Desci as escadas totalmente cansada e me sentei à mesa, pegando logo uma xícara de café quente. Precisava disso para ficar acordada, visto que dormi muito mal depois dos meus pensamentos insanos.

Certo Marinette, isso é só coisa da sua cabeça, é só a sua mente pregando uma peça. Chat Noir não pode ser Adrien Agreste.

— Nossa! Você foi atropelada? – Kim questionou ao finalmente me encarar e eu apenas coloquei a língua para ele.

— Muito engraçado!

— Nem vem que você mentiu pra mim duas vezes.

— Como assim?

— Você disse duas vezes que não estava namorando o Agreste, mas agora todo mundo na escola sabe que vocês estão namorando. – encolhi meus ombros.

— Desculpa, ficamos com medo da sua reação. – menti.

— Tudo bem, tudo bem. Mas quando você vai contar pro papai e pra mamãe? – arregalei os olhos. Tinha me esquecido desse “pequeno” detalhe.

— Em breve. E eu agradeceria se você não contasse antes de mim.

— Não se preocupa, não é da minha conta. – sorri em agradecimento e voltei a tomar o café.

Depois que terminei, subi de volta para o meu quarto e comecei a trabalhar em uma blusa que a amiga da minha mãe me pagou para consertar. Precisava focar a minha mente em outra coisa que não fosse a identidade secreta de Chat Noir.

Meu celular vibrou e Tikki me trouxe ele.

Como assim você tá namorando o Adrien e eu só soube agora?

Era Alya surtando. Ela até havia mandado emojis e memes para ilustrar os seus sentimentos sobre o assunto.

Você e o Nino saberiam se não estivessem fugindo de nós dois.

Para “discutir as estratégias”.

Eu pretendia contar a verdade para a minha melhor amiga, mas antes decidi deixar ela surtando um pouco por ter me deixado de lado. Era uma vingança de leve.

Outch!

Essa doeu, mas eu mereci.

Sinto muito, amiga.

Não vou deixar mais essa bobeira nos separar.

Tudo bem, está perdoada.

Aliás, Adrien convidou para jogar video game hoje de tarde.

Ele ia chamar você e Nino, só que vocês meio que estavam nos evitando.

Mas agora podemos ir nós três na casa dele.

Eu adoraria de verdade.

Mas acho que o novo casal precisa de um tempo à sós.

Se é que me entende.

Minhas bochechas ficaram vermelhas apenas ao ler a mensagem. A Marinette de um ano atrás voltou para o meu corpo e agora estava surtando por passar um tempo sozinha com Adrien.

Mandei um emoji para Alya e antes que eu conseguisse voltar ao trabalho, recebi uma mensagem que fez com que eu surtasse ainda mais.

Oi namorada de mentirinha, hahaha!

Queria saber se está tudo certo para você vir aqui hoje de tarde?

Eu queria responder, queria muito. Porém eu fiquei paralisada.

— O que está esperando? Responde! – Tikki sobrevoou ao meu lado e eu encarei ela.

— E se ele for mesmo o Chat Noir? – eu acreditava na possibilidade, pois tudo fazia muito sentido. Além das coincidências que mencionei antes, Adrien tinha as mesmas características físicas que Chat. Sem contar daquela desculpa de se esconder durante os ataques de akumas por causa do medo, pelo visto eu não sou uma especialista em desculpas coisa nenhuma.

Refleti também sobre vários outros detalhes que pareciam se encaixar perfeitamente, como o fato de ele sempre afirmar com muita certeza que Félix não poderia ser o Chat Noir.

— Aí está a sua chance de descobrir. – ela sugeriu – Bem, se é que você quer descobrir.

— Talvez eu queira. – dei de ombros – Só tem um jeito de descobrir se eu quero descobrir. – brinquei e respirei fundo, criando coragem.

Oi.

Sim, é claro.

Estarei aí.

Bloqueei o celular e voltei a costurar. Será que eu gostaria mesmo de descobrir?

O fato é que eu não entendo, eu deveria estar feliz se fosse verdade. Por que então eu estou assim? Talvez seja o choque? Talvez medo do que ele vai pensar de mim se descobrir que eu sou a Ladybug, a garota que ele tanto ama?

Espera um pouco... Eu não tinha pensado nisso.

O ADRIEN ME AMA!

— Ai meu Deus, Tikki! – parei o que estava fazendo e chamei a atenção da minha kwami.

— O que foi Marinette? – ela questionou preocupada.

— Eu estou muito ferrada! – comecei a contar o meu problema para Tikki, que na verdade não era um problema. – E eu não sei o que fazer, porque eu vou na casa dele hoje e vou ficar sozinha com ele! E eu não posso cancelar porque é chato, e eu também não quero cancelar. Mas tem ideia do quão esquisito vai ser?

— Se acalma, Marinette! – a pequena riu. – É só você não fazer ser esquisito. Acima de tudo o Adrien é seu amigo. E tem mais, ele não sabe que você provavelmente sabe. Aja naturalmente e se divirta.

— É, você tem razão, Tikki. Preciso controlar a minha mente. – respirei fundo – Talvez ele nem seja o Chat Noir e eu estou surtando por nada. – ri nervosa. – Bom, vou voltar a costurar, pois preciso terminar essa blusa antes de ir para a casa do Adrien.

Tikki sorriu e eu voltei ao trabalho, tentando não surtar por algo quem nem está comprovado.

***

— É sério, você não vai fazer coisa errada! – revirei os olhos com a fala do meu irmão.

Adrien tinha oferecido o seu motorista para me buscar, porém eu recusei, se não meus pais fariam muitas perguntas. Então Kim se ofereceu para me acompanhar caminhando – o caminho era o mesmo da sua aula de natação –, acabei aceitando a gentileza. Só não sabia que a real intenção do meu irmão era me dar um sermão sobre tomar cuidado.

— Cala a boca!

— Eu aqui cuidando da minha irmãzinha e é isso que eu ganho em troca? – ele bagunçou os meus cabelos e eu bati na sua mão, a afastando da minha cabeça – Agressão!

— Para de drama, eu só vou jogar video game com ele.

— Tudo bem, tudo bem. – levantou as mãos em sinal de rendição – Mas é sério, qualquer coisa vocês têm que usar proteção.

— Kim! – arregalei os olhos e bati minha mão na testa.

— O que foi? Eu não quero que você apareça grávida! – sorte que não passou nenhum carro na rua naquela hora, pois eu não sabia se me atiraria ou atiraria o meu irmão na frente dele.

— Eu. Não. Vou. – falei pausadamente – Olha, chegamos. – apontei para a casa dele – Agora você e suas paranoias podem ir embora. – ele riu e me deu um beijo na testa.

— Se cuida.

— Você também, idiota.

— Bobona! – gritou e saiu correndo. Balancei a cabeça em negação e toquei o interfone. Não demorou muito para a assistente dele atender e dizer que logo abriria os portões.

— Kim parecia realmente preocupado. – Tikki disse.

— É. Apesar de ser sem noção, ele é um bom irmão. – os portões foram abertos e eu logo entrei – Se esconde, Tikki. – fechei a minha bolsa enquanto parava em frente as enormes portas da mansão.

Ok, você consegue fazer isso sem surtar, Marinette. Pode ser que a sua teoria esteja completamente errada, assim como a teoria da Alya que o Félix é o Chat Noir.

Vamos lá, se controla. Vai dar tudo certo.

Esperei por alguns segundos e as portas abriram, revelando Adrien parado ali no meio do hall de entrada.

— Boa tarde. – sorriu e veio até mim, me dando um abraço. Ok, acho que vou surtar.

— B-Boa tarde. – me repreendi mentalmente por ter gaguejado.

— Vamos lá? – apontou para as escadas e eu assenti. Logo saí caminhando ao seu lado – Então, como foi o seu dia? – bem tenso pra falar a verdade, pois fiquei o tempo todo imaginando que você poderia ser Chat Noir.

— Bom. – respondi simples. – E o seu?

— Normal, eu diria. – Adrien abriu a porta do quarto e me deu passagem.

O cômodo era enorme e tinha tudo do bom e do melhor – incluindo o próprio Adrien. Apesar disso, não era novidade para mim, já estive aqui como Ladybug, salvando ele, e como Marinette, fazendo trabalhos em grupo.

— Ainda não me acostumei com tamanho do seu quarto. – ele riu e sentou no grande sofá branco.

— Fica à vontade. – sorri e sentei ao seu lado. – Olha, eu tenho alguns jogos novos pra testar, se você quiser escolher. – apontou para algumas caixas de jogos na mesa de centro.

— Escolhe você.

— Certeza? – assenti. Adrien então começou a olhar os jogos, com uma expressão concentrada, que só pra constar, o deixava ainda mais lindo. – Pode ser esse?

— Claro. – nem prestei atenção na capa, muito menos no título. Minha mente estava completamente desconsertada.

Ok, eu preciso focar no objetivo, que é me divertir jogando video games com o meu amigo. Só isso. Nada mais.

Adrien fez menção de levantar para colocar o jogo no console, porém parou e olhou para mim. Sorri nervosa e ele suspirou.

— Antes de começarmos, eu preciso dizer uma coisa. – paralisei.

— D-Diga. – foi só o que consegui falar. E mesmo sendo apenas uma palavra, ainda sim consegui gaguejar.

Não consegui decifrar o jeito que o loiro me encarava, o que me deixou mais nervosa ainda. Provavelmente não era nada de mais, mas a minha mente fértil estava imaginando inúmeras possibilidades, que iam desde “eu sei que você tem uma queda enorme por mim”, até “eu sei que você é a Ladybug”.

Respirei fundo, tentando me recompor.

É claro que ele não vai dizer nada disso. Não vai ser nada demais. Se controla, Marinette!

— Eu sei que você é a Ladybug.