Brotherhood and Blood escrita por Bayons


Capítulo 2
Capítulo 2




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O senhor com o celular nos olhou com uma expressão confusa, provavelmente pela repentinidade do pedido inusitado. Virar a cabeça para um lado e para o outro para se certificar de que estavam falando com ele. E por fim aponta para si mesmo e olha pra Crista com uma expressão confusa. 

— Você mesmo, por favor use a câmera do seu celular para registrar esse momento!

Ele volta os olhos para o celular dando alguns cliques enquanto se aproxima um pouco. Enquanto isso, completamente alheio a situação, só consigo pensar o quanto mais preciso sustentá-la dessa forma. Ela está inclinada a minha frente, e a única coisa que a impede de cair de costas no chão é minha mão. 

— Com todo respeito, mas Crista… será que você não pode pedir pra esse senhor senil apressar um pouco. — Olhei para ele e sua mão tremia a ponto de parecer que o celular está no modo vibratório,  e talvez esteja mesmo. — Não sei quanto tempo mais consigo aguentar lhe segurar dessa forma, você está ficando pes….

Me interrompo quando ela vira o rosto para mim numa expressão severa, contrastando com a que demonstrara até então.

— Se falar que estou gorda, eu te mato.

— Não é isso, eu …. 

Click.

— Ha, ha! Deixa eu ver, deixa eu ver. — diz ela animada, dando leves saltitadas enquanto se aproxima para ver a foto.

Olho para minhas mãos e elas estão tremendo, ela me paga por isso. 

— Oooh… ficou boa, estou parecendo uma princesinha! E você Judeau… você... a gente precisa dar um jeito nessa sua cara, olha só pra isso, parece que viu um fantasma. Seja como for, obrigada por ter tirado uma fotografia nossa. Foi muita bondade sua! — diz ela fazendo uma leve reverência e se distanciando lentamente de forma respeitosa. 

O senhor responde, não escuto, mas provavelmente era algo como não há de que. Apesar de sua expressão se manter confusa, acho que as pessoas são assim. Eu como minha cara de peixe morto, Crista Reiss sempre sorridente e alegre ( apesar de nem sempre ) e ele com sua expressão característica da senioridade.

— Já pegou a foto? Passou seu e-mail pra ele lhe enviar?

— Não!

— E o que foi aquilo tudo, minhas mãos…. Aquela demora toda? Parecia que queria tanto a fotografia.

— Pra que? São só pixels, eu lhe disse não foi? O que importa é a jornada, aposto que achou isso tudo bem divertido não foi?

— Claro.... Muito.

— Viu? Além de que estamos em busca de alguma coisa. Venha comigo, siga a capitã!

Caminhamos por uns dez metros até que Crista diminui o ritmo e olha pra mim, intrigada.

— O que estamos procurando mesmo? 

— Você já esqueceu?!

— Não fala, vou tentar lembrar. — Bate com as duas mãos de leve na cabeça, como que na tentativa de solucionar um problema  matemático. Até que com um sorriso confiante, repleta de entusiasmo olha pra mim e pronuncia sua conclusão. — Sorvete?

Sério, essa garota é fora do normal. Há momentos em que surpreende, e em outros parece uma completa cabeça de vento.

— Um cachorrinho! — fala ela com uma expressão de afeição, aproximando do cachorro de uma jovem que passava, ele lambe sua mão enquanto abana o rabo, contente.

E assim passamos a maior parte do tempo, indo a lugar nenhum e  nos desviando do caminho constantemente. Em alguns momentos corria atrás dos cachorros, e em outros fugia deles. E as vezes parava pra ver uma flor bonita desabrochando no gramado. Agora estamos sentados num banco tomando para repor as energias.

— Muito obrigada, por ter me acompanhado até agora. — fala com uma expressão séria. — E também, me desculpe,  falei que ia te ajudar a encontrar algo que o tornasse feliz, mas não encontramos. Sinto que no fim só te causei problemas.

Caminhamos ( e às vezes corremos ) bastante, me sinto levemente ofegante, tenho leve problemas para respirar e meu coração bate forte, males de ser sedentário. 

— Não há nada para se desculpar. — digo abanando a cabeça. — E você é uma garota bem peculiar, aproximando-se de um estranho e sendo amigável dessa forma. Ao ver você de perto tão energética, vivendo tão intensamente me faz sentir vergonha. Me escondo por trás desse estado letárgico de sentimentos negativos, culpando-o por toda minha indisposição e fracasso. Sinto que o verdadeiro Judeau está soterrado por essa escuridão, com apenas a mão visível na superfície como que pedindo socorro.

Uma brisa forte passa por nós, esvoaçando o cabelo dela. Com a mão direita segurando o que sobrou do sorvete, erguendo os olhos para acima das árvores que parecem dançar, observa o céu com uma expressão reflexiva.

— Está enganado, tudo é você. O Judeau soterrado, a escuridão, quem está agora do meu lado. — Olha para mim com uma expressão serena, exortante. — É tudo você, não lute contra você mesmo. Não tarje partes do que você é como vilão.

— … 

— Então é aqui que você estava, lhe procurei por toda parte, você não estava no ponto de encontro. — disse uma voz feminina que aparenta ser já adulta.

— Mestra! — exclama Crista se levantando e correndo até ela.

A mulher chamada de Mestra lhe dá um peteleco na testa, frustrando a tentativa de Crista Reiss de abraçá-la. 

— Você e essa sua hiperatividade, não consegue ficar parada num lugar esperando que minha reunião termine. E pare de me chamar assim em público. 

— Desculpa Ashley, fiquei entediada e fui fazer algum amigo… — profere ela com uma voz arrependida.

Ashley direciona um olhar afiado para mim enquanto endireita o óculos com o indicador. Sinto um calafrio percorrer minha espinha, não consigo sequer me mover ou dizer alguma coisa. Não é timidez ou algo do gênero, a origem desse sentimento parece sobrenatural.

— Crista é uma garota dócil e inocente, que demonstra gentileza por qualquer cachorro ferido que encontra caído por aí. Você não se aproveitou dela, correto?

— N-Não senhora.

— Pois bem, vamos embora, temos muito o que fazer e já perdi muito tempo lhe procurando nesse parque. — diz a mulher a quem Crista chamou de mestra, virando de costas para mim.

As observo tomarem distância, por um breve momento minha recente companhia vira o rosto e demonstra um sorriso sem graça. Como que pedindo desculpas por toda essa situação. Permaneço sentado por mais um tempo, dessa vez não com uma expressão abatida como a anterior. Sinto que a coisa que descongelaria meu coração, que estavámos procurando, estivera esse tempo todo do meu lado. Foi-se tão repentinamente quanto apareceu, deixando para trás memórias que não esquecerei.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo mais curtinho pra finalizar o arco.



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