Natal Desfeito escrita por Beykatze


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥
Estamos quase acabando



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POLO NORTE

06h 46m 26s 02mm

23/dezembro/2235

Sala de Brinquedos

Papai Noel batia impacientemente os pés no chão de pedra. Tivera bastante tempo para se aprontar e vestir seu uniforme característico: roupão e calças vermelhas com pompons brancos, cinto preto, botas altas e escuras e um gorro vermelho. O velho lançava um olhar furioso para o conselho élfico, que desaprovava a ideia que tivera com Lifhe horas antes.

—Senhor, não podemos substituir todos estes brinquedos por... Por... Vacinas e fraldas- Um dos elfos, o mais arrojado dentre os que desafiavam Noel, falou ironicamente.

—Qual seu nome mesmo? - Indagou. Sabia o nome do cidadão, mas queria mostrar que nem ligava. Não sabia se era assim que se intimidava alguém, mas estava tentando.

—Piwake- Respondeu o ajudante de cabelos louros.

—Então, Piwake, como eu disse, não precisam descartar estes presentes maravilhosos nos quais vocês passaram o ano inteiro trabalhando. Eu só quero que adicionem os produtos da lista que eu passei.

—Frutas; Remédios; Insulinas; Sabonetes- Leu outro elfo- Isso não é presente de Natal!

—Não para vocês- O velho retrucou- Mas é para aqueles que não tem nada. É melhor que uma boneca boba.

—Do que você chamou nossos brinquedos? –Piwake se enfureceu avançando contra o chefe, sendo parado por alguns colegas.

—São sim excepcionais, mas como já disse, para eles será usado para aquecer as fogueiras no Natal. Vocês deviam se envergonhar. Estão sendo tão egoístas que temo que teremos que levar essa discussão lá para fora, afinal o ego de vocês está ocupando toda a sala.

Os homenzinhos baixaram suas cabeças. Alguns verdadeiramente envergonhados, mas outros apenas irritados e tentando silenciar o homem e evitar maiores brigas. O velho continuou a falar:

—Preencham as embalagens com estes itens, pelo menos três da lista para cada um e chequem o que cada criança precisa mais. E me chamem quando terminarem. Espero sair no horário correto.

Dito isso, Papai Noel saiu da sala de presentes, batendo seus grandes pés pelo corredor, em um misto de contentamento consigo mesmo e fúria com aqueles pequenos egoístas insubordinados. Podia parecer estranho, mas nunca tinha se sentido tão animado para uma entrega de presentes como aquele dia.

***

POLO NORTE

07h 03m 15s 39mm

23/dezembro/2235

Estábulos

Ihcje sentia o frio invadindo e penetrando sua pele. Imaginava a neve entrando em sua corrente sanguínea e congelando cada célula sanguínea. Conseguia ver o congelamento andando pelas veias e migrado para as artérias para, logo em seguida, parar seu coração com seus pequenos cristais gelados. Sabia que provavelmente não era assim que acontecia, mas era assim que estava sentindo acontecer.

Assim que derramara o pó de sonhos sobre seu Papai Noel de neve, o ser tomou uma vida macabra e apertou seu fino pescoço até que ele desabou desacordado e adormeceu batendo a cabeça em uma pedra coberta de neve. Agora, Ihcje, sem forças pelo frio que o matava aos poucos havia acordado depois de várias horas desmaiado e não sabia dizer onde estava sua criação sombria ou onde poderia estar.

Um medo correu por seu corpo pequeno, seu monstrinho podia estar lá dentro, matando cada um de seus amigos elfos. Poderia estar com o Papai Noel verdadeiro naquele momento mesmo. Enquanto morria, seu boneco de neve do mal podia estar assassinando o Papai Noel, a criatura mais amada de toda a mitologia popular.

Arregalou os olhos em desespero, o maior ato que conseguia fazer mesmo com a adrenalina correndo debaixo de sua pele, e se seu boneco tivesse indo fazer o que o Papai Noel deveria? E se tivesse pego o trenó e fosse para o continente entregar presentes?

Ele poderia tanto fazer tudo certo quanto botar o terror entre os humanos, traumatizando-os para sempre com o Natal e com o famoso bom velhinho. Neste momento Ihcje entendia a dimensão de suas ações: os homens, mulheres e crianças já estavam tão horrorizados com a miséria à sua volta que presentes não os faria mais felizes, entretanto, um erro do Papai Noel poderia os amargurar e enfurecer e as chances de um Papai Noel criado a partir da neve errar eram muito grandes.

Se, ao ver Ihcje, seu criador, o boneco de neve havia tentado um assassinato, o que ele faria quando as crianças corressem na sua direção buscando um alento ou um carinho de um conto de fadas? A preocupação acelerou a respiração do elfo moribundo, que sabia que não deveria fazer aquilo, mas não conseguia controlar o ar que entrava e saia rapidamente de seus pulmões.

—Noel... – Sussurrou. Patético, pensou. O som foi tão baixo que nem mesmo assustou o pássaro que bicava o resto do pó caído em sua volta. Ihcje podia não saber de muitas coisas, mas sabia que iria morrer ali por conta de uma burrada sua.

Era sua culpa, se parasse para pensar naquilo. Ele, deliberadamente, construíra um boneco de neve na tentativa da criação substituir o Papai Noel na entrega dos presentes. Poxa vida, o que poderia dar errado além de tudo?

Embora fosse um elfo estupido que tomava decisões idiotas, não achava que merecia morrer sozinho de hipotermia na neve branca que caia torrencialmente sobre seu uniforme verde engomado.

Com um suspiro triste se entregou.

***

POLO NORTE

10h 12m 55s 13mm

23/dezembro/2235

Sala dos Presentes

—Papai Noel- Piwake falou orgulhoso apontando para o trenó, com um saco de presentes cinco vezes maior que o normal- Colocamos tudo que conseguimos encontrar e acomodar. Espero que seja de seu agrado.

Os olhos do homem brilharam debaixo das grossas e brancas sobrancelhas.

—Isso está perfeito- Sussurrou. Lifhe, ao seu lado, enxugava as lágrimas salgadas que escapavam de seus olhos e corriam pelas bochechas vermelhas.

—Está mesmo- O elfo concordou um pouco à contragosto.

—Aprontem minhas renas- Pediu- Quero sair agora mesmo para começar a entrega.

***

CONTINENTE AMERICANO

15h 46m 23s 19mm

23/dezembro/2235

Praça

Na praça onde a população se reunia vez ou outra para celebrações e confraternizações, um grupo de crianças estava boquiaberto olhando para o céu nublado. Podiam jurar por suas boquinhas sujas e com dentes podres, que viam Papai Noel sentado nas costas de uma rena voadora e de nariz vermelho.

Os pequenos, maravilhados ao ver que o homem descia lá de cima para aterrissar entre eles, faziam festa e pulavam no meio do entulho que um dia havia sido parte dos brinquedos da praça.

Ouviam com seus ouvidos machucados um sonoro “hohoho” e, se perguntar para qualquer um dos seis presentes, aquele não parecia de perto o Papai Noel que seus pais contavam histórias e que trazia presentes todos os anos.

Uma pena que nenhum deles conseguiu voltar para casa relatar nada daquilo para seus pais imundos e esfomeados.

E uma pena maior ainda que os adultos já estavam tão acostumados que nem choraram ao ver que suas crianças não retornavam da praça aquela tarde.

As mães rezaram para que o fim tenha sido rápido e sem violência e os pais observaram de longe, sem saber mais o que fazer pela sua segurança.


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Notas finais do capítulo

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