A Dama do Coração Partido escrita por Claen


Capítulo 22
Holmes Expõe Suas Deduções




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Ao ouvir o nome do homem misterioso vestido de negro, Haylock ficou estarrecido.

— Dr. Edwards? “O” Dr. Edwards? – perguntou incrédulo.

— O próprio. – confirmou Holmes, divertindo-se com a reação do policial.

— Não entendo, Sr. Holmes. Confesso que estou completamente perdido aqui.

— É compreensível. Mas, entremos de uma vez, porque muitas coisas serão reveladas esta noite.

— Vamos lá, então! – exclamou Haylock, curiosíssimo.

Nós quatro seguimos até a entrada principal da casa, onde fomos recepcionados por Claire, que graças à ligação de Holmes, já estava ciente de nossa visita noturna. A cozinheira nos recebeu com alegria, porém, empalideceu ao reconhecer quem trazíamos conosco.

O homem estava diferente do jovem médico importante e bem alinhado que costumava ser e parecia mais um andarilho do que qualquer outra coisa. Tinha a barba e os cabelos compridos e aparentava ter mais idade, mas ela não teve dúvidas de que aquele era seu “falecido” patrão.

— Dr. Edwards? Mas... como? – perguntava, incrédula e assustada.

— Acalme-se, Claire, está tudo bem. – tentei tranquilizá-la. - O doutor está vivo e garanto-lhe que é bem real. Se puder chamar o Sr. Benningfield aqui, ficaremos gratos. Creio que ele também gostaria de estar presente durante os esclarecimentos.

— Sim, Dr. Watson. Vou chamá-lo imediatamente.

Convencida de que aquele não era nenhum fantasma, Claire saiu correndo para buscar o colega, que também não acreditava em seus olhos. Os únicos que pareceram não se surpreender com o retorno de Steven Edwards do mundo dos mortos, foram justamente os dois convidados especiais: Henry Cooper e Emily Packard.

Graças à ajuda de Claire e de uma pequena mentira, o casal de médicos, que tinha planos de deixar a cidade no início da tarde, foi obrigado a comparecer a residência da família Edwards. Devido a essa visita de última hora, eles acabaram perdendo seu trem e ficando presos por causa da nevasca. Eles entenderam que não valia a pena enfrentar aquele clima terrível e então, foram convencidos a permanecerem na casa até o dia seguinte.

Holmes tinha pedido a Claire que os chamasse com urgência, com a desculpa de que a pequena Angela tinha adoecido subitamente. A chamada deveria ser feita bem próxima do horário de partida do trem do casal, para que não houvesse nenhuma chance de eles embarcarem. A história foi convincente e os dois saíram imediatamente, preocupados com a saúde de sua afilhada, porém, quando chegaram lá, verificaram que não havia nada de errado com a menina.

A cozinheira, obviamente, se desculpou, alegando que andava muito preocupada com tudo o que vinha acontecendo e que talvez tivesse exagerado um pouco a situação. O casal achou tudo muito esquisito, mas jamais imaginou que tudo era parte de um plano. Só se deram conta de que tinham caído em uma armadilha quando nos viram entrar na companhia de Edwards. Eles entenderam que tinham sido descobertos e agora, os três amigos seriam confrontados por Sherlock Holmes.

— Boa noite, doutores. Fico contente por terem resolvido ficar. Vamos aproveitar essa noite gelada para termos uma longa conversa. – disse Holmes, enquanto se aproximava da lareira.

Haylock e eu fizemos o mesmo, porque embora quiséssemos ouvir tudo o que as pessoas reunidas naquela sala tinham para dizer, também precisávamos desesperadamente nos aquecer. Claire tinha feito a gentileza de nos trazer alguns cobertores e imediatamente nos embrulhamos neles. Holmes parecia não sentir tanto os efeitos do frio e recusou educadamente o seu. Ele se sentou na poltrona, enquanto nós nos acomodamos no sofá ao lado de onde estava o trio de médicos.

Ele observou silenciosamente a todos os presentes por alguns instantes, até que finalmente começou a falar.

— Os senhores não foram totalmente sinceros comigo, não é mesmo, doutores? – perguntou já sabendo da resposta, enquanto os dois permaneciam em silêncio.

— Tenho certeza de que quase tudo o que contaram foi verdade, exceto o fato mais importante, de que seu amigo Edwards estava bem vivo e não enterrado a sete palmos abaixo da terra. Creio que ter sabido desse detalhe teria sido bastante relevante para as investigações.

Eles continuaram em silêncio, mas seus rostos envergonhados confirmavam cada palavra.

— Pois bem. - começou finalmente - Após receber visita da Sra. Edwards, eu refleti por algum tempo sobre o assunto. Formulei algumas teorias e segui simultaneamente diversas linhas de investigação. Praticamente todas se provaram corretas, mas algo me dizia que esse caso não era tão simples como parecia. Havia algo mais profundo, talvez um segredo. Depois de muitas descobertas, alguns pormenores continuavam sem uma explicação satisfatória e tal explicação, curiosamente, poderia vir justamente da teoria mais implausível de todas.

“- Inicialmente, eu realmente acreditei que Edwards pudesse ter sido assassinado, mas não sabia por quem nem via motivo para tal. Sua morte era incontestável, ainda mais quando soube que os melhores amigos do “falecido” tinham sido os responsáveis pela tentativa de socorro e não teriam motivos para mentir sobre o fato. Contudo, também soube que o tal socorro e a retirada do corpo do local do acidente tinham sido extremamente rápidos. Poucos minutos após a tragédia, o local já estava totalmente liberado e isso me pareceu estranho. Mais estranho ainda, foi saber que os dois socorristas tinham desaparecido algum tempo depois. Minha teoria de que aquela tinha sido uma morte planejada aumentava, e os supostos amigos se tornaram meus principais suspeitos.”

“- No entanto, quando finalmente os conheci em Bedford, vocês foram bastante convincentes de que sua amizade era genuína e ainda me sugeriram o motivo que eu vinha procurando, juntamente com um novo suspeito: Jonathan Wright. Depois de ouvir seu relato, eu mantive minha teoria de assassinato, mas também comecei a cogitar uma hipótese diferente, mais audaciosa: a de que Edwards, com a ajuda dos amigos, pudesse ter forjado sua própria morte para escapar de Wright, e não ter sido morto por eles. Era bastante fantasioso, mas não impossível, contudo, minha teoria da farsa tinha um grande porém, porque se eles realmente tivessem forjado tudo, eles precisariam de mais um cúmplice: o legista. E nada apontava para sua participação.”

“- Eu não tinha provas de nada, apenas suposições que vagavam por minha mente, mas que pouco a pouco, foram se confirmando ou sendo descartadas, e agora que estamos todos reunidos, vou contar o que eu acho que de fato aconteceu.“

“- Como sabemos, Edwards e Cooper tiveram problemas com a direção do hospital quando o tema de suas pesquisas foi descoberto. Vocês sabiam que Wright era um homem poderoso e com amigos influentes, e tiveram medo, com razão, de que sua pesquisa fosse interrompida e tirada de vocês a força. Mas o trabalho precisava avançar, não importando como, pois dele poderiam depender as vidas de milhares de pessoas.”

“- Vocês tinham planos para irem embora de lá e Edwards já tinha até retirado tudo que se referia às pesquisas do hospital e levado para casa, mas os dois sabiam que isso não seria suficiente para tirar Wright de trás de vocês. Bastava que ele entrasse na justiça com sua horda de advogados e alegasse propriedade das pesquisas que tinham sido realizadas com as verbas do hospital e dentro de suas instalações, que todo o trabalho duro de vocês estaria perdido.”

“- Para se virem livres de Wright, seria necessário algo mais extremo, algo irreversível, algo que o deixasse sem saída. Então, vocês planejaram tirar Edwards do mapa. Ele precisava morrer e isso tinha que acontecer diante de todos. Encenar uma morte seria algo fácil para vocês, já que as mesmas drogas usadas para combater as arritmias cardíacas, se usadas em uma quantidade maior, poderiam reduzir bastante os batimentos cardíacos de alguém a quase zero, deixando-o muito próximo da morte. O plano era arriscado e perigoso, mas vocês o levaram em frente. No entanto, isso poderia enganar um leigo que observasse tudo de longe, mas jamais um legista e foi aí que minha teoria empacou.”

“- Para o plano dar certo, era necessário que o médico legista estivesse envolvido e eu precisava descobrir se havia essa possibilidade. Foi nessa hora que um faxineiro curioso e ávido por um dinheiro extra, entrou na história. Eu o havia conhecido quando fui investigar o hospital pela primeira vez, e quando estava em Bedford, secretamente mandei-lhe um telegrama pedindo para que tentasse descobrir se havia alguma conexão entre vocês e o legista do hospital. Faxineiros são ótimos informantes, afinal, são os únicos que podem entrar em todos os lugares, por mais restrito que seja seu acesso, e nosso amigo da limpeza cumpriu sua missão com louvor.”

“- Ele xeretou e perguntou pelos cantos, até que hoje cedo me contou, que os amigos que haviam se conhecido na faculdade de medicina e depois passaram a trabalhar juntos em St. Bart’s, não eram um trio e sim um grupo de quatro pessoas: Steven Edwards, Henry Cooper, Emily Packard e Joshua Thomas, também conhecido como o legista.”

“- Naquele momento, eu tive certeza de que vocês tinham mentido sobre algumas coisas e a teoria absurda de que tudo tinha sido uma simulação começou se tornar cada vez mais plausível. Então, comecei a juntar outros pequenos detalhes que acabaram me provando outra coisa: que o Dr. Edwards, tinha involuntariamente, sido o responsável pelo infarto de sua esposa.”

Os empregados reagiram com enorme surpresa a essa revelação, assim como Haylock.

“- Quando Emma Edwards foi nos ver em Londres, ela disse que tinha a sensação de estar sendo seguida, observada. Inicialmente pensei que pudesse ser por alguém a mando de Wright, mas pensando melhor, me dei conta de que se seu marido estivesse vivo, ele poderia estar preocupado, talvez arrependido, e por causa disso, poderia ter passado a acompanhá-la por todos os lugares, zelando por ela. Ele realmente fez isso por um tempo, até que há duas noites, por motivos que, confesso, ainda me são desconhecidos, decidiu entrar em sua casa e visitá-la pessoalmente. Ele nem teve o trabalho de arrombar a porta, afinal, ele tinha as chaves da casa.”

“- Cheguei a essa conclusão, porque O’Neill e Wright afirmaram categoricamente que seus homens não haviam estado na casa na noite em que a Sra. Edwards sofreu seu ataque cardíaco, então apenas uma pessoa me veio a mente, uma pessoa capaz de causar um choque fulminante na pobre moça, mas com treinamento suficiente para salvar sua vida, ou seja, o “fantasma de seu marido”.”

“- A hipótese ganhou mais força com a declaração da enfermeira que disse ter visto um visitante misterioso no hospital durante a madrugada. Visitante este, que de acordo com a descrição da moça, era bastante parecido com o Dr. Edwards que encontro em minha frente nesse momento, vestido de negro com barba e cabelos compridos.”

“- Diga-me, doutor, estava preocupado e por isso foi vê-la? Sentia-se culpado por quase ter matado a própria esposa de susto? Pois deveria mesmo!” – alfinetou Holmes, mas Edwards continuava em silêncio.

“- E embora eu já considerasse ter provas suficientes de que o nosso doutor estivesse vivo, obtive uma confirmação final, justamente da própria Sra. Edwards, quando ontem à noite, ainda semiconsciente, ela disse o nome do marido no hospital. Ela não estava delirando nem o chamando, como todos pensaram, ela estava nos dizendo o nome do fantasma que ela tinha encontrado em seu quarto: Steven Edwards.”


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