Tiro Certeiro escrita por Beykatze


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :D
Boa leitura ♥



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Dalila cambaleou para trás, já cansada das investidas do morto vivo. Sua arma, um comprido cano de ferro, havia caído de suas mãos há minutos, após um golpe mal formulado.

A criatura avançava com os braços podres estendidos na sua direção. A boca fétida com dentes faltantes estava semi aberta e dela escorria uma gosma escura, algo entre saliva e sangue com o pior cheiro que a garota já havia sentido.

Com um último raio de forças, Dalila correu na direção do morto, pretendia esbarrar nele e seguir para a saída daquela loja sem luz. Entretanto, quando seu corpo vivo tocou a coisa em decomposição, a mão com dedos duros agarrou seu ombro enquanto a boca escarrava e violentava a pele com os dentes amarelos.

Dalila gritou sentindo o invasor adentrar sua carne e o sangue jorrar, sujando de vermelho sua camiseta imunda.

Com um chute, a garota se livrou da mordida, mas o morto vivo levou consigo um pedaço de pele ao ser lançado para trás, gerando mais uma onda de dor em Dalila.

Com a mão, pressionou a ferida com uma blusa empoeirada que encontrou no chão e correu pelos corredores abarrotados de araras e roupas finas à procura de seu cano que ficara caído em algum lugar.

A criatura que antes mordera Dalila, agora grunhia e voltava a persegui-la, desta vez, pelo menos, não estava encurralando a garota em um canto do local. Com um pulo apavorado, a menina notou uma movimentação no corredor ao lado: um morto que a ouvira gritar estava agora atrás dela também.

Amaldiçoou baixinho seu descontrole e quase passou reto pela arma esquecida no meio de calças jeans minúsculas para garotas magras. Fez cara feia para as peças, passou sua adolescência inteira tentando caber naquelas roupas apenas porque sua mãe lhe dizia que seria mais feliz assim (surpresa: não foi). Revirou os olhos e afastou aquela bobagem da cabeça, estava ocupada demais tentando sair com vida da loja para pensar na pressão dos padrões estéticos impostos por uma sociedade desfeita.

Agarrando o cano com a mão livre, Dalila escorregou em calcinhas caras de renda dando uma vantagem enorme aos seus dois perseguidores. O que acabara de se juntar à festa usava um vestido florido cor de rosa e, em vida, não devia ter passado dos doze anos. Seus dentes pequenos estalavam de maneira mórbida quando mordia o ar, saboreando o cheiro pungente do sangue da garota.

Dalila fez uma curva, subindo em uma mesa de mostruário e aguardou alguns segundos, que se arrastaram pela adrenalina, para que seus inimigos aparecessem. Largou o pano que cobria seu ferimento de qualquer jeito e acomodou o cano entre as mãos ensanguentadas e cheias de calos.

A criança com o vestido e marias-chiquinhas sujas apareceu primeiro em seu campo de visão e recebeu um belo golpe no rosto, que a fez tropeçar e bater no outro morto. Entretanto, a pancada não foi suficientemente forte, pois apenas achatou o rosto da coisa e não a matou.

Desta vez, a outra criatura, um senhor de cabelos ralos e grisalhos que usava uma camisa pólo para dentro das calças, se lançou sobre a mesa, tentando morder as pernas de Dalila, que revidou com um pontapé. No mesmo momento que o velho caía, a criança atacava, mas, desta vez, a força aplicada no cano foi o suficiente para deixar a pequena morta realmente morta.

Com um suspiro aliviado, desceu da mesa com um pulo e golpeou o rosto podre e enrugado do velho morto até que ele não resmungasse mais.

Assim que acabou o serviço nas duas criaturas, Dalila sentiu novamente a dor que latejava seu braço e espiou através da blusa o machucado. Estava feio, muito feio.

Caminhando calmamente, puxou para si uma blusa branca escrita “Ranço” e usou-a para tamponar o ferimento até que encontrasse seus amigos com os primeiros socorros.

A loja era grande e um dia fora bem iluminada, via isso pelas lâmpadas espalhadas pelo teto branco. As variadas roupas esquecidas pelo local davam um ar de abandono e perigo, e Dalila acelerou o passo começando a sentir o medo invadir suas veias.

Do lado de fora, o sol estava alto, era o começo de mais uma tarde de sobrevivência para a garota, que deixou a loja suada, ensanguentada e muito cansada da tensão e perseguição.

Aguardou sentada ao lado da porta de vidro que seus amigos chegassem e a ajudassem a limpar aquela merda. Dalila não conseguia nem olhar por muito tempo, pois sentia náuseas e um desmaio próximo.

Enquanto esperava, lembrou de sua mãe. Não gostava de pensar nela, pois sua vida inteira tinha brigado com a garota pelo seu peso, dizendo que precisava emagrecer e devia vestir 34, mesmo Dalila sendo perfeitamente saudável do jeito que era. Também não gostava de pensar nela durante o apocalipse, pois a garota precisou matá-la.

Dalila assistiu o corpo que antes pertencera à sua mãe tentar arrancar seu rosto de sua face e precisou buscar qualquer coisa que a ajudasse. A única coisa pesada e firme que encontrou foi o cano de ferro que ficava escorado ao lado da maquina de lavar roupas. O sangue e o material encefálico dela espirraram por toda a lavanderia pequena da sua casa.

—Dalila?- Emerson chamou, trazendo a garota de volta à realidade. Dalila piscou algumas vezes os olhos castanhos para se ajustar à claridade. Nem notara, mas tinha pegado no sono e seus amigos tinham acabado de chegar.

—O que aconteceu?- Larissa colocou as mãos na boca em choque- Tu tá sangrando!

—Ah, isso- Riu sem graça- Um deles me arranhou na loja, só isso. No final, esqueci de pegar roupas para nós.

—Me deixe ver- Emerson pediu se abaixando para ficar na mesma altura. Dalila retirou a camiseta de cima, mostrando a pele dilacerada- Quanto sangue.

—Isso tá feio- Larissa comentou sacando o kit de primeiros socorros da mochila e entregando ao garoto.

—Nem dói- Mentiu. Emerson espirrou água oxigenada sobre o local e secou com gaze, para limpar aquela sujeira de poeira e sangue. Quando retirou as impurezas, deixando a ferida aberta exposta, Larissa falou hesitante:

—Isso... É uma mordida.

Dalila perdeu a cor no rosto.

—N-não- Gaguejou nervosamente- É um arranhão. Foi com as unhas. Foi bem nojento, ele tinha unhas compridas e terra dentro. Pode ter uma infecção, mas eu juro que não foi uma mordida.

—Dalila- Emerson chamou sua atenção- Isso é uma mordida.

—Não!- Choramingou tentando controlar as emoções- Isso não é.

O garoto se afastou. Dalila sabia o que aquilo queria dizer por que já o vira fazer antes com um menino de dez anos que foi mordido. Emerson se afastava, lamentava e então... Agia.

Larissa aproximou o rosto marcado por lágrimas do de Dalila, tocando a testa na sua.

—Lari, eu juro- Pediu- É só um arranhão. Não é uma mordida. Não me morderam.

As súplicas vazias ecoavam nos ouvidos dos três. Dalila sabia que não conseguiria convencê-los de sua mentira, mas não conseguia parar. Lutava por sua ultima chance mesmo que de forma ineficaz.

—Emerson- Chamou entre soluços- Eu juro pra ti que isso não é uma mordida, vocês entenderam errado. Por favor.

Larissa depositou um beijo na ponta do nariz de Dalila, que chorava copiosamente e implorava jurando mentiras deslavadas.

—Lari... Emerson...

—Dalila. Não faz isso ser mais difícil- Larissa pediu, dando mais um beijo carinhoso na garota antes de se afastar.

Emerson, com o rosto marcado pelo choro, sacou sua arma de fogo.

—Por favor- Dalila pediu.

O garoto tocou o metal frio do silenciador onde antes os lábios quentes de Larissa estavam.

—Me dá essa chance- Implorou. Mas foi a ultima coisa que disse, pois o tiro certeiro na cabeça fez seu corpo desabar no concreto quente. Sangue e cérebro sujavam o vidro da loja chique quando Emerson e Larissa se afastaram entre lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham se divertido lendo :D
Qualquer erro podem me avisar que eu já arrumo ♥
Comentem o que acharam, façam uma autora feliz :p
Até uma próxima ♥



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