O conto da Princesa Vermelha escrita por Luna, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 2
Capítulo 2




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Todos da realeza deveriam ter companhias, pessoas para lhe distraírem, mulheres e homens escolhidos especialmente para essa função, mas também para que os grandes senhores se sentissem especiais e não causassem muitos problemas. Era muito benéfico para eles estarem perto da realeza, prontos para encher suas mentes de teorias e planos, onde eles seriam os maiores beneficiados. Isso também servia para os príncipes e princesas, especialmente aqueles que estavam na linha de sucessão.

Quando ainda era muito nova você foi apresentada a três garotas, elas deveriam ser suas damas de companhia, estariam sempre por perto para atender qualquer desejo que a princesa tivesse, não importava qual fosse. Você nunca as viu como algo diferente de suas amigas, o que era bastante complicado, porque em alguns momentos você se questionava se aquelas garotas estariam ali ao seu lado se você não fosse uma princesa.

Petúnia tinha o dobro de damas e as trocava com frequência, sempre se irritava e depois de alguns meses as achava entediantes, mas você amava suas amigas, elas se tornaram as irmãs que Petúnia deixou de ser e quando chegou o momento de deixar o reino e ir para tão tão distante esclareceu que nenhuma delas era obrigada a acompanha-la.

Você não queria afastá-las de suas famílias sabendo o quão doloroso era ir embora e não saber quando poderia retornar, dá-lhes um futuro incerto em um lugar desconhecido, sendo rodeadas das intrigas que toda corte possuía, sendo obrigadas a servir a outro rei e rainha. Não, você as amava demais para condená-las a isso.

Então, obviamente você ficou muito surpresa quando suas três amigas, suas irmãs, disseram que jamais a deixariam embarcar nessa aventura sem elas. Quem iria escolher seus vestidos se Marlene não fosse? Você era simplesmente terrível nisso, sempre fazendo escolhas absurdas e arranjos desastrosos. Quem faria lindas tranças em seus longos fios ruivos se Dorcas ficasse? Ela tinha uma mão tão leve e você sempre fechava os olhos para apreciar, ninguém mais mexia em seu cabelo além de Dorcas. E todas vocês precisariam de Mary, de alguma forma a garota sempre sabia de informações que nenhuma delas tinha acesso, nem mesmo você, o que seria extremamente necessário em um lugar desconhecido.

Você aceitou suas amigas com abraços e lágrimas e prometeu que sempre as protegeria, que elas seriam bem cuidadas e que se a qualquer momento elas quisessem retornar uma carruagem e escolta estariam esperando. Você disse que as amava e recebeu esse amor de volta e por um instante você não se sentiu mais tão sozinha e aquela dorzinha persistente em seu coração se tornou um pouco mais leve.

 

Quando você acordou, depois de semanas presa dentro de uma carruagem, dormindo encolhida e com mais pernas do que seria adequado, a primeira coisa que notou foi a falta de sol entrando pela janela. Em seu reino os dias eram sempre ensolarados, salvo em dias de chuva, onde às vezes por algumas horas o sol ficava escondido atrás de grossas nuvens cinzentas.

Ali parecia só haver nuvens cinzentas e havia apenas uma frestinha de luminosidade, porque era outono, lhe disseram. Você ficou olhando para a janela, buscando o sol e pensando em todas as pessoas, lugares e coisas que amava e foi forçada a deixar para trás, em algum momento as criadas entrariam para encher sua banheira de água quente, provavelmente ainda com olhares intrigados, pois pelo que pode perceber banhos diários não era uma prerrogativa da região e agora você até poderia entender.

Mas você estava acostumada aos seus banhos, era como um ritual e abandonar aquilo – mais aquela pequena coisa – seria como deixar mais um pedaço de casa para trás, então você exigiu e como todos pareciam tão dispostos a deixa-la feliz acataram. Você estava quase tentada a fazer exigências absurdas apenas para ver até onde iria a boa vontade do rei.

Você já aproveitava o banho quando suas damas chegaram, animadas, falantes e vestidas tão cobertas que você teria rido se não lembrasse que quando saísse do seu banho teria que usar os mesmos trajes.

— Quando o embaixador disse que o país era frio eu realmente não imaginei que fosse tanto. — Mary tinha um vestido que ia até seu pulso e um longo xale ao redor dos ombros.

— Lil, saia da água antes que ela esfrie ainda mais e você fique doente. — Dorcas pegou uma toalha para que ela pudesse se secar.

— Onde estão as criadas que a rainha disponibilizou para você? — Marlene olhava dentro do baú, procurando por algum vestido provavelmente.

— Pedi que elas fossem buscar nosso desjejum. — Você já começava a tremer, mesmo com a lareira acesa, agradeceu quando Mary começou a ajuda-la a se vestir.

— Pensei que você iria até os reis e o príncipe.

Você ignorou o tom acusatório de Marlene, porque sabia que realmente deveria ir até eles, mas ainda podia usar a desculpa de cansaço da viagem e iria usá-la pelo tempo que fosse possível. Você tinha apreciado a companhia da rainha e o rei parecia alguém decente, bondoso, o problema mesmo estava no jovem príncipe, que por sinal seria seu futuro marido.

— Lily, você deveria dar uma chance a ele, conhece-lo melhor. — Marlene prendia seu vestido, então não era como se você pudesse fugir daquela conversa.

— Eu o conheço.

— Você o conheceu anos atrás, quando ele era como todos os garotos: tolo, pomposo e estúpido.

Há alguns anos o príncipe tinha sido convidado a passar uma temporada no reino dos seus pais, um meio para que ambos os países tivessem laços mais estreitos de amizade. O contrário não aconteceu, porque Petúnia já tinha começado seu treinamento para reinar e você ainda era muito jovem para se aventurar sozinha em outro reino. Claro que você e James tinham a mesma idade, mas ninguém questionou o argumento da rainha.

Ele tinha ido com jovens lordes, filhos de nobres, criaturas tão pomposas e tolas quanto seu príncipe. A antipatia foi imediata e você prometeu que nunca seria amiga dele e iria detestá-lo para o resto de sua vida. Uma promessa boba feita por uma menina de doze anos, mas vendo-se jogada em um casamento aquela promessa saltava-lhe a memória o tempo inteiro.

— Se você lhe der uma chance pode ser até que ele conquiste seu coração e você acabe se apaixonando.

— Isso não importa, Lene. Casamentos na realeza são feitos para fins políticos, não românticos. Amor é um privilégio que não chega até nós.

— Importa para você. — Dorcas pegou as suas mãos a fim de ter sua atenção. — Você sempre sonhou com um casamento, como estaria feliz no seu dia especial, como seria feliz por toda a sua vida e-

— Eram sonhos infantis. — Você a cortou. — Não estou aqui para me apaixonar pelo príncipe, para ter meu coração roubado ou para roubar o dele, não importa se estamos apaixonados ou não. Estou aqui porque ele precisa casar, assegurar herdeiros para a coroa, trazer segurança para seu reino e impedir uma guerra pela sucessão.

— Ainda não acredito que sua irmã lhe mandou para um país que está cheio de conflitos. — Dorcas ainda parecia revoltada com aquilo, assim como esteve desde o dia que soube que você tinha sido dada em casamento.

— Mas se tudo der certo Lilian será rainha de um grande reino, ainda mais poderosa que aquela cara de cavalo.

Todas as meninas repreenderam Marlene, você já tinha desistido disso fazia tempo e era até bom que Lene tivesse ido embora, pessoas ainda eram decapitadas por desrespeito a coroa.

 

A sua disposição de evitar a família real não durou muito, como sabia que não duraria. Logo você e suas damas estavam envolvidas nas atividades da corte, as senhoras ficavam nos grandes salões, aquecidas por lareiras, se entretendo com jogos de tabuleiro, livros e fofoca. Aparentemente todas sabiam de notícias que corriam pelos corredores e adoravam dividir seus conhecimentos com quem tivesse por perto.

A rainha aparecia em alguns dias, mas você imaginava se uma corte repleta de mulheres jovens fosse muito enfadonha para ela. Ela era mais velha que qualquer uma ali, e sua própria mãe sempre dizia que a juventude a irritava por suas risadas sem sentido e seu pouco apreço pelas vivências passadas

Você se condoía dela e de todos ali era a rainha que detinha seu maior apreço e consideração. Nem poderia culpa-la por educar tão mal o príncipe, sendo ele seu único filho e herdeiro do trono, talvez fosse até aceitável que ele não passasse de um garoto arrogante, mesquinho e presunçoso. E não importava essa vozinha que sussurrava na sua consciência de que anos tinham se passado desde a última vez que você viu esse garoto e agora ele já era um homem, porque conhecê-lo era dá-lo a chance de roubar algo que você não queria dar: seu coração.

— Lils, você ouviu o que lady Amélia acabou de dizer?

— Desculpe, Lene, acabei me distraindo. — Você voltou sua atenção para a mesa e sorria placidamente como foi educada para fazer.

— Um dos cavalariços retornou mais cedo avisando que Sua Alteza Real está voltando para o Castelo. Talvez a caçada não tenha sido bem sucedida. — Lady Amélia repetiu o que tinha falado antes e você tentou aumentar seu sorriso, era esperado que a volta do seu futuro noivo lhe trouxesse alguma alegria.

— Está tão frio, não sei como conseguem sair com esse clima. — Dorcas reclamou.

As outras mulheres sorriram divertidas e começaram a falar sobre o clima, como aquilo definitivamente não era frio demais e que tinha reparado que todas estavam muito vestidas, mas que era compreensível levando em consideração de onde vinham. Vocês deviam se acostumar rápido ao clima, no inverno era tão frio que alguns homens tendiam a perder um dedo ou dois.

— Alteza. — Um dos guardas se aproximou da mesa. — Sua Majestade, a rainha, solicita sua presença nesse momento.

Você sentia os cochichos as suas costas e apenas poderia imaginar o tipo de histórias que aquelas mulheres estariam inventando enquanto você caminhava em direção ao que acreditava ser o salão privativo da rainha. Tinha estado lá somente uma vez, para um chá no meio da tarde, era um local bonito e bem menos ornamentado que o resto do castelo. Você ficou pensando se a rainha teria origem plebeia ou teria sido uma nobre de classe baixa, mas então como ela teria chegado a um posto tão elevado?

Não importava realmente, porque você não estava sendo levada ao salão. Você estava em uma parte do castelo que ainda não tinha percorrido, mas verdade seja dita, você apenas conhecia os lugares que tinham lhe levado, nunca tentou desbravar o lugar que seria sua nova casa. E antigamente você era conhecida como uma pessoa curiosa e aventureira.

— Desculpe, para onde estamos indo?

— Para a sala do Pequeno Conselho, Alteza. Já devem estar todos lá.

— Todos?

— O rei e a rainha, o príncipe, lorde Black, o Alto Conselheiro, lord Longbottom, lordes Prewett, lady Vance e lorde Moody. Eles compõem o pequeno conselho, são considerados os súditos mais leais de vossas majestades.

Vocês fizeram o resto do percurso em silêncio. Você pensava nos motivos que a levariam ser chamada para um lugar como aquele e nenhum deles era bom, exceto pelo pequeno pensamento de que talvez o rei tivesse desistido ou achado uma pretendente melhor para o filho e a avisaria que seria mandada para casa imediatamente, mas até mesmo isso não soava tão bom assim.

O guarda deu duas batidas na porta antes de abri-la e dar-lhe passagem. Ele estava certo, todos estavam lá e todos eles olharam para você, havia apenas uma cadeira livre, ao lado do príncipe. Você fez uma mensura para o rei e a rainha e se dirigiu a cadeira livre, apenas porque parecia o certo a se fazer, aguardou em silêncio, pois não sabia o que poderia falar.

— Pode começar, Albus. — O rei demandou.

— Alguns lordes têm estado insatisfeitos, as medidas de igualdade não estão sendo bem recebidas e chegam sussurros de todos os lugares de um pretenso herdeiro com direito ao trono.

— Mas isso nós já sabemos há anos, não temos como confirmar se esse senhor é quem diz ser se ele nunca se apresentar adequadamente. — A rainha interrompeu o Alto Conselheiro visivelmente cansada. Aquele devia ser um tópico já muito debatido naquela sala.

— Sim, minha rainha, mas os rumores se tornam mais forte e agora ele tem aliados poderosos. Todos sabem como algumas famílias tem uma predisposição a apoiar uma casa, se esse homem for realmente o último herdeiro dos Gaunt...

— Há séculos que esse reino é governado pelos descendentes de Ignotus, quando a linha de sucessão mudou nós passamos a ser os herdeiros. A linhagem dos Peverell sobreviveu conosco. — James bradou irritado. — E agora esse senhor levanta-se contra nós, ameaçando a paz que conquistamos tão arduamente, tentando dividir o reino. Eu digo que devemos caça-lo e trazê-lo aqui, onde deve ser julgado por seus crimes contra a coroa.

Você não tinha como ter certeza, mas o rei parecia decepcionado ou aquela seria sua expressão constante levando em consideração a crise que abarcava seu reino?

— O que você nos diz, Lilian? — A rainha voltou-se para você e todos os olhos daquela sala fizeram o mesmo.

— Eu? Desculpe, mas...

— Você é a futura rainha, é uma jovem inteligente e tenaz, deve ter algo para contribuir. Uma visão de fora sempre é bem-vinda, uma águia sempre vê melhor que uma serpente.

Você ficou em silencio durante um tempo, buscava tudo que tinha escutado em seus dias na corte, todas as histórias que Mary trazia, tudo que tinha estudado em seus anos e o que tinha ouvido ali.

— Talvez esse senhor não seja o real perigo, claro que ele ergue a bandeira da causa, mas até onde todos sabem a linhagem dos Gaunt está extinta, isso consta em inúmeros livros, Morfino Gaunt morreu sem esposa e herdeiros, logo esse homem que clama para si a coroa pode ser um tolo sendo usado em um jogo maior. — Você parou de falar, tentando juntar seus pensamentos novamente. Voltou seu olhar para o alto conselheiro lembrando-se de algo que ele dissera. — O senhor disse que os lordes estavam descontentes, mamãe sempre falava que era preferível 100 homens irritados a um grande senhor, que eles podem ser traiçoeiros e que sua lealdade anda junto com seus ganhos.

— Se você estiver certa a traição está mais perto do que nós supúnhamos. — A rainha disse.

Moody tossiu e se remexeu incomodado. Você sabia quem ele era, porque era impossível não conhecê-lo, havia verdadeiras histórias de terror contadas para crianças onde Moody aparecia pronto para assombrá-las. Você podia confessar que ele a assustava um pouco também.

— Eu falo contra Black e Malfoy a mais tempo do que esses pirralhos são vivos. São os piores tipos de gente, gananciosos, traiçoeiros, duas caras.

Você olhou de relance para Black, era dos pais dele que Moody estava falando, mas não havia nada em seu rosto e ele parecia concordar com o que era dito.

— Sim, mas isso não é motivo para acusarmos alguém de traição. — O rei apertou a ponta do nariz.

— Devemos trazê-los para o castelo, vê-los de perto, vigiá-los, interceptar correspondências. Se eles estão agindo contra a coroa vão dar um passo em falso. — Lady Vance falou.

— Usaremos a festa de noivado. — Longbottom parecia animado com a ideia. — É o noivado do futuro rei, todos querem estar nas graças do príncipe herdeiro e mesmo aqueles que desejam um novo rei não agirão de forma temerária. Recusar o convite seria uma imensa falta de respeito. Gananciosos e traiçoeiros sim, mas nunca burros.

Você estava imaginando que a festa de noivado demoraria muito ainda, ninguém sequer havia tocado no assunto, quanto mais ela demorasse mais demorado seria o casamento em si. Suas mãos começaram a suar de nervosismo.

— Bem, nós já retardamos muito essa festa. Queríamos que Lilian e suas damas se sentissem confortáveis no castelo antes de enviá-las aos leões, mas nesse caso uma festa é exatamente o que precisamos para trazermos todos para cá.

— Ah, não acredito que vou estar embaixo do mesmo teto que meus pais.

Black começou uma onda de reclamação que você tratou de ignorar, porque ninguém parecia perceber que aquela ideia era terrível, se Moody estivesse certo eles estariam trazendo serpentes para seus jardins, criaturas que estavam tramando contra seus reis, indo contra o juramento de fidelidade.

Você não era mais uma garotinha que temia contos infantis, mas aquilo não era um conto. Havia histórias reais de reis tendo suas gargantas cortadas no meio da noite, foi assim que Antioco Peverell morreu, não foi?. Você sentiu um calafrio correndo por sua espinha e teve o ímpeto de passar a mão por sua garganta.


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