Potterlock - O Prisioneiro de Azkaban escrita por Hamiko-san


Capítulo 2
Futuro e folhas de chá




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Ao desembarcarem do expresso de Hogwarts, os terceiranistas subiram nas carroças aparentemente puxadas por magia enquanto Hagrid chamava os calouros para entrarem em barcas. John percebeu que Sherlock estava mais fechado que o habitual. Não falou com ninguém desde que acordou e, para completar, acabou indo na mesma carroça que Lupin, a pedido do professor.

A essa altura, o boato de que Sherlock Holmes havia passado mal no trem já havia se propagado.

Agora John estava subindo na mesma carroça que Lestrade, Henry, Sally e Janine, até que uma quinta aluna se juntou a eles.

— Tem lugar pra mais um? – Perguntava uma moça loira que lembrava as garotas propaganda de comercial de iogurte, que John logo reconheceu como Mary Morstan, uma quartanista da Sonserina.

— Tem sim. – Janine estendeu a mão – Entra, Mary.

A carroça começou a andar. John se lembrava que, com onze anos de idade, achava os sonserinos assustadores por causa da história de Voldemort, e a situação piorava por causa de Moriarty. Mas Mycroft o fez ver que a casa não era de todo ruim.

E, agora, essa garota, Mary Morstan, não parecia assustadora. Era até bem bonita.

— Oi. – John a cumprimentou – John Watson. 

— Sei quem é você. – Mary puxou o Pasquim de dentro da bolsa.

— Você lê essa revista?! – Lestrade se surpreendeu.

— É o único jeito de saber como foi que o mistério da Câmara Secreta se resolveu. Digo, vários alunos foram petrificados e o Profeta Diário não escreveu nem uma letra sobre isso. 

— Certo. – o lufano estufou o peito cheio de orgulho – Então você deve ter lido sobre mim, não? Greg Lestrade.

— Ah, sim, você é o lufano que ameaçou o professor charlatão, mas não pôde ajudar a salvar a mocinha porque ficou atrás de uma barreira de pedras depois que o professor roubou sua varinha quebrada e o feitiço saiu pela culatra. 

Greg olhou feio para o Watson:

— Você me reduziu a isso?

— Eu não escrevi desse jeito! – John se defendeu. 

— Espero você que tenha conseguido uma varinha nova. – Janine comentou.

— Ah, eu consegui sim.

Lestrade puxou um estojo comprido do meio de sua bagagem de mão e tirou a nova varinha de dentro:

— Álamo-branco, trinta e dois centímetros, fibra de coração de dragão. Essa é só minha. A que quebrou era do meu pai. 

John olhou do amigo para as garotas:

— Essa revista parece mais popular do que eu pensava.

— É ótima pra passar o tempo. – Mary começava a folheá-la –Tem uma matéria que diz que Sirius Black não matou ninguém, mas como não conseguiu provar sua inocência, assumiu a identidade de um cantor trouxa chamado Toquinho Boardman e deixou um feitiço no seu lugar em Azkaban.

Janine e Lestrade começaram a rir enquanto John sentia as bochechas arderem. Nunca tinha lido nada no Pasquim além dos seus próprios artigos, e só fazia isso para se certificar de que a história não fora alterada.


~O~

Sherlock mal chegou ao castelo quando foi sufocado por uma multidão de alunos curiosos, afastada debilmente por Lupin. O novo professor tentava abrir caminho entre os estudantes até chegar perto do professor anão de cabelos e barba grisalhos que lecionava Feitiços. Flitwick, o diretor da Corvinal.

Sherlock emitiu um grunhido infeliz. Estava chamando atenção do pior jeito.

— Obrigado por trazê-lo, Remo. – Disse o anão com sua voz esganiçada – Venha, Holmes. Precisamos conversar.

Flitwick deu meia volta e o aluno seguiu sua trilha. Ao invés de entrarem pelo portão principal, subiram as escadas até a sala do professor de Feitiços. Era um pequeno aposento com uma grande e acolhedora lareira, além de uma estante cheia de troféus de duelo. Ele fez sinal pra Sherlock se sentar na cadeira mais próxima enquanto Madame Pomfrey, enfermeira da escola, chegava logo depois deles. 

— O professor Lupin mandou uma coruja para avisar que você tinha passado mal no trem. – Flitwick começou a falar

Sherlock sentiu o rosto ficar quente. 

— Eu estou bem – disse.

— Claro que não está! – Madame Pomfrey passou a examinar o garoto mais de perto – O professor Lupin falou que foi um dementador! Onde já se viu? Trazer essas coisas pra escola... O que o ministro tem na cabeça? – Exclamou sentindo a temperatura do garoto e examinando os olhos dele –  Coitado. Está úmido de suor. Eles são terríveis, esses dementadores, e o efeito que produzem nas pessoas frágeis...

Sherlock fechou a cara ao ouvir a palavra “frágeis”.

— Eu estou bem. – Disse o aluno polidamente – O Professor Lupin deu chocolate pra todos nós. 

A enfermeira olhou radiante, do aluno para Flitwick:

— Ele deu? Finalmente conseguimos um professor de Defesa Contra as Artes das Trevas que sabe o que faz! 

— Sim, sim. – O diretor da Corvinal sorria com simplicidade – Remo é bom mesmo. Tem certeza que está se sentindo bem, Holmes?

— Absoluta. – A resposta foi automática.

— Certo. Obrigado por examiná-lo, Papoula. 

— Já posso ir? – O aluno indagou quase em desespero.

— Ainda não, Holmes. Tem outra coisa que eu preciso tratar com você.

Madame Pomfrey cumprimentou o professor e se retirou. Sherlock esperava que o próximo assunto não fosse tão ruim quanto esse.

— Muito bem, Holmes, agora que está aqui precisamos falar sobre sua programação escolar.

O garoto foi pego de surpresa enquanto Flitwick lhe estendia o pergaminho com o novo cronograma das aulas. Uma carga horária vasta e cheia de inconsistências, começando pela segunda feira.

Astronomia: 09h00m

Adivinhação: 09h00m

Estudo dos Trouxas: 09h00m

Transfiguração: 10h00m

Poções: 11h00

Almoço

Trato das criaturas mágicas: 14h00m

Runas antigas: 14h00m

— O-ou.

— Você é curioso, Holmes. Ávido pelo conhecimento. O problema é que eu não sei se é confiável. Você arrastou o jovem Watson pra baixo de um alçapão e o jovem Lestrade pra Câmara Secreta.

Sherlock se perguntou por que todo mundo esquecia que foi John que o colocou pra dormir no resgate da pedra filosofal? Só esperava que não dissessem que foi ele, ao invés de Lestrade, que ameaçou um professor.

— Eu lhe darei um último voto de confiança – falou o professor no meio de um suspiro de lamento – para garantir que cumpra sua carga horária.

— Sério?

— Por favor, não me decepcione.

Flitwick lhe estendeu uma corrente dourada com um pingente peculiar. Uma pequena ampulheta contornada por um anel dourado.

— Isso é um vira tempo. – Explicou para um Sherlock que ficara encantado em questão de segundos – O nome é exatamente o que diz e vai lhe ajudar a assistir a todas as aulas. Mas você só deve usar para isso. Apenas para isso, entendeu?

Esquecendo-se totalmente do episódio do trem, Sherlock assentiu rapidamente, olhando para o objeto como uma criança olha para o seu cobiçado presente de Natal. Viajar no tempo seria uma experiência incrível para ser acrescentada no seu palácio mental, só um louco deixaria aquela oportunidade passar.

— O tempo é algo delicado de se mexer, Holmes. – Alertou Flitiwick, obviamente temendo o olho comprido que o aluno lançava pra cima do pingente – Se você não usá-lo com responsabilidade, serei obrigado a expulsá-lo. E para não se deixar levar, não conte a ninguém sobre isso. Ninguém, ouviu bem? Nem mesmo ao senhor Watson.

O rapaz relutou um pouco, mas finalmente deu sua palavra.

 

~O~

 

Os novos alunos de Hogwarts foram distribuídos pelas quatro casas do colégio e o Professor Snape, diretor da Sonserina, tirava o chapéu seletor de cena. John viu Flitwick voltar ao seu lugar vazio e olhou para a mesa da Corvinal pela oitava vez. Foi quando finalmente viu Sherlock se juntando aos seus colegas. Para a surpresa de John, o amigo parecia bem satisfeito considerando que tinha desmaiado no trem e perdido as energias no resto do caminho. Ele nem mesmo ligava para os alunos que o apontavam indiscretamente.

Dumbledore se levantou para falar, e todos os estudantes se calaram.

— Sejam bem-vindos, calouros! E bem vindos, veteranos, para mais um ano em Hogwarts! Antes de desfrutarmos de nosso banquete, tenho algumas coisas a dizer, e uma delas é muito séria. 

Uma onda de murmúrios curiosos transbordou momentaneamente no ambiente.

— Como vocês perceberam, a nossa escola passou a hospedar alguns dementadores de Azkaban por ordens do Ministério da Magia. – Pela cara que o diretor fazia, ele mesmo estava aborrecido com a notícia – Eles estão postados em cada entrada da propriedade e, enquanto estiverem conosco, é preciso deixar muito claro que ninguém deve sair da escola sem permissão. Os dementadores não se deixam enganar por truques nem disfarces, nem mesmo por capas de invisibilidade.

John se engasgou com saliva. Claro que só ele sabia que Sherlock tinha uma capa da invisibilidade, não fora louco de colocar essa informação nas histórias publicadas no Pasquim, mas o diretor havia sido preciso demais com o aviso.

— Não faz parte da natureza dos dementadores entender súplicas nem desculpas. – continuou Dumbledore – Portanto, aviso a cada um em particular para não darem a esses guardas razão para lhes fazerem mal. Apelo aos monitores e monitoras para que se certifiquem de que nenhum aluno entre em conflito com os dementadores. 

John olhou para Mycroft, que estava sentado à mesa da Sonserina, e o viu estufar o peito cheio de importância. 

— Agora, falando de coisas mais agradáveis – Dumbledore prosseguiu – Tenho o prazer de dar as boas-vindas a dois novos professores este ano. Primeiro, o Professor Lupin, que teve a bondade de aceitar ocupar a vaga de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Os alunos bateram palmas por educação, sem esperar muito do novo funcionário. As experiências dos dois últimos anos em Defesa Contra as Artes das Trevas não haviam sido muito boas.

Sally inclinou-se para perto de John e cochichou:

— Já reparou na cara do Snape?

O rapaz observou atentamente o professor de Poções e notou o olhar de fúria no rosto macilento.

— Quanto ao nosso segundo contratado – continuou Dumbledore quando cessavam as palmas triviais para o professor Lupin – Lamento informar que o professor Kettleburn, que ensinava Trato das Criaturas Mágicas, aposentou-se no fim do ano passado. Contudo, tenho o prazer de informar que o seu cargo será preenchido por ninguém menos que Rúbeo Hagrid, que concordou em acrescentar essa responsabilidade docente às suas tarefas de guarda-caça. 

John deixou uma risada incrédula escapar e acompanhou os aplausos tumultuosos que ecoavam no salão. Lestrade, Molly, Sherlock e até Mycroft aplaudiam com entusiasmo. 

— Isso explica o livro que morde! – John falou para si, mas Henry e Sally acabaram ouvindo.

— Ta falando do Livro Monstruoso dos Monstros? – Henry interrogou – Você conseguiu usar o seu?

— Não. Ta amarrado com um cinto. Mas eu vi Sherlock usando um ano passado. Vou perguntar como ele fez pra não ser mordido.

— Agora, meus queridos alunos – Dumbledore ergueu os braços – desfrutemos de um delicioso jantar!

As travessas e taças de ouro diante das pessoas se encheram inesperadamente de comida e bebida, e John se serviu de tudo que conseguiu alcançar. No fundo queria cumprimentar Hagrid e desejar boas aulas, mas o novo professor estava ocupado demais cumprimentando o resto do corpo docente.

Entre uma porção e outra de comida, olhou novamente para Sherlock, mas dessa vez se deparou com o corvino o fitando de volta. Foi uma situação bem estranha, especialmente porque nenhum dos dois desviou a mirada e havia uma mesa inteira da Lufa Lufa entre eles. Não dava simplesmente para se esticar e puxar conversa.

Felizmente Sally o cutucou, desviando-lhe a atenção.

— Oi? – John falou qualquer coisa, embaraçado.

— Viu que Elizabeth Smallwood é nossa monitora? Aquela riquinha vai ficar insuportável agora.

— Ainda bem que somos amigos, Sally – Henry olhava feio pra ela – Você ia me chamar de almofadinha pra baixo.

— Ia mesmo. Que sorte a sua, né?

Ela e John começaram a rir.

Quando o banquete terminou, os alunos se dirigiram aos seus respectivos salões comunais. Apesar do incidente no trem, John se sentia esperançoso. Esperava que esse ano fosse mais tranquilo que o ano passado, e que Sirius Black preferisse curtir a liberdade fugindo para as colinas. De qualquer forma, ele não tinha motivos para entrar em Hogwarts.

 

~O~

 

A manhã de segunda feira estava extremamente fria. O céu carregava nuvens grossas e uma névoa cobria o chão do castelo. A disposição dos alunos para o primeiro dia de aula era quase zero e ficava pior quando elas aconteciam nas partes mais altas do castelo. Adivinhação era uma delas. 

Sherlock e John pararam de subir as escadas para a torre norte e se curvaram, apoiando as mãos nos joelhos. O corvino dizia que precisava tomar ar, e com razão. Mesmo para John, que era um atleta, o caminho parecia interminável.

— Quantas escadas subimos? – John arfava – Dez?

— Sete.

— Que seja. Será que não tem um atalho?

— Vai ser duro assistir a essa aula. 

O corvino tirou seu horário escolar do bolso interno da capa e checou. Quando John esticou o pescoço para ver o pergaminho percebeu uma coisa estranha.

— Ahn… Sherlock?

— Hn?

— Seu horário tá… Surreal! Pra assistir a aula de Adivinhação agora você vai ter que perder a de Astronomia e Estudo dos Trouxas.

— Não se preocupe, o professor Flitwick já cuidou de tudo. – Guardou o horário e olhou em volta – Ali, no fim do corredor. A escada em caracol. A sala de Adivinhação fica num sótão, certo?

— Que beleza. Parece que estamos mesmo na torre mais alta do castelo.

Os dois subiram os estreitos degraus e chegaram a um alçapão. Empurraram-no e entraram numa sala circular, pequena, já com bastante gente. Cheirava a chá, éter e uma mistura de essências enebriantes que fazia John se sentir nauseado. Havia várias mesinhas circulares rodeadas por cadeiras forradas e pequenos pufes estofados. O ambiente era iluminado por uma fraca luz avermelhada.

Sherlock e John olharam um para o outro e sentaram-se a uma das mesas. Dos muitos terceiranistas que aceitaram fazer essa disciplina, John conseguiu identificar Molly, Greg, Sarah, Kitty, Moran e mais quatro pessoas, Tobias Gregson - um rapaz forte de cabelos bem loiros e olhos azuis por trás de óculos quadrados - e Violet Smith - uma linda menina de cabelos castanhos, cacheados e muito bem penteados, ambos da Lufa Lufa; Soo Lin Yao - uma coreana magra e delicada, com cabelos pretos muito compridos, da Corvinal; e Witty Winter - uma garota de pele negra e cabelos castanhos lisos e curtos, parecendo uma atriz de filmes latino americanos, da Grifinória.

— Já achei um ponto positivo. – John falava empolgado enquanto via o amigo abrir o Esclarecendo o Futuro em cima da mesa.

— Sim. Moriarty não está aqui.

— Mal espero pra aprender a ver o meu futuro.

— Isso é muito amplo. Futuro pode ser amanhã, ano que vem ou daqui a vinte anos.

Sarah acenou para John sorrindo. O garoto acenou de volta, empertigado.

— Será que até ano que vem arranjo uma namorada? – Ele perguntou ao corvino.

— Você precisa perguntar pra Saywer se ela quer sair com você, pra começar.

— Pode não ser ela. Eu conheci uma garota da Sonserina, sabe? Mary Morstan. Do quarto ano. Bonita, divertida...

— Então está dividido entre as duas?

— Claro que não! Eu nem sei se teria chance com qualquer uma delas. Mas são incríveis, né? O que eu estou dizendo é que tem várias garotas interessantes em Hogwarts. Eu posso dar certo com alguma.

— Precisa escolher uma e tentar. Você tem vantagens naturais sobre elas.

— Vantagens naturais? – John repetiu, e ao entender o significado, sentiu um calor no peito. Uma sensação boa  – Está dizendo que eu sou bonito?

— Eu não gosto de usar essa palavra. O conceito de beleza é padronizado demais e quando você diz que uma pessoa é bonita tem que dizer o porquê e os outros avaliam se as características que você apontou estão dentro do padrão. É tão idiota…

— Tá. Mas você acha que sou atraente?

— Acho. – Respondeu com simplicidade, virando a página – Você é bem atraente para as garotas.

— Só para as garotas?

— Achei que queria uma namorada. 

— Perguntei só por curiosidade.

— Hn.

Sherlock e sua incrível capacidade de bagunçar a cabeça de John. Incomodado com a ausência de resposta, o loiro olhou em volta um tanto tenso e perguntou:

— Cadê a professora afinal?

As cortinas vermelhas que até então bloqueavam boa parte da luz do sol se abriram magicamente, mostrando uma mulher muito magra, com óculos que aumentavam seus olhos, e usando xale rosa muito brilhoso em volta do seu pescoço fino. Tinha uma voz etérea e muito aguda.

— Sejam bem vindas, crianças! Que bom ver vocês no mundo físico, finalmente!

John fez uma careta de dúvida e olhou pra Sherlock, que, mesmo inclinado sobre o livro, agora fitava a professora.

— Bem-vindos à aula de Adivinhação. Sou a professora Sibila Trelawney. Talvez vocês nunca tenham me visto antes. Acho que me misturar com frequência à roda viva da escola principal anuvia minha visão interior. 

Ninguém falou. Todos ainda estavam muito impressionados, em todos os sentidos. A professora ajeitou o xale brilhoso e seguiu com seu discurso:

— Então vocês optaram por estudar Adivinhação, a mais difícil das artes mágicas. Devo alertá-los que, se não possuírem clarividência, terei muito pouco a ensinar a vocês. Os livros só podem levá-los até certo ponto neste campo.

John olhou mais atentamente para Sherlock e percebeu que ele não desgrudava os olhos da professora. Podia apostar a sua varinha que o corvino estava "lendo" cada detalhe de Trelawney.

— Muito bem, crianças – Ela falava tranquilamente – O primeiro trimestre letivo será dedicado à leitura das folhas de chá. Depois abordaremos a quiromancia. A propósito, minha querida – disparou ela de repente para Sarah  – tenha cuidado com um garoto de cabelos loiros.

A primeira pessoa que Sarah olhou foi para John, e lá se foram todas as chances que ele poderia ter com a garota.  

— No segundo trimestre – continuou a professora – vamos estudar a bola de cristal, isso é, se conseguirmos terminar os presságios do fogo. Infelizmente, as aulas serão perturbadas em fevereiro por uma forte epidemia de gripe. Eu própria vou perder a voz. E, até o final do ano, alguém ficará gravemente ferido. 

Silêncio mórbido. Alguns alunos trocavam olhares perplexos com seus colegas de mesa, outros se deixavam envolver pelo discurso da professora. John não sabia se ficava incomodado, admirado ou horrorizado.

A primeira lição envolvia leitura do futuro nas folhas de chá. A professora mandou os alunos formarem duplas e pegarem uma xícara. Depois encheu um bule de prata e o entregou para cada dupla para que eles enchessem suas xícaras e bebessem o chá até restar somente a borra. Então sacudiriam a xícara três vezes com a mão esquerda, virariam a xícara de cabeça pra baixo no pires, esperariam até as folhas caírem e entregariam a xícara para o seu par para que ele interpretasse o desenho formado.

John fez tudo isso e ofereceu sua xícara para Sherlock enquanto pegava a do amigo. Olhou as formas com atenção. Estava vendo um chapéu coco? Ou quem sabe um porquinho? Olhou para o corvino, que estava folheando seriamente seu Esclarecendo o Futuro.

— Então? – Indagou – Chegou a alguma conclusão?

— Sim. Eu não tenho imaginação. Só consigo ver manchas de borra marrom.

John sufocou uma risada.

— Tá, eu acho que isso aqui é uma mão… – Sherlock arriscava uma análise – Significa que você vai brigar com alguém… Mas aqui diz que a mão também pode significar ajuda. Mas afinal, você está ajudando ou sendo ajudado? São significados diferentes, não faz sentido!

— Continua, vai!

— Ta. Hm… – Girou um pouco a xícara – Tem uma ampulheta, que significa… – Folheava rapidamente o livro – Que você não deve perder tempo com bobagens. E… Hm… Isso parece um funil, mas se virar de cabeça pra baixo vira uma taça… É… E taça quer dizer vitória. Agora junte tudo isso e tente formar uma frase coerente. Esse é o seu futuro.

John se debruçou sobre a mesa, desistindo de conter a risada, que saia o mais baixo que ele conseguia. Depois se ajeitou e pegou novamente a xícara de Sherlock:

— Ta, minha vez. Hm… Eu acho que isso é um chapéu-coco. Não, pera, se virar assim é uma cabeça de macaco... O que significa que… – Procurou no livro – Você é uma pessoa engraçada e divertida. Não, pera. Isso não faz sentido. Talvez, se olharmos bem, seja… Acho que é um boi. Se isso for um chifre. Mas se virar assim, pode ser uma vaca.

Com os braços cruzados, Sherlock soltou um ronco em forma de riso, mas a alegria logo morreu quando todos ouviram um berro da professora.

— NÃO! 

Todos se viraram para ela, espantados. Trelawney estava muito chorosa, com uma das mãos cobrindo a boca e a outra segurando a xícara de Henry. O garoto era um misto de confusão e pânico, e sua parceira, Sally, não sabia ao certo como reagir.

— Meu pobre garoto… – A professora segurava firmemente o braço de Henry – Não, não... Tão jovem…

— O que aconteceu? – Sawyer perguntava, aflita, da outra mesa. Todos os demais alunos estavam bem atentos.

— Knight, minha criança… Você tem o Sinistro em seu caminho.

— Que é…? – Lestrade perguntou lá do seu lugar.

 – O cão gigantesco e espectral que assombra os cemitérios. Significa que a morte está a sua espreita!

Molly levou as mãos à boca enquanto todos os outros carregavam expressões apavoradas. Mas John logo se levantou e foi para perto da professora para ver pessoalmente a xícara do amigo:

— Não pera. Só parece um Sinistro se olhar desse ângulo. Se a gente girar pra esse lado fica parecendo um bolota de carvalho.

Lestrade, Sally e Tobias Gregson fizeram o mesmo, cada um puxando a xícara e fazendo suas próprias interpretações.

— Tá na cara que isso é um macaco!

— Não! É um chapéu coco!

— Se olhar desse jeito parece uma cueca.

— Claro que não! Não tem esse formato no livro!

— O otimismo de vocês é acolhedor, queridos. – A professora tomava a xícara de volta com rispidez – Mas está bloqueando a sua visão interior.

Henry, que até então estava paralisado feito uma estátua, murmurou tão baixo que todo o resto parou de falar só para ouvi-lo.

— A professora tem razão… – Sua mandíbula estava trêmula – Eu já vi ele antes. Esse tal sinistro.

— Do que ta falando, cara? – John perguntou preocupado.

Henry olhou para ele com certo pavor:

— Estou falando do cão dos Baskerville.

 

Continua


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