Sakura saiu do hospital correndo mais do que seus pés podiam aguentar, um grito de desespero preso na garganta, o tremor pelo corpo, as imagens turvas devido as lágrimas que insistiam em cair desesperadamente, ou seria devido a chuva? Ela não saberia dizer.

— Não... Por favor não... — Sussurrou para si mesma, os sentimentos sufocarem-na.

Ouviu alguém gritar atrás de si, ainda assim não parou de correr, não sabia para onde iria, mas não podia ficar parada, sentia o desespero dominá-la por completo. Fechou os olhos querendo que tudo não passasse de uma ilusão, as gotas de água caiam fria sobre sua pele, como se pudessem lavar sua alma e levar embora sua dor.

Sentiu o pé ficar preso em uma pedra, e caiu. Não se importava com a dor física, na verdade, desejava profundamente que sua queda a machucasse mais do que a perda que havia acabado de sofrer.

Sentiu os joelhos ralarem, e uma dor enorme na costela quando inspirou o ar.

— Sakura-chan! — A voz do seu companheiro de time a atingiu em cheio.

Ele pegou-a no colo, transparecendo toda sua preocupação, ela ofegou de dor.

— Na-Naruto... — Ofegou ainda de olhos fechados. — Me tira daqui, por favor, me leva para algum lugar.

O rapaz assentiu, mesmo que ela não pudesse vê-lo, fez alguns selos com as mãos, não tão rápido já que a segurava em seu colo, e o jutsu os levou até o apartamento que ele mantinha.

A chuva já não os incomodavam mais, Naruto deixou seu corpo escorregar pelo chão do quarto, mantinha Sakura o mais próximo que podia, abraçando-a protetoramente enquanto ela desabava a chorar.

— Shii... Tudo ficará bem Sakura-chan, eu sempre estarei aqui por você. — Murmurrou as palavras contra o cabelo rosado, na esperança de aplacar um pouco da dor que a afligia.

Sakura puxou o casaco laranja, colando mais ainda seu corpo ao dele, embora ambos estivessem molhados, Naruto exalava calor, ele a aquecia, ele era seu sol particular, sempre fora e sempre seria.

— Eles se foram Naruto, não é justo. — Falou entre soluços com a voz embargada.

Naruto fechou as mãos em punho, queria tirar todo sofrimento dela, queria fazê-la sorrir, mas sabia que naquele momento ela precisava sofrer, precisava passar pelo luto.

— Não chora Sakura-chan. — Ele dizia numa prece, embora sabia que ela não era capaz de não chorar naquele momento. Beijou o topo da cabeça dela e acariciou os cabelos rosados, estavam bagunçados, porém ainda eram lindos e tinha cheiro de flores.

Os minutos que passaram foram lentos e torturantes, para ambos. Sakura sofria pela morte repentina dos pais, enquanto Naruto sofria pela dor da sua rosada. Depois de algum tempo ela adormeceu em seus braços. Então ele pode finalmente soltar o ar dos pulmões, como se carregasse o peso do mundo em suas costas.

Com extremo cuidado levantou-se, segurando o pequeno e frágil corpo da mulher, colocou-a sobre sua cama e a cobriu para que não se resfriasse. Embora a chuva insistisse em cair raivosamente, o clima era quente, uma das várias coisas esquisitas que acontecia em Konoha.

Foi até a cozinha e colocou água para ferver, iria fazer um chá quente e depois fazer com que a kunoichi tomasse um banho quente.

Sentiu um chakra se aproximar e apenas por uma breve diversão jogou uma kunai na direção do intruso, mesmo sabendo de quem se tratava.

— Como ela está? — Kakashi perguntou segurando a kunai habilidosamente nos dedos.

— Dormindo agora. — Foi só o que Naruto respondeu.

— Ela vai superar, já superou muitas coisas antes. — O copy-ninja falou, tentando tranquiliza-lo.

— Eu sei que vai. Eu só... — Naruto deixou as palavras morrerem, mas tomou coragem logo em seguida para desabafar. — Nós estávamos nos aproximando, e me sinto egoísta dizendo isso agora, porque sei que ela esta sofrendo, mas tenho medo sensei... Medo que ela se afaste de mim.

Os olhos azuis do Jinchuuriki eram sinceros, sentia o temor de perdê-la de vez. Sakura sempre fora tão difícil de alcançar, primeiro a paixão que tinha por Sasuke, e depois de um ano da Guerra Ninja veio o amadurecimento para ambos, então eles estavam se aproximando, começando algo que podia virar um relacionamento, inclusive, se os pais de sua amada não tivessem falecido inesperadamente, eles teriam tido seu primeiro encontro naquela noite, coisa que não iria acontecer.

— Sakura é como você Naruto. — Kakashi tentou escolher as palavras certas. — Ela vai sofrer, é verdade, ainda assim ela não é do tipo que se rende para a escuridão, nunca foi. Não se preocupe com isso agora.

Naruto não respondeu, terminou o chá, colocou açúcar até ficar doce, assim como sabia que ela gostava e se retirou com uma grande caneca em mãos. Foi até seu quarto, não se importando em deixar Kakashi-sensei para trás.

Encarou a rosada dormindo, parecia tranquila naquele momento embora fosse nariz vermelho e o rosto estivesse marcado pelas lágrimas, sentiu o corpo tremer, ele não queria que ela sofresse tanto.

Respirou resignado, queria deixá-la descansar, mas ela poderia pegar uma gripe daquele jeito.

— Sakura. — Chamou-a. — Sakura acorde.

A kunoichi abriu os olhos relutante, encarou Naruto que lhe lançava um de seus belos sorrisos, embora não fosse o mais aberto de todos, ela sabia que seu sofrimento também o afetava. 

— Naruto-kun... — Sussurrou.

Ele não pode deixar de sentir um calor incomum se apossar do seu coração, ela usou o sufixo com tanto carinho que o sorriso dele aumentou um pouco mais.

— Aqui, você tem que tomar esse chá para esquentar, e trocar essas roupas molhadas antes que fique doente Shakura-chan.

Ela sentou-se na cama, ajeitando-se como pode, pegou a caneca de chá das mãos de Naruto e assoprou o liquido quente. Os olhos marejaram novamente ao se lembrar do porque estava ali.

— Eu estou sozinha agora Naruto. — Murmurou e o rapaz negou veementemente.

— Jamais, eu sempre estarei do seu lado Tebayo!

Afirmou convicto, enquanto limpava uma das lágrimas que insistiam em cair pelo deliciado rosto da Haruno, desceu os dedos até contornarem os lábios bem delineados, queria tanto poder finalmente beijá-la, mas sabia que não era momento para isso.

— Eu te amo Sakura, sempre amei. — Declarou-se e pode notar um rubor colorir a face dela.

Sakura não disse nada, e ele tirou a mão do seu rosto, apenas fitando-a, ela levou a xícara novamente aos lábios e bebeu um gole do chá, depois com cuidado colocou o objeto sobre o criado-mudo ao lado da cama, virou-se para Naruto olhando dentro de seus olhos.

Ele se perdeu no verde intenso que eram os olhos dela, haviam muitos sentimentos ali, dor, tristeza, amizade, amor... Sakura ajeitou-se na cama, ficando mais perto dele, com um movimento delicado e sendo observada, ela pegou a mão dele e a direcionou de volta para seu próprio rosto, Naruto pode sentir a maciez de sua pele na ponta dos dedos, observou-a fechar os olhos suspirando com a carícia.

Céus ela era tão linda, e parecia tão sua.

— Eu também te amo Naruto-kun.  

Ele sabia que não devia, ainda assim, ter Sakura tão perto, tão entregue a ele, e se declarando de forma tão nítida, não pode conter o próprio corpo. Seu rosto de aproximou do dela e pôde finalmente unir seus lábios aos da mulher que sempre amou.