Nosso Último Ano escrita por Sirena


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Hello, presentinho de natal: o encontro desses nenéns ♥
Espero que gostem



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Jay não conseguia acreditar.

Harry e Gil tinham terminado.

E Gil ia sair com ele.

Okay, eles tinham combinado de viajar, mas por mais que estivesse animado, aquilo nunca pareceu real. Mas, um encontro? Isso era real demais para ele aguentar! Claro, por fora estava se esforçando para manter a pose de sedutor e confiante, mas por dentro... Ele estava a epítome da felicidade diante do espelho!

— Okay, e essa? Que tal?

Sim, ele estava pedindo conselhos de moda de Carlos e Dude, não fazia ideia de qual dos dois mostrava mais seu desespero para causar uma boa impressão. Não, não, uma ótima, excelente impressão!

— Tá ótimo, Jay. Que nem os últimos dez. – Carlos revirou os olhos.

— Não sei não. – Dude latiu. — Ainda acho que devia prender o cabelo.

Jay franziu os lábios para seu próprio reflexo. Sabia que era melhor ter pedido ajuda a Evie, mas ela estava atolada em encomendas para finalizar e não queria atrapalha-la, muito embora soubesse que Evie nunca se incomodou em deixar tudo de lado para ajuda-lo.

Ele balançou negativamente a cabeça, tentando se focar em decidir se aquela roupa estava mesmo boa ou não. A camisa branca estava coberta por um colete vermelho e amarelo de couro, com detalhes em azul e roxo. A calça era preta com bolsos vermelhos e detalhes azuis. Estava usando sapatos pretos e touca vermelha. Parecia tão lindo e charmoso quanto sempre, mas, não era o bastante, não sentia que estava bonito o bastante.

— Eu gosto do meu cabelo solto. – Jay deu de ombros por fim, olhando para Dude.

Uma batida na porta interrompeu o momento de conselheiro fashion do cão.

— Aleluia! – Carlos suspirou com alivio, ansioso por não ter mais que opinar nas roupas de Jay. — Entra!

No momento que Gil entrou no quarto, Jay soube que não estava arrumado o bastante.

Os cabelos loiros dele estavam lavados e pareciam recém-cortados, caindo na altura do pescoço. Ele usava com uma touca marrom e o colete amarelo com detalhes vermelhos e laranjas combinava tão perfeitamente com a calça azul e cinto de fivela de búfalo que fez Jay desconfiar que Evie andava fazendo roupas para o garoto.

— Ah... Eu to quase pronto. – murmurou, nervoso. — Só falta...

— Prender o cabelo?

— Exato. - Jay sorriu, exasperado.

Okay, ao que parecia, Gil gostava do cabelo dele preso, por isso foi rapidamente atrás de um elástico, largando a touca em cima da cama.

Dude revirou os olhos. Será que só era ouvido quando um humano bobão dizia exatamente o que ele já havia dito?

— Ansioso pro encontro Gil? - Carlos perguntou, percebendo que o garoto estava quase tão nervoso quanto Jay.

— Eu queria ir ao shopping. Mas o Carlos não deixa. - Dude comentou descendo da cama. — Te dou três dólares se me levar escondido.

Gil deu risada. Ele realmente precisava arranjar um cachorro!

— Já chega, Dude. - Carlos pegou o cachorrinho e o colocou de volta na cama.

— Então, vamos? - Jay perguntou, tendo finalmente achado um elástico e prendido o cabelo num coque.

Gil sorriu fracamente, acenando um tchau pra Dude e Carlos enquanto seguia Jay para fora do quarto.

Ele não sabia o que dizer, mas, para sua felicidade, Jay era melhor puxando assunto do que ele.

— Você já foi ao shopping antes?

— Não. - sorriu sem graça. — Não saio muito da escola, só quando a Uma me obriga. Hum, o que é um shopping?

— É que nem a rua do mercado, só que mais legal, maior e fica dentro de… Um prédio bonito. - Jay explicou da melhor forma que pôde dando um meio sorriso.

— Parece bom. - Gil opinou. — Hum… Valeu o convite.

Ele deu risada enquanto respondia. — Eu que agradeço a companhia. Você ficou quieto tanto tempo que quase fiquei com medo de que fosse dizer não. Quase. - quase nada, ele ficou apavorado, mas jamais diria isso.

Se não se sente confiante, finja-se confiante. Era uma lição de extrema importância.

— Por que eu diria não? - Gil riu, abaixando os olhos. — Eu mesmo ia te convidar, mas fiquei nervoso.

Jay piscou diante a revelação inesperada.

— É mesmo?

— Hum, é. - encolheu os ombros.

— Legal! Então, vamos nessa!

***

Sempre que saía, Jay se amaldiçoava por nunca tirar tempo para comprar outra moto. Ele sabia que seria muito mais legal e rápido ir assim e tinha certeza que Gil adoraria experimentar um passeio de moto decente. Não um que incluísse as motos batendo na parede e quebrando totalmente como tinha ocorrido quando ele, Harry e os piratas roubaram as motos de Mal e de seus amigos.

Mas, como não tinha a moto, chamou um táxi para levá-los ao shopping.

Ele queria passar um braço ao redor de Gil e flertar um tanto no banco de trás do carro, talvez até mais do que só flertar. Mas, seus planos foram arruinados pela animação que Gil sentia em ficar olhando pela janela.

Era fofo, não dava para negar. Ele apontava para tudo perguntando o que era cada lugar e se divertia vendo as construções brilhantes de Auradon. Só o que Jay podia fazer era apoiar o cotovelo em algum lugar enquanto respondia suas perguntas e admirava o sorriso bobo dele. Ele era como um Golden Retriever saindo pra passear.

— Você tá muito bonito, Gil.

O garoto virou a cabeça na direção de Jay tão rápido que poderia ter quebrado o pescoço.

— Você também. - comentou, parecendo levemente sem graça. Então arregalou os olhos e apontou para a janela do lado de Jay.

Jay olhou para o que ele apontava.

Estavam passando perto do porto. Era um caminho estranho para ir ao shopping, mas ele sabia que era o mais rápido então não se importava.

O que atraiu a atenção de Gil foram dois navios que se destacavam em meio as embarcações brancas e amarelas de Auradon. Um era escuro e sujo, com uma bandeira pirata típica e o outro, mesmo tendo cores sóbrias, era limpo e brilhante, com uma bandeira de caveira com tentáculos.

— É o navio da Uma? - Jay questionou reconhecendo a bandeira.

— É. - Gil parecia animado em ver o navio. — E do lado é o do Harry. Jolly Roger. Ah, aquilo tá tão sujo! Vai demorar anos para limpar!

Jay deu risada.

— Eu sempre achei que o navio da Uma era o Jolly Roger. Imaginei que o Capitão teria dado pra a Úrsula ou algo assim.

Gil balançou a cabeça. — A Jolly Roger ficava do outro lado da Ilha. A Uma ganhou o navio dela numa competição.

— Essas competições acontecem muito? Eu podia tentar ganhar um!

— Você não sabe navegar! - Gil deu risada o empurrando de brincadeira.

— Nunca é tarde pra aprender, né? Além do mais, tenho certeza de que você podia me ensinar. - Jay revirou os olhos, passando um braço sobre os ombros de Gil. — Imagina eu com um chapéu daqueles! Eu ia ficar muito lindo!

— Todo mundo tem um chapéu. - Gil resmungou, revirando os olhos.

Antes que Jay pudesse dizer mais alguma coisa, o motorista avisou que já haviam chegado e o preço da viagem. Jay pagou e desceu do carro, com Gil logo atrás, grudado nele como um cãozinho sem dono.

— Bom encontro para os dois. - o motorista falou antes de ir.

Jay guiou Gil para dentro e falou um pouco sobre as centenas de lojas. Quais eram mais caras, mais baratas, quais eram fáceis de serem roubadas (embora, ele tenha dito que fazia tempo que não roubava nada de nenhuma delas). Gil ouvia quieto, porém atento, os braços cruzados e as bochechas vermelhas.

O filho de Jafar estava ficando nervoso com todo aquele silêncio. Digo, ele era confiante, o melhor jogador da equipe de tourney, o melhor do grupo R.O.A.R (só perdendo para a Lonnie), bonito e visivelmente atraente. Além de que, com um ótimo senso de humor. Era um combo completo de tudo que uma pessoa poderia desejar. Mas, se lhe perguntassem, diria que todo esse poder atrativo parecia não estar fazendo efeito algum em Gil.

— Gil, tá tudo bem? - perguntou, incerto. — Você parece… Calado.

— Você já teve aquela coisa quando saiu da Ilha que mesmo não estando mais lá, a primeira coisa que fazia quando entrava num lugar estranho era planejar como sair?

Jay teve que parar para pensar. Fazia tempo que estava em Auradon, quase um ano. Muito dos seus antigos instintos de sobrevivência estavam ficando enferrujados. Ele estava, como diria Harry Gancho, perdendo o jeito.

— Acho que me lembro dessa sensação.

— “Acho que me lembro.” - Gil repetiu parecendo incrédulo. — Eu espero um dia também não me lembrar como é isso. Porque… Esse lugar é muito estranho e eu não faço ideia de como sairia daqui.

— Relaxa, cara. - Jay sorriu tentando passar conforto, uma vez que agora sabia que o problema não era ele. — Tem um monte de saídas e entradas nesse lugar. Mas, eu ainda acho que você parece sem bateria, quer ir comer alguma coisa?

Gil o olhou desconfiado. — Você tá com fome, não tá?

— Morrendo!

Ambos riram e Gil concordou em irem comer.

 

Na praça de alimentação ficou claro algo que ambos tinham em comum: a fome absurdamente grande. Suas bandejas pareciam montanhas de comida e comiam como se não vissem comida a meses.

— Tá bom. - Jay começou a falar de repente, um grande pedaço de hambúrguer na boca. — Me conta uma coisa que ninguém saiba.

Gil pensou um pouco, comendo batatas fritas.

— Hum… Harry tem medo de relógios que fazem tique-taque.

Jay uniu as sobrancelhas, meio confuso e meio surpreso com a informação, em seguida deu risada.

— Eu quis dizer sobre você! Mas, tudo bem, acho que dá pra trabalhar com isso... É sério mesmo?

Gil estava vermelho, mas fez que sim com a cabeça, imaginando como o colega de quarto iria arrancar suas tripas se soubesse que havia contado isso ao Jay.

— Ele não tinha, mas, uma vez caiu num buraco e tinha um relógio fazendo tique-taque em algum lugar. A gente não conseguia ver onde ele tinha caído, então ele ficou uns dez minutos sozinho pensando que o crocodilo Tic-Tac ia devorar ele, agora fica amedrontado sempre que escuta esse barulho.

— Tá, e sobre você?

— Sobre mim… - Gil franziu os lábios. — Eu não sei na verdade… Ah, já sei! Eu fui seu vizinho por doze anos.

Okay, agora o filho de Jafar estava decididamente surpreso.

— É sério?

— É. Na maior parte do tempo você tava fora roubando pro seu pai, ou eu tava fora fugindo do meu. Mas, antes de me mudar pro navio da Uma, minha casa era do lado da sua. Era a que tinha a cabeça de alce na porta.

— Ah… - no fundo da mente de Jay, uma memória foi puxada.

Ele lembrava vagamente da cabeça de alce na porta e de como ela fedia, lembrou de às vezes no meio da noite ouvir choro de criança lá junto da voz grossa e bêbada do Gaston xingando enquanto atirava a esmo pelos quartos dos andares mais altos.

Lembrou do som de vidro se quebrando e das enormes janelas que davam vista para coleções de armas e cabeças de animais. Sempre achou aquela casa assustadora e quando era pequeno, seu pai não o deixava roubar dali.

Jay nunca mais havia pensado naquele lugar e agora que pensava, uma estranha sensação de tristeza e um embrulho no estomago tomavam conta dele. Talvez tivesse comido um pouco demais...

—… Agora que você falou, acho que lembro. - falou por fim. 

Gil já estava acabando de comer.

— Para onde a gente vai agora?

Jay franziu os lábios, pensando. Empurrou a própria bandeja e olhou em volta. Na sua concepção, o shopping não parecia estar sendo uma experiência legal pra Gil. Talvez pudesse encontrar algo mais familiar…

— Você sente falta da Ilha? - perguntou, ainda pensando.

— De algumas coisas. - Gil explicou. — Tipo, dormir no navio.  Mas as camas de Auradon são muito melhores...

— E o Arcade do Facilier?

— Eu não passava muito tempo lá. - Gil deu de ombros. — Mas gostava de ir com a Bonnie e o Jonas. Era legal.

Jay sorriu tendo uma ideia.

— Ainda vai comer?

Gil olhou a bandeja quase no final e pegou a maçã do amor que havia comprado numa banca perto da praça de alimentação.

— Só isso aqui, só. – respondeu por fim dando uma mordida na fruta.

Jay sorriu levando as bandejas já praticamente vazias para o lugar antes de se voltar para Gil novamente, se apoiando na mesa, o rosto bem próximo do dele.

— Nesse caso... – ele notou que Gil havia engolido em seco com a proximidade. — Tenta me acompanhar. – e saiu correndo.

Gil piscou surpreso, antes de se levantar, deixando a maçã em cima da mesa e ir atrás do companheiro, desviando por entre as pessoas numa corrida frenética do tipo que só tinham na Ilha dos Perdidos. Jay pulou sobre uma das mesas e Gil escorregou por baixo de outra.

Logo estavam fora da praça de alimentação, correndo por entre as lojas. Gil quase perdeu Jay de vista pelo menos oito vezes, mas, sempre conseguia localizar de novo o garoto que dava saltos e mortais numa clara tentativa de se exibir.

Subiu num banco e correu por cima dele para pegar impulso pra pular. Agora estava há apenas um braço de distância de Jay... Gil estendeu o braço e o puxou.

Os dois se desequilibraram e caíram um por cima do outro, arfando e dando risada.

— Eu disse para me acompanhar, não para me pegar! – Jay falou entre os risos.

Gil não respondeu, estava ocupado demais tentando recuperar o folego, aquilo tinha sido mais diversão e correria do que vinha tendo nos últimos tempos e seus pulmões pareciam queimar em protesto. Jay sorriu enquanto o empurrava de leve para poder se levantar.

— Onde a gente tá? - Gil questionou, curioso se pondo de pé.

— Esse é o Arcade do Feliz.

— Que?

— O tio do Doug. - Jay riu o puxando para dentro pela mão. — Sabe, o namorado da Evie? Os tios dele tem um monte de propriedades legais pela cidade! E como somos amigos do Doug... A gente ganha créditos de graça pra jogar!

— Tem aquele jogo do Pac-Poison?

— Não. - Jay fez bico lembrando da variação de Pac-Man em que em a Rainha Má, disfarçada de mendiga era perseguida por sete anões enquanto colhia maçãs por um labirinto. Era um clássico da Ilha dos Perdidos, apenas os piores vilões viravam jogos do Facilier. — Mas, tem um parecido em que a Branca de Neve tem que fugir de cinco Rainhas Más enquanto pega diamantes.

— Que sem graça. - Gil resmungou, embora não fosse um jogo tão diferente assim. — Meu pai gostava de um em que tinha que dar marteladas naquelas estatuetas de Fera.

— Aqui a gente bate em cabeças de Tic-Tac. - Jay franziu os lábios, só naquele momento começando a perceber quantos jogos parecidos tinham no Arcade do Feliz e no Arcade do Facilier, mas, logo afastou o pensamento. — E tem um que tem que dar tiros igual o Robin Hood.

— Ah! A gente não tem nenhum assim na Ilha! - Gil sorriu satisfeito, como se só naquele momento o lugar começasse a parecer divertido.

Pelas próximas três horas, ele e Jay se divertiram ali.

Jogando jogos de tiro, de basquete, de dança e alguns outros que faziam referencia aos momentos mais clássicos dos contos de fadas. Foram no carrossel (Gil ficou enjoado e quase vomitou). 

Em alguns momentos, quando percebia que Jay estava concentrado demais em algum jogo, Gil se atrevia a lhe fazer cócegas, e embora o filho de Jafar as retribuísse prontamente, a verdade é que não tirava quase nada de sua concentração.

Em um dos jogos de derrubar garrafas, Jay ganhou de brinde uma pelúcia de tigre para Gil, que adorou principalmente porque o bichinho tinha um botão que o fazia rugir de verdade e isso quase matou o moreno de susto.

De qualquer forma, Gil adorou essa forma de ganhar coisas e alegou que era muito mais fácil do que roubar. Jay ficou tentado a contar que não era bem assim, mas não o fez, a alegria e inocência do loiro eram adoráveis demais.

Antes de irem embora, passaram ainda na cabine de fotos que foi com certeza o que deixou Gil mais fascinado porque, era claro que uma simples cabine de fotos não era o bastante para Auradon. Tinha vários efeitos e temas de contos para escolher, inclusive um que deixou Gil com as presas do Rei Fera e outro que fez parecer que estavam voando no Tapete Mágico.

— Eu vou colocar no seu celular um app que tem todos esses filtros. - Jay prometeu entre risadas enquanto pegava as fotos e mostrava para o loiro.

No caminho para fora do shopping, eles ainda compraram sorvete e Gil tomou tão rápido que ficou com dor de cabeça.

Jay já havia pedido um táxi, mas embora já escurecesse e ele soubesse que logo fechariam os portões, o destino ainda não era a escola...


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Notas finais do capítulo

Curiosidade: o medo do Harry de relógios que fazem tique-taque e as informações sobre o navio da Uma não são frutos da minha imaginaçãozinha fértil, embora eu fosse amar dizer o contrário. Tudo isso é cannon dos livros (Rise of the Isle of the Lost). Eu só tenho créditos sobre a vida lascada do Gil e os jogos do Feliz (eu viajei imaginando aquele lugar? Talvez, mas ficou legal)

É isso gente, boas festas para todos ♥



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