Bem Perto escrita por ro_dollores


Capítulo 10
Distante


Notas iniciais do capítulo

Este é o penultimo capítulo.



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A viagem de volta para seu apartamento foi muito mais tranquila em termos de estrada. Ele havia decidido interromper sua estadia na casa dos Hudson, seria melhor assim!

Ele abriu a porta e foi direto para o banho, pediria uma pizza e tentaria sobreviver a enorme vontade de ligar para Sara, ela precisava saber o que ele havia descoberto. Mas o que pesava era a rejeição. Ele decidiu que não se puniria mais com flashes de sua consciência o cobrando para dar satisfações, mesmo admitindo que devia tantas descobertas a ela, indiretamente ou não.

O que ela estaria fazendo? Talvez estivesse aliviada em não ter a presença dele, ou talvez ainda, descoberto que era melhor assim. 

Meus Deus, ele sentia sua falta,  queria largar tudo e dizer que queria ter uma vida com ela, mas não podia. Ela também teria que querer!

E se ele a amava com tanta força, deveria desejar que ela fosse feliz, mesmo não sendo com ele. A ideia lhe bateu com força e ele esfregou os olhos, percebendo que sua dor de cabeça não havia evoluído como pensara.

Talvez o alívio de tirar um peso tão grande de seus ombros, tivesse ajudado seu emocional a bloquear a dor.

Ele abriu seu notebook e respondeu algumas correspondências eletrônicas, a boa notícia era que havia uma infinidade de capas para serem aprovadas de seu livro, ele se identificou imediatamente com o fundo em celeste fosco e alguns pequenos insetos em relevo de alto brilho. Tinha ficado fantástico.

A ligação para os Hudson lhe cortou o coração, mas estava feito. Ele deixaria as chaves com o responsável no escritório do complexo, ao lado da guarita, depois se jogou na  cama e dormiu imediatamente, totalmente esgotado.

…………………………………………………………………

Sara estava quase enlouquecendo, todas as suas atividades pareciam sem graça, ela estava tendo sonhos confusos, imagens de Bruce desfocadas, quase apagadas, mas sempre sorrindo, as de Grissom sempre tristes, estendendo os braços para ela, depois desistindo. 

Ela olhou para o relógio da cabeceira pela décima vez, eram duas horas da manhã, um aperto em seu coração, assim como quando ela havia se despedido de Bruce antes do acidente.

“Meu Deus … o que é isso?”

Ela ouviu o telefone, e atendeu imediatamente, tremendo tanto que chegou a derrubá-lo.

“Alô!”

“Sara …”

“Pai, o que aconteceu?

“Grissom se foi, querida …”

“NÃO!!!!!!!”

O grito de horror cortou a madrugada e ela acordou aos prantos, o peito apertado.

Seu coração atropelava as batidas e ela não conseguiu respirar, o medo a apavorando, a dor rasgando sua alma.

O quarto estava escuro, ela acendeu o abajur e respirou fundo.

Tinha sido um pesadelo!

As horas piscavam meia noite, e ela pulou da cama, precisava beber algo para se acalmar.

Ela ligou a TV e foi para a cozinha, ainda tremendo.

Alguns minutos depois, se sentou no sofá, com uma xícara de chá fumegante.

Sua cabeça dando voltas, muitas coisas passando em sua mente.

Quando Grissom voltaria? E se ela ligasse para saber como tinha sido com Jeanine? Ou talvez, para dizer que precisam conversar e ela ter a certeza que ele estava bem, que aquele adeus tinha sido apenas por ele se sentir rejeitado. Ela estava ainda mais confusa e fraca.

De repente ela imaginou se o que havia sonhado fosse realidade.

Ela levou a mão até os lábios, tentando segurar um soluço. Ela estava com muito medo de ver Bruce em Grissom, de ter aquela sensação que tentou não pensar, quando ele a tocou, antes de partir. 

Seu pesadelo estava lhe dando uma grande lição. Ela não iria suportar a fatalidade, e não era por conta de já ter sofrido a perda de Bruce, era simplesmente porque descobrira de ela amava Grissom muito mais do que poderia imaginar!

O tempo que estiveram juntos foi o suficiente para que ela descobrisse o óbvio!

Ela chorou até adormecer no sofá.

O telefone!

Ela abriu os olhos e desta vez não estava sonhando, com receio ela atendeu fechando os olhos.

“Oi!”

“Sara, é Brian … como vai?”

Ela suspirou, colocando a mão no peito, a voz de um dos membros de sua equipe lhe trouxe um alívio temporário.

“Bem e você? O que manda?”

“O Jimmy pediu para que venha para uma reunião depois de amanhã, é que haverá uma transição, e todos precisam assinar a ata. Você sabe como é.

“E nosso comandante não me ligou por quê?”

“Bem … ‘estou’ garoto de recados no momento, perdi uma aposta … sou o office boy por duas semanas. Pego café, secretario reuniões, faço ligações, essas coisas.

“E como entrou nessa, Jimmy?”

“A Liga Americana, Chargers e Rams, me dei mal, foi uma parada sinistra, uma virada histórica e lá se foi dois mil e minha dignidade.”

Sara começou a rir, Brian também tinha alta qualificação, como se submeteu aquilo, sabendo que devia haver algum risco de perder?

“Que furada …”

“A probabilidade era trinta por um … me ferrei! Então, recado dado, beleza?”

“Oh sim, estarei aí, até mais!”

…………………………………………………………………

Grissom acordou quase dez da manhã, geralmente precisava de poucas horas para dormir, mas toda tensão e desgaste o levaram à exaustão.

O primeiro pensamento foi para Sara, com toda a frequente interação física que tiveram, seu corpo estava pedindo por ela como se fosse uma poderosa droga. Além do mais, seu emocional também estava dependente dela! Ele a amava e negar, seria insano e enganoso. Uma ducha gelada o trouxe de volta à vida solitária e concentrada no trabalho que ele sempre tivera. Ela tinha que ficar no passado, admitir era como um punhal no peito. Ele tinha uma tristeza de morte dentro dele, mas tinha que seguir em frente.

Ele precisava voltar ao chalé, pegar suas coisas, e rezar para não vê-la!

Ele era um analista realista, suas chances eram zero, e mesmo não querendo precisava aceitar! A maneira como ela se retraiu quando a tocou não saía de sua cabeça. Enquanto ele atravessava os portões de sua moradia nos últimos meses, Sara estava abrindo a porta de sua casa em São Francisco. Ela tinha decidido ir um dia antes, aproveitaria a companhia de seus pais, se livraria temporariamente das lembranças de Grissom em sua casa de veraneio e chegaria descansada na reunião, que geralmente eram longas e cansativas!

Ela abraçou sua mãe com força, sentindo o cheiro gostoso que vinha dela, era tão reconfortante.

“O que faz aqui, meu amor? Você disse que não tinha previsão de retorno? Aconteceu alguma coisa?”

Ela beliscou os biscoitos que sua mãe acabara de tirar do forno e se sentou na beirada do tampão de granito da ilha da cozinha.

“Eu tenho reunião amanhã de manhã e … queria fazer uma surpresa.”

Rosie percebeu que ela parecia mais magra, com profundas olheiras e se esforçando para parecer bem. Ela sabia que não. O tom de sua voz, a força como mexia as mãos com rapidez, além dela evitar olhar diretamente em seus olhos.

“Reunião?”

“Isso … onde está o papai?”

“No banho, ele acabou de chegar da corporação. Então vai voltar para a Villa?”

“Sim …”

“O que está havendo, Sara?”

“Como assim?”

Ela deu um grito e riu como se ainda tivesse seis anos, sentindo seus pés deixarem o chão,  quando seu pai a levantou e girou com ela pela cozinha. 

“Que surpresa boa, filha!”

Ele a segurou pelos ombros e beijou vária vezes suas bochechas, depois percebeu que ela estava evitando encará-lo.

Gerard e Rosie trocaram um olhar cúmplice e revelador, que não passou despercido por ela.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Não …” - ela apertou os lábios e baixou o olhar.

Seu pai agarrou sua mão e a de sua mãe e se sentou entre elas no sofá.

“Estamos esperando …”

Rosie sabia que ele não demoraria pra tirar dela o que parecia muito nítido, algo não estava bem.

“Esperando o quê?”

“A explicação para sua perda de peso e essas olheiras, você é nossa vida, mas está horrível, querida!”

Ela suspirou, eles a conheciam muito bem, e nada os faria desviar quando queriam algo. Sara deixou que seus ombros caíssem em derrota, depois jogou seu corpo para frente, apoiando os cotovelos na coxa para que suas mãos segurassem sua cabeça, ganhando tempo para elaborar as palavras.

“Onde está Grissom?”

“Em Las Vegas, ele precisou fazer umas coisas.” 

“Coisas? O que podemos saber sobre ele?”

Mesmo se sentindo como uma adolescente tendo que se explicar sobre um namoradinho, ela o fez, respeitando a preocupação de seus pais. 

“Ele é um renomado entomologista forense que supervisiona uma equipe no laboratório de criminalística de Las Vegas. É muito respeitado, pai. Bem … ele terminou de escrever um livro, e tinha reunião com seu editor e agente, além disso …. há algo que precisam saber.”

Rosie arregalou os olhos, temendo pelas próximas palavras.

“Ai meu Deus!”

“Grissom … nós … descobrimos que ele é o pai de Bruce!!!”

…………………………………………………………………

Grissom desceu de sua suv e Peter veio ao seu encontro.

“Bom dia, doutor!”

“Bom dia, Peter, como vai?”

“Bem … obrigado. O doutor vai precisar de meus serviços? Estarei de férias pelos próximos quinze dias.”

“Não, agradeço sua preocupação, eu … estou indo para casa, apenas vim pegar algumas coisas …” - ele olhou para a casa de Sara e abaixou a cabeça, sem que dissesse nada, o bom jardineiro desatou a falar.

“A menina Sara foi até São Francisco, mas deve voltar em breve, falei com ela esta manhã também!”

“Ela … está em São Francisco?”

“Sim … tem algumas reuniões de trabalho.”

“Ah sim … bem, foi um prazer conhecê-lo, Peter!” - Eles apertaram as mãos, sentindo que Peter o media.

“Digo o mesmo, precisando, estarei sempre à disposição, espero nos vermos em breve!”

Peter sabia que algo estava errado, a menina Sara estava cabisbaixa, triste, assim como o doutor e se sentiu mal por eles.

Assim que Grissom atravessou os portões, algumas horas depois, duas lágrimas caíram de seus olhos, embaçando sua visão. O fim de um tempo tão maravilhoso rasgou sua alma.

…………………………………………………………………

“O quê???” - Seus pais se levantaram, quase gritando em uníssono.

Ela os fez se sentar novamente e com paciência, contou a eles que tinha sido por acaso que descobriram, embora ela sempre teve a sensação de que o conhecia. 

“Marca de nascença?”

Que sua mãe nunca lhe perguntasse onde. Seria constrangedor ter que explicar em frente ao seu pai.

“Sim … eu mostrei uma foto de Bruce e ele reconheceu imediatamente as feições da mãe dele.”

“E … como é que isso se deu? Como pode um homem, que me parece ser do bem, renegar um filho?”

“Não, nunca pai. Ele não sabia e … neste momento já deve ter descoberto o porquê. Ele foi procurar por informações com Jeanine, em Venice Beach.

Eles estavam perplexos.

Gerard balançava a cabeça todo instante e Rosie, demonstrava seu nervosismo sentando e levantando por diversas vezes.

“Como você está com isso?”

“Foi tudo muito confuso, para nós dois. Como ele precisou se afastar, acho que tivemos um acordo velado.”

“Acordo velado?”

Ela quis gritar que ele havia lhe dito adeus, mas não conseguiu sequer conjecturar uma sílaba.

“Sara? Vocês … estão bem?”

Ela apenas balançou a cabeça, lágrimas escorrendo em seu rosto.

…………………………………………………………………

Assim que sua reunião terminou, todos estavam na copa, com seus cafés e rosquinhas de mel. As mais famosas de São Francisco.

Jimmy a abraçou demonstrando todo seu carinho por ela, Brian e Lucy não a deixaram em paz. Ela tinha feito amigos ali.

Ela viu um cartaz na parede e se interessou imediatamente.

“Seminário forense?”

“Ah … sim, este ano será aqui em São Francisco. Nós estamos tentando há um tempo trazer um famoso entomologista de Las Vegas, doutor Grissom!”

“Estou insistindo com Jimmy para ir com você, dizem que é excepcional. - Lucy era uma garota expansiva, um tanto saliente, quase sexy, mas uma profissional dedicada e incansável. 

Seu coração quase parou.

“Há um tempo?”

“Na verdade, eu te inscrevi para Denver, mas tivemos que cancelar por conta daquela série de assassinatos que assolou a universidade, se lembra?”

“Sim … Simon Fox! Isso foi há quase três anos!”

“Isso, e depois Massachussets, o ano passado mas, você não tinha condições de ir … você sabe …”

“Sim …”

“Os nossos peritos forenses estão envelhecendo, Sara! Precisamos de mais pessoas que possam agregar conhecimento, você sempre foi a melhor e com mais essa bagagem … seria muito útil para todo o departamento, ou talvez mais além.”

“Bem … podemos ver … eu … eu … preciso ir!”

Ela se despediu com a promessa de que se falariam ainda aquela semana.

Quando se sentou em seu carro, ela encostou a cabeça no volante, um tanto quanto nervosa.

Estava mais do que no momento de admitir que os dedos ágeis do que parecia ser sim o destino, estava traçando os movimentos há um tempo. Ela encontraria Grissom certo ou tarde.

Aquela coisa toda de sensações e impressões não era por acaso!

Sua mãe é quem gostava de misticismo, ela era tão cética quanto Grissom, mas negar, seria fechar os olhos para uma grande verdade que derrubava qualquer argumento que poderia criar. Ela teve o filho, mas o pai era verdadeiramente seu grande amor! 

Ela amava Grissom, o que estava sentindo e sofrendo não era menos do que com Bruce, era grandioso e forte.

 


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Notas finais do capítulo

Espero de coração que tenha atendido a todas as duvidas que surgiram no decorrer, e que os os momentos de leitura tenham sido de qualidade. Até já com o último capítulo!



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