Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1) escrita por scararmst


Capítulo 8
Delegação


Notas iniciais do capítulo

Cheguei gente com o capítulo de domingo :D
Espero que gostem ^^



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11 de julho de 1998

 

A sorveteria do Sr. Fortescue acabou se fechando. Florean não tinha filhos para quem deixar o negócio e nem um aprendiz para levar o empreendimento para a frente. Fora o único, em todo o Beco Diagonal, a saber fazer os seus sorvetes, e agora, era mais um sabor perdido para sempre no mundo bruxo.

Fora muito estranho voltar ao Beco Diagonal depois de tudo. Gina ainda não tinha recebido a lista de materiais letivos para o seu último ano em Hogwarts, e não estava com nenhuma pressa em particular para isso. Nada no Beco Diagonal estava funcionando normalmente, e ela sequer sabia se conseguiria encontrar metade das coisas para comprar. Era surpreendente ver Hogwarts se planejando para reabrir tão cedo depois do ano letivo infernal sob o comando de Voldemort.

Ali, no Beco Diagonal, muitas coisas ainda precisavam recuperar as forças. A maioria das lojas fechadas pela ditadura ainda estava fechada, fosse por trauma e medo dos donos para voltar, fosse por dito dono estar desaparecido ou morto como Florean Fortescue. As lojas abertas eram apenas as sobreviventes do regime, como o Apotecário, cujo dono abaixara a cabeça e vendera seus ingredientes quieto sem questionar a quem e sem fazer levantes, ou a Floreios e Borrões, depois de ter mudado todo seu catálogo de livros para se adequar às escolhas de Voldemort.

O Beco Diagonal estava vazio, sem vida e, nos poucos lugares abertos, ainda precisava se recuperar do impacto deixado pelo regime extremista.

Gina olhou para Harry, ao seu lado, preocupada. Não eram esses seus planos quando chamou o namorado para um encontro no fim de semana.

— Me desculpe, Harry. Eu não sabia que aqui estava desse jeito.

Ele apenas deu de ombros. Harry vinha estado muito calado e pensativo, e Gina entendia isso. Ele tinha literalmente morrido e voltado à vida. Não teria como uma coisa dessas não mudar uma pessoa. Mas às vezes ela não sabia se o novo comportamento dele era fruto de seus traumas ou uma mudança gradual. Não sabia se ajudaria mais fingindo não perceber nada, o levando para passear ou ativamente oferecendo apoio. 

A coisa toda fora bem diferente em Hogwarts, ela já sabia disso agora. Ter um grupo inteiro de pessoas se escondendo juntas, uma resistência de dezenas como a Ordem da Fênix fora, incitava um tipo de conforto e segurança muito maior do que viajar em três por barracas ao redor do mundo. E, em dois, uma parte do tempo. Gina ainda queria brigar com Rony por isso, mas por enquanto não tinha coragem. Nenhum dos três parecia muito bem.

— Tudo bem — o bruxo respondeu, olhando para as ruas vazias, vitrines ainda quebradas e lojas interditadas com cartazes do Ministério da Magia. — Ele sempre me dava sorvete de graça, sabe. O Sr. Fortescue. Eu fico pensando… Bem, se puderam pegar a Luna porque o Pasquim estava publicando coisas em meu favor, então…

E, a pior parte de tudo, a culpa. Ela já tinha percebido a enorme culpa de sobrevivente pesando sobre os ombros de Harry, e não sabia como aliviar isso.

— Harry, não é sua culpa. Foi um ano difícil. As pessoas fizeram o que quiseram fazer, o que acharam certo…

— Eu sei que vocês ouviam o rádio na Sala Precisa esperando ouvir falar de mim.

Gina suspirou. Não ia mentir. Não tinha porque.

— É claro que sim. Olha, querendo ou não, você teve um papel grande em tudo isso, e sim, nós sabíamos que você era a nossa maior chance de nos livrarmos de tudo. Mas isso não muda nada. Quem quisesse esperar de cabeça baixa podia fazer isso. Nós escolhemos esperar lutando.

Ele não respondeu, e Gina decidiu que bastava de estarem ali. 

— Por que não vamos ao Caldeirão Furado?

O garoto franziu a boca, desagradado. É, ele estava tentando evitar multidões. Já via gente demais o agradecendo todos os dias dentro do Ministério, e ouvir agradecimentos demais por algo que gerava culpa certamente não era algo agradável.

— Cabeça de Javali? — Ela tentou, mais uma vez.

Dessa vez, Harry deu a mão a ela. Gina tentou conter a expressão de alívio, e aparatou.

Os dois se materializaram à porta do bar. O Três Vassouras estava fervilhando de gente do outro lado da cidade, dava para ouvir dali. As pessoas vinham festejando muito ultimamente. Gina percebeu, agradecida, o quão vazio o Cabeça de Javali estava, e se guiou para dentro, com Harry vindo atrás de si.

Era apenas Aberforth lá dentro. Ele olhou o casal por um tempo, torcendo a boca, mastigando algo. Gina não sabia dizer se o homem estava desagradado com algo ou não. Eventualmente, ele deu as costas, indo para trás do balcão, e Gina foi com Harry se sentar em um canto do pub.

— Aquilo é um homem sortudo — Harry comentou, baixinho. — Olha só para ele. Nenhuma preocupação. Lutou na guerra, voltou, continua como se nada tivesse acontecido. Ninguém sabe quem ele é. Não tem repórteres se encavalando na sua porta para fazer perguntas. E ele não está nem aí.

— Sim… Mas ele consegue manter a consciência limpa tendo abaixado a cabeça para os Comensais por um ano inteiro. Eu não teria essa capacidade.

Ela se virou para Aberforth, pedindo duas cervejas amanteigadas. Então se voltou para encarar Harry. Ele estava olhando o cardápio sujo do lugar com um olhar distante demais para estar de fato prestando atenção nas palavras. Aberforth não demorou a chegar com os canecos de cerveja, e os colocou na mesa em silêncio, olhando fixamente para Harry.

Gina se perguntou se ele diria algo. Esperava, sinceramente, silêncio e decência da parte dele, mas levando em conta a história contada pelo trio sobre ele, não sabia se podia contar com isso.

— Vão comer o quê? — O homem perguntou, enxugando as mãos no trapo velho que trazia nas mãos.

Gina olhou para Harry. Ele nem parecia ter percebido o caneco de cerveja na mesa.

— Nos surpreenda — ela respondeu, apenas, com um sorriso um bocado nervoso para ele.

A dica não tão sutil de Gina foi rapidamente capturada, e o homem deu as costas, caminhando lentamente de volta para o balcão. Nisso, a garota se virou para o namorado, abaixando devagar o cardápio das mãos dele. Harry ergueu o olhar para ela, ela viu como ele pareceu surpreso em se dar conta de ter ficado parado com o cardápio em mão por minutos a fio sem se decidir por nada.

— O que está atormentando a sua cabeça? — Gina perguntou, bebendo um gole de sua cerveja. — Você está ainda mais perdido do que quando foi lá em casa no jantar da minha mãe.

— Não. É impressão sua.

Ele bebeu da cerveja dele também, e Gina tamborilou os dedos na mesa, pensativa. Como ia fazer Harry falar? Devia fazer Harry falar? Ela deixou o silêncio suspenso no ar por alguns instantes, vendo Harry bebendo, quieto, e visivelmente pensando em alguma coisa.

— Harry, se você não falar comigo, eu não posso te ajudar. E eu quero ajudar.

Era até um pouco engraçado. Se apaixonara por ele nem se lembrava com quantos anos, onze talvez, e agora olhando para trás se perguntava como esse sentimento não desaparecera com o tempo. Paixões infantis deveriam ser bobas e triviais. Mas não fora assim com ela. A coisa toda tinha crescido com o tempo, e mudado também. Amadurecido bastante. Gina não tinha mais uma paixão cega e iludida por Harry, até porque agora conhecia até vários dos defeitos dele, mas exatamente isso tornava tudo tão mágico. Tão real.

— Sabe, você e o Rony são iguaizinhos nisso — ela continuou. — Vocês se fecham demais. Às vezes pode ser bom conversar com alguém. Não precisa ser eu, exatamente, mas alguém.

— É coisa do trabalho, Gina. Algumas informações são confidenciais.

Ha. Certo. E Harry escondia coisas dos amigos desde quando? Hermione sabia mais sobre o as decisões corretas para Harry tomar do que ele mesmo, e nem precisava fazer força para isso. Ela apoiou os cotovelos na mesa, e o rosto nas mãos. Não ligava se era confidencial ou não. Estava ali para ajudar.

Ele suspirou, derrotado.

— É Rony. Eu acho que… Eu…

Harry parecia estar escolhendo as palavras com muito cuidado. Gina se perguntou se isso era por ser irmã de Rony, ou se era pelas tais informações confidenciais mencionadas por ele. E, agora, se perguntava também se havia algo de errado com o irmão, e se teria de sentar para uma conversa com ele também. Isso seria infinitamente mais complicado. Seria mais fácil pedir a Hermione para tentar.

— Eu saí com Rony para capturar uns fugitivos. E ele perdeu a cabeça — Harry continuou, enfim, parecendo ter encontrado as palavras certas para transmitir seus pensamentos. — Eu já vi ele batalhar muitas vezes nesses anos todos. Estamos entrando no meio de coisas perigosas desde os onze anos de idade. Eu muitas vezes não entendo porque ele e a Hermione não deram o fora disso tudo antes, dado o perigo da coisa…

Harry soltou uma risadinha baixa, bebendo sua cerveja. Ainda tinha mais a ser dito, ela conseguiu sentir. A garota se recostou na cadeira, esperando ele continuar.

— Ele sempre foi muito lógico. Não é à toa que é o melhor jogador de xadrez que eu já conheci. Rony raciocina muito bem, ele tem visão tática, de território… Não é qualquer um que consegue escapar dele. Ele sempre foi o mais enérgico de nós três, mais dado a soluções intensas. Mas ele nunca foi violento. Não até essa nossa missão. E eu não sei se ele mudou, ou se eu mudei e estou reparando algo que sempre esteve lá… Talvez as duas coisas. Talvez ele esteja sim mais reativo e eu um pouco mais controlado. Não sei. Eu sei que ele não parecia bem. Ele avançou para cima de um capturado por informações e não é assim que se fazem as coisas, sabe?

Gina conseguia ver isso muito claramente. Rony era sim reativo e explosivo. Não na voz. Não era de gritar ou bater nas coisas de graça. Mas em momentos de adrenalina, se ficasse assustado, ou com medo, ou com raiva, Rony era da crença “o ataque é a maior defesa”. Nunca tinha parado para pensar em como isso se aplicava em tudo que os três tinham feito juntos, mas se Hermione era a voz da razão, e Harry tendia a atacar com feitiços defensivos, era de se esperar que o jeito mais impulsivo de Rony fosse encaixar bem com os três.

Ao menos até a guerra acabar, como ela via agora.

— Olha… — ela começou, meio receosa. — Todo mundo lá em casa ficou feliz de ver o Rony fazendo alguma coisa. Mas ele sempre lidou muito mal com as emoções dele. Hermione uma vez comentou comigo que ele tinha a “dimensão emocional de uma colher de chá”.

Harry riu. Aparentemente, ela comentara isso com ele também.

— O que eu quero dizer é que tudo é muito recente. Não sei se ele tem o controle emocional necessário para voltar pra tudo isso depois de tão pouco tempo. Talvez ele devesse estar fazendo outra coisa, sabe. Alguma coisa, mas outra.

O namorado apenas assentiu. Gina não sabia o significado disso. Estava concordando com ela? Ou apenas sinalizando ter entendido suas palavras? Valeria à pena insistir no assunto?

Nesse instante, Aberforth se aproximou da mesa, deixando uma bandeja pequena de queijo de cabra com fritas na frente deles e voltando ao balcão. Bem, era uma boa surpresa. No fim das contas, talvez o Cabeça de Javali tivesse sido uma boa ideia.

Ela mordeu algumas das fritas, e Harry voltara ao seu estado pensativo. Dessa vez, porém, ela reconheceu a diferença no olhar dele. Não era mais aquele vazio e desesperançoso, era como quando ele estava montando estratégias de quadribol no sexto ano. Era uma melhora, definitivamente.

Gina decidiu não tocar mais no assunto pelo resto do dia. Já dera algum direcionamento a Harry e, sendo algo permeado de informações confidenciais, não queria deixá-lo ansioso tentando filtrar as palavras antes de falar com ela. Harry acabou se envolvendo nas fritas com o passar do tempo, e logo os dois emplacaram uma conversa sobre quadribol.

De repente, o ar estava leve. Harry mencionou boatos ouvidos no Ministério sobre amistosos sendo organizados para começar a distrair as pessoas novamente, e ainda deixou escapar olheiros de times já querendo reconstruir seus elencos. Gina queria muito seguir carreira no esporte, e ouvir isso de Harry fez os olhos dela brilharem de animação.

Depois de uma tarde bem mais animada do que dera sinais de ser ao chegarem no Beco Diagonal, os dois pagaram a conta — com muita insistência de Gina para não deixar Harry pagar tudo sozinho, não ligando para se ele trabalhava, era rico ou nadava em ouro de noite — o casal deixou o local, aparatando de volta para a porta da Toca.

Gina subiu no degrau da porta da frente, segurando o casaco nas mãos. Tinha se vestido de jeans e camiseta mesmo, na mesma simplicidade usada por Harry naquele momento. Ela sabia como ele ainda devia estar nervoso e afetado com um monte de coisas, e não queria forçá-lo a voltar à normalidade nem nada do tipo, mas os últimos dias dos dois em Hogwarts antes do fim do sexto ano tinham sido tão agradáveis… Bem, na medida do possível, mas ainda assim.

Ela estendeu a mão, entrelaçando seus dedos nos de Harry.

— Não quer entrar? Subir um pouco? Mamãe deve ter feito torta de abóbora. Podemos voar um pouco e você pode vir pro meu quarto depois…

Harry olhou para a porta da casa e Gina sentiu o coração saltar, ansiosa. Sentia saudades dele. Era seu namorado, afinal. E o que tinha de errado em querer passar tempo com ele, ou beijá-lo, ou ainda mais que isso? Estava a um mês de fazer dezessete anos e ser oficialmente adulta. Pode tomar suas próprias decisões.

— Talvez outro dia, Gina.

Ela tentou não parecer muito desapontada. Gina desceu o degrau da escada, abraçando Harry com força e deixando um longo beijo sobre seus lábios. Aquele beijo não era nem de longe o que queria fazer, mas se Rony vinha tendo instintos violentos, e existia a chance dele estar esperando ela voltar de olho na porta, talvez fosse mesmo melhor não provocar demais.

A garota soltou Harry, acenando para ele devagar. Então Harry sorriu de volta e pegou a varinha no bolso, aparatando de volta para sua casa.


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Notas finais do capítulo

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