Are You Mine? escrita por Kurai


Capítulo 1
I'm Yours.




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— E então... Vai me dizer o que aconteceu? Por que está com essa cara o dia inteiro?

Os dois andavam pela areia no maior silêncio absoluto durante vários minutos. Era a primeira vez que ele dizia algo desde que chegaram à praia. Ela parou de andar ao ouvi-lo, encarando o mar. Havia várias pessoas por ali, naquele final de sábado, mas a sensação que tinham era de que o lugar estava completamente vazio. Ela suspirou profundamente, fechando os olhos e sentindo a brisa leve que carregava consigo o cheiro do mar.

— Não acho que seja de sua conta o que me acontece. Não me contou como se machucou assim.

Ele chutou um pouco de areia, nervosamente, parando ao lado dela e a olhando de canto, aproveitando que ela tinha os olhos fechados. Levou a mão mecanicamente ao bolso do maço de cigarros, mas... Parou antes de terminar o gesto.

— Foi só um acidente, eu te disse.

— Então o motivo de minha expressão também foi só um acidente. Talvez eu tenha caído de cara no chão.

— ...Pff. — ele acabou rindo, chegando um pouco mais perto. Só mais um pouco. — Me conte. Eu não vou rir, e... Acho que eu sou o único cara pra quem você pode contar as coisas, não é?

— ...O que quer dizer com isso? — ela abriu os olhos pra encará-lo, confusa, e automaticamente deu um passo atrás ao ver o quão próximo ele estava.

— Bem, quer dizer... O seu pai espera muito de você, eu acho. E todo mundo que você conhece espera que você faça as coisas... Como você faz. Estou explicando direito? Como uma boa moça. ‘Nunca quebre as regras, seja comportada’, esse tipo de frescura.

Ela colocou uma mecha de cabelo solto com o vento pra trás da orelha, enquanto voltava a olhar o mar com uma expressão amargurada que só poderia querer dizer que ele tinha acertado em cheio. Ainda assim, Sophia não disse nada.

— Mas eu não. Eu não espero nada de você além de você. Fala sério. Você fugiu do seu irmão por um mês inteiro pra me encontrar. Eu sei que não é assim que você quer ser. Então... — Ele aproximou novamente a distância que ela tinha encurtado, prendendo a mecha solta sob a presilha de borboleta azul que ela sempre usava. — Finge que eu sou aquele mesmo Dan da praia. O que estava sempre lá quando você chegava. Que não fumava, e parecia ser uma boa pessoa pra se conhecer. Vamos, me conte, eu sei guardar segredo.

Dessa vez, ela não se afastou. Ela o olhou como se estivesse doendo.

— ...Você é cruel, Daniel Faye. Você diz que mudou e que não quer mais ser ruim... Mas o que está fazendo agora pode vir a me doer mais do que o tiro que me deu uma vez. — ela disse baixo, mas o olhava diretamente nos olhos. Foi ele quem desviou o olhar dessa vez. Puxou um cigarro.

— A diferença é que não é minha intenção dessa vez.

Ela tomou o cigarro de sua boca antes que ele sequer o acendesse e o enfiou no bolso pra não sujar a praia. Ele a olhou indignado, mas parou ao ver que a garota sorria, um sorriso triste.

— É justamente por saber disso que não consigo odiar você dessa vez.

— ...Então você não me odeia.

— Não. Não no sentido real da palavra. Apesar de tudo o que eu vi acontecer, da tortura e da dor e de todo o sangue que poderia ter sido derramado... Você por sua mão só feriu a mim. E isso é mais fácil de perdoar.

— Diga isso aos outros.

— Achei que tivesse voltado atrás do meu perdão, não do dos outros.

— Mas sem o dos outros você não vai me dar uma chance.

— ......É. — a pausa hesitante antes da resposta o fez olhar. Ela encarava a areia, a expressão distante, tracejando com a ponta do sapato no chão. O garoto teve certeza absoluta que alguma coisa grande tinha acontecido.

— Não vai mesmo me contar?

— Você não vai gostar. Nem um pouco. Mesmo.

— Talvez eu goste. E se eu não gostar, eu não vou dizer. — ele sorriu confiante, mas não se sentia nem um pouco confiante. Muitas possibilidades lhe passaram a mente.

— ... — Ela o olhou um instante, sabendo que ele não a deixaria em paz. — Alan se declarou a mim recentemente. Disse que demorou a perceber o quanto precisava de mim. — Ela basicamente resumiu de forma o mais neutra possível, sem ter coragem de olhar seu rosto.

— Oh... Finalmente ele decidiu virar homem. — ele riu, como se aquilo não importasse. — Desculpe. O riso foi sem querer. — Ela negou com a cabeça, sem nem parecer ter notado que ele descumprira o que prometera.

— Não. Quer dizer... Não exatamente. Ele não fez mais nada. Nem sequer... — a voz dela falhou, e então ela se interrompeu — ...Eu deveria estar feliz. Não deveria?

Daniel percebeu que aquela era a maior chance da vida dele de quebrar os dois. Ela tinha feito uma pergunta que a resposta certa a faria mudar completamente. Ele poderia dá-la. Ele deveria. Era o que ele queria... Mas não saiu.

— E por que não está? — foi o que conseguiu empurrar pra fora da garganta.

— Eu não... Eu não sei. Não faço ideia. — ela abraçou o próprio corpo com ambas as mãos, desviando o olhar pro canto. — Pareceu tão... Tão fácil. Eu o esperei a minha vida inteira. Eu o esperei até quando disse a todos que não estava esperando. Eu o esperei quando ele teve outras... E outros. E então... E então você aparece. — ela o olhou, de forma confusa. — E por mais que você seja odiável e repugnante e que eu devesse chamar a polícia só por tê-lo visto... — ele fez uma expressão engraçada de ofensa, mas ela não parou pra prestar atenção. — ...Eu realmente gostava de você. Então, sabe, tinha um risco... Mínimo, inimaginável, em um universo alternativo... — ela enrolou, apertando ainda mais os braços ao redor de si mesma — Que eu pudesse vir a gostar de você de novo.

— ...Um risco? — ele ergueu a sobrancelha, mas ela o ignorou.

— O problema é... Alan só fez o que fez, porque... Porque você poderia um dia competir. Eu acho. — ela admitiu, a voz cada vez mais baixa. — E aí... Sabe. Eu espero por ele a vida inteira. Então um dia ele vem e decide que me queria todo esse tempo... Logo depois de você aparecer.

— Ah. Você acha que ele só ficou com medo de perder você pra outro cara. — ele finalmente entendeu o ponto dela, tentando não rir dessa vez. Fazia sentido. Realmente fazia sentido.

— ...É. — ela suspirou, sentando-se na areia abraçando os próprios joelhos, como sempre fazia quando estava na defensiva. Ele se largou ao lado dela, novamente puxando um cigarro. Dessa vez ela não o impediu e deixou que ele o acendesse. Ficaram em silêncio outra vez. O sol já quase se punha, as pessoas começavam a ir embora da praia.

Ele fumou o cigarro inteiro a observando. Ele praticamente podia ver as engrenagens da cabeça dela girando, a mente em outro lugar. Fechou os olhos, apagando o cotoco na areia e o largando ali, soprando a última fumaça.

— ...Você é meu?

Ele abriu os olhos de uma vez só. Não tinha certeza se tinha ouvido certo. Enquanto a encarava tentando decidir, notou que ela só percebera agora o que tinha dito, arregalando os olhos e corando furiosamente.

— N-Não! Quer dizer, eu só estava pensando em voz alta, eu... — cada palavra que ela dizia a deixava mais atrapalhada. Ele sorriu, quieto até ela se calar, escondendo o rosto atrás das mãos, mais corada que nunca.

— Você é minha?

Ela parou de surtar pra olhá-lo por cima das bordas das mãos. Ele simplesmente sorria. Ela não sabia aonde enfiar a cara.

— E-Eu... N... — ela começou a falar, mas ele ergueu a mão, a interrompendo.

— Não existe mais ninguém no mundo. Não existe amanhã, nem ontem. Só o aqui, o agora, e a gente. Você é minha?

— ... — Ela desceu lentamente as mãos do rosto, a expressão transtornada. Ele sabia que tinha ganhado aquela. — ...Você me pegou.

Ele se curvou na areia e a beijou. Finalmente, finalmente, a beijou. Ela não pensou em recuar, apesar do gosto de cigarro que a incomodava. Não havia outras pessoas. Não havia amanhã. Naquela noite... Naquele pôr do sol, fora da linha de tempo do mundo. Naqueles minutos. Ela era dele.


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Notas finais do capítulo

E é assim que se volta pra um relacionamento errado. Cuidado com as palavras, crianças. Palavras doces camuflam muita coisa.



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