Oblivion escrita por Lucca


Capítulo 10
Tentando desfrutar a paz - parte II


Notas iniciais do capítulo

As coisas entre Kurt e Jane não caminhavam bem.
E, às vezes, é preciso chegar ao fundo do poço para compreender que tudo que precisavam fazer era escalar de volta à tona.

Boa leitura.



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Assim que ela saiu, ele passou as mãos pelo cabelo tentando aliviar a confusão que se instalou dentro de si. Ele nunca a tinha visto tão sombria e ríspida. Seria sobre isso que Reade alertara? E porque ao invés de se sentir decepcionado ou bravo, sentia-se culpado como se, na verdade, tivesse ferido Jane? Ela estava com raiva, isso podia ser lido claramente nas suas reações.  E sequer tentou argumentar de forma negativa a partir do momento que ele citou Clem. Se ela foi, é porque era isso que realmente queria, não era?

Ouviu o som do motor do carro sendo ligado e depois se afastando. Era tarde pra fazer qualquer coisa. Melhor ir pra cama e tentar adormecer. Foi o que ele fez.

Mas se deitar foi inútil. O sono não vinha. Sequer era capaz de fechar os olhos. Pensar que Jane estava com Clem agora era devastador. Se levantou e foi pra sala. Tentou ler um livro de seu autor preferido que tinha levado para o  final de semana. Todos diziam que essa era sua melhor obra literária. Mas nenhuma linha o prendia. Acompanhou as horas passando: meia noite, uma, duas, três da manhã e nada de Jane voltar. Por que ele estava esperando? Ele a tinha empurrado para os braços de Clem e agora queria que ela voltasse sem que nada tivesse acontecido entre os dois? Inferno!

De repente, um barulho baixo lá fora na varando chamou sua atenção. Ele achou melhor verificar. Pegou sua arma e abriu a porta devagar. A medida que seu campo de visão foi ampliando, viu Jane sentada sobre uma das pernas na cadeira suspensa olhando para a escuridão da noite e segurando um copo na mão.

Kurt sabia que já tinha sido visto. Mesmo que seu ego o mandasse voltar para dentro, alguma outra coisa o empurrava para fora, na direção dela.

Chegando mais perto, viu a garrafa de uísque no chão, já faltando algumas doses. Ela não olhou pra ele. Parecia fria e distante de tudo.

— Não te ouvi chegando... – ele arriscou dizer.

Um sorriso sarcástico se formou no canto do lábio dela:

— Eu não saí.

“Ela não saiu. Estava ali o tempo todo. Então, não esteve com o Clem.” Enquanto repetia tudo isso para si mesmo, uma estranha alegria se formava dentro de Kurt, mas isso foi rapidamente dividindo espaço com tantos outros sentimentos que não o deixavam saber como agir.

— Papai... – a vozinha de Bethany em pé na porta coçando os olhinhos chamou a atenção do casal.

Jane, delicadamente, empurrou a garrafa de uísque com o pé, escondendo-a atrás do vaso de flor e colocou o copo atrás de sua perna. Não queria que a enteada a visse bebendo.

A criança não estava totalmente acordada. Kurt a pegou no colo.

— Eu quero a tia Jane... – Bethany disse chorosa.

— O papai está aqui, meu amor. Venha, eu durmo com você. – Kurt disse ninando a filha que já se deitou no seu colo.

— Estamos todos aqui, Bee. Pode dormir... – Jane disse suave tentando tranquilizar a criança.

Jane amaldiçoou a si mesma porque não se aproximaria da criança cheirando álcool e, provavelmente, Kurt usaria isso para manter a filha distante dela.

Assim que a porta se fechou atrás de Kurt, Jane deixou que as lágrimas corressem por seu rosto. Parecia não haver mais esperança pra eles. Como um dia que começou tão bom podia ter terminado assim?

Pouco depois Kurt reapareceu na varanda e ela, rapidamente secou as lágrimas. Ele se aproximou e estendeu a mão para ela:

— Está tarde e muito frio. Você precisa entrar. Venha, eu vou te ajudar. – ele disse seco.

— Eu não preciso de sua ajuda. – ela respondeu firme. – Ah, você está zipado e não se lembra, não é? Então vou esclarecer: é preciso muito mais do que algumas doses de uísque pra que eu não seja capaz de cuidar de mim mesma! Eu também não beberia a ponto de não poder estar bem o suficiente pra ajudar minha família se precisassem. E já que estou esclarecendo algumas coisas sobre mim que você não se lembra, também não sou um objeto que você possa oferecer a outro homem. Olha que interessante, o ZIP te fez somente você se esquecer de mim, eu mesma não te reconheço mais Kurt!

— Amanhã conversaremos, Jane.

— Não. – ela disse e ficou em pé e depois pegou o copo e garrafa pra ir até o marido. – Eu lutei muito para encontrar o meu final feliz, Kurt. E se você não puder mais fazer parte dele, isso não vai me impedir de continuar. Só quero que você saiba que jamais vou deixar que afastem meus filhos de mim novamente.

— Eu não te afastaria de Ben, Jane.

— Ben e Bee, Kurt. Eu a amo, sabia? E não é só porque ela é sua filha.

— Jane, está tarde. Eu não vou discutir isso com você agora.

Ela respirou fundo. Já disse o que queria. Evitar maiores atritos era o melhor. Passou por ele rápido, deixou a garrafa e o copo sobre o frigobar e foi para o quarto de solteiro deixando seu corpo cair sobre a cama. Ficou ali entre cochilos, reflexões e uma terrível dor de cabeça até o dia amanhecer.

O novo dia trouxe ainda mais dúvidas. Ela devia ter sido mais compreensiva. A conversa com Kurt não seria fácil. Precisaria estar o mais centrada possível. Resolveu começar com um bom banho. Ainda estava no chuveiro quando ouviu a movimentação dele pelo chalé e pensar em viver sem isso, sem a presença dele doía demais.

Alguém bateu na porta e depois Jane ouviu as vozes de Patterson e Tasha. As duas cochicharam com Kurt, não foi possível identificar o assunto. Alguns barulhos no quarto ao lado, o choramingo de Bee e o silêncio voltou. Elas levaram as crianças para o outro chalé. Jane respirou fundo olhando sua imagem refletida no pequeno espelho do banheiro. Era melhor que as crianças não estivessem ali durante aquela conversa.

Vestiu uma calça jeans e blusa de malha de mangas longas. Respirou fundo já com a mão no trinco da porta. Ela já havia enfrentado tantas situações difíceis, mas com Kurt sempre doía mais.

Quando ela entrou na sala, ele estava de costas, no mini bar do canto.

— Olá. – disse segura.

— Bom dia, Jane. – ele se virou para ela com a caneca de café na mão. – Fiz isso pra você. Achei que estaria precisando.

Ela concordou com um gesto lento da cabeça. A dor não a deixava ser rápida. Pegou a caneca e sorveu um gole do líquido quente.

Kurt pegou outra caneca para si mesmo e, então, enfiou a mão no bolso a procura de algo.

— Eu tinha me esquecido. Tenho isso aqui. – disse oferecendo uma cartela com comprimidos para dor de cabeça.

Jane suspirou de leve com os olhos fixos na oferta. Era tão ele esse gesto de zelo e cuidado com ela.

— Obrigada. Mas já tomei um antes de entrar no banho.

Ele parecia não saber como começar, mas por fim falou:

— Se você achar melhor, posso sair dar uma volta e conversamos mais tarde quando... – e passou o dedo na lateral da própria testa para demonstrar – quando a dor melhorar.

— Estou bem, Kurt. Posso fazer isso. Acho que nós dois precisamos fazer isso o quanto antes, não é?

— Sim, você está certa.

— Ok, eu começo. – e inspirou forte. – Sei que não tem sido fácil pra você. Mas não tem sido fácil pra mim também. Sua ideia de vir até aqui foi ótima. Ontem o dia teve momentos muito bons, mas também momentos difíceis pra mim. Roman está tendo muita dificuldade em dividir Miguel com Reade. Ele é meu irmão, quero ajudar e acabei não conversando com você quando percebi que estava chateado. Por favor, me desculpe. Quanto à Clem, não tenho qualquer interesse nele, mas nada do que eu diga o faz parar de tentar. Por isso não digo mais nada. Sempre que ele insiste, me calo. Se você ouviu, deve ter percebido isso. Se foi isso que te magoou, sinto muito, mas não acho que devo me desculpar porque não fiz nada que contribuísse para a situação. Agora, sobre as decisões que você tomou ontem à noite, já te disse tudo o que penso.

— Uau. Você sabe bem como expressar seus sentimentos. Eu vou tentar  ser claro, mas tenho bem mais dificuldade com as palavras...

— Eu sei. – ela o interrompeu triste. – mas de alguma forma, a gente sempre conseguia alcançar o que o outro está sentindo. Talvez dê certo, mesmo que dessa vez a sintonia não nos aproxime...

Ele balançou a cabeça de forma assertiva e começou:

— Bom, nosso dia teve realmente bons momentos. Sempre é bom estar com você e nossos filhos. E sim, muitas coisas que vocês contam me deixam confuso. Nos relatos aparecem atitudes que passam muito distantes do eu sempre pensei e da forma como sempre agi. Clem é um ponto crucial nisso. Hoje eu não aceitaria algo assim.

— Você nunca aceitou, Kurt. Não foi assim que as coisas aconteceram. Eu não tive um romance com outro homem enquanto estávamos juntos. Pra ficar comigo, você compreendeu que precisava entender que eu não era mais Remi, mas uma nova pessoa. Para sermos felizes juntos, só existia um caminho: deixar o passado no passado. E quando nos reencontramos, era só isso que Clem era: passado.

— Faz sentido. Afinal, o que existia no passado para nós dois, dor e culpa? – ele disse com um sorriso triste. – Eu soube o tamanho do meu erro quando vi seu rosto se transformar na minha frente. Você parecia fria e distante, mas algo me dizia que eu estava te machucando... Infelizmente não tive tempo nem pra processar meu pensamento e você já tinha saído. Eu não te conheço, Jane. Essa madrugada me provou isso. Te encontrar na varanda foi surpreendente pra mim. E... apesar do uísque...

— Kurt, eu juro que nunca antes tinha bebido assim na frente das crianças. Nem de Bethany, nem mesmo de Avery. Quanto a isso eu te devo desculpas. Apesar de não ter consumido nada que influenciassem meu autocontrole, eu devia ter me afastado mais... Eu só não queria ir pro outro chalé...

— Eu sei. Entendi tudo isso quando te encontrei ali. E sei que parte da culpa daquilo era minha. Por favor, me desculpe. Agi como um idiota. Estou aprendendo a te conhecer e... bem, estou entendendo melhor a confiança que compartilhávamos. Você é diferente de qualquer pessoa que já conheci. Mais uma vez me desculpe, nosso dia não precisava ter terminado assim.

Jane fechou os olhos enquanto o ouvia falar. Era tão bom e ao mesmo tempo tão difícil ter Kurt, o seu Kurt ali na sua frente. O Kurt que ela conhecia. O Kurt que a fez olhar o mundo com outros olhos. O Kurt que a fez lutar com tudo que tinha para ser uma pessoa melhor. Ela enfrentou sua família, seus valores, colocou sua própria vida na linha para conquistar simplesmente a amizade dele, para não decepcioná-lo, para merecer a confiança que um dia ele depositou nela. E talvez agora ainda pudesse restar pelo menos essa amizade e, por mais que doesse não poder ter nada além disso, já era algo bom e que poderia manter a felicidade de seus filhos.

— Jane, está tudo bem? – ele a chamou de volta de seus pensamentos.

— Sim... Só estou me sentindo aliviada por estarmos conversando sobre tudo isso sem novos atritos. Quero aproveitar pra te pedir desculpas também se alguma vez te fiz se sentir pressionado a ficar comigo. Kurt, sua amizade vale muito para mim. Se conseguirmos conviver bem, mesmo que não estejamos juntos, já será realmente muito bom. Sei que sentimentos não são automáticos e que esquecer do passado pode alterá-los...

— Eu nunca me senti pressionado a sentir qualquer coisa por você, Jane. Fique tranquila. – e então ele sentiu que deveria aproveitar o momento para colocar na mesa todas as suas dúvidas - Mas preciso te fazer uma pergunta: seus sentimentos por mim mudaram depois de tudo isso? Você está se referindo a amizade e acho que um casal não deve estar junto só por isso.

Jane não entendeu o motivo da pergunta, mas sabia que ele merecia uma resposta forjada na verdade de tudo que ela sentia, mesmo que isso lhe custasse um pouco do seu ego ferido desde a noite passada. Ela não fugiu dos desafios que a vida lhe impôs e não deixaria de dizer isso olhando nos olhos dele:

— Eu te amo mais que tudo, Kurt. O que eu sinto é tão forte que eu aceitaria a sua amizade se isso fosse o que te fizesse feliz.

Um sorriso se formou no rosto dele e o coração pulsava tão forte em seu peito que todo o resto parecia indiferente. A vontade de puxá-la para seus braços era imensa. Jane leu isso no seu olhar e, a medida que ele se aproximou, colocou a mão pedindo distância e disse:

— Por favor, eu preciso te perguntar uma coisa: se você não se sente pressionado, porque você se afastou de mim depois que fizemos amor? – ela tentou parecer firme, mas a última palavra saiu trêmula e isso o sensibilizou ainda mais.

Quando ele começou a falar, já sabia que as lágrimas acompanhariam tudo que tinha a dizer:

— O que eu sinto por você é tão forte, Jane, que me assusta. Seja lá o que for que o ZIP tenha feito na minha cabeça, esquecer de tudo não mudou o quanto eu te amo.

Ela olhou pra ele com os olhos também cheios d’água e estendeu a mão para alcançar a sua. Kurt se aproximou determinado a não deixar mais nada interrompê-los e buscou os lábios dela. Foi com calma, de forma lenta e doce buscando com a delicadeza cuidar daquele amor que estava tão ferido. As canecas de café ainda estavam em suas mãos e impediram que o beijo se prolongasse. Quando pararam, Jane recostou sua testa na dele e fechou os olhos:

— Por favor, me diz que isso é verdade. Não quero que seja só um sonho por efeito do uísque.

— Hmm, isso exige um teste – e pegou a caneca de café da mão dela, colocando junto à dele no barzinho. Voltou e tocou de leve a fonte dela – Ainda dói aqui.

Ela fechou os olhos ao toque dele e disse:

— Um pouco...

— E se eu fizer isso... -  e deu um leve beijo – melhora?

— Muito...

— Então, acho que você está de ressaca e bem acordada. Mas eu posso te ajudar a fazer isso passar.

Jane abriu os olhos e mordeu o lábio inferior:

— Será?

Ele ficou olhando para ela sem fazer nada, apenas sorrindo:

— Kurt...

— Você estava com uma blusa vermelha. Seu cabelo era mais curto. Eu não sabia o que você ia dizer quando começou. Então, de repente, você me olhou e disse “eu também te amo, Kurt...” e abaixou o olhar não esperando nada de mim. Seu rosto tinha hematomas, mas mesmo assim não te beijei com o mesmo cuidado de agora porque era forte demais pra eu segurar...

— Você se lembra ... – ela disse extasiada, quase em choque diante de uma vaga lembrança que ele relatava.

Atônita, Jane não conseguiu se conter e avançou sobre os lábios dele num beijo intenso que ele se negou a quebrar enquanto a puxava até o sofá.

Sentando-se a puxou para o seu colo. Os dedos de Jane se afundavam em seus cabelos enquanto seus lábios pareciam querer devorá-lo.  Quando ela precisou fazer uma breve pausa, Kurt colocou a mão sobre seu peito para detê-la um pouco mais e disse:

— Nossa, eu ganho tudo isso por um flashback. E se eu te contar que, na recepção, eu também me lembrei de você. Seu cabelo estava longo, o apartamento estava vazio e eu disse que você poderia ficar se quisesse e você sorriu e disse que queria.

Jane olhou para cima querendo parecer pensativa e, de repente, tirou a própria blusa e olhando sedutoramente para ele.

— Uau! – Kurt disse e segurou forte no quadril dela a puxando para ainda mais perto. Seus lábios pousaram sobre o pássaro no pescoço de Jane para depois começar a descrever uma trilha de beijos por sua clavícula.

Então, a afastou e com olhos piedosos, disse:

— Preciso confessar uma coisa: foram só esses dois flashbacks. Nunca odiei tanto a eficácia do ZIP.

Jane fez uma cara falsa de decepção. Correu as mão pelo dorso dele, depois desceu pelo abdômen até alcançar seu pênis já lutando contra o tecido do boxer e da calça de moleton. Dando um leve aperto, ela disse:

— Hmmm, acho que teremos que voltar a premissa de deixar o passado no passado e sermos felizes agora, no presente.

Num impulso, ele a levantou e a jogou no sofá, deitando-se sobre ela. Jane soltou uma gargalhada e rapidamente tratou de livrá-lo da camiseta que usava. Após um breve selinho, Kurt olhou profundamente nos olhos dela:

— O som do seu riso aquece meu coração, sabia?

Os olhos de Jane ficaram vidrados com as lágrimas que se formaram, mas ela se manteve firme para não deixar nenhuma delas rolar. Era o riso dela que ele queria e foi isso que ela estampou no rosto para dizer:

— E basta você me olhar desse jeito para me ganhar a cada minuto por toda a minha vida!

Seus lábios se encontraram para um beijo sem pressa e sem medo. Havia muita saudade para os dois saciarem e maior que ela, só o amor que compartilhavam.

Após desfrutarem aquele momento por alguns minutos, Kurt se levantou e puxou Jane consigo. Abrançando-a por trás e, enquanto beijava seu pescoço, a conduziu para o quarto de casal.

Assim que entraram, ela se virou para começar um novo beijo, mas ele a deteve:

— Espere.

Ela acatou seu pedido. As mãos de Kurt foram até o cós da sua calça soltando o botão e abrindo zíper. Deslizou a peça pelas pernas dela e, em seguida, aproximou-se e, enquanto beijava suavemente sua clavícula, desbotoou seu soutien, livrando-a dessa peça também. No instante seguinte, ele tirou sua calcinha, deixando-a completamente nua à sua frente. Então envolveu seu rosto com a mão e, deslizando o polegar suavemente pela bochecha dela, disse:

— Eu quero fazer isso bem devagar, ok?

Jane assentiu com um sorriso e ele se aproximou encostando suas testas antes de beijá-la novamente.  Depois voltou a se afastar e começou a deslizar seus dedos suavemente pela pele coberta de tinta de sua esposa. Às vezes, seguia o contorno das linhas ou então criava seu próprio traçado, seus olhos fixos em cada detalhe e os olhos de Jane completamente cativos no rosto dele.

Naquela noite de problemas na qual se encontravam mergulhados, o toque de Kurt era como o sopro de uma brisa suave de verão: quente, calmante, aconchegante. Não era só sua pele que ele tocava, sua alma incendiava com aquilo.

Kurt também estava decidido a deixar a escuridão de tudo que não se lembrava. Jane seria sua estrela guia e não se importaria com mais nada que qualquer um dissesse. Lutaria por ela, por eles: sua família. Seus olhos corriam por cada detalhe da pele e do corpo dela. A cada lembrança que roubaram dele, colocaria uma nova em seu lugar.

Quando seus olhos já tinham vasculhado cada centímetro dela, chegou o momento dele também se despir por completo e puxá-la para perto de si. Bastava de distância entre os dois.

Poder sentir o corpo do marido junto ao seu sem qualquer coisa para separá-los, nem mesmo um tecido sequer, era o que Jane mais queria. Aquele contato era irresistível à ela. Claro que poderia esperar o tempo que fosse necessário até Kurt finalmente puxá-la para si, mas a cada toque, a necessidade disso cresceu e cresceu dentro dela. E ver a suavidade expressa no rosto dele enquanto a olhava foi tão bom. Ele estava tão relaxado e diferente do Kurt do último mês com os músculos contraídos pela tensão dos problemas.

Quando se deixaram cair na cama, a troca de beijos e carícias continuou num ritmo lento e delicado, procurando dar tudo que o outro merecia. Em instantes, o mundo ao redor deles não existia mais. Os dois eram movidos apenas pelos tons dos gemidos que ressoavam pelo quarto, impossíveis de serem contidos. E seus corpos dançavam no ritmo lento daquela música que só os dois conheciam.

Jane, um pouco mais alerta, evitava deixar qualquer peso sobre a perna ferida de Kurt. Seus dedos correram suavemente pela pele recém-cicatrizada, antes de deslizarem pela virilha dele enquanto distribuía beijos pelo seu peito. As mãos dele também não cessavam as carícias. Quando finalmente encontrou o momento de cobrir os seios dela de beijos, dedicou ainda mais tempo a isso. A cada som que ela emitia, confirmando que aprovava seu toque, mais e mais ele sentia vontade de sugar e mordiscar seus mamilos. Assim ela se viu levada por uma revoada de borboletas que se agitavam dentro dela e também cobriam todo o seu céu. Seu paraíso tinha um nome: Kurt Weller e ela permitiu que esse nome escapasse de lábios muitas vezes como suplica e agradecimento.

Seguiram assim, levando o outro até o limite e depois recuando para evitar chegarem ao ápice sem estarem completamente fundidos um ao outro. A noção de tempo de perdeu e só o pulsar forte do desejo é que contava.

Quando finalmente ele se empurrou para dentro dela, fechou os olhos para senti-la por completo envolvendo-o. E não foi só físico. Kurt sentiu o quanto amava e confiava na sua esposa. Jane era como um cometa que o arrancou de sua órbita e o arrastou para a vastidão de um outro universo. Com certeza, ele não era o mesmo junto dela e nem queria ser porque nada nem ninguém foi capaz de fazê-lo se sentir tão pleno, tão leve e tão forte.

A sensação do aperto firme do sexo dela ao redor dele era tudo que Kurt precisava para saber que era hora da delicadeza dar lugar a intensidade. Hora de deixar esse amor que compartilhavam explodir batendo forte contra ela. E quanto mais forte os dois impulsionavam seus corpos um conta o outro, mais resistiam ao orgasmo que queria assaltá-los. Ficaram muito tempo afastados para deixar que tudo terminasse tão depressa. Olhos nos olhos, corpos respondendo a cada movimento, eles seguiam compreendendo e compartilhando o que o outro sentia.

De repente, um gemido forte escapou dos lábios de Jane. Ela estava quase lá. Um sorriso malicioso se formou no rosto de Kurt enquanto repetia o mesmo movimento anterior para enlouquecê-la. E bastou mais dois movimentos assim para que os dois chegarem ao ápice juntos, felizes e realizados.

Com seus corpos satisfeitos e os corações repletos de felicidade, eles se abraçaram e se entreolharam.

— Vamos dormir um pouco. A noite foi difícil para nós dois. Precisamos descansar para sua dor de cabeça não voltar. – ele disse depositando um beijo sobre a testa dela.

Jane deixou escapar um suspiro e um olhar amedrontado:

— Você pode dormir. Talvez precisem de nós com as crianças... – ela disse com a voz um pouco trêmula.

A mão dele alcançou seu queixo e seu olhar doce, pediu:

— As crianças estão bem. Por favor, me conte o que está te incomodando, Janie.

Ela fechou os olhos por um breve momentos enquanto seus braços se apertavam ao redor dele:

— Eu... eu não consigo me livrar dessa sensação que tudo será tirado de mim de novo... E se eu dormir e quando acordar você não estiver aqui?

Ele estreitou o aperto ao redor dela, seu coração navegando por cada palavra que ela disse e compreendendo o quanto precisava ser sua âncora naquele momento:

— Ainda temos que lutar muito lá fora, Honey. Mas aqui dentro tudo está em ordem. Ainda estarei aqui quando acordar, eu prometo. Mas a única forma de provar isso à você é se adormecer agora. – e começou a dançar com os dedos nos cabelos dela.

Um sorriso confiante se formou no rosto de Jane. O peito de Kurt era seu travesseiro favorito e sua respiração entrelaçada as batidas de seu coração o convite perfeito ao sono. Seus olhos foram ficando pesados até se fecharem.

A respiração compassada dela aqueceu o coração dele. Tudo o que sentia por ela era recíproco: a confiança, o amor, o comprometimento. E isso os tornavam ainda mais forte. Finalmente podia também se entregar ao sono. Seu mundo reencontrou a órbita perfeita: Jane.


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Notas finais do capítulo

Felizes ou decepcionados?
Deixem-me saber o que acharam desse capítulo aqui nos comentários. Vocês não fazem ideia do quanto isso é importante com incentivo para continuar a história.
Muito obrigada pela leitura.



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