, Lupin, o que pensa que está fazendo? — A garota fez questão de perguntar exasperada, porque embora estivesse errada em sair escondido do castelo, ter uma varinha apontada para si era um exagero de muito mal gosto!

Já tinha visto duelos acontecerem no meio dos corredores de Hogwarts por muito menos!

— Silêncio, Parkin, eu acho que não estamos... — O monitor lufa-lufa interrompeu sua explicação ao ouvir um barulho no corredor mais a frente. Eva de repente se viu tão alerta quanto seu colega do último ano. Ele lhe sussurrou sem a olhar realmente. — Fique aqui.

O garoto saiu andando com uma leveza invejável nas pontas dos pés e se a corvinal tivesse piscado, teria perdido o exato momento em que Teddy Lupin havia assumido a forma de seu professor de Runas Antigas.

Sim, ele era um metamorfomago, verdade! Eva quase havia esquecido desse detalhe, afinal de contas o garoto apenas mudava a cor do cabelo com sua assombrosa habilidade, nada que qualquer outro adolescente nascido-trouxa não fizesse também naqueles tempos com tinta para cabelo.

Seu lado racional estava bem certo de que seguir o conselho de Lupin era o melhor para sua segurança, porque aparentemente o monitor havia detectado uma outra presença que não a sua, esquecendo de lhe dar uma detenção bem merecida.

Por outro lado, Eva sempre havia se gabado de sua curiosidade aguçada e ainda que não fosse nada demais, como iria dormir sem saber quem havia deixado o monitor-chefe mais tranquilo de todos de orelhas em pé?

Não, dessa vez iria deixar a curiosidade levar a melhor, afinal estavam quase no último dia de aula na escola e Lupin não podia mais colocá-la de castigo.

Eva seguiu o exemplo do rapaz, mas sem executar a façanha de trocar de aparência em um estalar de dedos. Se esgueirou pelo corredor até ter a visão de Lupin no extremo oposto do corredor de pedra, meio escondido atrás de uma das gárgulas da decoração do castelo.

A corvinal se aproximou pé ante pé, porque o monitor estava falando algo em voz baixa – tão baixa que ela nem sequer conseguia ouvir uma palavra da conversa – e ela precisava escutar tudo para decidir sua próxima linha de ação.

Quando chegou perto o suficiente para ouvir ao menos o lado da conversa do bruxo transformado no professor de Runas, percebeu que a situação era mais séria do que pensara. Lupin parecia extremamente incisivo e até mesmo ameaçador.

— Não devia estar aqui, então você tem uma última chance de sair do castelo por conta própria, antes de ser conduzido pelos aurores para Azkaban. — A voz do setimanista havia soado quase igual ao do professor Brenam, mas faltava aquela arrogância típica do docente.

A corvinal não ouviu a resposta da figura misteriosa, que agora aparecia na esquina do corredor em que Lupin se encontrava. Ou talvez não tivesse havido nenhuma resposta verbal, porque a próxima coisa que viu foi Teddy Lupin, no corpo do professor Brenam, se jogando no chão de repente.

E a última coisa que viu foi uma luz laranja vindo em sua direção.

***

Continuou encarando o teto com um tédio e uma frustração que não tinha precedente nos seus dezessete, quase dezoito anos de vida. Eva olhou novamente para o seu relógio na cabeceira do seu leito na Enfermaria: marcava 3 horas e 46 minutos, só dois minutos a mais do que marcara da última vez que o consultara.

Amanhã finalmente teria alta da ala hospitalar de Hogwarts e seria capaz de terminar de arrumar suas coisas, se despedir dos colegas e das partes favoritas da escola, antes que seu tempo ali finalmente terminasse.

Ah sim, ainda iria poder assistir a final do campeonato de Quadribol do camarote dos professores, uma ótima compensação pelo fato de que sua temporada acabou com uma contusão fora de campo!

Olhou furiosa pela milésima vez para seu joelho imobilizado em contentores trouxas: ele ainda parecia enorme, com tons feios de púrpura e o início de um amarelado doentio, que supostamente significava que estava começando a curar.

Era inacreditável que, de todas as noites que um lunático ex-seguidor do lorde das trevas pudesse escolher para atacar Hogwarts, ele houvesse escolhido justamente a noite em que ela saiu para fazer um último treino inofensivo!

Ninguém sabia exatamente qual era o objetivo do homem ali, claro, pois como Lupin o deixou escapar para prestar socorro a ela, nenhum deles conseguiu a menor pista de como o bandido havia entrado na escola ou quem ele era realmente.

Então agora a apanhadora estava presa a uma cama de enfermaria, com uma contusão ruim o suficiente para lhe tirar do jogo mais importante da sua vida, até o momento, claro e sem saber como iria fazer para ganhar uma outra chance de mostrar seu talento para Oliver Wood!

Sim, porque o capitão do União de Puddlemare iria assistir a final do campeonato escolar e às fofocas do meio esportivo diziam que, agora que o ex-jogador da Grifinória estava prestes a se aposentar, ele continuaria no Quadribol como olheiro do seu time do coração.

Não era o time do coração de Eva, mas a visibilidade e chance de treinar uma temporada inteira na divisão de base dos Puddlemare não iria lhe fazer mal algum... Muito pelo contrário! A garota cruzou os braços em seu leito de doente, indignada.

Aquilo tudo era muito injusto!

— Você está fazendo aquela expressão de quem jura que tem razão em algo, mas de fora parece apenas uma garotinha mimada. — Teddy Lupin comentou despretensioso, tendo acabado de se colocar no campo de visão da colega. — Por que ainda não está dormindo, Parkin?

A garota continuou de braços cruzados e expressão emburrada, mas virou a cabeça o suficiente para ver o monitor-chefe a observando apoiado na armação da cortina de sua cama na enfermaria.

— Por que você está aqui, Lupin? Por acaso você não tem outra pobre coitada para atazanar durante sua ronda, não? — A apanhadora questionou mal-humorada, ignorando a questão do colega. Ele sorriu com sinceridade, antes de se sentar na ponta da cama dela.

— Não tive ronda hoje, só vim aqui ver se você estava melhor. Passei mais cedo e você estava dormindo, então mais tarde e você estava conversando com seus pais via lareira e então... — Ele deu de ombros, parecendo um pouco constrangido. Seu cabelo estava em um tom vermelho suave, o que o deixava adorável. — Iria apenas dar uma olhada no seu prontuário e cairia fora, mas já que está acordada, resolvi dar um oi.

— Imagino que era um bom plano esse de olhar só o meu prontuário, já que veio de madrugada. Bem, azar o seu, agora vai ter que lidar com toda a culpa que olhar para minha situação deprimente causa. — Eva fez um gesto teatral para a perna imobilizada, então Teddy respondeu com uma careta engraçada.

— Drama é mesmo uma coisa dos corvinais, não é? — Ele perguntou divertido, sendo repreendido com o olhar pela garota a sua frente. — Independente de qualquer coisa, não diria que estou me sentindo culpado pelo que te aconteceu, já que disse para você ficar onde estava e você me desobedeceu.

— Talvez eu tenha te desobedecido, porque eu não te devo obediência, para início de conversa! —  Eva sabia que estava sendo uma idiota, Lupin era um cara legal, todo mundo dizia, mas estava com raiva e ele era um alvo tão bom de agredir quanto qualquer outro.

— De qualquer sorte, não estou culpado, estou grato. — Ele falou com calma, depois abriu um sorriso gentil. — Se você não tivesse aparecido quando apareceu, talvez eu tivesse duelado com o vilão e sabe Merlin o que teria me acontecido!

— Então foi você que espalhou essa historinha de heroísmo que está correndo solta por aí? Eu não pulei na frente do feitiço para te defender, Lupin, foi mais um efeito colateral, uma... Como os trouxas chamam? Baixa de guerra! — Ela falou cínica, arrancando uma risada leve do metamorfomago.

— Baixa de guerra ou não, você salvou a minha pele, então serei eternamente grato. — Ele reiterou o raciocínio, então a encarou com um toque de travessura. — Agora... Como poderia eu, um humilde lufa-lufa, ajudar uma nobre dama a sair de uma situação... Como você chamou? Deprimente?

Eva encarou o garoto com irritação, porque tinha problemas reais para lidar e estava sem tempo para essa palhaçada de gratidão! Seu joelho estava machucado e embora não fosse uma lesão grave, iria levar semanas para estar 100% e até lá já estaria muito perto das seletivas da divisão de base de virtualmente todos os melhores times da Liga!

— Eu não sei, Lupin! Hum, deixa eu pensar... — Tocou no próprio rosto com a ponta do indicador, falsamente. — Quem sabe você não dá um jeito de conseguir um joelho novo para mim, assim eu consigo participar dos testes das divisões de base da Liga Britânica, hum? Que tal?

Eva perguntou com sarcasmo, mas Teddy só a encarou com diversão.

— Não tenho como te dar um joelho novo, mas não é como se você não pudesse tentar os testes na próxima temporada, certo? Por enquanto você pode entregar cartas no escritório da sua família ou... — A garota o encarou furiosa, então Teddy sorriu maroto, antes de continuar. — Ou cortar bifes no açougue do seu avô!

— Eu vou cortar umas tiras de bife das suas costas, seu estúpido! — Eva falou irritada, mas não pôde manter o sentimento por muito tempo, porque Lupin estava rindo de sua cara agora e não é como se ela se levasse muito a sério também. — Ai, Lupin, minha vida acabou!

Se jogou dramaticamente na cama, fazendo o garoto continuar a olhando com diversão do final do colchão. O lufa-lufa cruzou os braços e entrecerrou os olhos para aquela cena de autopiedade. Cutucou o pé da garota que estava mais perto de si, aquele que não estava ligado à perna machucada.

— Que tal falar com seu pai, hum? Pedir para treinar com os preparadores do time dele? — Ele cutucou de novo, pois a menina estava com um braço jogado por cima dos olhos, apenas o biquinho teimoso a mostra. — Aposto que eles podem fazer um programa de treinos especial que vai te pôr em uma vassoura em dois tempos! Afinal de contas, os Vagamundos de Wingmot são uma das melhores equipes da Liga!

— Você acha que eles poderiam me ajudar? — Ela levantou de supetão, um tom esperançoso colorindo a pergunta.

— Eu acho, oras! Todo mundo sabe que esses caras profissionais remendam ossos, dentes, tendões e músculos com um estalar de dedos e seu pai é o chefe de todos eles! — Teddy demonstrou estalando o polegar e o indicador, depois sorriu com otimismo. — Minha tia Ginny saiu de várias lesões sem grandes problemas e toda vez que ganhava um prêmio, agradecia a sua equipe de preparadores e curandeiros, todo mundo sabe disso!

— Ginevra Weasley é uma inspiração para mim. — Eva sussurrou com reverência, então Teddy acenou com a cabeça.

— É uma inspiração para todos nós, mas... Permita-me informar que algumas vezes ela aparecia com o braço em uma tipoia ou com uma faixa no tornozelo durante os nossos almoços familiares. — O rapaz de quase 18 anos acrescentou, com sua suposta sabedoria. — Porém, no início de cada temporada, lá estava ela sendo a grande atleta que conhecemos e admiramos!

— Pois bem, Lupin, você me convenceu. — Eva consertou o lençol ao redor de suas pernas, determinada, cobrindo inclusive o joelho inflamado. — Vou pedir ajuda profissional aos preparadores de meu pai e se Merlin quiser, estarei jogando na divisão de base de um time decente até o fim do ano!

— É assim que se fala! — Comemorou o lufa-lufa, aproveitando a oportunidade para se levantar e voltar e ir dormir o restinho de noite que ainda tinha, antes dos colegas começarem os preparativos para a torcida do jogo de logo mais. — Então te vejo mais tarde na final do campeonato? Espero que esteja pronta para ver seu time perder para o meu.

Ele concluiu animado e a garota sorriu enquanto revirava os olhos para a tolice. Lupin podia ficar com a sua mal colocada esperança de ganhar o campeonato escolar, aquilo agora era coisa do passado e Eva era uma mulher que pensava sempre no futuro.

E o seu futuro seria sim brilhante, só precisava reajustar sua rota para o sucesso um pouquinho.

***

Seu pai estava fazendo de propósito, Eva tinha certeza!

O bruxo continuava com seu passo largo e rápido, recitando tarefas para seu pobre assistente, enquanto fazia a filha mancar atrás de si, mendigando sua atenção. Onde estava o idiota do Lupin com seu otimismo, quando seu pai estava afundando todos os seus planos em um mar de lama burocrática?

— Seria só por algumas semanas e eu poderia... Pai, o senhor está me ouvindo? — A garota estava aliviada que ele ao menos havia parado para assinar um documento flutuante enviado pelo assistente. Ralph a olhou com pena, mas disfarçou a expressão ao ver que o chefe finalmente iria falar com a filha.

— Estou ouvindo, Evangeline, mas honestamente não sei onde você quer chegar com todo esse falatório. — Leroy Parkin a encarou por sobre seus óculos quadrados, avaliando sua herdeira vestida com vestes tradicionais agradáveis, que escondiam o curativo que ainda levava no joelho esquerdo.

— Em resumo, para não ocupar muito o seu tempo, preciso de um dos preparadores do time emprestado para me treinar por algumas semanas. — Ela falou com decisão e o pai apenas a encarou com o que a garota sabia que todo mundo chamava de “olhar de peixe morto Parkin".

— Quer um preparador físico profissional para lidar com suas fantasias de criança, Evangeline? Como se não estivéssemos com falta deles! — Parkin deu as costas a filha, dessa vez falando com seu assistente. — O último decente que tínhamos foi roubado debaixo dos nossos narizes pelos Falcons e agora Terrisen resolveu se aposentar por causa da proibição do mascote norueguês na Copa do mundo depois do fiasco de 2014, quero dizer...

— Uma insanidade sem tamanho, senhor! — Ralph falou solicito, fazendo seu patrão o encarar com impaciência, antes de voltar a seu discurso inflamado para a filha. Apontou um dedo na direção da garota obstinada.

— Não temos preparadores físicos para brincar de te treinar, Evangeline, então o que você pode fazer, como a boa garota que eu sei que você é, é olhar o curso de diplomacia mágica que sua mãe te apresentou semana passada. Com seu currículo, tenho certeza de que a vaga será sua. — O homem concluiu com um sorriso simpático, depois encarou o rapaz ao seu lado. — Termine de ver o contrato de Dembélé, Ralph. Certifique-se de cobrir a oferta de qualquer time da Costa do Marfim dessa vez, por favor.

— Sim, senhor Parkin. — A pena de repetição rápida do rapaz rabiscou rapidamente um pergaminho, que foi dobrado e guardado no bolso do terno engomadinho do secretário. O jovem bruxo negro levantou a cabeça antes de continuar a falar com seu chefe. — Mais alguma coisa, senhor?

O homem mais velho se preparou para entrar na sala de reuniões, deixando a filha insatisfeita e o empregado ansioso para agradá-lo para trás. Parkin parou com uma mão na maçaneta e o cenho franzido.

— Sim, na verdade... — Ele parou de falar, ainda refletindo se queria ou não fazer o que tinha passado em sua mente depois da discussão com sua filha sobre a perda de seus preparadores físicos. Soltou o ar pelo nariz, irritado. — Escreva para o maldito Volkov.

— Devo fazer uma proposta irrecusável dessa vez, senhor? — A pena de Ralph estava pronta para riscar mais um dos pergaminhos empilhados em suas mãos. Eva se perguntava como ele ainda tinha bolsos para guardar tantas anotações!

— Algo ligeiramente acima do ultrajante, não estamos tão desesperados assim. — Parkin falou com desdém, depois entrou na sala, deixando os dois jovens encarando a porta fechada.

Eva olhou intrigada para o seu veterano de Hogwarts, que há mais de três anos sofria comendo o pão que o Cérbero amassou nas mãos de seu pai e o rapaz retribuiu o olhar com apreensão.

— Por que está me encarando desse jeito? — Ralph Reger perguntou com medo da resposta. Nenhum Parkin, pela sua longa experiência com a família, era razoável quando carregava essa expressão.

— Preciso da sua ajuda para conseguir um preparador físico, Ralph, isso não é negociável. — A moça falou com um sorriso inocente, que fez o sonserino a encarar com uma sobrancelha levantada.

— Você ouviu seu pai, Eva, estamos com problemas para conseguir bons profissionais para a temporada, parece que todo mundo resolveu dar valor a sua equipe técnica nesses dias! Não sobrou quase ninguém novo no ramo! — O homem terminou de enfeitiçar sua última ordem, antes de ajeitar a gravata borboleta com cuidado.

— Deve ter alguém que possa me fazer esse favor! Eu sou a filha do presidente de um dos grandes times da Liga, pelo amor de Morgana! Os privilégios que me acusam de ter não vão me servir de nada dessa vez? — A garota questionou com um leve toque de ironia, porque fazer parte de sua família não tinha lhe ajudado com bosta nenhuma até o momento!

Ralph a olhou de cima abaixo com frustração, porque Evangeline, mesmo sendo uma grande amiga, que tinha lhe arrumado um péssimo emprego com um ótimo salário, às vezes era tão irritante quanto seu pai.

E duas vezes mais teimosa!

— Dessa vez eu tenho que concordar com o senhor Emerico, o maligno, que você chama de pai, Eva. — O sonserino falou com seu usual toque de deboche, guardado para qualquer um que não fosse o homem que pagava seu salário. — Estamos mesmo sem preparadores físicos de qualidade, o chefe acabou de falar que não estamos desesperados, mas se ele está disposto a fazer uma nova oferta para Volkov...

— Quem é esse Volkov? Ele é um preparador físico? Ele pode me ajudar? — A garota recém-formada agarrou, com ansiedade, os dois braços do rapaz cínico a sua frente, que a olhou com impaciência.

— Não, ele não pode te ajudar! Ele e seu pai se odeiam, estão nessa negociação ridícula, que é mais uma das picuinhas dele, há anos! — Ralph se soltou e olhou a amiga com cuidado. — Por que você não segue o conselho de sua família e sossega essa sua perna doente em alguma almofada fofa?

— Então esse Volkov é mesmo um preparador físico... Ele é bom? — Eva ignorou a pergunta de Ralph, porque ouvir os conselhos de seus pais era a mesma coisa de pegar a Varinha das varinhas e kedavrar todos os seus sonhos!

— Ele é bom, mas como eu te disse, ele e seu pai se odeiam, o que significa dizer que eu vou enviar uma proposta até que decente para ele e aí ele vai pedir um valor exorbitante para sair do buraco em Gales em que está enfiado e daí...

— Se ele é tão bom, talvez ele possa me curar, me deixar pronta para a temporada da divisão de base e aí meu pai não vai ter como não lhe fazer uma boa oferta de emprego! — Eva explicou seu plano animada, recebendo um olhar cético de Ralph.

— Esse seu pai aqui? Esse, que acabou de entrar por essa porta? — O sonserino confirmou com um tom debochado. — Eva, aqui na sede chamamos o seu pai de Emerico, o maligno e se você não conhece a história do bruxo, ao menos se atente a parte da malignidade, por favor!

— Pensa bem, Ralph, se o cara odeia tanto meu pai, ele vai adorar me treinar só para irritar ele! Quero dizer, é perfeito, porque meu pai não quer que eu jogue Quadribol, daí eu só tenho que convencer esse velho de que a melhor maneira para irritar seu arqui-inimigo é treinar sua adorável filha! — A corvinal concluiu a ideia com esperança.

— Isso não faz o menor sentido...

— Faz sim, você é quem está com má vontade! Depois que o homem me treinar só de pirraça e eu acabar sendo convocada por um time profissional, meu pai não vai ter outra escolha, a não ser admitir que seu inimigo fez um ótimo trabalho e que eu sou uma boa jogadora! — A garota concluiu otimista.

Ganhou um olhar impaciente do sonserino, que resolveu que aquela era uma causa perdida e que tinha muitas outras coisas mais interessantes para fazer nessa hora livre, longe do chefe infernal. Ralph voltou a caminhar, mas pelo menos teve a decência de manter seu passo lento, para que a amiga o acompanhasse.

— Como eu sei que você não vai desistir dessa idiotice tão cedo, vou fazer o seguinte: escreverei a oferta oficial dos Vagamundos de Wigtown e vou deixar você entregá-la ao velho russo. — Ralph decidiu feliz, porque isso faria a amiga parar de lhe pentelhar, atenderia a ordem do chefe e ainda lhe daria alguma satisfação pessoal, porque estava tentando ajudar todo mundo.

Era quase como se ele tivesse se transformado em um querubim trouxa, da noite para o dia!

— Essa é uma ótima ideia, Ralph! Mas só uma última coisa: o velho é russo? — A garota perguntou com uma careta, porque todo mundo sempre dizia que os bruxos russos eram os mais carrancudos e irascíveis de todos!

— É russo, mas você tem o sangue dos açougueiros Parkin correndo em suas veias, tenho certeza de que pode fazer frente a qualquer velho intratável! — Ralph dessa vez só falou de gozação, porque Eva provavelmente iria ter a porta do iglu do ermitão fechada bem em seu nariz.

— Agora você só está sendo sarcástico... — A garota o olhou com impaciência, então o sonserino lhe respondeu com um sorriso sincero.

— E você está sendo teimosa, mas tudo bem, porque essas coisas fazem parte do nosso charme.

Os dois se abraçaram, Eva colocando um pouco do próprio peso para o amigo carregar, porque o joelho estava começando a incomodar.

Pronto, o começo tinha sido acidentado, mas se o seu bom nome não lhe servia de muita coisa dentro dos domínios de seu pai, Eva estava satisfeita de que ao menos iria lhe dar alguma chance do lado de fora. Agora só tinha que encontrar esse tal de Volkov, lá em Gales e convencê-lo a ajudá-la.

O que poderia dar errado?


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Notas finais do capítulo

Bem, bem, bem... Mais uma fic, espero que consiga terminar do jeitinho que eu planejei, cruze os dedos, Gabi!

Bjuxxx



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