Marinette encarava Chat Noir com um olhar divertido.

— Não foi nada demais. – tentou o tranquilizar por ter acabado de ronronar em um abraço dado por ela.

O herói recém havia chegado no terraço da garota, para ficarem de bobeira conversando, como ficavam durante algumas noites aleatórias. Marinette então o cumprimentou com um abraço e o chamou por um apelido carinhoso que tinha inventado – nada mais justo, depois de tantos apelidos dela, dados por ele. Contudo, o loiro acabou ronronando, ficando envergonhado logo em seguida.

— Claro que foi! Foi constrangedor! – virou o rosto com as bochechas vermelhas e semblante irritado. A única garota para qual ele tinha ronronado, era Ladybug. E agora, para Marinette. O herói esperava que esse som constrangedor, não se tornasse um hábito.

— Está tudo bem. Gatos ronronam normalmente. – brincou.

— Você não está ajudando, Marinette.

— Uh, "Marinette". Você quase não me chama assim. Está bravo comigo, Kitty Kat? – chamou-o pelo apelido que, na opinião de Adrien, foi o grande responsável por ele ter ronronado quando ela disse durante o abraço.

— Não estou bravo com você. E sim com esse estúpido Miraculous de gato que me fez parecer um! – Marinette riu da fala dele. – É sério, foi vergonhoso.

— Não foi. Foi fofo. – tentou tranquiliza-lo novamente.

— Aposto que se você ronronasse do nada na frente de um garoto, iria ficar do mesmo jeito que eu. – o sorriso dela se desfez somente em pensar na possibilidade de isso acontecer quando estivesse com Adrien. – O que foi? Está imaginando a situação? – mexeu as sobrancelhas, a lançando um olhar sugestivo.

— Estou. Seria um desastre fazer isso na frente do garoto que eu gosto. Não que eu já não seja um desastre. – deu de ombros.

— Então quer dizer que tem um garoto ocupando o seu coração, princess? – o loiro questionou, tentando deixar o assunto do seu ronronado constrangedor para trás, o mais rápido possível.

Marinette olhou para ele, se perguntando se falaria sobre ou não. Então lembrou que Chat Noir confessou a ela o seu amor por Ladybug, logo, não via problema em falar sobre Adrien sem citar o nome dele.

A garota se escorou na grade do terraço, respirando fundo.

— Tem sim. Ele é incrível, mas isso me deixa nervosa e eu acabo me atrapalhando toda. – o herói riu de leve, mas não com maldade, e sim por ter lembrado do jeito atrapalhado e desastrado de Marinette, que em sua opinião, era extremamente fofo. – Queria poder falar com ele, assim como eu falo com você. É tão simples brincar e dizer qualquer coisa pra você. Mas com ele, eu entro em pânico.

A verdade é que Marinette sempre foi uma pessoa tímida, no entanto, foi fácil iniciar uma conversa com Chat Noir, visto que o conhecia como Ladybug – mas obviamente ele não sabia disso.

Marinette e Chat Noir então, se tornaram amigos com o tempo, depois de alguns encontros inesperados durante batalhas contra akumas, amoks e essas coisas. Após isso, Chat Noir a visitava de vez em quando para jogar conversa fora.

Mas dificilmente conseguiria agir da mesma forma com o seu crush, Adrien Agreste.

— Então fale com ele como fala comigo. – disse como se fosse a coisa mais simples do mundo – Só não chame ele de "Kitty Kat", esse apelido é meu e vai me deixar com ciúmes. – ela riu.

— Não é tão simples. E você não precisa se preocupar com isso, mal consigo chamar ele pelo nome, quem dirá por um apelido brega. – a azulada falou em um tom de humor, mas Chat Noir sentia a verdade por trás.

— Que tal ensaiar?

— Ensaiar? – Marinette pensou na vez que tentou fazer isso e acabou beijando Adrien, pensando que era a sua estátua no museu de cera. Obviamente a parte do beijo foi incrível, mas o resto ela nem queria lembrar de tão constrangedor que tinha sido. – Não sei se é uma boa ideia...

— Ah, qual é? É só um ensaio. – incentivou – Você pode me usar pra isso. – parou na frente dela, fazendo pose. Marinette riu.

— Não é meio constrangedor?

— Claro que não. Vamos, finja que eu sou o cara que você gosta e tenha uma conversa comigo.

— Tá bem. – se convenceu da ideia e ajeitou a sua postura – Ér, oi. – acenou. – Como vai?

— Olá, vou bem e você? – disse, interpretando a si mesmo sem a máscara, o que fez Marinette imaginar por alguns segundos que Chat Noir sabia quem era o garoto que ela gostava. Até parecia que estava falando com o verdadeiro Adrien Agreste.

— Eu... Eu estou bem. – ficou em silêncio, pensando em algum assunto – Hã... Você gosta de queijo? – Chat Noir riu e Marinette suspirou – Eu sabia que era uma péssima ideia.

— Não, não. Vamos continuar. – pigarreou e voltou ao personagem – Sim, na verdade eu adoro queijo. O meu favorito é o camembert. – a azulada fez careta. Adrien nem gostava de camembert, mas resolveu fazer uma homenagem a Plagg – E o seu, Marinette?

— Mozarela, eu acho.

— Ótimo! Podemos sair qualquer dia para comer um queijo, o que acha? – piscou e ela fez careta novamente, o empurrando de leve.

— Viu como eu sou um fracasso? Eu falei de queijo!

— Não foi um fracasso. Foi um progresso. Mas na minha opinião como especialista em romance... – colocou a mão sobre o peito, com uma expressão convencida – Você pode ir aos poucos introduzindo elogios a cada conversa.

— Não consigo.

— Consegue sim. Aliás, é assim que você vai demostrar que gosta dele. – ela respirou fundo.

— Ok, senhor "especialista em romance". – fez aspas com os dedos. – Se você diz...

— Mas eu sou mesmo. A conversa sobre o queijo foi um ótimo começo, mas não pode ficar nela para sempre.

— Então na segunda conversa eu vou chegar e dizer "oi, eu adoro queijos, mas sabe o que mais eu adoro? Você, gatinho. Vamos sair. O que pensa disso, Adrien?". – disse de maneira irônica.

— Eu penso que é uma ideia interessante. – respondeu como se a pergunta fosse para ele. O que tecnicamente era.

Ambos só se ligaram da burrada que tinham feito, quando notaram a expressão de espanto no rosto um do outro.

— H-Hã... Quer dizer, ele deve achar uma ideia interessante, né? Afinal... É... Espera! Você gosta do Adrien? – Marinette permaneceu em silêncio, quase que em choque. Enquanto isso, a ficha do herói caía – Tipo, de gostar... De um jeito romântico? – indagou novamente, mas não obteve resposta – Marinette, você gosta de mim? DO ADRIEN! QUER DIZER, DO ADRIEN! Você gosta do Adrien? – consertou o mais rápido possível. Estava tão em pânico quanto ela.

Chat Noir estudava a hipótese de se jogar do terraço e quem sabe não precisar terminar essa conversa. Já tinha nítido na sua mente, a imagem de Ladybug com uma expressão séria e as duas mãos na cintura, dizendo que ninguém deveria saber as suas identidades. Também via Plagg o chamando de "garoto tonto" por ter deixado escapar quem era por trás da máscara de um jeito bem imbecil.

Talvez Marinette estivesse em choque e não tenha escutado a confirmação. Rezava por isso.

— Marinette? – passou a mão levemente trêmula na frente do rosto dela. – Você...

— Eu sou a Ladybug. – disse rápido.

— O QUÊ? – Chat Noir recuou como se tivesse levado um susto e tropeçou nas caixas de madeira decorativas. Em seguida, cambaleou e caiu para fora do terraço.

— Tikki, spots on! - Marinette saiu instantaneamente do estado de choque e saltou sem pensar duas vezes. Jogou seu ioiô na cintura do parceiro e o segurou pouco antes de ele cair de cara no chão. Já que a distância até o concreto da calçada não era muito grande, tinha pouco tempo para resgatá-lo.

Ladybug estava grudada na parede e puxou Chat Noir para cima, o segurando pela cintura. Seus rostos estavam próximos, o que antes não era, mas que agora se tornou constrangedor.

O primeiro a tomar a iniciativa para sair dali foi o loiro, que passou a segurar ela e usou seu bastão para os impulsionar para cima. Então saltou com Ladybug no colo e pousou no terraço.

A heroína rapidamente saiu do colo dele e colocou as mãos na cintura, recuando.

— Então... – ele guardou o bastão e começou – Ninguém deveria saber as nossas identidades. Estou decepcionado com você. – Ladybug revirou os olhos e puxou seu ioiô. Jogou o objeto levemente para cima, fazendo com que caísse na cabeça de Chat Noir. Assim como fez quando ele começou a fazer piadas antes de confrontarem Silencer e ela não podia falar. – Ai! – esfregou o local.

— Da próxima vez eu deixo você cair de cara no chão. – suas bochechas ficaram vermelhas assim que notou que dizia aquilo para Adrien Agreste.

— Eu estava brincando, my lady. Aliás, é bom ver você, mas por acaso viu a Marinette por aí? – ela pegou o ioiô novamente e ele estendeu as mãos na frente do corpo – Brincadeira de novo. – riu nervoso – Me desculpe, eu estou tentando aliviar o meu nervosismo usando o humor. – esfregou as mãos no traje, sentindo que estava suando frio, mas não podia fazer muita coisa.

— Tudo bem. Também estou nervosa. – admitiu com a voz baixa.

— Mas veja pelo lado bom, pelo menos nosso amor é correspondido. – apontou de um jeito divertido. Entretanto, só deixou o clima ainda mais tenso, só se tocando do fato logo depois.

Chat Noir mexeu na gola do uniforme. Por que de repente parecia tão quente ali?