“Olá, eu.

Não sabia como começar. Pensei em usar “querido corpo”, mas não soou bem para mim.

Enfim, oi. Tem um milhão de coisas que eu gostaria e precisaria dizer a mim mesma, mas no momento só consigo pensar em:

Estou aqui para me desculpar por ter aceitado menos do que merecíamos. Por ter acreditado que éramos menos do que somos realmente.

Me desculpe por me odiar, por me machucar e por tudo de ruim que eu já fiz contra mim mesma. Me desculpe de verdade. Eu gostaria de dizer que não farei de novo, mas não gosto de prometer coisa que sei que não cumprirei.

Portanto, ai vão algumas promessas que eu sei que eu posso tentar:

Prometo não namorar alguém que não me valorize.

Prometo namorar alguém bom, que goste de mim e que me respeite.

Prometo tentar não me machucar, mas não prometo que não conseguirei.

Prometo jogar as lâminas fora, assim diminuo minhas chances de quebrar a promessa acima.

Prometo que vamos até aquela bela padaria cor de rosa e vamos comer um daqueles bolos envoltos em uma redoma de vidro sem um pingo de culpa.

Prometo que vou tentar te amar. Tentar”.

E assim Naiara finalizou sua última carta. A garota apanhou todas e as levou para o banheiro de casa, onde incendiou uma a uma, jogando os pedaços de papel carbonizados no vaso e dando descarga em seguida.

Estava pronta para contar a todos eles como se sentia, mas não estava pronta para que eles lessem.

Observou as páginas escritas indo embora com a descarga. Sentiu alivio por Lauro já ter ouvido grande parte e sentiu esperança ao pensar que podia contar as partes importantes para sua família em um dia qualquer.

Talvez quando sua mãe chegasse, ela contaria todos os episódios que a fizeram se sentir uma filha ruim e sua mãe a abraçaria e diria que estava tudo bem.

Talvez, nas próximas férias, visse mais filmes com o pai e tentaria conversas com ele. Contaria coisas que um pai devia saber.

Talvez, quando visse o tio, o encorajaria a seguir seus sonhos malucos, nem que isso o tirasse de perto dela.

Talvez.

No final, não eram cartas de suicídio mesmo.

Naiara só precisava tirar as palavras do peito.