Treacherous escrita por Camélia Bardon


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá para vocês ♡ Como vão?
Depois do final aberto da drabble, eu achei que seria um verdadeiro sacrilégio se não deixasse vocês com pelo menos mais um tira gosto HEHEHEH Desta vez, é uma one-shot curtinha sobre o que acontecu aos Allen-Collins depois do incidente das fotos, do ponto de vista do Charlie. Espero que vocês gostem!

A música tema da one é "Treacherous", da Taylor Swift: https://www.youtube.com/watch?v=VIjEf8bv-7A



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Parecia tudo uma grande piada. Ao menos, Charlie gostaria que fosse.

Afinal, qual é a graça em ser o coadjuvante de seu próprio filme? Pior: qual é a graça de ser escalado para estrelar o filme de outro coração e acabar como coadjuvante?

Charlie não deveria sentir-se tão surpreso. Não tinha muita sorte na vida. A mãe falecera quando criança – precisos oito anos e cinquenta e seis, pois ele amava contar –, o pai nunca levara a sério nenhum dos gostos do filho... porque era óbvio que era péssimo em todos eles. Na atlética, jamais ganhara uma corrida. No piano? Mediano. Dava para o gasto. E nada mais.

No amor? Se houvesse um prêmio para o azar, Charlie ganhá-lo-ia por unanimidade. Essa categoria disparava na frente das outras em matéria de má sorte. Por quê? A única garota que já gostara – e que, inclusive, tivera a sorte de aceitá-lo como namorado – era apaixonada por outro. E, pior: quando a mãe da garota se casou com seu pai, ela automaticamente se tornou sua irmã postiça.

Tudo estaria quase sob controle se “o outro” não fosse seu pai.

Não poderia parecer mais errado, poderia? Entretanto, Charlie não desistia de algo assim tão fácil. Então, quando Virginia admitiu seus sentimentos por outro homem, ele obviamente terminou com ela.

Mesmo assim, era difícil olhar para ela todos os dias, morando em sua casa. E o término complicado servira de peia para que Charlie se relacionasse com outras garotas sem ser Virginia.

O mais engraçado era que a antiga senhora Collins – agora, madrasta de Charlie –, aparentava nada saber sobre a paixão da filha pelo esposo. De duas, uma: ou ela realmente não sabia dos sentimentos da filha (opção pouco provável, visto que eram carne e unha), ou ela dera um jeito de esconder a verdade do esposo.

E Charlie, por mais raiva que estivesse, não queria contar do que sabia. Não era algo relacionado a ele. O problema é de Virginia. Por mais que seja o meu pai.

De qualquer maneira, Charlie procurou distrair-se do problema em questão buscando a atlética como válvula de escape. Apostava corrida consigo mesmo; e fora assim que conseguira chegar em primeiro lugar.

Era a última semana de aula. Em breve, teria uma carreira. Desacreditando a própria façanha, Charlie desacelerou o ritmo para poder tomar um fôlego. A cabeça girava, mas tudo que percebeu ao redor foram os tapinhas amigáveis e a ovação das animadoras de torcida na arquibancada.

Será que Virginia também está aplaudindo? Duvido muito.

Num relance, olhou para a arquibancada, no intuito de verificar sua dúvida. Estava. Será que está fazendo voluntariamente ou para se juntar ao resto? Charlie gostaria de ter o dom de vaticinar. No entanto, como era um reles humano, caminhou até as animadoras de torcida, como todos os outros corredores. Ele achava cômico o modo como se atiravam para as garotas. Parece que o pedaço de carne são eles, agora...

— Olá — como de praxe, cumprimentou Virginia e as amigas, Lucille e Ava. E, como de praxe, ela sorriu para ele. Fingiu não se alterar com o gesto, pois tinham combinado silenciosamente de nada comentar sobre o ocorrido do casamento dos pais.

— Como vai, Charlie?

— Vou bem. E vocês?

— Bem — respondeu ela, mecanicamente. Charlie fingiu não notar a leve cotovelada que a ex-namorada deu em Lucille. — Eu e Lucille estávamos planejando ir tomar um refrigerante na cantina. Gostaria de ir conosco?

Ele resistiu ao ímpeto de suspirar.

— Não, mas obrigado pelo convite. Vou querer descansar da corrida. Posso acompanhá-las outro dia.

— Está bem — Lucille sorriu, salvando a situação. — Ava?

A terceira integrante do grupo ergueu os olhos do livro grosso que lia, subitamente reparando estarem ali ainda. A franja do cabelo, um pouco comprida demais, obrigou-a a piscar para afastá-la dos olhos.

— Sim?

— Vais ficar? — Virginia indagou, num tom esquivo.

— Definitivamente. Jean Valjean acabou de sair da prisão, e ficarei com ele.

Lucille revirou os olhos, ao mesmo tempo que riu da alma apaixonada da amiga.

— Veja se não vai chorar em cima das páginas de novo. Até mais tarde, então — Lucille emendou, puxando Virginia pelo braço.

Charlie observou a antiga paixão ir embora. Sem opções, sentou-se ao lado de Ava, respirando fundo.

— Por acaso tem água, Ava? Desculpe interromper.

Ava, sem tirar os olhos de seu livro – céus, como consegue ler algo deste tamanho? — alcançou a bolsa, retirando de lá um cantil. Repassou-o a Charlie, aproveitando para cruzar as pernas e afastar as saias do banco.

— Obrigado — resmungou ele, tomando um longo gole da água. Depois, retornou-a a dona. — Fico feliz que conversamos.

— É sempre um prazer, Charles — ela riu, inexpressivamente.

Controlando-se para não voltar a correr para longe, Charlie apoiou os antebraços no banco de cima da arquibancada e esticou as pernas nos bancos de baixo. Após suspirar, ele se voltou para Ava mais uma vez:

— Você sabia? Das fotos?

— Não — ela respondeu de imediato. — Foi um choque para mim quase tanto para você. Aliás... eu diria que foi apenas um choque, pois não sei como anda sua cabeça.

— Ah, anda uma merda.

Ambos olharam um para o outro e gargalharam, tirando a frase como quebra-gelo.

— A vida é uma merda — Ava emendou, fechando o livro. Observou-a o apor no banco.

— Nem sempre, vai.

— Não, é verdade. A sua vida é uma merda, Charles Allen.

Charlie revirou os olhos, empurrando-a com o ombro de brincadeira.

— Pelo menos eu não sou o Jean Valjean que foi preso. Seja lá quem for esse aí.

Ava se fez de ofendida, estreitando os olhos castanhos. Já Charlie ergueu as mãos em defensiva.

— Eu iria te oferecer uma porção de fritas para comemorar o primeiro lugar na corrida, mas depois dessa...

— Não! Não, eu quero as fritas — ele riu, observando-a guardar o cantil. — Ava!

— Vá se secar, Allen. Vai estragar minha reputação higiênica — ela devolveu a risada, num tom malvado.

E Charlie correu para os vestiários tomar uma ducha. Afinal, talvez Virginia não tivesse servido de declive para seus relacionamentos.

Poderia ter sido uma alavanca.

Como poderia ser um declive traiçoeiro...


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Notas finais do capítulo

Palavras-chave:
(1) Vaticinar: predizer o futuro, fazer adivinhação, profetizar.
(2) Peia: Obstáculo, estorvo, impedimento.
(3) Apor: Pôr junto ou sobre alguma coisa.



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