Oblivion escrita por Lucca


Capítulo 16
Política, intrigas, status e autoridade


Notas iniciais do capítulo

Esse era pra ser o penultimo capítulo, mas como sempre, escrevo demais e não dei conta do plot. Juro que pretendo finalizar a história com mais dois ou três capítulo. Não desistam de mim.
Recapitulando: a equipe descobriu que não poderiam contar com Nas e Keaton. Faltava recorrer a Weitz. Jane suspeitava de uma nova gravidez. Será?
Ah, como não controlo a forma como as coisas de repente acontecem nessa história, a partir do momento que a abordagem de Weitz acontece, o capítulo caminha para cenas mais pesadas. Passei pela censura prévia diversas vezes, mesmo assim, se você não curte esse tipo de leitura, melhor evitar essa parte. Fiz o máximo para que isso não influenciasse o arco principal da história, mas é claro que acrescenta detalhes importantes do relacionamento do casal.
Boa leitura.



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Restava uma única pessoa a recorrer buscando apoio para derrubar Madeline e Shepherd: Matthew Weitz. Enquanto havia discordância entre os membros da equipe sobre Nas e Keaton, todos concordavam que Weitz era a pior de suas opções. Cobra criada dentro das esferas mais questionáveis das agências governamentais transformada em congressista graças ao apoio de lobistas ligados a perigosos agentes internacionais, o homem era desprezível e oportunista. Mas era exatamente seu lado oportunista que poderiam usar a seu favor nesse momento. Alguém como Weitz não perderia a oportunidade de ser protagonista na queda de uma conspiração daquele vulto. Se tivesse sido zipado, veria ali uma forma de cavar ali um próximo passo em sua carreira política. Foi por isso e só por isso que resolveram tentar.

A estratégia para conseguir cercá-lo e aplicar o antídoto do zip teria que ser totalmente diferente. Nenhum deles teria um álibi para convidá-lo para uma reunião mais privada. Quando o nome de Weitz foi citado, Kurt o teria descartado de cara não só por não gostar nada desse homem, mas principalmente por enxergar a dificuldade de acesso que teriam à ele sem levantar suspeitas. Mas após a enorme decepção com Nas e a necessidade maior que nunca de colocar toda aquela bagunça em ordem, resolveu não contestar. Além disso, a equipe tinha Patterson, Rich, Anna e Boston. Se houvesse qualquer oportunidade viável na agenda de Weitz, eles encontrariam.

Após dois dias pesquisas, a equipe se reuniu perto do final da tarde. Patterson, como sempre, começou a expor suas descobertas:

— Como congressista, Weitz tem quase todos os seus dias exclusivamente preenchidos com reuniões com possíveis colaboradores para suas campanhas políticas. – a loura disse.

— Previsível. – Reade desabafou.

— Calma aí, Diamante Negro. Temos mais detalhes. – Rich entrou na explicação. - Algumas dessas reuniões não passavam de jantares com meia dúzia de pessoas, outras, no entanto, reunem uma lista bem grande de convidados.

— Políticos, jornalistas, pessoas de influência social e econômica em Nova Iorque comparecem nessas reuniões de Weitz. – Anna fez questão de exemplificar.

— E, o mais importante, não só eles! Geralmente essas pessoas levam acompanhantes. Esposas, amigos, amantes... o que cria dois momentos paralelos: um divertido e descompromissado e outro mais reservado para discutir e concretizar os acordos importantes. – Boston fez sua contribuição.

— No meio de tanta gente, é fácil infiltrar algum de vocês. Ali reina a discrição, ninguém desconfiaria de uma mulher linda e totalmente desconhecida acompanhando um político no lugar de sua esposa. É claro que estou sugerindo disfarçarmos a Jane e não o sargentão ali. – Rich finaliza olhando para Tasha que retribuiu com um olhar ameaçador. Mas ele não se mostrou atingido e se virou para Kurt continuando - Aliás, meu zangadinho favorito já constou como possível convidado em várias delas. Tô sentindo o cheirinho de ramaker no ar, como quando meu casal favorito me conheceu numa dessas festa lá em casa. – continuou se referindo ao dia em Kurt e Jane se disfarçaram de assassinos búlgaros para recuperar uma lista de pessoas protegidas que caiu na dark web. Foi assim que conheceram Rich, o vendedor da lista.

Kurt se remexeu desconfortável, tentando conter o sorriso. As lembranças daquele dia estavam tão vívidas em sua mente agora: o flerte com Jane, as insinuações de Rich. Foram bons momentos. Ele ainda não endendia, mas aquilo era tudo que o faria feliz no futuro. Por fim, limpou a garganta e disse:

— Posso conseguir facilmente um convite como Diretor do FBI. Weitz já me convidou várias vezes, mas sempre recusei por não aceitar o seu jeito de fazer política. Madeline sempre me incentivou a ir. Acho que minha presença lá deixará todos eles satisfeitos, achando que estou finalmente cedendo ao jogo que traçaram pra mim.

— E tem mais: Weitz aluga os mesmos locais e contrata as mesmas equipes para buffet e segurança dos eventos. Isso nos ajuda a colocar mais gente nossa no local. Amanhã mesmo acontecerá uma reunião com muita gente no Garden Hall. Melhor ainda, Michael Zokker confirmou presença.  – Patterson estava ansiosa para continuar sua explanação.

— Peraí, acho que perdi alguma coisa. Quem é Michael Zokker? – Zapata estranha.

— Político promissor do interior de Minessota. Ninguém da lista de convidados o conhece. Basta que a gente atrase o voo com o jatinho particular dele por uma hora para que seja inviável pra ele estar no evento. Zokker é extremamente avesso à grandes cidades e odeia NYC. Nunca antes quis estar aqui, por isso, marcou o voo para chegar em cima da hora. Um atraso lá e já era. – Patterson prosseguiu.

— E como vamos conseguir pessoas em Minessota para atrasar esse voo? – Jane não conseguia ver como fariam aquilo.

— Não vamos. – Anna entrou na explicação. – Vou fazer tudo por aqui. Já hackeei os computadores do centro de controle de voo daquele aeroporto. E também estou no comando do celular de Zokker. Se ele tentar avisar Weitz sobre sua desistência, tudo que nosso político favorito receberá é a confirmação de sua presença.

— Resumindo: Roman será Zokker, Jane sua acompanhante. Reade entra como equipe de segurança. Kurt será Kurt Weller mesmo e Zapata vai de faxineira. – Rich atropelou a fala de Anna doido para ser ele quem daria as informações finais só para cutucar Zapata.

— Zapata, na verdade uma parte importante do plano fica com você e Reade. Terão acesso ao local mais cedo. Vão preparar uma armadilha para Weitz. Precisamos fazê-lo tomar um choque elétrico e apagar. Quer dizer, ele vai apagar por causa do antídoto, mas o choque elétrico será a desculpa que Roman usará para o apagão. Assim, se ele não estiver zipado, teremos um álibi para justificar tudo o que aconteceu. O aparelho de interfone da equipe de segurança na sala dele é perfeito pra isso. Ele cultiva esse hábito de usar o aparelho para acionar os seguranças que ficam na porta nesses momentos de reunião privada.  – Patterson explicou.

— Então, Jane fica como apoio da parte divertida da festa, eu como apoio na parte séria do evento, Reade apoio na segurança, Zapata apoio na limpeza e Roman é o executor. – Kurt tentou resumir a visão geral do plano. – Bom plano. Mas vocês esqueceram que Weitz conhece a Jane.

— Calma, Kurt. – Pattterson parecia incrédula por ele levantar que algo tão importante lhe passaria despercebido. – A sequencia de apoio é essa. Se ele se lembrar, todos se reúnem no final da festa. Se estiver com a corja, acionamos o protocolo de dispersão. Quanto à Jane, pela listagem de reuniões particulares que temos, Weitz e Zokker só se encontram no meio da noite. Nosso casal desconhecido vai chegar quando ele já estiver fechado na primeira reunião. Isso dará tempo para se apresentarem, socializarem e Jane será encaminhada para ambiente restrito aos acompanhantes sem correr o risco de cruzar com ele.

— E temos que preparar tudo para amanhã? – Kurt pergunta com seu jeito ansioso parecendo irritação.

— Sim. Ah, Zangado, nós somos a melhor equipe exatamente por isso! Pouco tempo, poucos recursos, muita dificuldade, muitos riscos... esse é o jogo. Eram só você e Jane desarmados na minha festa e deu tudo certo. Pra vocês e não pra mim, né? Vamos lá, desamarra essa cara. “Caia na gandaia, entre nessa festa!” – Rich encerra cantando.

Distribuíram funções e começaram o trabalho se preparando para o dia seguinte.

No dia seguinte

Quando a execução do plano começou, tudo corria bem. Weller foi aceito como convidado. Roman adotou um visual mais austero, aparando cabelo e barba, além de usar um tonalizante que escureceu os fios.

 Patterson e Boston focaram em Jane. Cobrir as tatuagens era trabalhoso, mas o resultado ficou bom. Escolheram um vestido branco e preto justo que descia um pouco abaixo dos joelhos. Alguns detalhes em dourado na parte de cima davam o tom sofisticado à roupa. Ousaram no cabelo, abusando do gel e laquê, quanto mais atenção acima do busto, menores as chances de algum borrão despercebido na cobertura das tatuagens passar despercebido.

Zapata e Reade treinaram o dia todo como fazer o interfone dar um choque em Weitz. Os dois funcionavam bem juntos. Mas nesse dia foi tenso. Não por eles, mas por Rich que era quem dominava a estratégia e ficou responsável por ensiná-los. A pior parte para a latina era a sensatez de Reade concordando com Rich ao dizer que a impulsividade de Tasha poderia leva-la a errar algum ponto da montagem. O sangue ferveu, mas ela se segurou. Primeiro porque sabia que sua explosão era tudo que Rich mais queria. Além disso, porque sabia que em anos de trabalho nunca falhou em campo, então não seria agora que os dois conseguiriam fazê-la desacreditar em si mesma. Quando terminou a tarefa de forma impecável, Tasha olhou para eles de forma arrogante enquanto segurava alguns centímetros do fio que sobrara em sua mão:

— Cinco centímetros de sobra. É o suficiente pra causar danos irreparáveis em qualquer um que não acredite na minha capacidade. – e saiu pisando duro.

Rich prendeu a respiração e desceu discretamente as mãos as posicionando na frente de seu órgão genital. Entendeu perfeitamente a ameaça. Assim como entendeu que sua maior diversão tinha encontrado um limite e era hora de recuar. Sem mais brincadeiras que irritem Tasha Zapata.

— Você entendeu porque ela está tão brava? – Reade perguntou sem compreender o que aconteceu ali. Colocou toda a sua atenção as atividades que estavam executando tentando equacionar de forma precisa e objetiva possíveis obstáculos.

— Talvez Tasha tenha interpretado a impulsividade que pedimos pra ela manter sob controle como uma forma de insinuar que ela não era apta ao trabalh... – e engasgou no final.

— Mas não era nada disso. Só estávamos tentando ser objetivos aqui... – e olhou para o rosto nada inocente de Rich – Ah não! Era você provocando ela de novo. E eu acabei ajudando. Isso é péssimo.

E saiu apressado tentando alcançar Tasha. Mas era tarde. Não a encontrou nos lugares óbvios, um alerta básico para que mantivesse distância até que ela se acalmasse. Ele aceitou. Deviam focar na missão. Teriam tempo para resolver assuntos pessoais depois disso.

Começaram a se infiltrar nos horários previstos. Reade e Tasha chegaram bem mais cedo misturados às equipes de segurança e limpeza do local. Precisavam executar as funções que os chefes lhes passassem e ir até a sala de reunião de Weitz. Foram rápidos. Assim que se viram sozinhos no local, ele tentou:

— Tash, sobre hoje de manhã...

— Cala-te! – ela respondeu em espanhol. Depois voltou para sua língua – Foco na missão, não é hora nem lugar para falarmos sobre isso, mira?

Ele assentiu, afinal ela estava certa.

Kurt foi pontual. Cumprimentou Weitz e se deixou ser ostentado pelo homem a todos os presentes. Deu o máximo de corda à conversa enquanto seus olhos varriam o local analisando cada detalhe. Queria Weitz fora do salão o quanto antes. Com a atenção que dispensava às estratégias políticas, logo Kurt foi convidado para acompanhá-lo com mais dois correligionários a um lugar mais privado.

Sinal verde para a chegada dos irmãos que souberam ser discretos. Entraram sem chamar a atenção e se misturaram à festa. Mesmo com uma passagem curta pelo ambiente político da festa, Jane cativou diversos convidados que a acompanharam até o ambiente festivo reservado aos acompanhantes. Queriam conhecer melhor a “amiga” que Zokker trouxeram. Entretidos na conversa com ela, deixaram espaço para Roman se aproximar de Weitz.

Poucos minutos de conversa após a apresentação formal e depois os dois entravam na sala reservada. Kurt os acompanhou. Weitz não os decepcionou, seguindo sua rotinha de acionar os seguranças através do interfone em sua mesa. No minuto seguinte o choque o surpreendeu e, fingindo ajudá-lo, Roman injetou o antídoto que o fez desmaiar.

— Agora é esperar. – Roman disse se sentando na cadeira.

Kurt gesticulou concordando, mas não se sentou. Ficou andando de um lado para o outro da sala. Roman só o observava. Havia algo errado com seu cunhado. Pensou em questioná-lo, mas os dois não bons nisso. Então resolveu dar espaço para o outro extravasar seus demônios castigando o caro tapete do chão.

Quando Weitz começou a acordar, os dois correram em cima dele fingindo estar tentando reanimá-lo:

— Weitz, acorde! – Kurt disse com leves tapas no seu rosto.

— Calma, Weller, calma! – Weitz disse tentando afastar a mão dele de seu rosto. – Maldito interfone. Isso foi pior que um gancho de direita. – falou se sentando e levando a mão a cabeça.

De repente, ele ficou estático, como se estivesse vendo um fantasma, mas não havia nada a sua frente.

— Deus, Deus, Deus, Deus. – repetiu refletindo consigo mesmo.

— Você não me parece bem, Weitz. Melhor chamarmos uma equipe de paramédicos. – Kurt tentou mostrar preocupação.

— Não! Estou bem. Eu garanto que estou bem. – e se colocou em pé. – Merda, merda, merda, Weller!!!! – e puxou o ar várias vezes enquanto caminhava até a mesa no canto da sala e se servia de uma dose de uísque que tomou num só gole.

Kurt e Roman se entreolharam tentando entender o que aquela reação poderia significar.

— Weller, qual é mesmo o nome da sua esposa? – Weitz perguntou.

— Você está se referindo à minha falecida esposa? Allison Knight.

— E aquela outra...

— Que diabos está acontecendo com você, Weitz. Eu só me casei uma vez, com Allie. Agora, se você estiver se referindo ao meu relacionamento com Nas ...

— Não! Eu não estou falando da Nas. – e se serviu de outra dose de uísque. – Vocês me desculpem... Isso deve ser algum tipo de pesadelo acordado. É isso! O choque deve ter colocado tudo isso na minha cabeça. Acho que vou aceitar ajuda médica porque é como se eu tivesse vivido duas realidades paralelas... Porque se fosse verdade... Santo Deus...

Kurt se aproximou sério e colocou a mão no ombro de Weitz:

— Você não precisa de um médico. Você foi zipado. Usaram em você uma versão da mesma substância que apagou a memória de Jane. Todos fomos vítimas.

Weitz se jogou num abraço a Weller chorando feito criança.

— Graças a Deus eu não estou enlouquecendo e você se lembra de tudo. Eu fiquei só pensando como eu ia te contar que você ajudou a matar sua própria esposa numa missão do FBI.

Os dois deram um tempo para ele se acalmar. Depois o orientaram a seguir normalmente com as atividades daquela reunião para encerrá-la o quanto antes.

Assim que voltaram ao salão, Kurt foi até o outro ambiente observar como Jane estava se saindo. Definitivamente ela tinha vários novos admiradores ao seu redor. Também percebeu que ela estava pálida. Todo aquele cortejo não devia ter permitido que ela se alimentasse direito. Foi até Roman e pediu:

— Tire Jane de lá e a leve para uma das salas reservadas. Ela precisa se alimentar. – disse baixo e direto. E, voltando-se para o Weitz, continuou – Você pode pedir para um dos garçons abastecer a sala com rapidez?

— Agora mesmo. – Weitz respondeu já chamando o garçon e indicando o que fazer.

Se a questão da alimentação não tivesse sido abordada, Roman confrontaria o pedido de Kurt, mas sabia que esse aspecto devia esconder algum outro motivo que ainda não fora compartilhado com ele. Em poucos passos, atravessou o salão e se colocou ao lado da irmã:

— Querida, detesto atrapalhar a conversa com seus novos amigos, mas preciso que atenda uma ligação. – disse a ela.

Jane assentiu e se despediu dos homens que a rodeavam com um sorriso. Quando se afastaram um pouco, questionou o irmão:

— O que aconteceu?

— De urgente apenas o lado super protetor do seu marido querendo que você se alimente.

Jane revirou os olhos.

— Não me olhe assim, Sis. Reclame com ele. Segunda porta à direita.

Assim que ela entrou na sala, seus olhos pousaram sobre a figura impaciente do marido circulando a mesa principal.

— O que aconteceu? Alguma emergência? – ela não estava disposta a facilitar as coisas pra ele.

Kurt olhou para ela, levantou a sobrancelha e ofereceu com um gesto o prato na mesa de canto:

— Achei que estava pálida. Quis me certificar que tinha se alimentado. Weitz foi mesmo zipado. Roman já deve ter te contado.

Jane respirou e sorriu, então disse calmamente:

— Você é realmente muito gentil. Mas estou satisfeita. Os cavalheiros que me fizeram companhia foram muito gentis e não deixaram faltar nada. Aposto que comi muito mais que você hoje.

Ele voltou a levantar as sobrancelhas agora um pouco encabulado. Ela se aproximou e chamou seu olhar:

— Ei, estou bem. Estamos bem. Mas você precisa me prometer que não vai mais me tirar da posição no meio de uma missão só porque estou grávida.

— Jane, eu... sei que te prometi, mas foi mais forte que eu. Além disso, a missão praticamente já terminou. Em menos de 40 minutos, Weitz terá dispensado todos.

— Ainda assim você está no vermelho comigo, Diretor Kurt Weller. – ela disse séria e deu as costas a ele caminhando pela sala.

Kurt sabia o que viria depois disso. Ela caminharia até a porta e deixaria a sala. Depois passaria a ser doce em todas as conversas, mas mantendo uma distância física que seria seu pior castigo. Sua redenção só seria alcançada na próxima missão se ele conseguisse conter seu instinto protetor. Droga!

Mas, ao invés de caminhar em direção à porta, Jane foi na direção contrária penetrando no cômodo e vasculhando seus detalhes. Era um ambiente em estilo colonial. Poltronas de veludo, luminárias discretas, prateleiras com livros, tapetes pesados e caros. A mesa, de madeira maciça, dominava grande parte do espaço, imponente com detalhes entalhados e poucos objetos em cima dela.

Jane se aproximou e deixou suas mãos deslizarem naquela superfície. Então sentiu a mão de Kurt subir pelas suas costas trazendo aquela familiaridade protetora de sempre.

— Você está bem? Alguma lembrança?

— Estou bem. – ela respondeu rápido e sorrindo. – Você é um protetor incorrigível.

— Vou me controlar na próxima missão, Jane. Você verá. Ainda estou me acostumando com nossa nova surpresa. Mas por hoje...- e fez uma expressão de súplica – bem, essa missão para minha auto correção já está perdida. Então, porque não cuidar de você?

Ela mordeu o lábio inferior enquanto seus olhos corriam pelo ambiente do escritório e disse:

— Talvez você tenha a chance de alcançar a redenção ainda hoje e aqui, cuidando de mim. – e então olhou diretamente pra ele – Mas isso não quer dizer que facilitarei as coisas pra você.

— Como? – ele perguntou apertando os olhos.

— Esse lugar... lembra muito o escritório de Shepherd em uma das casas que vivemos na minha adolescência. Ela me chamava lá ao final de toda semana para apontar minhas falhas e dizer como esperava que eu as superasse. Nós tínhamos uma relação estranha, você sabe. Eu a amava e admirava. Era tão forte... nossa salvadora. Mas também era revoltante porque, mesmo sabendo que aquilo era o que ela chamaria de fraqueza, eu queria só uma mãe como as outras que oferecesse um ou... colo.

A mão de Kurt deixou suas costas para envolver seu rosto:

— Sinto muito, Jane.

— Não. – ela foi firme, afastando a mão dele. – Eu ainda não terminei. Shepherd sabia como fazer as coisas. Pensava em cada detalhe. Aquele escritório como esse daqui passava uma mensagem clara: status e autoridade. Ao mesmo tempo, era para que eu baixasse a cabeça aceitando o que ela me oferecia, mas era também para eu admirar e desejar chegar até onde ela chegou.

— Mas você não é assim...

— Não sou. Muitas vezes enquanto ela falava e falava... – ela abaixou o olhar e riu um pouco encabulado -  Céus, isso é tão juvenil e ...

— Diga. Sabe que pode confiar em mim. Não vou te julgar.

Jane respirou e começou a falar olhando diretamente nos olhos de Kurt:

— Eu me imaginava conseguindo levar sorrateiramente o menino mais lindo do colégio para lá. Talvez um esportista igual daqueles filmes de TV. Alguém do time de basquete. Capaz de virar o jogo no último minuto com uma cesta de três pontos. Alto, forte, olhos azuis.

Kurt sorriu. Ele conhecia muito bem o tal garoto. Ela estava descrevendo ele mesmo nas fotos que vira do seu anuário da escola militar assim como a história que contou para ela da virada do jogo.

— Então você seria tão dura com ele quanto ela era com você... – tentou ajuda-la.

— Não... Naquele momento, eu seria tudo que ela não queria, como as garotas mais tolas e frágeis da escola, cedendo às propostas com inocência de uma adolescente qualquer.

Ao ouvir aquilo, Kurt sentiu que boa parte do sangue deixava seu cérebro para se alojar em partes do seu corpo que ele não desejava.

— Jane... ainda estamos numa missão... – ele estava quase suplicando.

Ela respondeu com a voz rouca carregada de falsa inocência, mas relembrando que ele estava no devedor:

— E você me tirou da minha posição estratégica... e desejos de uma grávida precisam ser atendidos. Você me chamou aqui para garantir meu bem estar, não foi?

Kurt engoliu seco. Era irracional e sujo, mas merda, ele poderia listar diversos motivos para justificar sua vontade de atendê-la. Numa última tentativa de fuga, pensou que talvez fosse possível alimentar tudo agora para finalizarem mais tarde, em casa. Suas mãos cercaram o rosto dela enquanto suas bocas se encontraram sem constrangimento, num beijou quente e curto. Então, ele se afastou apenas alguns centímetros para dizer com a voz tomada de desejo:

— Eu faria isso agora, baby, mas com o tempo que temos eu não seria capaz nem de arrancar seu vestido.

Jane recuou abruptamente tomando distância e endireitou sua postura:

— Quem falou em tirar alguma roupa? – perguntou sensual e deu as costa a ele. - Eu sequer estou usando calcinha. Tasha disse que estava marcando meu vestido. – e foi caminhando lentamente para a porta– Mas tudo bem. Vou voltar para minha posição lá fora, como os amigos de Weitz...

A cada passo, ela podia senti-lo atrás dela, passos pesados e desesperados por alcançá-la até que a ultrapassaram chegando primeiro à porta e fechando-a a chave. Ela sabia como movê-lo de algumas de suas determinações.

— Espere, querida. – ele disse calmo, mas havia uma certa necessidade velada em sua voz. – um homem pode mudar...

Ela estreitou a distância entre os dois e, quando estava perto o suficiente, colocou uma das mãos em seu peito:

— Prove.

As mãos dele voaram até seu quadril segurando-a com firmeza e, puxando-a para mais perto, roçou seu corpo no dela fazendo-a sentir o quanto era desejada. Ela levou a mão ao rosto dele, segurando seu queixo. Roçou os dedos em sua barba e depois arrastou o polegar sobre seu lábio inferior. Kurt abriu a boca apenas o suficiente para sua língua deslizar sobre o dedo dela quente e voluptuosa, fazendo o corpo dela se apertar em antecipação.

Enquanto se inclinou para beijá-lo, sentiu que suas mãos migravam por sua cintura levando-a a se mover devagar, sem um plano definido, apenas disposta a sentir o calor do corpo dele apesar do tecido que os separavam. No minuto seguinte, todo seu mundo se resumia na exploração detalhada que a língua dele fazia na sua boca, ocupando-a com sensações que impediam qualquer racionalidade.

Ali continuaram por poucos minutos, os mais longos e mais breves em muito tempo. Então ela se sentiu sendo levantada em seus braços. Não foi preciso que ele a carregasse muito. Em poucos passos chegaram. A mesa. Deus, ele entendeu seu desejo! Depositada sobre a madeira rígida, ela gemeu enquanto o puxava para mais um beijo, suas mãos muito mais conscientes agora, arrancando seu paletó e para depois lutar contra o botão de sua calça.

Ele a seguiu, brincando com sua boca enquanto as mãos subiam mais e mais o vestido por suas pernas com um objetivo claro.

Quando os dois estavam prontos, ela já desesperada por ele, com um certo medo de que recuasse deixando-a para viver apenas em sonhos sua fantasia da adolescência, Kurt correu a mão por seus cabelos, e deixou seus lábios roçarem a pele atrás de sua orelha. Baixo, rouco, quase num gemido cheio de desejo, sussurrou:

— Eu prometo que não vai doer, Remi.

Ouvir aquilo quase a enlouqueceu. Jane fechou os olhos pensando como ele era capaz de lê-la dessa forma. Era melhor do que em qualquer fantasia. Ela e Kurt contrariando tudo que Shepherd determinasse. Era sujo, mas também era tão formidável e excitante. Ela precisava alimentar a ousadia dele:

— Kurt... se ela voltar...

— Ela não vai nos pegar, Remi. Se acontecer, eu digo que fodi com a filha dela porque, ela querendo ou não, me apaixonei por você. – e voltou a morde o lóbulo da orelha dela.

Jane soltou um gemido mais alto.

— shshshsh. – ele sussurrou levando os dedos aos seus lábios. – Não temos muito tempo. Então preciso que você fique quieta. Não podemos chamar a atenção de Roman. Você pode fazer isso por mim, Remi?

Jane abriu a boca para responder, mas antes que qualquer voz saísse, a mão dele deslizou para frente e beliscou suavemente um de seus mamilos a forçando a silenciar as palavras com mais um gemido, baixo e quase mudo dessa vez.

— Muito bom. – a voz dele soou em sussurros de aprovação enquanto roçava a barba em seu pescoço – Essa é minha garota.

Ela fechou os olhos enquanto ele brincava acariciando seus peitos e depois terminou de levantar seu vestido.

— Eu preciso ouvir. Você tem certeza que quer isso? Sua mãe não vai aprovar... – ele disse a encarando.

— Sim, mais que tudo. – a voz dela saiu mais rouca e determinada que esperava.

Enterrando as mãos em seus cabelos enquanto prendia sua boca à dele sentiu seus corpos se fundindo num desejo desesperado por ser saciado. A cada empurrão do corpo dele dentro dela, Jane sentia o quanto os dois eram perfeitos juntos, mesmo quando jogavam sujo e baixo, na hora e lugar errados. Ela o deixou assumir a liderança, não queria nem precisava disso nesse momento. Ele aceitou conduzindo o ritmo puxando-a pela cintura cada mais rápido e mais forte. Ela era dele. Kurt Weller. FBI. O homem que mudou sua história e em quem ela confiava para fazer o certo, seja no trabalho seja em cima dessa mesa.

E, como sempre, ele não a decepcionou.

Quando tudo terminou, suados e ofegantes, eles se entreolharam e sorriram ambos um pouco encabulados e buscando lidar com o que fizeram.

— Tô perdoado? – Kurt disse ainda fazendo carinha de súplica.

— Definitivamente está! – ela respondeu rindo. – E agora estou com fome. Vou precisar comer aqueles salgadinhos.

Os dois se arrumaram e foram até a janela observar os carros que deixavam o evento. Jane pareceu preocupada:

— Ele foi zipado, mas é confiável? Todas as pessoas reunidas aqui essa noite não exatamente exemplares.

— Não temos escolha. O lado oportunista dele não vai perder a chance de se tornar um herói.

— Você está certo. Quanto mais aliados, mais cedo terminaremos isso. Talvez possamos até comemorar o primeiro aninho do Ben com uma festa.

— Tenho certeza que sim. – ele disse seguro.

Ela absorveu suas palavras entendendo que, mais uma vez, seu lado protetor falava mais alto que a racionalidade tentando por a segurança dela e dos filhos possível de ser vislumbrada num horizonte próximo. Seu Kurt era deliciosamente um marido incorrigível.

Pouco depois Weitz e seus amigos chegaram. A conversa foi longa e difícil, mas ele se mostrou decidido a ajudar. Só havia um caminho agora nessa reta final para vencer Shepherd e Madeline: a Casa Branca.


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Notas finais do capítulo

Imenso, né?
Esse foi um dos capítulos que me deixou mais insegura na hora da postagem por não conseguir ter uma noção concreta sobre como o leitor captaria o que tentei passar. Então, se puder compartilhar suas impressões comigo, agradeço. E não falo apenas de percepções positivas, viu? Se você não gostou por qualquer motivo, expresse sua opinião para que eu posso pensar melhor sobre isso.
Como sempre, agradeço imensamente a cada um de vocês que segue comigo nessa história até aqui. Muito, muito obrigada!



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