O Sol e A Lua escrita por Luana de Mello


Capítulo 27
Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas queridas do meu coração!!!!
Quanto tempo, não?!
Pois é, e hoje pela primeira vez em muito tempo, vou conseguir postar um capítulo que já estava planejado há tempos.
Antes de contar algumas coisas a vocês, quero agradecer de todo coração a todos que ainda acompanham, que comentam e mandam mensagens, e que ainda esperam pelas atualizações, sério gente, vocês são tudo e moram no meu coração, acreditem quando eu digo que só escrevo por vocês; então muito, muito obrigada!!!
Agora eu gostaria de contar a vocês, por que acho justo que saibam, que eu não estou conseguindo postar nada de nada, pois agora minha gente, eu tenho a tarefa mais importante da minha vida em andamento... chan chan chan:

EU SOU MÃE!!!!

Isso galerinha, descobri a gestação em janeiro do ano passado, depois de muito tempo desejando e ter passado por um aborto como vocês sabem, eu finalmente consegui. Foi uma gestação um pouco complicada, tive pressão alta e alguns incômodos mais, e até covid peguei; então mesmo comigo morrendo de vontade de escrever e publicar algo, eu não conseguia. Finalmente em setembro minha Mikaela nasceu, muito saudável e gordinha, graças a Deus, e agora completamos 4 meses juntas cara a cara, as coisas estão começando a tomar forma na nossa vida, e eu estou começando a conciliar a maternidade com as minhas muitas tarefas, e entre elas estão as minhas fics; por fim, hoje consegui um tempinho pra terminar de editar esse capítulo e voltar a me conectar com vocês.
Espero que me perdoem pela demora, pela falta de explicação e sumir assim; volto a agradecer a todos e cada um de vocês, e quero dizer que não desisti de escrever, apenas estou fazendo tudo conforme dá, não sei quando vou postar novamente, mas espero que logo.
É isso, tomara que vocês gostem do capítulo e disfrutem da leitura tanto quanto eu disfrutei escrever, foi feito com muito carinho pensando em vocês!!
Beijos e até o próximo!!!!



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No final de uma tarde comum de verão, Konoha estava tão movimentada quanto poderia estar, talvez mais até que em outros dias normais, e tudo se devia ao tão falado Exame Chunnin; apesar do calor que não dera trégua o dia todo, e do tumultuo das grandes multidões que se apinhavam pelas ruas do comércio, os moradores ainda aceitavam o desafio de sair de casa e fazer algum programa em família, casais passeavam de mãos dadas e senhoras de mediana idade se sentavam as portas de casa, para assistir o movimento, aquela seria outra noite que o mercado fecharia tarde. Por ser uma Vila muito maior que as outras pertencentes ao País do Fogo, Konohagakure e seus moradores tinham em sua tradição popular, um certo gosto por festivais e eventos em geral, gostavam de demonstrar que seu vilarejo era capaz de receber tantas pessoas quanto viessem, e que eram grandes por isso; algo comum e simplório, mais que tornava a vida ali um pouco mais divertida e animada que em outros lugares.

Por isso mesmo, naquele dia festivo que marcava o primeiro dia dos exames, a população saíra às ruas como se fossem enxames, todos queriam comentar e especular sobre os times que participavam, sobre quais senseis teriam preparado melhor seus alunos e quem seria o destaque daquele ano; e quando o primeiro anúncio fora feito pela comitiva de assessoramento do Sandaime, a barulhenta Konoha caiu em silêncio, muitos riram pensando que era uma brincadeira, outros que conheciam um pouco os boatos ressentes logo disseram que era previsto, outros se surpreenderam ao ponto de não conseguir fazer uma única expressão. A notícia de que um time de Konoha terminara a travessia pela Floresta da Morte antes que qualquer outro, fora recebida com aplausos e vivas, e quando fora dito que o time em questão havia completado a prova em quarenta minutos, algo que nenhum habitante jamais ouvira dizer, nem mesmo nos tempos do Presa Branca, ou do Yondaime, tal feito nunca ocorrera; então o impacto maior recaiu sobre todos, alguns que ainda demonstravam abertamente seu preconceito e ódio, decidiram que seria melhor se calar, aqueles que haviam sido tocados e cativados pela verdade, se emocionaram e deixaram cair lágrimas de alegria e orgulho, quando o time Deltha, composto por Hyuuga Hinata e Uzumaki Naruto, fora anunciado como o primeiro time a concluir o Exame no menor tempo de todos os anos.

A transmissão das notícias durara apenas dez minutos, logo em seguida os times dez e nove de Konoha, foram anunciados como o segundo e terceiro lugar a concluir a prova, para completo deleite dos moradores, que viam pela primeira vez em muitos anos, a Vila da Folha sobressair às outras Vilas; estavam tão eufóricos, que comemoraram também, diante do quarto lugar, pertencente ao time de Sunagakure. As pessoas se juntaram em grupos para falar aos quatro ventos, sobre aqueles valiosos Genins de Konoha, dizendo que era natural o time Ino-Shika-Cho ter conseguido aquele feito, já que a força daquele time, vinha de muitas gerações, e estavam realmente contentes com o terceiro lugar do time nove, dizendo que apesar de ter dois integrantes estrangeiros, os garotos eram tão moradores da Vila, quanto eles; comentavam e comentavam, e então voltavam a falar da sensação do momento, a surpresa impressionante daquele ano, e logo alguns mais emocionados, começaram a gritar em meio a praça, que por serem somente uma dupla, o time Deltha deveria ter habilidades excepcionais e que seriam o fenômeno insuperável pelos próximos anos, e que não poderiam perder as lutas finais na arena.

Aquele clima agradável e festivo, foi acompanhado por música alta e risadas, ninguém pretendia ir para casa tão cedo, os baristas e restaurantes aproveitariam o embalo, para rechearem suas caixas registradoras, e os artistas de rua, se beneficiariam da felicidade e bom humor de todos para aumentar os ganhos de sua noite; foi assim que, caminhando por entre tanta gente, duas mulheres tentavam abrir caminho sem soltar a mão de suas crianças, acabavam de voltar de uma visita e não esperavam encontrar as ruas tão cheias. Apesar de que pretendiam ir para casa, a cada conhecido que encontravam, elas também comemoravam e festejavam as boas notícias, e nessa continua comemoração, a noite desceu completamente sob Konoha. Haviam se demorado demais na rua, não pretendiam estar fora tanto tempo e ainda mais até altas horas da noite, se seus esposos não estivessem trabalhando até o outro dia, estariam em problemas; tentando chegar em casa antes que os vizinhos mais conservadores começassem a fofocar, e antes que ficasse muito tarde para pôr Moegi e Udon na cama e fazê-los acordar cedo no outro dia, ambas decidem pegar um atalho para encurtar seu caminho e evitar as multidões. Em outro dia, teriam encontrado tal ideia perigosa, mas com tantos ninjas de alto nível andando pela Vila, batedores de carteiras e outros ladrões menores haviam se escondido em suas tocas, preferindo não se arriscar pelos próximos dias; por isso Saoki e Rya se sentiram seguras para andar por ruelas mais estreitas e escuras. Quando estavam a duas quadras de casa, passando pelo último estreito beco, antes de sair novamente na rua principal, e com os últimos metros bem diante de seus olhos, elas automaticamente apressaram seus passos, ansiando por voltar a caminhar sob a luz, sem ter nenhum bicho estranho rastejando por seus pés; seu foco era, por algum motivo que desconheciam, chegar até o outro lado o mais rápido possível, e portanto, não estavam realmente prestando atenção aos arredores, nenhum dos seus sentidos parecia funcionar perfeitamente. Quem o viu primeiro, fora Moegi, que deixara de caminhar imediatamente, logo Udon também, ambas crianças ficaram petrificadas sem conseguir emitir nenhum som, os olhos vidrados e rostos aterrorizados, sentiam as lágrimas descendo por suas bochechas rosadas, queriam correr dali, mas não conseguiam; sem entender a reação dos dois, as mulheres também param com a intenção de ver o que acontecia, pensaram num primeiro momento, que haviam se machucado ou sido mordidos por alguma ratazana, mas elas logo encontram a resposta.

Instintivamente as examinam preocupadas, buscando possíveis problemas, e encontram seus filhos com o “Olhar das Mil Jardas”, e ao seguir a direção que as crianças fitavam sem parar, viram uma cena que fez o sangue fugir de seus corpos, ali em meio a sacos de lixo amontoados e entulhos de todos os tipos, estava o que parecia ser um corpo humano, suas roupas rasgadas e a pele retalhada em alguns pontos; parecia estar muito ferido, e o som tenebroso que fazia ao se mexer, causava náuseas e repulsa, e mesmo sentindo tanta aversão, ambas sabiam que deveriam ajudá-lo, levá-lo ao hospital pelo menos, era o certo a se fazer. E por mais que pensassem isso, o medo não as deixava agir, algo no fundo de seu ser gritava desesperadamente para saírem dali, e que deviam fugir e se esconder; logo entenderam porquê, ao ver o estranho corpo mover os braços ensanguentados, e sem fazer esforço arranca a pele de seu rosto, como se fosse feita de papel, revelando um rosto serpentino quase lívido, então já não podiam mais correr, como se soubesse de sua presença desde o início, a coisa olhou em sua direção calmamente e então abriu a boca em meio a um sorriso malvado, uma espada cortou o ar da noite silenciosamente, sem deixar tempo para que um único som fosse professado.

***

Em uma tranquila e quase desabitada enfermaria, que ninguém poderia dizer que se encontrava há muitos metros abaixo das ruas movimentadas de Konoha, Hinata trabalhava arduamente, suas mãos habilidosas não pararam de se mover desde que chegaram ali, no início da noite do dia anterior; seus olhos, que nada deixavam de ver, perscrutavam cada centímetro de pele, cada veia e cada artéria, e uma por uma, ela as ia restaurando. Tão concentrada como estava, não percebia que por vezes, seu belo rosto se tornava feroz, e até acabava por assustar seus ajudantes, que imediatamente fitavam os monitores preocupados; sua raiva mal contida, não se devia às lesões críticas da paciente, e sim as lembranças que iam e vinham em seus pensamentos, da covardia sem tamanho que foram testemunhas. Ela, que já sentira na própria pele, o dano físico e psicológico que agressões como as que Sakura sofrera causam, fora quem mais se indignara com a atitude de Sasuke, e a primeira em socorrer a Haruno; Naruto também estava pasmo com o que vira, mas exatamente por isso ficara alguns segundos sem reação, ele nunca esperava que o Uchiha desceria mais baixo ainda, ao ponto de agredir a própria companheira, e por isso Hinata havia sido mais rápida que ele dessa vez. A Hyuuga não perguntou o que estava acontecendo, simplesmente rendeu Sasuke e lhe pagou na mesma moeda, o que ele tinha feito; foi preciso que Naruto interferisse antes que ela acabasse matando o outro, não que o Uzumaki se importasse com o que ocorresse com ele, mas não queria que Hinata sujasse suas mãos com um lixo daqueles. Agora, que o dia já devia ter amanhecido sem que eles vissem, a Hyuuga finalmente terminara de tratar os ferimentos de Sakura, e enviando Sakumo e Naruto para fora da sala, passa a limpar com cuidado o corpo da garota; via o rosto moribundo dela e seus lábios cinzentos com preocupação, mas sabia que agora não havia mais nada a ser feito. Quando chegaram a divisão com ela desacordada, temeram que os danos fossem muito profundos, por sorte o mais preocupante de tudo, fora a quantidade de fumaça em seus pulmões, que depois de interrogarem Kiba, descobrirem ser a causa do plano de Sakura, para derrotar os ninjas do Som; depois de extrair a fumaça e desobstruir suas vias aéreas, Hinata passara a tratar suas múltiplas queimaduras, principalmente as do rosto, e só então focara no tratamento dos cortes, fraturas e demais machucados dela, no final, graças ao Ninjutsu médico de Hinata, cada ferimento fora tratado, deixando apenas as cicatrizes esbranquiçadas como prova de sua existência, maculando a pele alva da Haruno. Quando o corpo de Sakura é finalmente e cuidadosamente limpo, Hinata trata seus cabelos, que ainda permaneciam em tufos embolados em sua cabeça, usando uma tina pequena, ela os molha e limpa, retirando os galhos e folhas que se prenderam, e por fim os penteia; o relógio marcava dez da manhã, quando o trabalho da Hyuuga finalmente fora completado, e Sakura é transferida para um quarto, onde Sakumo e Naruto aguardariam que acordasse. Todos os três estavam cansados, haviam trabalhado o dia anterior inteiro e a noite toda também, mas a preocupação e a urgência de entender o que acontecera, impedia que tentassem pelo menos descansar adequadamente, e por isso um almoço nutritivo e fácil de ingerir, fora levado até onde estavam por Tenzou, que como todos estava ansioso por descobrir o que se passara na Floresta. Estavam presos entre agir preventivamente contra as forças inimigas, e aguardar para ter uma ideia de seus planos, e assim ter algum tipo de vantagem, para compensar o regresso dos últimos dias; os três permaneciam ali, entre monitorar a paciente, escrever relatórios, receber informes e dar novas ordens, quando Kakashi também se junta ao grupo. Sakumo ia perguntar o que ele fazia, quando lembrou que o Hatake era sensei da irmã, e tinha direito de saber o que acontecera também, e assim o trio virou quarteto em silêncio.

— Nii-chan... — Uma voz como um chiado se fez ouvir, captando a atenção daqueles ouvidos treinados.

Quatro pares de olhos se voltaram para a cama, e encontraram a garota acordada, estava visivelmente desorientada encarando o teto, e começava a mostrar sinais de desespero.

— Estou aqui, Sakura! — Sakumo toma sua mão emocionado — Está tudo bem, vai ficar tudo bem!

Ao ouvir a voz do irmão, Sakura tenta se sentar, mas é impedida delicadamente por Hinata, que sorri fraquinho para ela.

— Ainda não, me deixe examinar você primeiro. —Hinata explica tão calma, que parecia estar falando com um bebê.

Logo, passa a escrutinar suas linhas de Chakra, seus batimentos cárdicos, seus olhos e sua garganta, e encontrando tudo se recuperando satisfatoriamente, solta um audível suspiro de alivio.

— Me ajude a sentar ela, Sakumo. — Hinata pede, e com o auxílio do rapaz, coloca Sakura sentada em uma posição confortável e lhe alcança um copo com água — Beba devagar, sua garganta ainda está bem machucada.

— Onde...? — a Haruno pergunta um pouco agitada, depois de seguir as instruções de Hinata.

— Em um posto médico da divisão, está segura aqui. — Sakumo responde aflito, pensando que sua irmã estaria assustada.

— A prova? Fomos desclassificados?! — Ela pede chorosa.

Depois de todo o esforço que fizeram, depois de finalmente tentar de verdade vencer, não haviam conseguido? Nunca seria capaz de fazer algo adequado?

— Não, vocês passaram para a terceira etapa. — Hinata a acalma de pronto.

— Mas não recordo ter chegado até a Torre... — Sakura contesta confusa, lembrava apenas de estar tentando impedir Sasuke de ir com os ninjas do Som — Sasuke fugiu com eles, não foi?

Um medo crescente se embolava em seu peito, nunca havia visto o que ocorria quando um ninja abandona a Vila, mas sabia que depois que alguém saia dessa forma, dificilmente retornava ou era aceito novamente e todos com quem um dia convivera, se tornariam seus inimigos; seu medo também se originava a causa do julgamento das pessoas, tinha plena certeza que todos passariam a olhá-la como se fosse uma traidora também, que sempre desconfiariam dela e que jamais poderia fazer tudo que vinha sonhando ultimamente, seria considerada pelos aldeões, uma pária também.

— Não Sakura, você conseguiu impedi-lo até que a ajuda chegasse. — Naruto, que até então esteve quieto, lhe conta com um grande sorriso, como fazia quando Konohamaru e Hanabi aprendiam algo, para total surpresa da garota — Quando chegamos, contivemos o Uchiha e te socorremos, depois demos um jeito do time sete concluir a prova, já que você e Kiba de fato concluíram o exame.

— Então eu consegui? Fiz o certo dessa vez?! — Ela pede sem conseguir conter o choro, sentindo toda a angustia indo embora — Mas como?

Foi olhando para Kakashi e Naruto alternadamente, que a Haruno descobriu como o “time sete” havia passado nas eliminatórias, imediatamente levou as duas mãos a boca espantada, aquilo seria considerado trapaça, mesmo sendo ela e Kiba quem obtiveram os pergaminhos? Tentando não ficar com esse peso na consciência, ela se foca em outra questão, pensaria em sua nova moral depois.

— Kiba e Akamaru estão bem? — Sakura pergunta, e desta vez, o surpreendido é o sensei.

Aquela menina egoísta, superficial e prepotente havia ido embora, em seu lugar estava uma simples adolescente, uma Kunoichi tentando crescer, e estava genuinamente preocupada por seus colegas, mostrando a todos um lado seu que apenas Sakumo conhecia; já seu irmão, notara a leve mudança, quase imperceptível, mas que ele sabia que tinha um significado profundo, quando ela não quis saber o que aconteceria ou o que acontecera a Sasuke.

— Estão bem Sakura, os dois estão em casa descansando, não se machucaram muito. — Kakashi é quem responde, esperançoso com o novo rumo que a vida da aluna estava tomando — Eles queriam vir te ver, mas como sabe, aqui não é um lugar que possam entrar facilmente.

— Eu sei que deve estar cansada e ainda precisa se recuperar. — Hinata fala novamente, estivera todo o tempo verificando a condição da garota — Mas nós precisamos saber o que aconteceu em detalhes, para podermos agir com segurança, você pode nos ajudar?

— Posso contar o que sei, mas o mais importante quem sabe em detalhes é o Kiba, eu não estava lá quando o Sannin apareceu. — Sakura responde, impactando os quatro com o tanto que sabia — Quando a prova começou, convenci os dois que devíamos ficar o mais perto possível da Torre, e assim poderíamos emboscar alguma equipe e roubar o pergaminho que precisávamos, e deu certo até o ponto em que nos aproximamos de alguma batalha, corremos e nos afastamos da rota.

— Você lembra em que direção foram? — Sakumo questiona, estava anotando tudo que ouvia.

— Era Noroeste, lembro que o sol não estava exatamente a nossa frente. — Sakura conta e toma mais um pouco de água antes de continuar — Depois tentamos voltar a rota, no meio da tarde, Kiba e Akamaru sentiram cheiro de água, decidimos que seria bom ter água e eu fui buscar com Akamaru.

Ela segue contando detalhadamente como Sasuke e Kiba haviam combinado de esperar por ela, como fizerem uma senha e contrassenha, e como encontrara o seu ponto de encontro destruído, com rastros de sangue, indícios de luta e abandonado; Sakura conta como usara Akamaru para encontrar os dois, e como ficara difícil depois da chuva, e que depois que não tinham mais rastro pra seguir, ela apenas fez o que tinham combinado e continuou em direção a Torre, sempre seguindo o caminho das pegadas que a chuva apagara, deduzindo em que sentido iriam. Contou também o relato de Kiba sobre o que acontecera com eles, sobre a aparência de Orochimaru e a mordida que havia dado em Sasuke antes de Kiba os tirar de lá; explica como os ninjas do Som apareceram no final da tarde, os Jutsus que usavam, as coisas que diziam e como tinha engenhado aquele plano mirabolante para ganharem tempo e poder fugir com Sasuke. Quando teve que relatar o que o Uchiha estava dizendo e seu confronto com ele, Sakura estremeceu sem notar, os olhos marejaram e seu rosto ficou pálido; não somente por suas palavras cruéis, seu desprezo evidente e a forma como a atacou implacavelmente, mas por que sabia que se ele estivesse fisicamente em condições, a teria matado.

— Você consegue descrever como eram as marcas que viu no braço dele? — Naruto pede preocupado.

— Posso desenhar. — Sakura fala e pede o caderno de Sakumo emprestado, depois o entrega a Naruto — Eram marcas assim, marcas negras.

— Essas são as marcas da maldição! — Naruto rapidamente reconhece, o coração aos pulos — São iguais as da Anko.

— Mas isso é estranho! — Hinata analisa o desenho — Ele só parecia muito doente, além de estar tendo um surto, Anko tinha dito que essa marca deixa a pessoa muito forte, num primeiro momento, e depois suga quase todo seu Chakra.

Eles então, passam a especular por que aquela marca se parecia a marca da maldição utilizada pelo Sannin, e por que não parecia funcionar em Sasuke da maneira esperada; eram muitas as incógnitas, e nenhuma com resposta imediata.

— Talvez..., mas é algo bem estranho. — Sakura fala, pensando que sua ideia estava errada, mas sentindo a necessidade de falar — Kiba disse que ‘ele’ não mordeu direito, e realmente, quando tratei a ferida de Sasuke, só havia uma marca de presa, não era uma mordida normal.

Esperando que todos rissem de seu pensamento estranho, a Haruno fecha os olhos e torce os lençóis, tentando conter a ansiedade; esperou alguns minutos, mas o riso não veio, então os abriu novamente e encontrou os quatro reunidos, fazendo anotações frenéticas e discutindo a nova teoria. No meio da confusão que as vozes exaltadas deles causavam, sentindo o corpo ficar mole e entorpecido a causa dos medicamentos, Sakura viu apenas seu irmão a olhando ternamente e logo sorrindo grande em sua direção; então soube que sua parte fora cumprida, um alivio que nunca havia sentido, invadiu seu coração, e pela primeira vez na vida, ela soube o que significava ser necessária, e a sensação viciante da primeira vitória. Deixando que ela descansasse, os quatro se colocam a trabalhar com a hipótese de que a marca da maldição não estava completa, tendo o fator da mordida como principal condicionante para efetivamente se conclua o ritual, e partem para a elaboração de um novo plano; o que os levava a teoria de que certamente, Orochimaru tentaria completá-la tão logo fosse possível, o que certamente ocorreria antes da terceira etapa dos Exames. Decidiram por fim, como procederiam suas ações a partir daquele momento, agora tendo uma ideia de como seria a aparência atual do Sannin e suas intenções mais imediatas; também poderiam estar mais tranquilos com relação a Suna, com Gaara passando informações dos seus movimentos em tempo integral, agora finalmente tinham voltado a ter controle da situação. Naquele momento de incertezas, saber alguma coisa, já era o suficiente para pelo menos, prever situações que poderiam ocorrer e assim estar um pouco mais preparados; mas por alguma razão ainda desconhecida, tudo que fora descoberto, os deixara ainda mais intranquilos a respeito do futuro da Vila.

Não era o temor por não saber como reagir aos ataques que estavam por vir, mas sim por considerar que sua força atual, não seria suficiente, ainda mais diante das pequenas informações obtidas; quem mais estava abalado com essa perspectiva, era Naruto, que via seus esforços de todos àqueles anos, se reduzindo a quase nada. O jovem Uzumaki estava mais uma vez, se prendendo as suas limitações momentâneas, se cobrando mais do que deveria, e caindo em um desespero quase sufocante; mesmo ouvindo os protestos da raposa em seu interior, que diziam racionalmente que sua evolução estava sendo muitas vezes mais rápida que o normal e que não deveria se abalar tanto por uma condição que seria superada, Naruto não o ouvia, tudo que que conseguia pensar, era no medo que sentia de não ser o suficiente, não ter a força necessária, e mais ainda, de perder tudo aquilo que lhe era precioso. Estava tão abalado mentalmente, que se afastou  das conversas a sua volta, se esquecera da presença dos outros e o que deveriam fazer em seguida, tudo parecia estar ocorrendo em um mundo à parte lentamente, enquanto submergia em sua própria desesperação; quando os demais deixaram o escritório improvisado no quarto, apressados para cumprir e pôr em prática tudo que tinham acordado, Hinata fez com que ele a olhasse imediatamente, estivera todo aquele tempo lhe prestando atenção, e seja graças aos anos de convivência ou aos seus olhos perspicazes, sabia com certeza o que tanto o atormentava.

— Sabe, você não está sozinho. — Ela fala sem rodeios, o pegando desprevenido — Sei que estamos em desvantagem, mas tenho certeza que podemos vencer, por que somos unidos, e isso nos fortalece mais que qualquer Jutsu ou treinamento.

— Eu só não quero ninguém ferido, Hina. — Naruto responde com os olhos marejados, apenas pensar nisso, o deixava desolado — Se fosse uns anos atrás, quando eu não tinha ninguém, quando era sozinho, eu não teria medo como agora!

— Você prefere estar só, pra não sentir medo? — Hinata pergunta, sem esconder o tom de mágoa em sua voz.

— Não! — Naruto quase grita, percebendo que não tinha se explicado direito — Eu trocaria toda minha força, toda minha vida, pra estar com você, com a nossa família, Hina; mas agora que tenho tanto que proteger, estou vulnerável, eu sei e Orochimaru sabe, e sei também que hoje não sou suficiente, por que pra isso eu teria que deixar de lado minha humanidade, e eu não consigo, eu não quero isso!

— Mas não... Naruto, nós estamos fortes, podemos conseguir, só precisamos pensar no jeito certo de conduzir tudo! — Hinata argumenta convicta.

— Não é suficiente, não para impedir alguém como ele Hina, que não tem nada a perder, ele não precisa ter medo de se arriscar, mas e a gente? — agora seus olhos já não comportavam mais as lágrimas — O que vamos perder Hina? Pra conseguir ganhar, vamos ter que nos despedir de algo!

Incapaz de refutar as palavras de agouro dele, Hinata o abraça e consola o melhor que pode, afinal ela sabia que tudo que Naruto havia dito era verdade, uma verdade cruel e inevitável; mesmo que vencessem o confronto, o quanto sofreriam para isso não podia ser mensurado, o que teriam que abrir mão não podia ser previsto, e o quanto as cicatrizes machucariam não poderia ser antecipado. Tudo isso os fazia pensar se aquele caminho valeria a pena, se realmente haveria algo melhor no final do percurso, depois de perder tanto, por uma incerteza futura; não podiam escolher o que abrir mão, apenas podiam esperar que a vida viesse e lhes tomasse sem aviso, desde sempre fora assim e eles souberam desde o início que não mudaria, fora assim com sua infância e com sua inocência, mas agora pressentiam que o roubo havia dobrado de valor.

***

Mais tarde naquela noite, o quarto que antes estivera tão agitado, agora estava completamente silencioso, apenas uma pequena luminária trazia um pouco de luz para o cômodo, e na poltrona ao lado da cama, o jovem rapaz parecia estar em sono profundo; mas bastou o leve movimento vindo da garota na cama, para que ele se colocasse em pé, os olhos atentos, buscando por indícios de dor ou mal estar. Quando Sakura pensa em se sentar, duas mãos solicitas já a estavam amparando, para evitar que fizesse qualquer esforço; não precisou ver para saber quem era, e agora que sua desorientação inicial a deixara, conseguiu estar calma e sem preocupações, além de querer saber o que ocorria na Vila.

— Já é tarde, nii-chan? — ela pergunta, depois de focar no rosto preocupado do irmão.

— Agora são dez em ponto. — Sakumo responde — Está com fome?

— Não muita, acho que meu corpo ainda não acordou. — Sakura dá de ombros, no ânimo em que se encontrava, sabia que não conseguiria comer nada — Minhas pernas estão dormentes, será que posso andar um pouco?

— A Tenente disse que não era pra você se exceder, que devia dar tempo pra seu corpo se recuperar. — Sakumo protesta, agora mais preocupado que antes.

— Não vou sair correndo, nii-chan. — Sakura faz uma pequena birra, aquela preocupação toda que estavam tendo com ela, era tão reconfortante quanto estranha — Só preciso caminhar um pouco, pra fazer o sangue circular por minhas pernas também.

— Não sei Sakura, e se depois você fica com dor? — ele pede ainda receoso.

— Então nós voltamos, não preciso ir muito longe e vai ser por apenas alguns minutos. — Ela argumenta e dessa vez, consegue convencer o mais velho.

Usando o braço do irmão e o apoio do soro em seu braço como suporte para andar, Sakura dá seus primeiros passos, e quando suas pernas enrijecidas se movimentam, ela não consegue evitar fazer uma careta de dor; fazer Sakumo entender que não era dor pelas feridas o que sentia, e sim por não se movimentar, foi uma longa batalha, tanto que nem viram que o caminho que tomaram, os levava direto a uma sala de observação. Quando se depararam naquela parte do edifício, Sakura passou a observar o cômodo com olhos curiosos, analisando cada aspecto inusitado do local, e quando avistara o vidro grosso que ocupava toda uma janela enorme, entendera que aquela sala, servia para que oficiais do alto escalão ANBU, assistissem o que ocorreria no andar abaixo; assim que se aproxima da janela, ela vê algo que nunca vira em sua jovem vida, e tão controverso a tudo que já tinha experimentado em sua vivencia tão imatura. Logo abaixo deles, no que parecia ser um grande salão, haviam algumas fileiras de caixas escuras, e ao redor delas, estavam algumas pessoas e entre essas pessoas, Sakura pode reconhecer quase que imediatamente, Naruto e Hinata com suas máscaras; então ao prestar mais atenção nos trajes deles e daquelas pessoas e nas muitas flâmulas negras pendendo das paredes, entendera rapidamente que aquilo era um funeral.

— Quem são... essas pessoas? — a Haruno pergunta baixinho, como se erguer a voz mesmo ali, fosse uma falta de respeito a eles.

— São os familiares dos recrutas que saíram para a missão na Floresta da Morte. — Sakumo responde pesaroso.

Faziam muitos anos que não tinham uma baixa tão grande de novos integrantes.

— Quantos foram? — Sakura pergunta, sem saber se queria ouvir a resposta — Por que tem caixões fechados?

— Foi um pelotão de vinte, alguns corpos não foram encontrados, apenas suas máscaras. — O rapaz responde de imediato, nesse momento os anos de treinamento ajudavam a se manter firme.

Apesar de não conhecer nenhuma daquelas pessoas, não saber como eram suas personalidades, como viviam ou o que gostavam, além de que eram ANBU’S, Sakura sentiu uma enorme tristeza, e incontrolavelmente começou a chorar; chorar por àquelas vidas interrompidas sem atingir todo seu potencial, sem viver o que a maioria das pessoas comuns viveria, por àquelas famílias que foram roubadas cruel e inadvertidamente. Também sentia tristeza, por que aqueles ninjas tão promissores, perderam suas vidas para proteger pessoas que nem conheciam, e que nem sabiam ou se importavam com o que lhes tinha acontecido, ela mesma seria uma dessas pessoas que não liga, há alguns dias atrás; sentia que devia estar de luto por eles, e também por ela, que ainda estava tentando lidar com sua própria perda, perda da menina que um dia fora, do amor irracional que um dia sentira e por tudo que deixara de viver e aprender a custa disso. Seu coração doía, doía a cada novo pensamento que tinha enquanto andava, sem conseguir ouvir nada do que Sakumo lhe dizia, havia entrando em uma espécie de transe, causado pelas lembranças dolorosas que revivia; enquanto as lágrimas desciam por seu rosto, ela reviu cada momento doloroso que passou nos últimos doze anos com seus pais e com Sasuke, e principalmente, cada ato ou palavra malvada que fizera ou dissera para magoar os outros. Seu choro diminuiu apenas quando parou as portas do grande salão que estiveram observando, quando ela ouviu o lamento dos familiares que se despediam dos filhos, irmãos, netos; quando todas as pessoas presentes viram aquela garota visivelmente transtornada parada na entrada, e sua atenção recaiu sobre ela e o rapaz que a acompanhava aflito, foi quando Sakura deixou de chorar e imediatamente curvou o corpo até onde seria possível, e assim permaneceu por intermináveis minutos.

— Eles... — ela começa ronca, quando ergue o rosto inchado e vermelho — Por causa deles eu estou aqui, consegui voltar pra casa..., todos são meus heróis, e são os heróis da Vila..., mesmo que ninguém mais saiba, eu saberei..., cada uma dessas vidas vai ser lembrada, eu prometo!

Sem esperar por uma reação ou qualquer palavra de entendimento, ela deixa o salão com Sakumo em seu encalço, completamente impactado, não esperava que a irmã fosse se abalar tanto com a descoberta da operação; Naruto e Hinata, que necessitavam permanecer no salão até o final da cerimônia, estavam igualmente impressionados, e decidiram em um olhar, que precisariam ver como a Haruno estava logo em seguida.

***

Muitas horas mais tarde, após cumprir todos os protocolos e dar a todos os recrutas um enterro e uma despedida dignos, a dupla começa sua terceira rodada de obrigações do dia, e a primeira tarefa da lista, é verificar o estado do prisioneiro; ao chegarem no quarto, encontraram Inoichi trabalhando com a ajuda de Shikamaru, que estava restringindo os movimentos irrequietos do inconsciente Sasuke.

— Algum progresso? — Hinata pergunta, respirando fundo ao retirar sua máscara.

— Não muito. — Shikamaru responde baixo, por estar mais próximo do Yamanaka — Inoichi-san conseguiu quebrar alguns selos, mas temos que parar toda vez que a frequência cardíaca aumenta, parece que alguns podem causar um infarto se tentar romper.

— Ele não acordou ainda? — Naruto pede, e vai revisando os aparelhos — Esse mapa está assim há quanto tempo?

— Nenhum sinal de que vá acordar tão cedo, o que tem o mapa? — Shikamaru pergunta confuso.

— Não está mostrando nenhuma atividade cerebral. — O Uzumaki responde religando o aparelho e fazendo uma nova leitura — Deveria haver ao menos alguma atividade.

— Está assim desde que começamos, é como se o cérebro dele ficasse inativo, mas na verdade não está, quando Inoichi-san desfaz o Jutsu mental, o mapa volta a captar as ondas cerebrais normalmente. — Shikamaru explica o estranho fato — Achamos que isso seja um efeito colateral da marca estar incompleta, ou da própria defesa da maldição, quando os selos são quebrados.

— Relate isso em detalhes e mande para a Inteligência, quero que eles busquem nos pergaminhos proibidos se já houveram casos semelhantes. — Hinata instrui, fazendo ela também, anotações em sua caderneta — Onde está Sai?

— No outro quarto, ele e meu pai estão tentando colher informações sobre a garota, até onde sei, estavam progredindo bem. — O Nara responde e acrescenta mais uma sombra para conter Sasuke, que estava iniciando uma convulsão.

— Vamos dar uma olhada em como estão. — Naruto diz já indo até a porta — Não se exceda Shikamaru, ainda temos muito trabalho, precisamos estar em condições de reagir a qualquer momento.

— Olha só quem fala! — Shikamaru debocha e revira os olhos, vendo o amigo deixar o quarto.

Apenas alguns passos dali, naquele corredor costumeiramente deserto, a equipe composta por Sai e Shikaku trabalham sem trégua, tentando identificar a paciente enquanto buscam formas de tratar suas estranhas feridas; quando a garota acordara, cerca de três horas atrás, eles tiveram muita dificuldade para conter seu ataque de pânico, então agora estavam trabalhando com todo cuidado, para não desencadear outra crise e causar danos irreversíveis. O fato que era inegável até o momento, é que ela devia pertencer a alguma equipe de outra Vila que viera para os Exames Chunnin, e o mais estranho até então, era o fato de seus companheiros não terem sido encontrados junto a ela; os ANBUS acharam seu corpo desacordado e ferido há uns quantos metros de distância de uma grande área que fora devastada, indicando que houvera uma batalha intensa e que provavelmente seus companheiros estariam mortos. Isso, somado a todas as outras evidências, deixava o fato de sua Vila não estar buscando pelos Genins, um sinal de alerta mais preocupante; principalmente quando consideravam que o autor do ataque, fora o mesmo que atacara o time sete.

— Como estamos por aqui? — Hinata pede, o Byakugan ativo, perscrutando cada linha de Chakra.

— Ela está estável por agora. — Shikaku responde, erguendo os olhos do pergaminho que lia — Não recobrou a consciência novamente e nada que tentamos funciona nessas feridas.

— Pra mim elas não parecem feridas causadas por uma luta, parecem mais com cicatrizes antigas que foram reabertas. — Sai contesta e deixa de escrever — Nenhum livro que li até agora tinha informação sobre isso, esse padrão não encaixa nem com picadas de algum animal..., na verdade parecem mais serem humanos.

— Explica melhor, Sai. — Naruto pede confuso.

Talvez por estarem trabalhando sem trégua, os pensamentos do amigo estivessem desordenados pelo cansaço, ele mesmo não conseguia pegar a linha do raciocínio, tamanha era sua exaustão.

— Veja esse padrão, no começo pensei que fossem lesões por algum impacto ou por algum ataque animal, não seria incomum naquela floresta. — Sai explica, destampando o braço pálido da garota — Mais quando vi o formato, mudei de ideia, e encontrei mais iguais no pescoço e pernas, mas essas estão cicatrizadas.

— Então? Você acha que são... — Hinata indaga com os olhos arregalados.

— São mordidas. — Sai afirma, comprovando os temores dela — Essas marcas condizem com o formato e disposição da arcada dentária de um humano.

— Mas isso... isso é o equivalente a tortura! — Shikaku retruca consternado — Ela é só uma menina!

— Nunca disse que seria algo bom. — Sai evade imutável, para ele aquilo não era nem um pouco espantoso.

— Não sabemos de que Vila ela veio, nem quais os métodos de treinamento empregados. — Naruto argumenta pensativo — Até onde tenho conhecimento, Konoha é a única Vila com métodos de ensino humanamente aceitáveis, e isso nos leva a questionar quem das outras quatro é tão agressiva?

— Só consigo pensar em uma. — Hinata responde de imediato.

— Vou destacar alguém para investigar a delegação de Kirigakure. — O Uzumaki afirma — Não se excedam aqui, se ela não acordar logo, destaquem alguém para ficar monitorando e passem para a próxima tarefa.

Os dois saem sem esperar por resposta ou objeção, sabiam que seriam ouvidos, Sai não cometia insubordinação e Shikaku sabia da importância das demais tarefas que lhes foram entregues; apesar de suas experiências e vivências serem completamente diferentes, todos ali tinham confiança uns nos outros, e sabiam escutar e obedecer a um comando sem se sentir ofendidos ou oprimidos, como seria o caso com qualquer outro adulto que ouvisse Naruto falando daquela forma.

***

No quarto onde Sakura fora instalada temporariamente, Sakumo dormia novamente em sua poltrona, o relógio da parede marcava exatamente uma e trinta da manhã, quando Naruto e Hinata entraram no cômodo; apesar da dupla não ter feito ruido algum, os anos que passara como espia de Orochimaru, deram a Sakumo uma percepção maior que a média, e por isso ele rapidamente estava em pé, em uma posição defensiva, quando Hinata se aproximou da cama onde a irmã dormia. Sua reação excelente arrancou um discreto sorriso de Naruto, que havia parado atrás dele para rende-lo se necessário; não que encontrassem Sakumo violento e descontrolado, mas as vezes, situações extenuantes e inesperadas, levam as pessoas a agir de forma agressiva sob influência do estresse.

— Como ela está? — Hinata pede calma.

— Melhor, se abalou um pouco quando soube dos recrutas. — Sakumo responde pesaroso — Ela se tranquilizou quando voltamos para o quarto, ficou em silêncio até dormir.

Não havia demonstrado nada antes, mas estava muito preocupado com as reações da irmã, temia que todos aqueles acontecimentos, a tivessem induzido a um estado de incapacidade mental; ainda mais considerando suas reações e todo o estresse físico e emocional ao qual fora submetida, sendo ela ainda uma criança que nunca fora levada a tal extremo.

— Ela vai ficar bem, só precisa de tempo pra compreender tudo e absorver a realidade. — Naruto afirma tranquilizador, já tinha visto os próprios amigos reagindo da mesma forma antes — Deixe que ela tenha o tempo que precisa pra isso!

— Temos outro assunto pra conversar, Sakumo. — Hinata dá início a conversa — Precisamos ter um plano de ação para os próximos dias, conseguimos adiar a primeira rodada das batalhas apenas por uma semana, mais tempo que isso é impossível.

— Bom, o que temos pra considerar agora, de mais urgente? — Sakumo inicia, abrindo seu pergaminho e verificando as próprias anotações — Bem, a questão do Uchiha e do time sete é um dos principais pontos.

— Então concordamos que devemos dar um jeito naquela marca e de acordar Sasuke antes das batalhas. — Hinata pontua, enquanto vai administrando alguns analgésicos intravenosos em Sakura — Também temos que reforçar a segurança do Sandaime e ter um plano reserva em caso de complicações.

— Quanto ao Sasuke, há um limite no que podemos interferir, a prioridade é a marca, mas também precisamos fazer com que ele vá bem nas batalhas, ou vamos levantar suspeitas. — O Uzumaki fala, analisando os possíveis cenários mentalmente.

— O que pretendem? — O jovem pergunta, sabendo que essa seria a tarefa mais difícil.

— Vai depender do que Inoichi puder nos entregar até amanhã. — Naruto explica, esse era o ponto que mais lhe preocupava — A partir daí, saberemos o que fazer quanto à marca, sobre as batalhas, é essencial que Kakashi cuide dele, é o único que pode compreender o Doujutsu.

— Nenhum outro Uchiha poderia? — o Haruno indaga confuso, seria muito mais fácil alguém com Kekkei Genkai, do que um usuário parcial do Sharingan.

— Não podemos confiar em ninguém daquele clã, não nesse momento e principalmente sem saber quem mais se aliou ao Orochimaru. — A Hyuuga refuta a ideia — E Kakashi é o melhor nessa questão, por ver falhas que os Uchiha’s não admitem no seu Doujutsu, ele sabe como modelar o garoto sem nos trazer riscos.

— Então resta o Hokage. — Sakumo segue para o próximo tópico sem questionar mais — Como faremos agora que não temos como saber qual a próxima aparência do Sannin?

— Vamos manter o original. — Naruto decide — Não podemos arriscar mudando tudo agora, podemos até ter descoberto os infiltrados há tempo, mas não sabemos se houveram outros nesse intervalo, quem sabe o que faremos não vazou nada, isso tenho certeza.

— Também está a chance de alertarmos o inimigo, se agirmos de forma mais cautelosa agora. — Hinata menciona — Sakura poderá ir para casa amanhã, ela também precisará se preparar para a próxima fase.

— Então, contando hoje, teremos apenas seis dias. — Naruto fala, já deixando o quarto — É melhor correr, se o inimigo está preparado, devemos estar o dobro.

Sakumo não se incomoda com sua atitude, com os anos em que trabalharam juntos, aprendera que o Uzumaki agia assim sempre que estava diante de um problema, ele tendia a se afastar de tudo e todos, e não adiantaria nada interroga-lo a respeito, apenas provocaria uma irritação desnecessária; diferente do Haruno, que só podia especular sobre o que acontecia com Naruto, Hinata o seguia calada e tranquila, sabia perfeitamente que ele iria para sua sala e se colocaria a estudar, continua e exaustivamente, até encontrar uma saída para o problema da marca da maldição de Sasuke. Era um hábito de muitos anos, que ambos possuíam, e que sempre os acalmara quando estiveram diante de algo importante como agora; foi assim que eventualmente aperfeiçoaram seu conhecimento, chegando a um nível que superaria a maioria dos Jounins da aldeia, e por isso pareciam sempre ter a solução para situações adversas. Não muito diferente dos três primeiros, a quarta pessoa naquele quarto também fazia seus próprios planos, e ainda que houvessem várias coisas que faltava compreender e absorver, dessa vez não seria apenas uma expectadora; não era sua intenção escutar as escondidas, mas fingir que dormia fora a única forma de evitar o olhar preocupado do irmão, e agora que tinha ouvido tudo, Sakura sentia que era sua obrigação como Kunoichi de Konoha, fazer o que estivesse ao seu alcance pelo bem da Vila, e isso incluía ter que enfrentar novamente seu amor de muitos anos.

***

Apesar de nunca na história da Vila, ter ocorrido tal acontecimento, nenhum aldeão encontrou estranho o fato das batalhas da Prova Chunin terem sido adiadas, presumiram na verdade, que devia ser o novo formato das eliminatórias, para garantir que seus Genins se sairiam tão bem ou melhor que as outras Vilas; tão animados que todos estavam com a possibilidade de Konoha sobressair às demais aldeias, que não se importaram tanto com os acontecimentos mais recentes da Vila, como o aumento sutil de Shinobis nas ruas, ou os estranhos novos desaparecimentos, que não tinham explicação aparente. Assim os dias iam passando muito lentamente, para àqueles que aguardavam com ansiedade as eliminatórias, e muito depressa para àqueles que tinham que se preparar para o dia do exame; entre essas pessoas que viam o tempo escoar por entre os dedos, estavam Naruto e Hinata, seguidos de Shikamaru, Sai, Kakashi e Sakumo, a responsabilidade que tinham sobre seus ombros desta vez, seria inigualável, e os dois primeiros mais ainda que os outros, devido ao seu enorme senso de dever, e o desejo gigantesco que sentiam de proteger seu amado lar. Estranhamente, quanto mais atarefados se encontrassem, mas compenetrados se tornavam, e muito mais eficientes do que em outro momento; não era exatamente um dom especial, apenas ocorria de ambos saberem por experiencia própria, que se desesperar não lhes traria solução alguma, então mesmo com o mundo desabando sob suas cabeças, eles estariam calmos. Foi assim, que depois de muito esforço e estudo, conseguiram encontrar em um texto antigo, formas de selamento que não eram utilizadas por mais de três décadas; Naruto percebera que não eram técnicas de conhecimento comum, além de serem muito arriscadas, e quando buscara por mais informações nos pergaminhos proibidos de Konoha, encontrara algo muito mais alarmante.

— Hina, olha só isso! — o Uzumaki a chama, espantado — Você já tinha visto esse tipo de Fuinjutsu?

— Não, nem mesmo essas runas. — Hinata responde, pegando o pergaminho para ler melhor — Onde isso estava?

— Nas coisas que o padrinho me deu. — Naruto explica, sentia seu coração agitado pelo que acabara de descobrir — Nem mesmo quando ainda estava no clã? Nunca ouviu ninguém falar dessa técnica?

— Não, nem o tio Hizashi me ensinou algo assim, por mais que tente lembrar, não consigo. — A Hyuuga garante e então o olha confusa — Por que o interesse? O que isso tem com o clã?

— Aqui nesse outro pergaminho, diz que o selo do Pássaro Engaiolado usado pelos Hyuuga’s se originou deste Fuinjutsu. — Naruto conta, despertando ainda mais o interesse dela — Aparentemente, isso começou a ser feito há algumas décadas atrás.

— Que estranho, o tio Hizashi disse que o Pássaro Engaiolado era um Fuinjutsu milenar, que era usado pelo clã desde a época de Hamura Otsutsuki, que somente os conselheiros tinham conhecimento da técnica. — A Hyuuga fala pensativa — De onde vieram esses pergaminhos, Naruto?

— De Uzushiogakure, eles eram da minha mãe. — Ele responde, estendendo as longas folhas pelo chão, para que pudessem ler melhor — Hina, aqui está dizendo que foram os Uzumaki’s quem criaram o Fuinjutsu para os Hyuuga’s!

— Quantas pessoas leram esse pergaminho?! — Hinata pede, agora completamente alarmada e temerosa.

— Somente eu e minha mãe, eu acho. — Naruto responde num sussurro, seus pensamentos alinhados com os dela, automaticamente deduzira o que a garota havia imaginado — O padrinho disse que não conseguia abrir, tem algo com a linhagem Uzumaki que ele não soube explicar, então é certo dizer que as únicas pessoas externas que sabem disso, é você e meu pai, quando mamãe era viva!

— Naruto, isso é muito sério e precisamos investigar muito cuidadosamente esse assunto. — Hinata cochicha, segurava a mão dele tão forte, que seus dedos ficaram esbranquiçados.

Por alguns minutos, o peso daquela descoberta pairou sobre os dois, sentiam seus corações apequenar diante da profunda desconfiança que lentamente se arraigava em suas mentes, o medo do que o passado causaria ao futuro, assomava na esquina, mais aterrorizante que qualquer inimigo; tudo que significava algo em suas vidas, bem como eles mesmos, poderia ser fortemente maculado pelo resultado dessa investigação, afinal nunca haviam enfrentado nada parecido, portanto, não poderiam predizer como agir e administrar o que estaria por vir, o quer que fosse.

— Acho que isso explica por que eles disseram que não poderiam retirar o selo, mesmo que Neji nii-san agora seja o herdeiro legítimo do clã. — Hinata comenta repentinamente, com um lampejo agudo passando por seus olhos claros — Por gerações eles simplesmente selam a família secundária, mas não sabem como retirar.

— Precisamos falar com o vovô, mas acho que não podemos contar muito, não podemos colocar o Hokage em cheque. — Naruto se põem em pé, caminha de um lado a outro pensativo — Hina, esse selo... como ele funciona?

— Bem... basicamente, ele serviria para proteger informações do nosso Kekkei Genkai, mas eu vejo mais como uma forma de controle, já que a família principal meio que obstrui as possibilidades de a pessoa desenvolver determinadas habilidades ou técnicas. — Hinata explica, e conforme ia falando, começava a compreender o que o Uzumaki queria saber — E sim, ele é capaz de reter o chakra do indivíduo.

— Então é possível que outro selamento também seja retido? — o Uzumaki questiona, já tomando notas e planificando suas futuras ações.

— Sim, acredito que sim. — Hinata concorda e passa a desenhar um organograma, cheio de símbolos e equações — Segundo a Anko-sensei, o selo amaldiçoado, é basicamente composto por runas e o chakra do Orochimaru, e em cada pessoa ele “desperta” habilidades específicas, de acordo com o seu DNA, e por isso é tão temido, já que não podemos saber qual será essa habilidade até que esteja feito.

— Se pensamos que o selo está incompleto, e que o corpo está rejeitando esse chakra estranho, por considerar uma ameaça, explicaria o por que ele não acordou ainda, e abre uma brecha pra que essa habilidade não desperte corretamente — Naruto também faz cálculos na lousa — É uma ideia arriscada, mas pode dar certo, e isso nos livraria do fator controle, que Orochimaru exerce sob os amaldiçoados.

— Você acha que consegue fazer? — Hinata indaga preocupada — Não podemos alertar ninguém do que descobrimos, mas também não quero que você sofra algum efeito colateral por isso.

— Eu tenho tudo que preciso, as runas, a fórmula, e o principal: o chakra Uzumaki! — Naruto responde convicto, desde que iniciara sua vida Shinobi, não houve nenhum Fuinjutsu que não conseguira realizar depois que se propusera — Só vou precisar de uma autorização e o consentimento do Sandaime.

— Vou escrever ao sensei agora mesmo. — Hinata toma a iniciativa, não tinham muito tempo de sobra pra pensar mais.

— Vou transcrever as informações necessárias pra mostrar ao vovô. — Naruto abocanha outra parte do trabalho — Vai ser difícil mentir pra ele, mas outra hora eu me desculpo apropriadamente, quando tudo se resolver.

Nenhum outro som fora ouvido na pequena sala da cabana, apenas os fracos ruídos de seus lápis a riscar as ásperas páginas, tinham urgência por dar seguimento ao novo plano, tanto pela precária situação de Konoha, quanto para encontrar mais sobre as possíveis manchas na história da Vila. Estavam a ponto de sair de casa, quando uma tímida e quase inaudível batida soou a porta, fazendo com que deixassem a tarefa de lado por um momento, para se olharem interrogativamente; nenhum dos dois tinha marcado algo para aquela tarde, nenhuma reunião e nenhum informe precisava ser entregue, assim que não esperavam por ninguém, nem mesmo Hanabi e Konohamaru estavam em casa em função dos Exames Chunnin. Temendo alguma emboscada, como a preparada por Suna alguns dias atrás, Hinata se posiciona mais afastada da porta, com seus Senbons em mãos, pronta para atacar se preciso; Naruto se encarrega de abrir a porta e receber o visitante, e a única coisa que indicava que ele estava pronto para matar o suposto inimigo, eram seus olhos terrivelmente vermelhos, e logo surpresos ao vislumbrar aquela inesperada visita.

— Olá. — Ambos ouviram a saudação um tanto envergonhados e tratam de mudar sua postura imediatamente.

***

Caminhando pelas ruas de Konoha tediosamente com seu livro quase colado ao rosto, Kakashi deambula por entre os transeuntes como se estivesse sem rumo, com sua habitual expressão pervertida no rosto e uma sacola de feira recém feita em uma das mãos; quem o via assim, obviamente pensaria que o homem estaria descansando de sua árdua tarefa como sensei, agora que sua equipe havia classificado para as eliminatórias, e que ele estaria tranquilo com relação aos seus alunos. Apenas um número reduzido de pessoas do seu circulo social saberiam o quão barulhenta estaria sua mente agora; na verdade, poucos chegariam perto de supor, o único que poderia de fato adivinhar o que se passava com o Hatake, era Maito Gai, mas como este último também estava até o pescoço com sua própria equipe, não percebera o que atormentava o amigo, quando almoçaram nas dependências da Academia naquela manhã, ou pretendia não saber. Era fato conhecido para todos os seus amigos próximos, que quando se encontrava diante de um dilema, Kakashi se tornava extremamente introspectivo e como consequência, insociável; havia saído de casa apenas por que aquela reunião era necessária e a trabalho, caso contrário, teria permanecido em seu apartamento, sentado em sua poltrona perto da janela, vendo as pessoas passando pela rua abaixo, enquanto pensava exaustivamente sobre o que fazer. Então, sabendo que não poderia fazer nada ainda, e seria um desperdício de energia e um incomodo tentar, Gai resolvera deixar que Kakashi chegasse a um ponto definitivo primeiro, e depois sim, poderia lhe ajudar como pretendia, como sempre fizeram um pelo outro ao longo dos anos; por isso, o famoso ninja copiador se encontrava nesse estado de completa reclusão mental, andando pela Vila mecanicamente, sem tomar em conta quantos conhecidos o cumprimentaram e fizeram menção de lhe falar, para logo atribuir que ele não os tinha visto por estar lendo.

Kakashi, estava em realidade, muito angustiado e indeciso, pela primeira vez em muitos anos, não sabia o que deveria fazer, e não tinha como prever e mensurar melhor as consequências de suas decisões; tinha consciência que precisava realizar seu trabalho o mais perfeitamente possível, para cumprir a excelência seu papel, e minimizar os danos à Konoha; mas também existia uma pequena questão moral que o estava impedindo de ser o conhecido Kakashi, um Shinobi que sempre colocara a Vila acima de seus interesses pessoais. Fora assim quando seu pai se suicidara, apesar de ser uma criança deixada sozinha no mundo e sentir uma dor e um medo inigualáveis, ele se focara em pensar que devia tomar cuidado para não cometer os mesmos erros de seu pai, e o mesmo se repetiu mais de uma vez quando, Obito e Rin faleceram, e anos depois Minato e Kushina foram mortos; os dois últimos haviam chegado mais perto de ser uma família para ele, e a forma como partiram o deixara mais pesaroso do que em qualquer outro momento da vida, mas se conformara ao decidir que não deixaria que os sacrifícios que fizeram por Konoha, fossem em vão, e muito menos que o filho que tanto amaram, terminasse igual eles. Foi assim que suportara todos àqueles anos interminavelmente escuros e melancólicos, perdendo alguém estimado por vez, e os guardando no profundo de seu coração, engolindo sua dor e sua humanidade, e sempre pondo a Vila em primeiro lugar; mas agora era diferente, não era apenas ele que lidaria com o que quer que viesse de suas ações, haviam três jovens vidas que estavam inteiramente à mercê de suas decisões, que não deveriam ter esse senso de dever tão severo quanto ele, até porquê eram jovens e imaturos, e deveriam ter todo tempo do mundo para desenvolver sua mente e aceitar por vontade própria, entregar suas vidas. Não queria que seus alunos, apesar de burros e inconsequentes, fossem obrigados como ele, Itachi, Naruto e Hinata, e tantas outras crianças, a crescer e ter seus destinos decididos e ditados por outras pessoas; mas no atual impasse politico de Konoha e o iminente perigo em que se encontravam, não sobraram muitas formas de contornar e remediar o que viria. O Hatake sabia que teria que se dedicar inteiramente a Sasuke, agora que ele poderia se tornar um ameaça e até mesmo se voltar contra eles, principalmente por ser o único além do clã Uchiha, que poderia compreender o Doujutsu dele saber quais medidas tomar; mas o garoto inda não estava pronto, era ambicioso demais, arrogante e irremediavelmente complexado, ainda não era o momento adequado de lapidá-lo, para que se tornasse o Shinobi promissor que poderia vir a ser, não enquanto Sasuke não crescesse, em todos os sentidos. Por outro lado, era uma irresponsabilidade e injustiça, deixar Kiba e Sakura a deriva, os dois também precisavam de auxilio, mais ainda em vista dos perigos que se avizinhavam durante esses exames; sentia que estava faltando com sua promessa, que fizera durante a missão no País das Ondas, de torna-los Shinobis descentes e promissores, como devia fazer um bom sensei, e logo agora que eles mostravam sinais de ter amadurecido, e afloravam novas e gratificantes possibilidades para seus futuros.

— Ai! — Kakashi se deteve, ao ouvir um grito e sentir que esbarrara em alguém.

— Desculpe... — ele começa e larga o livro para fitar a pessoa adequadamente.

Se espanta ao ver Sakura estirada no chão e se apressa em ajuda-la a levantar-se, não pensou que estivesse correndo, para derrubá-la dessa forma, mas deduziu que deveria ser por estar distraído, e a garota ainda mal tinha sido dada de alta.

— Onde mais você se machucou Sakura? — o Hatake pede, de olhos fixos na mão esfolada dela.

— O que? — ela questiona confusa, e segue seu olhar — Ah isso? Não sensei, isso foi antes, eu estou bem, foi só um tombo leve.

— Tem certeza? — Kakashi pede desconfiado.

Afinal existia uma grande diferença em suas estaturas, seria muito fácil para ele causar um machucado sério naquela garota magricela; na verdade, pensava constantemente que a Haruno era tão pequena e magra, que seria fácil até mesmo para uma criança causar-lhe algum dano se tentasse.

— Sim, sim. — Sakura responde escondendo a mão, e como sentindo como se fosse obrigada por um poder maior, confessa — Eu esfolei a mão enquanto treinava com Sakumo nii-chan, acho que não controlei muito em o golpe, errei e deu nisso.

— Você estava treinando? — Kakashi pergunta admirado e logo fica sério — Não, espera! Você está liberada para treinar desde quando?

— Segundo a Hinata, desde que tive alta. — Ela responde tranquila, pela primeira vez não sentia medo de ser repreendida por ter feito algo errado — Mas só fiz coisas leves até hoje, nii-chan acha que preciso melhorar meu controle de chakra e que foi por isso que me machuquei.

— Ah, bem se você não usar a quantidade de chakra correta quando for golpear acontece isso. — Kakashi assume o modo sensei imediatamente — Se for pouco, vai te faltar força e você se lesiona ao atingir o alvo, e se for demais, pode romper seus ossos.

— Sim, nii-chan me disse o mesmo, estou indo dar um jeito nisso agora. — A garota conta feliz, era impressionante como sua mudança de atitude, influenciara as pessoas a sua volta — Mas e você sensei? Ainda não conseguiu trabalhar com Sasuke? Pensei que já estava decidido.

— Não eu não... — o Hatake perde as palavras, não sabia por quê, mas tinha se sentido culpado e encurralado pela atitude direta dela — Ele não acordou e não, eu não decidi o que fazer ainda.

— Bom, deveria fazer isso sensei. — Inesperadamente, Sakura o aconselha a fazer o que ele relutava — Sabe, Sasuke pode até passar pela primeira etapa das eliminatórias, mas conforme as batalhas forem afunilando, ele não vai conseguir.

— Olha Sakura, eu sei que você se preocupa com o garoto, mas isso... — Kakashi começa meio cansado, e até um pouco irritado.

— Não sensei, não é isso! — ela o corta afobada, e parecia ter se irritado também, respira fundo e se controla — Desculpe, é só que é o melhor a se fazer.

Essa resposta deixa o sensei completamente confuso, depois de supor erroneamente que a aluna lhe sugerira aquilo, pelo apresso que sentia pelo garoto Uchiha, Kakashi pensara que havia se enganado e Sakura não amadurecera nem um pouco; vendo a confusão dele, a garota sorri fraquinho, talvez ainda levaria algum tempo até as pessoas pararem de associar suas ações com sua paixonite de infância.

— Veja bem sensei. — Ela começa a se explicar meio constrangida pela imagem que tinham dela — Eu estou treinando com meu irmão e posso ir muito bem por conta, já tenho uma ideia do que fazer, Kiba está treinando com a Hanna e parece que é algo dos Inuzuka’s, então você não precisa se preocupar, o único problema é Sasuke, ou melhor, o único que pode causar problemas.

— Ah... bem, eu... bem se você diz... hã... está bem, eu vou. — Kakashi mal consegue formular uma resposta, tão pasmo que estava com o que ouvira.

Percebera que Sakura já não suspirava nem se embasbacava por Sasuke, e que desde que voltara da Floresta da Morte, parecia indiferente ao garoto, mas atribui esse comportamento ao quanto estava magoada com ele; jamais passou por sua cabeça, que o aumento do seu desinteresse com relação ao Uchiha, seria por finalmente ter o deixado no passado, e muito menos que chegaria o dia que a garota apaixonadíssima como era, colocaria algo acima de Sasuke e a importância que tinha em sua vida.

— Bem eu já vou indo, pode ficar tranquilo sensei, não somos mais crianças. — Ela se despede, envergonhada por estar sendo fitada como alguém com duas cabeças — E ainda podemos fazer o exame novamente, desde que exista uma Konoha para nós.

Sem mais, ela toma seu rumo, caminhando tão tranquila com as duas mãos entrelaçadas nas costas, os ombros empertigados e assoviando, nem parecia perceber o peso do que acabara de dizer, ou talvez por isso mesmo, parecia estar tão leve; Kakashi permanece um tempo parado, assistindo Sakura se afastar por entre a gente, até sumir de vista, ainda se recuperava do baque que suas palavras lhe causaram. Quando volta a andar, dessa vez com um rumo diferente do anterior, o sensei se sente mais tranquilo e aliviado do que estivera nos últimos dez dias, graças àquela garota magricela, que tinha lhe tirado uma enorme culpa da consciência; sem se dar conta, acabara sorrindo e parecia bem mais humorado ao entrar na sede da AMBU, reconhecera gratamente que Sakura havia deixado de ser um feio e intragável arbusto de ortigas, e finalmente começara a florescer como uma frondosa e forte cerejeira.

Enquanto isso, já quase no seu destino, a Haruno estava sendo afetada pelo nervosismo e a insegurança, mil e uma razões brotavam em sua mente, justificando todos os cenários em que imaginava ser recusada; e depois do seu encontro com Kakashi, percebera que não poderia culpar ninguém além dela mesma, chegando a conclusão de que nem seu eu de agora se suportaria, caso encontrasse seu eu do passado, tinha certeza até de que seria capaz de cometer um suicídio/assassinato, nestas circunstâncias. Mas apesar de ter noventa e nove por cento de certeza que não teria sucesso, ela teria que tentar e fazer todo o possível por si mesma sozinha, o máximo que ocorreria, seria ouvir um não; sabendo que não podia adiar, já não lhe sobrava muito tempo, a garota se encheu de coragem e caminhou decidida, mesmo que suas pernas tremessem como vara verde. A cada passo que dava, ela se punha a analisar um aspecto de seu sombrio passado, e a cada novo pensamento, uma nova onda de vergonha tomava conta dela e era denunciada em suas bochechas redondas, ainda com aparência de bebê; se não fossem várias pessoas e seu sensei, que por vezes a livraram de um fim miserável, tudo por sua ignorância e obstinação, e certamente esse seria seu futuro inevitável, não fosse a chegada de Sakumo. Agora, vendo as coisas já passadas, a Haruno se dá conta de que ainda não agradecera o irmão, por tudo que ele estava trazendo e fazendo de bom em sua vida, e principalmente por estar ali para ela, apoiando e incentivando, ainda quando já é tão desacreditada e um caso perdido para os demais, Sakumo acredita nela; ela sorri quando lembra do que leu em algum lugar certa vez, que mesmo quando o mundo se torna escuro, a humanidade precisa apenas de uma luz para encontrar o caminho, e para ela, seu irmão era essa luz. Agora que estava tentando se valor por si mesma, precisava continuar seguindo essa luz, buscando estar cada vez mais próxima do seu calor e quem sabe um dia, ela também não poderia ser a luz de alguém? Negou tão pronto como esse pensamento cruzou sua mente, estava indo muito bem assim, não precisava complicar nada, não queria estragar essa tão preciosa felicidade que tinha conquistado sem sobrepor-se a de ninguém; mais uma vez, ela respirou fundo, endireitou os ombros e tentou parecer tranquila, então tocou levemente a porta.


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