A story painted Black escrita por crowhime


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/782159/chapter/1

A primeira vez que viu Regulus Black foi no Expresso Hogwarts.

Estava sentado com os amigos - os auto-intitulados Marotos - em uma das cabines, rumo ao segundo ano de escola. O pequeno Regulus abriu a porta da cabine e imediatamente se encolheu como um animal acuado (e Remus sabia como um animal acuado se comportava) quando todos os quatro pares de olhos se viraram para fitá-lo, porém antes que falasse qualquer coisa, a voz de Sirius se fez presente.

“O que quer, Regulus? É melhor não me fazer perder tempo ou vou azarar sua bunda”, ele soltou com ares convencidos e James e Peter riram. Remus sorriu fingindo achar graça. Mas não era engraçado. Não foi engraçado como o rosto do Black mais novo ficou pálido, como se soubesse que a ameaça era real, e ele simplesmente fechou a porta e saiu apressadamente.

Remus não tinha irmãos, porém não achava que era certo tratar família daquele jeito, além de ficar confuso, pois Sirius costumava falar com carinho de Regulus nas poucas vezes que citou o irmão no ano anterior. Mas não disse nada, os outros três pareciam se divertir e não ia ser o estraga-prazeres. Ficou se perguntando o que ele queria, entretanto. Sentar-se com o irmão, supôs. Se tivesse um irmão mais velho, fantasiava, iria gostar de estar com ele quando estivesse rumo ao desconhecido, porque sabia que a ideia de ir para Hogwarts podia ser… assustadora. O desconhecido era assustador. Quis que Regulus se sentasse com eles, talvez ficasse um pouco apertado, nada que causasse problema. Mas não teve coragem de falar. Ficou em silêncio.

Foi a primeira vez que viu Regulus Black, mas não a primeira que ouviu sua voz.

A próxima vez foi na cerimônia de abertura. Regulus parecia assustado e só começou a caminhar depois de um menino loiro de sua idade lhe deu um toque de incentivo no ombro. Sirius estava inquieto, quase ficando de pé de tanto que se esticava para acompanhar o irmão caminhando pelo corredor, as bochechas de Regulus estavam vermelhas e caminhava extremamente rápido como se quisesse acabar logo com aquilo.

Mas não acabou logo. O Chapéu Seletor foi colocado em sua cabeça e talvez por dois ou três minutos o silêncio tomou conta do salão. Remus imaginou que Regulus estava discutindo com o chapéu dentro de sua cabeça, pois suas expressões denunciavam, e ele era mais expressivo do que de início Remus pensou, pois mesmo com o chapéu quase cobrindo seus olhos, pode ver a surpresa, a tensão e então a determinação e conformidade quando a voz do objeto mágico ressoou alta pelo salão:

“Sonserina!”

A mesa verde e prata explodiu em palmas e comemoração, enquanto Sirius murchou no banco, voltando para a expressão desinteressada.

“Não é tão ruim…”, tentou animá-lo, sabendo como Sirius odiava a Sonserina mais que todos, “ele ainda é seu irmão, né?”

Ele resmungou qualquer coisa e não respondeu.

Pelos meses que se seguiram, não viu novamente o mais novo dos Black, nem seu irmão comentava sobre, então eventualmente esqueceu até o segundo semestre. Por vezes, tinha a sensação de estar sendo observado, e quando o instinto falava mais alto, desviava a atenção dos amigos e se virava para trás por um momento, apenas para encontrar a figura de Regulus os observando de longe. Quando o sonserino reparava estar sendo visto de volta, ele rapidamente dava as costas e ia embora com a capa esvoaçando atrás de si. Ficou intrigado.

Após ter pego o mais novo observando várias vezes ao longo do mês, ficou preocupado, não só curioso. E se Regulus estivesse desconfiado de algo? De seu segredo?

Tentou perguntar sobre Regulus, como ele estava, para Sirius uma vez, como quem não queria nada, porém ele teve uma explosão de raiva. Tentou argumentar que o amigo deveria falar com o irmão, pois era sua família, porém tudo que ouviu foi um "o que você sabe? Não é como se você tivesse um irmão pra saber!", e outras coisas horríveis, mas não escutou muito, chateado pela forma como ele falou consigo. Sirius nunca pediu desculpas, e Remus fingiu que não ligava.

Passou ele mesmo a observar o sonserino. A lua cheia se aproximava mais uma vez e, com ela, a ansiedade crescente de Remus. Percebeu em poucos dias que Regulus andava sozinho, não parecia ter amigos em seu ano, e uma vez viu um dos alunos do segundo ano da própria Sonserina trombando de propósito nele (e reconhecia, porque James e Sirius viviam fazendo o mesmo com quem não gostavam), mas não teve coragem de se aproximar. Ranhoso, como ele e seus amigos começaram a chamar Severus Snape, amigo de Evans, uma colega da Grifinória de quem não era próximo, que chegou momentos depois após os garotos irem embora e ajudou o Black a juntar os livros que carregava.

Uma parte de si se perguntou se era algo normal, mas tinha os próprios problemas para se preocupar. Percebeu que Snape e Regulus não trocaram muitas palavras, e o último continuava a andar majoritariamente sozinho, tirando quando estava com quem reconheceu ser o rapaz loiro do primeiro dia de aula, um aluno da Lufa-Lufa que descobriu se chamar Barty. Tinha jeito de apelido na realidade, mas era como ouviu Regulus o chamando, e também a primeira vez que o viu sorrir.

Ele tinha um sorriso bonito, pensou Remus, uma pena que geralmente sua expressão era tão fechada.

Não tardou a perceber que, quando estava sozinho, Regulus nem percebia sua presença, como quando ambos estavam na biblioteca e ele nem se dignava a olhá-lo por cima dos livros, e entendeu que quem ele observava de verdade era Sirius. Fazia sentido. Então se tranquilizou, parando de se preocupar com os olhares do sonserino sob o quarteto, e eventualmente esqueceu. Nem mesmo Sirius falava sobre o irmão, só para reclamar ou falar mal de como ele estava se tornando o filho perfeito, e Remus suspeitava que ele se sentia traído de algum jeito, mas não se atrevia mais a opinar ou perguntar sobre: não queria desagradar Sirius, nem nenhum de seus amigos, afinal era a primeira vez que experimentava esse tipo de relação na vida e não iria arruinar tudo. Não depois deles terem descoberto e o aceitado como era, lobisomen e tudo, e terem dito que iriam se tornar animagos por causa dele. Não podia estar mais feliz.

Regulus Black só voltou a povoar sua mente quase um ano depois, em um fim de tarde que se apressava através de um atalho pouco utilizado para ir até a biblioteca devolver um livro, sozinho, uma vez que não era um lugar muito frequentado pelo restante do grupo, e se deteve ao ouvir alguns soluços. Não deu muita atenção ao achar ser apenas a Murta-que-Geme, mas quando passou pelo corredor, viu a figura franzina de Regulus sentado no primeiro degrau da escada, encolhido justamente onde o sol não batia, o rosto enterrado nos braços.

Remus ficou paralisado, sem saber o que fazer por longos segundos. Não gostava de pensar em ignorar alguém que estava chorando, porém por outro lado os amigos não gostariam de saber que estava interagindo com o “inimigo” - porque aparentemente todos da Sonserina o eram, com maior ênfase em Snape, e mesmo Regulus sendo irmão de Sirius não é como se soubesse exatamente como estava a relação entre os irmãos Black.

Preferiu acreditar que Sirius, mesmo sendo cabeça-dura e fizesse todo possível, quase desesperado, para se afastar da própria família e o que ela representava, iria se preocupar se soubesse que o irmão mais novo estava chorando. Era só um aluno do segundo ano, não tinha culpa do que os pais enfiavam em sua cabeça - assim como Sirius não tinha. Mas Sirius tinha a eles, os Marotos, a Grifinória… O que Regulus tinha?

Decidiu que o livro podia esperar mais um pouco e se aproximou com os costumeiros passos silenciosos, percebendo que nem mesmo sabia como chamá-lo. E que aquela era a primeira vez que ouvia sua voz.

“Regulus? Está tudo bem?”, perguntou por fim, optando por chamá-lo pelo nome simplesmente porque era o que sempre ouvia da boca de Sirius. Quase familiar.

Não era a intenção de Lupin, mas o mais novo se assustou, quase pulando no lugar e apoiando as mãos no degrau de trás como se estivesse prestes a escalar a escada se necessário. Teria sido engraçado se não fosse o rastro das lágrimas caindo dos olhos vermelhos, bem como a pele, especialmente no nariz e bochechas.

“Se não estiver se sentindo bem, posso te levar na enfermaria. Ou chamar alguém…” Tentou mais uma vez, abrindo um sorriso incerto, mas que tentava ser simpático, quando o sonserino levantou-se de súbito, sua expressão contorcida em raiva e os olhos fitando ao mais velho de modo fulminante.

Remus chegou a se assustar, mesmo o Black sendo vários centímetros mais baixo, mal chegando em seu queixo. Sempre foi alto, não sabia se era efeito da licantropia ou não, mas estava ficando até maior do que James, mas tinha certeza de que Regulus era mais baixo do que deveria para a idade. O que assustava não era a aparência, muito pelo contrário, o consideraria até frágil, especialmente naquela situação, mas as íris escuras queimavam com raiva e acusação em uma intensidade que nunca viu antes, brilhantes por causa das lágrimas, e fez com que Remus se sentisse pequeno e assustado.

“Eu não preciso da sua pena!” Ele praticamente gritou, a voz embargada quando suas mãos o empurraram no peito. Não havia sido tão forte assim, mas a surpresa fez com que se desequilibrasse um pouco e precisasse recuar um passo. “Não vem fingir de bonzinho, seu… seu…” O insulto, qualquer que fosse, pareceu ficar preso em sua garganta e ele o empurrou novamente, com um pouco mais de força. “A culpa é toda sua! Se minha vida é esse inferno! Se não fosse você… se não fossem vocês…”

Mais uma vez, Regulus engoliu o que iria falar e simplesmente o empurrou mais forte do que as outras vezes, fazendo Remus se afastar dois passos para não cair, e saiu correndo na direção contrária, sumindo tão rápido quanto uma tempestade de verão que caía do nada.

Não queria admitir, mas aquele encontro realmente o incomodou. Não é como se tivesse feito algo de errado para Regulus, por que ele estava o acusando daquele jeito? E… inferno? Ele não era muito novo para estar falando aquelas coisas? Podia ser só um ano mais velho, mas Remus conhecia o que era o inferno, embora devido a fatores específicos, e não achava que uma pessoa normal, tão nova, diria aquilo com tamanho fervor, como se fosse verdade. Talvez devesse falar com Sirius, porém imaginou que Regulus odiaria ainda mais e afastou a ideia da cabeça. Mas não conseguiu tirá-lo de sua mente, mesmo dias depois o pensamento voltava a se precipitar sobre si.

Queria falar com alguém sobre, pois era sufocante, como se pudesse se afogar naqueles pensamentos. Mas obviamente não podia falar com Sirius. Nem com James. Embora o primeiro dissesse que eles eram como irmãos, todos eles, ele e James pareciam ter uma sintonia a mais, o que não era uma surpresa já que eles pareciam pensar de formas similares, além da vivências serem mais próximas um do outro do que de Remus ou Peter.

Franziu o cenho. Se os Marotos eram os irmãos verdadeiros do Black, o que era Regulus? Ficou reflexivo e olhou para o amigo ao lado, James e Sirius estavam treinando quadribol, mas ele e Peter não eram tão chegados e estavam observando. Peter não se envolvia nessas questões e, apesar de visivelmente admirar em excesso os outros dois, não tinha o hábito de realmente tomar partido. Imaginou que poderia conversar com ele, afinal também era seu amigo.

“Eu estava pensando…”, começou, vendo que o olhar do outro se voltava para ele com curiosidade, “você acha que o Sirius odeia o Regulus?”

“Por que estava pensando nisso?” Peter pareceu genuinamente confuso. Remus deu de ombros, um pouco sem graça.

“Não sei. Me veio na cabeça. Mas não comente com os outros dois, não quero gerar brigas…”

“Pode deixar”.

Peter sorriu e concordou, imaginou que estava soando como um bobo para ele, mas ele não fez graça. E também não respondeu. Perguntou de novo.

“Então… o que acha?”

“Eu… não sei? Talvez não seja odiar, odiar, mas ele tem outra vida agora, deve ser um saco ter um irmãozinho no seu pé especialmente quando é tão diferente e fica ouvindo os pais que você não gosta… Apesar que eu gostaria. Talvez.”

Peter também não tinha irmãos, se lembrou, mas acabou rindo baixo ao pensar que ele adoraria ter alguém a quem ser um exemplo. Acabou deixando o assunto morrer, sabia que o outro achava complicado e acabaria dizendo que Remus pensava demais em coisas complicadas e deveria parar com isso. A resposta dele fazia algum sentido, porém se perguntava se Regulus era mesmo daquele jeito, afinal só o vira andando com um lufano e, tirando Severus, não o viu realmente interagindo amigavelmente com mais ninguém da Sonserina.

Mas Peter estava certo. Deveria parar de se preocupar com assuntos complicados que nem mesmo lhe diziam respeito. E Regulus deixou claro que não queria preocupação - ao menos não a de Lupin - então apenas o incomodaria caso tentasse se intrometer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A story painted Black" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.