Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1) escrita por scararmst


Capítulo 16
Sentença


Notas iniciais do capítulo

Eitaaaa cheguei!
Gente que trabalho kkkk Mas eu nem acredito que consegui ♥ Trago a vocês o último capítulo de Marcas de Guerra
Como já mencionado antes, essa é a primeira de uma longa série. Eu pensei muito sobre como manter vocês informados de a quantas anda a preparação da sequência, e a resposta está nas notas finais. Vocês vão encontrar lá duas formas de se manterem informados quanto ao que estou fazendo. A primeira é um grupo de whatsapp que eu criei para a fic caso alguém se interesse em entrar pra conversar sobre a história e interagir com os leitores.
Como os comentários no capítulo em que eu perguntei foram em sua maioria de pessoas que não entrariam no grupo, eu criei também um documento no google que vai ser sempre atualizado com a porcentagem e andamento da minha história. Entrando nele, vocês vão poder conferir sempre a quantas anda o planejamento, vou tentar colocar porcentagens direitinho e, assim que tiver uma data de lançamento da história, estará lá também. Espero que isso seja o suficiente, se não for eu invento mais alguma coisa kkkkkkk Eu posso demorar para planejar e não quero vocês achando que esqueci que as fics existem nesse meio tempo, por isso criei essas duas soluções aí.
Enfim, agora que tá tudo explicadinho, espero que se divirtam nesse último capítulo ♥



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31 de julho de 1998

Quando o advogado de Draco disse ter quase certeza de que poderiam usar o depoimento das testemunhas de acusação ao seu favor, ele achou honestamente que o homem estava louco. Não havia chance no mundo de usarem quaisquer palavras de Potter e sua gangue para o defender. Agora estava claro como tinha subestimado o instinto de justiça dos grifinos, e mais ainda, a habilidade de seu advogado em usá-lo contra eles. Estava embasbacado.

Haveria chance de sair dali impune? Tinha se sentado na cadeira convicto de sua condenação, já aceitando a sentença certa a recair sobre si. Agora, no entanto, era obrigado a reconhecer: talvez a situação fosse diferente.

Potter desceu do púlpito, encerrando as testemunhas de acusação. Ele tinha acabado de sofrer todo o processo acusatório e tinha certeza de soar mais inocente comparado a antes de entrar ali. Não queria levantar ilusões para si mesmo. Ter aceitado um provável destino na cadeia era, de fato, o melhor para a sua consciência. Mas ainda assim, não pôde se impedir de perguntar… Conseguiria sair livre?

O próximo a subir, e sendo a primeira testemunha de defesa, foi Zabini. Não esperava muito daquele depoimento. Ele e Blásio eram próximos, mas não chegavam a ser melhores amigos nem nada parecido. Blásio pôde falar sobre o estado emocional de Draco no sexto ano, mas não ajudou muito mais além disso. Pelo lado bom, também não tinha nada de mais para entregar à acusação, e assim logo passaram para a próxima testemunha.

Pansy subiu ao púlpito, e foi quando os receios de Draco começaram a atacar. Ela sabia bem mais que Blásio. Não tinha chegado a tomar conhecimento de sua afiliação aos Comensais da Morte no sexto ano, mas ainda assim, sabia muito. Draco apreciou o tato dela em mencionar como ele tinha perdido peso e se adoentado de preocupação conforme as perguntas do advogado começavam, mas ele sabia, não daria a mesma sorte com as perguntas da acusação.

— O que diria, senhorita Parkinson, com relação ao comportamento do senhor Malfoy durante o ano após a nova "tarefa" que recebeu para desempenhar?

Pansy se ajeitou na cadeira, e Draco evitou olhar para ela. Tinham terminado o relacionamento de maneira amigável, e por não se sentirem mais apaixonados um pelo outro, mas esse não fora o único motivo. E o outro motivo estava prestes a vir à tona.

— Eu não sabia de tarefa nenhuma — ela respondeu. — Draco comentou várias vezes “ter coisas melhores para fazer”, e “estar acima de Hogwarts”. Certamente faria soar para qualquer um que ele estava se gabando de alguma coisa. Mas eu o conhecia já há seis anos, o suficiente para saber que ele não estava se gabando de nada, e era tudo da boca para fora. Talvez até uma tentativa de convencer a si mesmo disso tudo para amenizar o desespero que estava sentindo por dentro. Isso foi o que, no fim das contas, levou ao término do nosso relacionamento. Eu sabia que ele estava falando um monte de besteira para disfarçar um problema, mas até o fim, ele se recusou a me dizer o que era. Em algum momento eu mencionei que não seria namorada dele se fosse esconder coisas sérias assim de mim, e então ele me deixou.

Sim. Na época, quem diria, Draco tinha sido altruísta. Gostava de Pansy, de verdade, e temeu que algo de ruim pudesse acontecer a ela caso ficasse sabendo de seu segredo. Era fácil esconder de Vince e Greg. Eles não perguntavam as coisas. Mas ela… Ter de escolher entre terminar com Pansy para não colocá-la em risco ou fazer o contrário não era sequer uma escolha. Só havia uma possível resposta para aquilo, e tinha sido a decisão tomada por ele.

A acusação tinha mais algumas perguntas, mas justo por Draco não ter dado detalhes de nada à garota, ela não tinha tanto para contribuir. Pansy foi liberada do púlpito e a próxima testemunha foi chamada.

— Por favor, diga seu nome para a audiência — Kingsley pediu, já com a voz apresentando uma leve nota de cansaço.

— Gregório Ricardo Goyle.

Não.

— Senhor Goyle, jura dizer a verdade, acima de qualquer coisa, dispensando a necessidade de meios mágicos para tal e se apoiando em sua honra para a veracidade de seu depoimento?

Não. Não, não não…

— Juro, sim.

Draco olhou para seu advogado, os olhos se enchendo de uma boa camada de fúria. O que aquilo significava? Tinha sido categórico, repetidas vezes: Greg não virá ao julgamento. E seu advogado, pelas suas costas, colocava-o no púlpito?

— O que está fazendo? — Perguntou para o homem em um sussurro, olhando com o coração disparado para a figura de Greg acomodando-se na cadeira de testemunha.

Greg parecia tão ou mais cansado que Draco, mas em seu caso, o motivo era outro. Seu rosto estava inchado, e Draco conhecia o amigo para saber ser fruto de muitos choros repetidos.

— Ele praticamente me implorou para vir, senhor Malfoy — o advogado respondeu. — E seus pais estão me pagando para mantê-lo fora de Azkaban a qualquer custo. Eu não iria recusar a chance.

E nisso o advogado deu as costas a Draco, virando-se para Greg a fim de começar as perguntas.

— Quando você conheceu o réu, senhor Goyle?

— Eu não sei dizer. Tenho lembranças dele por perto desde que eu era muito novo, nossos pais se conheciam. Draco tem estado em minha vida desde que me entendo por mim. Ele e Crabbe, na verdade.

Os olhos de Greg se abaixaram ao dizer o nome de Vince, e Draco fechou os punhos sobre a cadeira.

— Ei, pare com isso — o loiro murmurou. — Pare de perguntar as coisas para ele, ele não sabe de nada. Eu não disse nada para ele, pare!

Kingsley pigarreou sonoramente, balançando a varinha para chamar a atenção de todos na sala.

— O réu gostaria de vir ao púlpito? — Questionou.

Draco teria dito que sim, se isso fosse tirar Greg dali. Mas nesse instante, seu advogado meneou a varinha devagar, e Draco se sentiu silenciado. Não tinha mais voz. Não podia reclamar, só assistir o interrogatório seguindo em frente.

— Senhor Goyle, como você descreve o comportamento do senhor Malfoy durante o sexto ano?

— Ele estava péssimo, para dizer o mínimo. Não comia quase nada, não dormia direito. Vince e eu queríamos ajudar de alguma forma, e ele disse que não podia nos contar nada. Então a gente disse que não precisava contar, era só dizer o que podíamos fazer, e a gente ia fazer.

— Foi a partir desse instante que você e o senhor Crabbe foram incluídos nos planos do senhor Malfoy?

Greg concordou, passando uma mão sobre os olhos, enxugando algumas lágrimas que se formavam devagar. Ele fungou e respirou fundo. Draco já tinha visto Greg triste muitas vezes. Ele era sensível. Vince sempre tinha sido a parte mais firme dos dois, mas Greg... Não, ele não. Greg era tímido, gostava de ficar calado e de receber abraços de Vince. Greg ficava triste quando Vince se irritava com alguma coisa. Ele gostava de comer doces e tinha se juntado ao time de quadribol mais por Draco e Vince que por si mesmo. Greg era a melhor parte dos três, e ele não merecia nada daquilo.

— Sim. Ele não pediu muita coisa pra gente. Geralmente era só para vigiarmos a Sala Precisa enquanto ele estava lá dentro. 

— E vocês dois nunca perguntaram o que ele tanto fazia nessa sala?

— Uma vez, antes de tudo começar. Ele disse que não podia dizer. E para nós, isso bastou.

O advogado não pôde perguntar muito mais para ajudar o caso, e acabou dispensando mais questionamentos. A promotora começou a parte dela, e ali estava o motivo pelo qual Draco não queria Greg no púlpito. Confiava em seu advogado para não perguntar nada errado para o amigo, mas a promotora… A mulher começou com perguntas padrão; queria saber como tinham sido o sexto e o sétimo ano. Tentou perguntar sobre os feitos de Greg nas aulas de Artes das Trevas, mas, felizmente, o advogado protestou e foi aceito, afinal, Greg não era o réu ali. 

Ao contrário do que tinha sido espalhado por aí, Greg odiava aquelas aulas. Era bom em fingir que se divertia, mas ele não tinha escolha. Seu pai era Comensal. Se desse um sinal, um mísero sinal de não estar se divertindo horrores na aula, algo poderia ser feito com o pai, ou com si mesmo. Quem dizia por aí como tantos alunos da Sonserina tinham se divertido em aulas de Artes das Trevas não fazia ideia da situação ocupada por eles. Muitos eram filhos de Comensais, e estavam sob a obrigação de fazer o papel perfeito na escola se não quisessem a família sofrendo retaliações diretas pelas mãos de Voldemort. Greg tinha ficado noites e noites em claro, murmurando e chorando nos braços de Vince por não querer voltar para a aula no dia seguinte... Para isso ninguém ligava. Ninguém queria saber. Já tinham formulado suas ideias.

Então a promotora partiu para perguntar sobre as tarefas do sexto ano, mais uma vez. O julgamento sempre voltava para isso. A maior parte dos acontecimentos do sétimo ano era descartável pela atmosfera bizarra da escola sob o qual tomaram parte, mas estavam mesmo abusando do sexto ano naquele caso.

— E o senhor Goyle, ao ajudar Draco no sexto ano, não imaginou que estivesse o ajudando com atos ilícitos?

Greg franziu a testa. Aquela cara, Draco costumava brincar, era a feita pelo amigo quando estava “pensando demais”.  Embora a piada tivesse um péssimo mau gosto, ela não era de todo mentira. Greg estava mesmo pensando. E, várias vezes, a ingenuidade do amigo o levava a dizer coisas verdadeiramente geniais. Aquele, Draco logo percebeu, era um desses casos.

— Você não faria essa pergunta a Hermione Granger ou Ronald Weasley se o Potter não tivesse dito a eles o que estava fazendo, e recebesse ajuda deles ainda assim. Se você para pra pensar, eles estavam planejando o assassinato de um homem, também. Um homem horrível que quebrou uma série de leis da magia? Sim. Assassinou e torturou pessoas? Com certeza. Mas não é para isso que as leis da magia servem? Para julgar? Por que os três não estão sendo acusados de mancomunar para assassinar um bruxo, a quem Potter real e felizmente matou, e Draco está, sendo que no fim das contas nem foi ele o responsável pelo acontecimento? Eu não escolhi ajudar o Draco pensando em algo ser certo ou errado, até porque, eu não sabia do que se tratava. Eu escolhi porque ele é meu melhor amigo, desde que me entendo por gente, e não se vira as costas para um amigo desses quando ele precisa de ajuda. Ele estava mal. Não sei se vocês ligam para isso, ou se estão entendendo o que literalmente todo mundo que sentou nesse púlpito está tentando dizer desde que o julgamento começou: Draco foi coagido a fazer um monte de coisas que corroeu a consciência dele. Se Vince e eu decidimos ajudar, foi porque estávamos dispostos a seguir o nosso melhor amigo até o fim. Até a morte. Se vocês acham isso lindo vindo da boca do Weasley, mas vindo da minha é uma coisa horrenda, então talvez esse julgamento esteja tendencioso desde antes de começar.

Draco deixou o queixo cair. Ele olhou chocado para o advogado, perguntando-se se o homem teria conversado com Greg antes do julgamento, mas foi ao reparar em um aperto de mãos muito discreto entre Blásio e Pansy, sentados juntos agora que já tinham deposto, que percebeu de onde aquilo tinha vindo.

— Sem mais perguntas, Ministro — a promotora sussurrou, parecendo igualmente chocada.

É claro. Se ela pesquisasse sobre Greg, era provável que teria provavelmente aprendido que ele era burro, lerdo, incapaz. Violento até, talvez. Não estaria nada preparada para aquilo. Nem Draco, quem convivera com ele por anos, estava.

Greg desceu do púlpito e foi se sentar ao lado de Pansy e Blásio. Draco conseguiu ver o quão nervoso o garoto estava. Ele não sabia se tinha falado as coisas certas. Agora tinha total certeza, Pansy e Blásio o tinham encorajado a fazer aquilo.

Draco sentiu algo apertar na garganta, e uma mistura de calor no peito e vontade de chorar tomou conta de si. Tinha amigos, sabia disso. Mas nunca em sua vida teria imaginado os três se juntando para defendê-lo daquela forma.

A próxima chamada ao púlpito foi sua mãe, mas a essa altura, Draco estava surpreso o bastante para nada o chocar no relato dela. Narcissa foi bem direta, no fim das contas. E, mais ainda, revelou a existência de um Voto Perpétuo entre ela e Snape para proteger o filho em Hogwarts.

Sim, Draco se lembrava disso também. Tinha ficado furioso na época, dito a Snape que não queria ajuda, que ia se virar sozinho, e sabia ter soado como orgulho, afinal, essa tinha sido sua intenção. Na verdade, receava receber ajuda de Snape e acabar sofrendo alguma retaliação por não conseguir ainda por cima. Ou, pior, que seus pais sofressem. Seu pai só estava vivo por sorte, tinha certeza. E sua mãe… Se algo acontecesse com ela…

— Senhora Malfoy — o advogado prosseguiu — como se deu a convocação de seu filho para se juntar aos Comensais?

— Eu não estava lá. O pedido foi passado para Lúcio. Quando ele veio falar comigo, foi bem direto. Disse que o Lorde das Trevas queria nos castigar através de Draco, e alistá-lo como Comensal para se divertir às custas do sofrimento do meu filho. Eu não estava no dia da cerimônia também, eu não era íntima do Lorde a esse ponto. Eu só sei que Lúcio chegou com meu filho em casa e ele ficou acamado por três dias depois de receber essa tatuagem maldita.

Draco evitou suspirar, por pouco. Não precisava das pessoas sabendo daquilo, mas devia ter imaginado ser impossível evitar o assunto.  O Ministério já deveria saber muito bem sobre o processo de criação da Marca Negra. A marca era queimada nos braços dos Comensais com um feitiço, e não era uma queimadura delicada. Draco se lembrava de ter ficado febril por três dias seguidos, e até um pouco delirante no primeiro deles. Não precisava de todo mundo sabendo disso, era vergonhoso, mas já estava claro agora que sabiam.

Com mais algumas perguntas, sua mãe foi dispensada do púlpito. O depoimento dela tinha sido muito focado em ganhar simpatia para Draco, e o garoto não estava surpreso por isso. Era sua mãe. Era de se esperar um bom toque de “mãe” no depoimento dela. Se servisse para ajudar as pessoas a terem alguma pena dele, então…

Draco se forçou muito a conter uma risada sarcástica. Pena. Era isso que lhe restava agora. Torcer para terem pena dele. E seu orgulho, onde ficava? Tudo bem, sabia qual era o plano a longo prazo. Se quisesse recuperar algum orgulho no futuro, teria de fazer o papel de coitado por hora. Mas isso o enfurecia. Mesmo sendo tudo real, mesmo tendo sido coagido por medo de verdade, odiava que isso tivesse lhe acontecido.

— Podem trazer a última testemunha, por favor.

A pedido de Kingsley, as portas do fundo se abriram, e dois aurores entraram, trazendo Lúcio com eles. Draco rangeu os dentes, tentando não demonstrar a tensão em ver seu pai presente. Se ele mesmo já parecia doente, Lúcio não estava muito atrás. Ele foi guiado até o púlpito e teve as mãos presas com algemas mágicas ao local.

— Por favor, diga seu nome para a audiência.

— Lúcio Abraxas Malfoy.

A voz de seu pai trazia uma nota um pouco perdida de exaustão misturada ao tom altivo sempre apresentado por ele. Lúcio poderia até se parecer com um mendigo no momento, mas Draco conhecia o pai. Não havia maltrato físico no mundo capaz de tirar a nobreza das palavras dele.

— Senhor Malfoy, jura dizer a verdade, acima de qualquer coisa, dispensando a necessidade de meios mágicos para tal e se apoiando em sua honra para a veracidade de seu depoimento?

— Certamente, sim.

O clima na arena ficou tenso, de repente. Aquele, Draco sabia, era o depoimento mais importante da noite. Lúcio tinha sido quem recebeu a convocação para aliciar Draco. Era ele quem tinha todas as informações capazes de isentar o filho de culpa.

E como era de se esperar, não demorou para essa pergunta ser feita, pelo próprio advogado.

— Sim, o... pedido foi entregue a mim, embora eu não chamaria desta forma. Se tratou de uma exigência, em verdade, mas o Lorde das Trevas não obrigava as pessoas diretamente a fazerem as coisas se não achasse necessário. Ele ameaçava de formas veladas. Fazia sugestões irrecusáveis. Era um político em vários aspectos, embora abominasse a burocracia das instituições. Ele tinha seu jeito de fazer um pedido e deixar claro que haveria consequências severas caso fosse desobedecido.

— Foi essa a natureza do pedido? Seu filho se juntar aos Comensais?

Lúcio concordou, endireitando a postura de modo muito discreto.

— As palavras dele foram “ajudaria a sua família se vocês renovassem sua lealdade a mim com novo sangue. Eu tenho algo importante que precisa ser feito, e o trabalho de alguém dentro de Hogwarts me seria essencial”. As palavras podem parecer inocentes, mas ele sabia a entonação a utilizar para deixar muito claro que não estava pedindo. Ele precisava de Draco por perto. Ele queria que eu oferecesse meu filho, e se eu não fizesse isso, uma série de consequências poderia recair sobre nós. Eu voltei para casa naquela noite e conversei com minha esposa, e depois nós dois falamos com Draco.

— O que você acredita que teria acontecido, caso recusassem o pedido de Lorde Voldemort?

Lúcio deu de ombros.

— Algo simples, como atear fogo à nossa mansão. Algo sério, como assassinar meu filho, ou minha esposa. Nunca vou saber. Ele queria me punir por não ter me mantido leal a ele depois de sua queda. Pareceu-me, na época, que essa seria a única punição possível que eu poderia aceitar, e que não me custaria ninguém da minha família.

— Então… Você vendeu seu filho pela segurança dele mesmo e de sua esposa?

Draco viu o lábio superior do pai tremer muito de leve. Aquela, ele sabia, era a parte com a qual seu pai tinha um problema. Admitir culpa. Era onde ele poderia estragar tudo…

— Vendi — respondeu, de uma vez. — E os dois estão vivos, não estão? Eu diria que fiz a escolha certa.

— Sem mais perguntas, senhor Ministro.

Nisso as perguntas passaram para a promotora. Mais uma vez, não havia tanto assim com o qual ela pudesse trabalhar. Lúcio tinha o jeito certo com as palavras, sabia contornar as respostas, e a maior parte das perguntas da promotora serviria mais para culpar Lúcio que Draco. 

Quando Lúcio foi dispensado do púlpito, Draco sentiu um bolo de enjôo se juntar na boca de seu estômago. Qualquer que fosse seu destino, saberia agora. Não tinha mais como escapar. Kingsley pediu uma pausa para o júri deliberar a respeito, e por enquanto, apenas lhe restava esperar.

Draco sabia como a maioria das pessoas presentes ali o odiava e odiava sua família. Não reconheceu todos os rostos que levantaram as varinhas para votar no veredicto, mas conhecia o suficiente para ter suas preocupações.

— Sobre a acusação de filiação ao grupo criminoso “Comensais da Morte”, qual é o veredicto do júri? — Kingsley perguntou.

Uma a uma, as varinhas passaram a emitir luzes coloridas. Vermelho para “culpado”, dourado para “inocente”. Havia luzes das duas cores, misturadas em proporções muito similares. Por algum tempo, a luz assumiu um rosáceo dourado, mas à medida que os olhos de Draco se acostumaram a decisão foi ficando mais e mais clara. Kingsley ponderou, por um tempo, e sussurrou algo para a pena de repetição rápida em sua mesa. A pena começou a redigir um documento inteiro, e enquanto esperava, o Ministro perguntou mais uma vez.

— Sobre a acusação de participação em planos de ataque à entidade do Ministério da Magia e de atentado à vida de Alvo Dumbledore, qual é o veredicto?

Dessa vez, Draco sentiu o ar sair de seus pulmões de uma vez. A luz era muito majoritariamente dourada, quase não se poderia ver o vermelho. Depois de tudo dito naquele dia, também, seria quase impossível associá-lo diretamente à morte de Dumbledore. Se algum outro Comensal o tivesse matado, talvez pudesse ter sido condenado como cúmplice por abrir o Armário Sumidouro, mas tendo sido Snape, isso ficava bem difícil. Snape estava na escola o tempo inteiro. As ações de Draco em nada tinham afetado a morte do diretor. Assim como o garoto também não tinha literalmente nada a ver com qualquer ação no Ministério, tendo sido restrito a Hogwarts.

Mas as luzes ainda tinham sido preocupantemente rosáceas para o primeiro veredicto. Aquilo não tinha terminado.

Kingsley deu um sinal, murmurou algo para a pena e o júri abaixou as varinhas. A corte aguardou, em silêncio, enquanto a pena terminava de escrever, até enfim o Ministro pegar o documento pronto e começar os anúncios finais.

— O julgamento foi feito, e chegamos ao veredicto final. Sobre a acusação de afiliação ao grupo criminoso dos “Comensais da Morte”, consideramos o réu culpado, e lhe será sentenciada a pena de sete anos de reclusão em Azkaban. Pelo aspecto de coerção da atividade do crime, damos ao réu a chance de redução de pena para cinco anos mediante bom comportamento e pagamento de um valor de multa em galeões a ser decidido pela Comissão Financeira do Departamento de Leis da Magia. Sobre a acusação de participação em planos de ataque à entidade do Ministério da Magia e de atentado à vida de Alvo Dumbledore, consideramos o réu inocente. O aqui declarado neste documento é válido perante testemunho de todos os presentes e tem efeito imediato.

Kingsley balançou a varinha, cancelando o feitiço sobre sua voz, e nesse momento Draco percebeu o que tinha acontecido: voltaria para sua cela.

Sete anos. Sete anos em Azkaban. Ouviu sua mãe gritar nas arquibancadas, mas não conseguiu encontrá-la com os olhos. Não conseguia ver nada, sentia-se zonzo e estava tudo escuro demais. Sim, muito escuro. Estava perdendo o campo de visão, aos poucos, até de repente não estar enxergando mais nada.

Draco sentiu um suor frio escorrer pela nuca, e dois bruxos o colocarem de pé. Havia muito barulho. Muitas vozes. Mais choro de sua mãe. Ele tentou chamar por ela, mas não conseguia encontrar forças para colocar as palavras para fora. Ouviu alguém falar em curandeiro, mas foi a última palavra da qual se lembrou.

Naquele momento, Draco teve a sensação de ter sido desconectado do mundo. Não conseguia responder ninguém, as palavras pararam de fazer sentido e sequer se importava com isso.

Sete anos. Sete anos em Azkaban. Sete anos em Azkaban…

Mãe! Mãe, por favor, não deixe eles me levarem! Mãe, por favor, por favor, não deixe eles me levarem...!”

Mas as palavras morriam sem chegar aos seus lábios. O longo caminho de julgamentos, buscas e capturas desde a queda de Voldemort estava permeado de prisões e punições. Quanta inocência pensar que seria diferente consigo mesmo! O crime estava literalmente queimado em sua pele. Qualquer um podia ver agora, e qualquer um poderia ver para sempre. Com Voldemort morto, a marca tinha desaparecido, mas uma enorme cicatriz tomava seu lugar, e esta nunca desapareceria.

Sua vida não estava arruinada só pelos próximos sete anos. Estava arruinada para sempre.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham se divertido :D Daremos uma longa pausa agora, mas assim como expliquei nas notas iniciais (se você não leu, volta lá por favor KKKKK) eu criei alguns métodos para manter vocês informados do andamento da série. Acho que das duas formas que se seguem conseguirei atender a todos.

Grupo de whatsapp da fic, para quem quiser/puder entrar: https://chat.whatsapp.com/IUkpsqVnL7hGrEjdrkIg3P

Link para meu documento de cronograma, também tem o link no meu perfil: https://docs.google.com/document/d/1pO_PibpAQtB0nIVsM5bzrYEJ8ZtoMIXOpAsluvhsrjM/edit?usp=sharing

E é isto :D Vejo vocês na sequência, daqui a algum tempo ^^

Tenho vagas para duas interativas novas! A primeira se passa no meu universo fictício Marvel. Acesse aqui:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/shield-guerreiros-secretos-marvel-717-2-interativa-19120164

A segunda é original, baseada em revoltas civis:
https://www.spiritfanfiction.com/jornais/a-rosa-do-tempo--interativa-19269445

Leia a trilogia Hunters! (em andamento). Comece aqui: https://fanfiction.com.br/historia/771022/Hunters_Hunters_1/

Leia as fanfics do meu universo Marvel :D (em andamento). Comece aqui:

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