Nunca mais escrita por Artemis Stark


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Song inspirada na música "Do fundo do meu coração".

https://www.youtube.com/watch?v=g_t4U2q-tvQ



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Consultou o pager conferindo o local e a hora do encontro. Consultou sabendo que não era necessário fazê-lo, afinal, já tinha feito pelo menos dez vezes. Viu-o chegando com um lindo sorriso no rosto, o mesmo sorriso que a cativara na danceteria dias atrás.

Brindaram, sorrindo. A noite começou no chopp e terminou na caipirinha de diversas frutas onde compartilhavam canudo, toque de mãos, segredos e confidências de paixão.

 - Se você quiser... – ele ofereceu, parando em frente a um motel.

— Sim – ela falou, sem saber que muitas vezes recorreria àquele advérbio.

Marcelo beijou seu rosto e depois caiu num sono pesado, enquanto Sofia encarava o teto com um sorriso preso no rosto.

No dia seguinte despediram-se com um beijo.

— Amanhã te ligo, Sô?

— Sim, claro.

Advérbio de modo.

Aqueles meses parecem uma ridícula história inventada ou a sessão da tarde que devorava quando mais nova. Parecia um filme.

Amor. Bebidas. Entrega. Brigas. Reconciliação. Beijos, abraços. Encontros, danças, churrasco. Flores, chocolate. Compromisso.

Então ele sumiu.

Sofia limpou as lágrimas, afinal tinha orgulho dentro de si.

No entanto, apesar do ombro erguido, da cabeça erguida, apesar de novos amores sentia-a partida por dentro. Estilhaçada com diversos pedaços que feriam a si mesma.

Abriu o flip do celular quando ele tocou, sem reconhecer o número.

— Consegui seu número com um amigo.

Cada palavra era uma nova ferida e uma nova esperança que nascia em Sofia.

— Marcelo?

— Desculpe. Podemos nos encontrar? Onde está?

— Morrison - respondeu, entregue.

Ele não falou nada, pois ambos sabiam que tinham se conhecido lá.

— Estou indo. Pode esperar do lado de fora?

— Sim – ela concordou sem forças de negar.

Suas amigas tentaram impedi-la, dizendo todas as verdades que ela sabia, no entanto, escolhia ignorar. Envolveu-se no casaco ao sentir o frio da madrugada e encontrou-o parado do outro lado de rua, envolto na fumaça do cigarro.

Atravessou a rua a passos rápidos como se percorrer aquela distância pudesse significar apagar o tempo de solidão.

— Voltou a fumar?

Apesar do cigarro ter sido recentemente aceso, ele abaixou-se para apagar e depois colocou a bituca em um saquinho que tirou do bolso.

Sofia sabia qual deveria ser sua reação: empurrá-lo para longe de si. Ou xingá-lo e perguntar “por quê?”.

Não conseguiu. Aquele que parecia ser um simples gesto dele de não jogar cigarro no chão sempre foi um ponto fraco dela. Aliás, Marcelo representava todos seus pontos fracos.

— Só estou nervoso. Desculpe ter sumido.

Lembrou-se do seu orgulho, então respirou fundo para fazer a pergunta que brincava em seu pensamento. Não teve tempo. Marcelo puxou-a pela cintura e a beijou.

Com aquele beijo, pensou: agora ele fica. E esqueceu todas suas inseguranças e verdades sobre ele.

A noite terminou onde terminou aquela primeira noite, a noite em que sabia que estava perdidamente apaixonada por Marcelo.

Só que ele sumiu de novo.

Não achou no facebook e aquilo não a surpreendeu.

Desligou o computador e recolheu pedacinhos de si espalhados pela casa. Pedacinhos que, mesmo colados, deixaram uma marca permanente.

Pegou uma taça e esvaziou a garrafa de vinho em doses.

Pegou a garrafa de vinho por algumas semanas. Sozinha com seu livro, com suas amigas que a animavam e com parceiros que não a faziam esquecer o que precisava ser esquecido.

Atendeu o celular de forma automática, pegando-o ao invés de pegar sua taça cheia.

— Achei que tinha trocado de número.

Outro pedaço de si caiu quando respondeu:

— Não troquei. Achei que pudesse voltar.

— Passa seu endereço?

— Sim - odiou-se, mas essa foi a resposta.

Advérbio de modo: sim.

Com aquele beijo, pensou: agora ele fica.

A noite terminou onde terminou aquela a última noite, a noite em que sabia que estava eternamente perdidamente apaixonada por Marcelo.

Só que ele sumiu de novo.

Seus movimentos eram automáticos, como um robô programado, uma inteligência artificial.

Desistiu do vinho e encheu o copo com algo mais forte quando deu uma terceira, uma quarta, uma sétima chance amarga pra Marcelo.

Sofia olhou-se no espelho vendo as marcas invisíveis para outros, cada linha um caminho infinito de mágoas, de arrependimentos, de certezas.

A campainha tocou e sabia que era ele.

Estava lá, parado e nem sabia mais o que era sentir orgulho, não quando pensava que ele ficaria, quando dizia “sim”, quando o amargor daquela relação fazia tudo perder o sentido.

— Chega, Marcelo.

Uma mão segurava a porta aberta a outra o copo de uísque.

— Seu amor não é mais meu?

A pergunta que a fazia ceder.

— Sim.

Ele deu um passo, porém Sofia ficou parada, afinal, já tinha visto seu orgulho sumir como a fumaça dos cigarros que ele insistia em fumar.

— Então?

— Chega, Marcelo. Não volte nunca mais para mim.

Fechou a porta sentindo a presença dele do outro lado. Seu corpo caiu sobre a poltrona sem derramar uma gota do líquido âmbar. Chorou.

Chorou, pois, agora estava livre.


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