Tudo começou, em algum momento entre os oitos e nove anos, quando ela assistiu uma entrevista onde Euphemia Potter, recentemente coroada a Rainha da Inglaterra, discursava sobre a importância das artes no desenvolvimento e influência das crianças. 

E como o esperado, durante os primeiros sete dias que precederam o programa, Lily Evans não apenas se vestiu como uma princesa como também decidiu que seria uma. Essa foi sua primeira, e mais fantasiosa, meta de vida.  

Com o passar dos anos, e um intenso estudo sobre a monarquia, Lily desistiu do desejo de se tornar parte da realeza e arranjou novos sonhos e objetivos. 

Ela tentou muitas coisas diferentes, foi de médica a estilista, até que com 27 anos a, não mais tão pequena, ruiva do interior consolidou uma boa e estável vida como restauradora de antiguidades. 

A Rainha realmente acertou sobre a importância e influência das artes na vida de jovens crianças, entretanto não foi mencionado que, apesar de tudo, o ramo não é um dos melhores para uma mulher buscar reconhecimento. Por isso, é de se imaginar o choque de Lily ao receber uma carta com o selo da família real convidando-a para um jantar no Castelo de Hogwarts.  

Uma surpresa não tão grande quanto ter recebido as boas vindas de um mordomo, que a guiou para uma sala cheia dos maiores nomes da restauração de pinturas e esculturas bebendo champanhe. O que, certamente, não seria um problema se ela estivesse tão bem vestida quanto eles. “Caralho”. Resmungou.

“A Coroa ficaria lisonjeada ao escutar isso”. Uma voz firme disse, fazendo com que ela se virasse, assustada, em sua direção. 

Ao fazer isso Lily não apenas pode dar um rosto para a voz masculina, como também foi recebida pelo sorriso ladino, e talvez meio debochado, do Príncipe de Gales, o primeiro na linha de sucessão do trono britânico e detentor do título de solteiro mais desejado do ano. 

“Santa puta merda”. Ela respondeu, desacreditada e, ao que parecia, incapaz de ter uma reação apropriada para a situação.

“Não costumo escutar isso, ao menos não nessas circunstâncias, Senhorita Evans”.  O sorriso tinha tomado uma verdadeira forma, transformando o rosto e a extensão do pescoço da mulher em um borrão vermelho. 

“Me desculpe, Senhor... Alteza?... Vossa Graça?... Majestade?... Cacete, como diabos eu acabo vindo pro palácio se não sei como se deve chamar um Príncipe”. 

“Oficialmente o termo certo é Vossa Alteza”. Disse o herdeiro real, dessa vez com um ar divertido, que logo foi, discretamente, interrompido por outro homem. 

Após uma breve troca de sussurros o Príncipe voltou-se em direção a ela, com uma expressão que se dividia entre elegância e frustração. “Lamento a interrupção, mas há assuntos que requerem minha atenção. Espero que aproveite a noite. Com sua licença”.

Ele curvava levemente a cabeça, como um bom cavalheiro faria se fizesse parte do mais alto grau da realeza, quando ela agradeceu, finalmente o chamando pela forma certa. 

Lily esperou que ele se afastasse rapidamente, mas ao invés disso ele parou e a olhou pelos mais longos, e intimidantes, segundos de sua vida para, por fim, dizer: “Quem sabe no nosso próximo encontro a senhorita se sinta confortável em me chamar de James. Não posso negar que seja um desejo pessoal saber como meu nome soa ao sair da sua boca.” 

Ele completou a frase lhe lançando um sorriso malicioso. O primeiro dos muitos que a acompanharam por todo o evento.