Acordei, meu corpo todo dolorido, provavelmente por eu ter dormido de mal-jeito, ou sei lá. Abri lentamente os olhos, olhei as paredes a minha volta, até que vi o relógio e... MEU DEUS, desde quando eu durmo das 19:00 até 11:30??? Nunca dormi tanto em minha vida...

Levantei, e fui em direção ao banheiro, preciso de uma ducha, urgente. Me despi, e entrei embaixo do chuveiro. Me olhei, e então percebi o motivo de meu corpo estar dolorido, haviam vários hematomas em minha barriga, que já havia crescido mais um pouco.

-O que aconteceu? Você ficou nervoso durante a noite foi? – perguntei para meu cutucador, acariciando minha barriga. Sorri quando o senti se mexer, acho que isso quer dizer que ele concorda não é?

Sai do banho, me sequei, e fui para o quarto, enrolada somente na toalha. Escolhi um vestido cinza, com algumas flores brancas desenhadas, e uma sapatilha cinza que comprei ontem. Sequei meu cabelo e o prendi em um rabo de cavalo alto. Desci para tomar meu café da manhã e depois ir ao banco, ver se minha mãe mandou o dinheiro que pedi.

Peguei um pão, uma maçã e um suco de laranja para comer. Acho que foram as únicas coisa que meu estomago não rejeitou somente de eu olhar. Comi tudo, sem muita pressa. Fui me levantar, e tive que me apoiar na mesa para não cair com tudo rodando. Pisquei várias vezes para aquilo melhorar, e olha, foi necessário várias piscadelas. Senti meu bebê me chutando em reclamação, e coloquei minha mão sobre o estomago automaticamente.

Voltei a caminhar quando melhorei, passos lentos, com medo de que acontecesse novamente. Quando fiquei mais confiante, comecei a dar passos mais rápidos, em direção ao banco. Observava cada criança que eu via brincando, sorrindo, correndo pela cidade, ficava imaginando como seria o meu bebê, eu já em mente o garoto dos meus sonhos, mas talvez ele não fosse assim afinal.

Cheguei ao banco, e verifiquei minha conta. Sim, minha mãe havia depositado o dinheiro. Saquei U$300,00, e sai novamente, agora querendo ir para o aeroporto. Forcei minha memória a se lembrar de qual ônibus eu peguei quando fugi. Com muito esforço consegui me lembrar. Fui até o ponto em que sabia que o ônibus pararia, e fiquei esperando.

Acho que minha espera durou 30 minutos mais ou menos, mas, finalmente o ônibus chegou. Não consegui ir sentada, então tentei me segurar em algum lugar. A viagem era longa, mas nos dava a oportunidade de conhecer a cidade, o que, no meu ponto de vista, era bom.

Desci onde devia, e fui comprar uma passagem. Procurei em três companhias, passagens para hoje, e como somente uma tinha, escolhi aquela mesmo, embora fosse mais cara. Meu vôo seria as 20:40, melhor eu ir logo para o hotel.

Não voltaria de ônibus ou acabaria me atrasando, peguei um táxi, e o expliquei, no meu melhor espanhol para onde iria, deu trabalho para ele entender, mas antes tarde do que nunca. Fomos bela beira da praia, fiquei olhando o mar, e aquilo acabou me trazendo lembranças de quando eu estava com Edward na ilha. Não permitia que as lágrimas escapassem, mas uma, teimou e desceu pela maçã de meu rosto, até cair. Essa lágrima eu sei que secaria, mas será que as que eu derramo em baldes dentro de mim iriam acabar assim, tão facilmente?

Respirei fundo, e sai de meus devaneios com o taxista me chamando. O paguei e desci do carro, subindo logo para meu quarto no hotel.

Peguei as poucas coisas que tinha, e coloquei-as em uma bolsa, um pouco maior, onde coube tudo, e ainda sobrou espaço. Como não poderia viajar com aquela roupa, separei uma calça jeans clara e uma bata preta, coloquei a mesma sapatilha e desci para fechar minha conta no hotel.

-A conta do quarto 315, por favor. – pedi, novamente com meu melhor espanhol. Se eu vou voltar aqui com meu filho é bom aprender a falar português, ou ficaríamos mais perdidos do que eu já estou sozinha.

-Aqui está. – A recepcionista me entregou. Peguei, quase meus últimos reais, e peguei a conta. Fui esperar o táxi que eu pedi para chamar na frente do hotel. Me encostei na parede, e fiquei prestando atenção na rua.

Minhas lembranças me invadiram, quando vi Edward e sua família pela primeira vez, em nossa primeira aula de biologia, quando ele ainda me evitava, a primeira vez em que ele me salvou de ser atropelada, a segunda em Port Angeles, no carro quando eu o contava que sabia o que ele era, quando começamos a namorar, a tarde na floresta, nosso primeiro beijo, o jogo com sua família, quando ele me salvou de James. Meu aniversário, a depressão em que eu entrei quando ele me deixou, quando eu consegui com que ele ficasse comigo. Seu pedido de casamento, sua felicidade quando eu disse que aceitava, nosso casamento, a ilha de Esme, nossa primeira vez.

Foram tantas coisas que eu vivi com ele, e que deixei para trás. As lágrimas caiam livremente pelas maçãs de meu rosto, sem adiantar o esforço que eu fazia. Respirei fundo, limpei todas as lágrimas, e tentei segura-las. O táxi chegou logo depois disso, entrei nele, e foi ainda mais complicado de fazer com que o taxista compreendesse com a voz embargada que eu estava.

Ele seguiu o caminho para o aeroporto, voltamos também pela beira da praia, mas desta vez eu preferi não olhar para a paisagem desta cidade. A tristeza em que eu fiquei, fez com que meu filho reclamasse. Minha mão foi para minha barriga, querendo acalmá-lo, o que deu certo. Eu pensava em coisas bonitas para ele, já que eu não sabia se ele conseguia ver meus pensamentos, aquilo pelo menos me acalmaria.

Chegamos ao aeroporto, faltavam somente 20 minutos para meu vôo. Fui andando rápido até a empresa aérea, confirmei minhas passagens, e depois disso fui direto para a sala de embarque.

Não demorei muito também para entrar no avião. Sentei em minha poltrona, e fechei os olhos querendo descançar.