PaRaLeLoq escrita por Legendary


Capítulo 2
Tiroteio


Notas iniciais do capítulo

E LÁ VAMOS NÓS!



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Os ventos atravessavam as janelas abertas do escritório desorganizado.

Algumas enciclopédias de biologia e sociologia estavam espalhadas pelas escrivaninhas.

Por trás da grande mesa estava a figura de pele pálida sentava batucando os dedos com um certo anseio.

Legendary olhava do relógio para o céu da janela afora, algo que se repetia diversas vezes durante três dias enquanto vez ou outra roía as unhas.

— Por quanto tempo vou ter que esperar... 

Desabava tediosa com a testa na mesa. 

A ventania lá fora aumentava a medida em que se passavam as horas, e dos céus arrastava-se um papel de bala que pousara em sua mesa. 

Legendary encarava confusa aquele embrulho de doce rasgado.

Logo sua atenção foi voltada à escândalos vindo do andar debaixo.

— Tem alguém aí?? - Legendary descia correndo as escadas do último andar até o saguão.

Ao se aproximar das poltronas ela se depara com  um pequeno ponto branco e barulhento latindo para todos os lados.

— Oh...

Legendary de inicio fica confusa encarando aquele pequeno ser que surgiu de repente em seu prédio e logo se anima ao agarrá-lo e erguê-lo para cima.

— AA SEJA BEM-VINDO AO PARALELOQ! PERMITA-ME QUE TE ACOMPANHE ATÉ O ESCRITÓRIO PARA MAIS INFORMAÇÕES!!

Então a moça subiu com o cãozinho por baixo do braço.

 

Quadras distantes dali corria um enorme urso rosa no meio dos becos. 

O urso batia com os pés nervosos pelas poças d´água e corria em zigue zague desviando-se dos tiros de espingardas.

— Volte aqui maldito!!! 

Um grande grupo de homens armados perseguiam-no.

— Peguem aquele urso!! 

O urso fez curva numa viela fazendo despencar balas de caramelo da sua roupa. 

Um salto arriscado entre as latas de lixo no caminho foi decisivo para se distanciar mais dos homens. 

O urso estava conseguindo despistá-los assim que se enfiou entre barraquinhas de vendas e pedestres na estrada e se esquivou com habilidade de um carro que ultrapassava o sinal vermelho.

Tiros foram disparados causando um tumulto na rua. 

Um jornal levado pelo vento tapou o rosto do urso que o fez tombar desorientado pelo caminho onde agora tentava evitar ser pisoteado da correria provocada pelos disparos.

— Levante-se!! - Alguém se aproximava do urso o puxando com força.

O urso rosa se ergueu com a ajuda de um menino franzino que parecia tão assustado quanto ele. A partir daí os dois correram juntos pela cidade onde o tempo escurecia, os tiros explodiam, e as trovoadas vibravam a terra.

 

— Então, posso saber o seu nome completo??

Legendary fechava as janelas para que o vento não trouxesse galhos da tempestade lá fora.

— AU! - Latiu o cachorrinho trêmulo na poltrona.

— Desculpe, eu não prestei atenção - Diria sentando-se atrás da mesa - Poderia repetir mais devagar?..

— AU AU AU! - Em seguida o cachorrinho ficou cheirando a almofada da poltrona.

— Nossa... Esse nome é excepcional! O meu é Legendary! Prazer em conhecê-lo Sr.Au Au Au

— AU! 

— O senhor tem fome?

— AU!

— Bem, Sr. Au Au Au, nós podemos começar com a introdução do... Bem...

 Legendary haveria parado de falar ao ouvir tiroteios lá fora. Logo pôde ouvir os vidros serem atingidos lá embaixo. Ela pediu permissão do cachorrinho para se retirar e com um aceno de rabo ela correu ignorando os degraus da escada e saltou com tudo andar abaixo.

 

— E-Então... Você está sendo perseguido pelos capangas do circo por simplesmente ter substituído as balas de caramelo pelas balas de cereja?..

O menino franzino tentava manter a calma enquanto conversava com o urso rosa. Os dois estavam espremidos entre as latas de lixo num beco minúsculo.

— Oshi como se isso fosse novidade! Eles é que estavam mal acostumados pelo modo certinho de arrumar os saquinhos de doce. Os caras sempre se esquecem que doce também faz parte do meu salário!! Daí chega os patrão e contrata os caras com armas pra me atirar... Mó fita isso.

O menino alisou os dedos em suas madeixas claras respirando fundo. Sua testa estava suando e suas pernas ansiavam por correr o mais longe dali pois precisava resolver outro problema.

— Você tá bem ô moço? O tiroteio parou. A gente talvez possa até sair daqui agora!

— E-Estou... Estou bem... O Marley... Eu... Perdi o Marley...

— Calma moço, desmaia não!! Ai socoro...

O urso puxou o albino para fora das latas e andou na ponta dos pés indo de beco em beco, se esgueirando para ter certeza de que não estavam mais sendo perseguidos.

Eles estavam cansados e já anoitecera apesar da chuva não ter cessado. 

Então foram andando com todo cuidado para não serem notados pelas viaturas e repórteres que permaneceram horas à fio desde o início do tiroteio.

— Não se preocupe! Vamos achar esse tal de Marley nem que eu ferre minha outra perna! - Diria o urso rosa com convicção. 

O assunto da perna deixou o menino de cabelos claros curioso mas aquilo não era uma boa hora para perguntas. Não quando sombras e vultos se esgueiravam em volta deles.

Os dois foram caminhando até entrarem num único prédio iluminado naquela rua. Parecia uma espécie de hotel. O saguão era detalhadamente ornamentado  e no canto havia um grande e bem polido piano. Em volta poltronas e sofás confortáveis. 

O urso rosa se jogou em um deles respirando normalmente pela primeira vez depois de horas de perseguição. Relaxado, abriu um embrulho de bala de caramelo e ofereceu ao seu colega que estava em pé o encarando com as mãos na cintura.

— Eu não tenho tempo para isso. Preciso achar o Marley!! - Ofegou com uma voz que se diferenciava do menino calmo que haveria ajudado o urso mais cedo.

— Ei, não precisa ter essa tensão toda! Vamos ter que repor nossas energias primeiro - Diria o urso seguro - À propósito, meu nome é Mello!

— Matt...

— Você que uma balinha Matt??

— ...

Um disparo quebrou o vidro de entrada do saguão. Os dois paralisaram ao se depararem com um grupo de homens armados quebrando toda a vidraça da porta invadindo o saguão.

Foi instantâneo. Os dois se jogaram para lados opostos antes que o primeiro disparo pudesse acertar um deles.

Os dois engatinhavam por trás dos sofás para se protegerem agora da enxurrada de tiroteios...

Mello se esgueirando pelos cantos, rolando detrás de um sofá para o outro e Matt com um semblante frio pegando um dos cacos de vidro espalhados pelo chão.

Mas quais seriam as chances dos dois contra um grupo de homens furiosos e armados?

— O PATRÃO VAI QUERER AS BALAS DE CARAMELO DE VOLTA!! - Gritou um deles mirando a espingarda de chumbo na direção do sofá onde Mello acabara de rolar.

— MANDA ELE VOLTAR COM UMA PRIVADA!

— A 

Por pouco Mello não teve o corpo contido por milhares de balas. Matt haveria se jogado em cima do homem com a ponta do vidro em riste.

No mesmo segundo Legendary haveria descido as escadas se perguntando que algazarra era aquela e logo teve que se agachar para que não levasse um tiro.

O que está acontecendo?! De onde saiu esse povo!? Era o que se passava na cabeça da moça ao ver um bando de estranhos no seu saguão. 

Legendary tentou recordar dos parágrafos daquele livro do primário que falava sobre brigas entre os colegas, mas não se recordava do livro mencionar sobre colegas armados.

— Oh... O que faço... Essas coisas podem machucar... - Ela viu que um dos meninos havia se sujado com sangue - Já machucou até! Droga!

Resmungava relutante enquanto tirava uma arma do seu sobretudo negro.

— VAMOS PARAR POR AQU...

Subitamente todos congelaram. Os homens cessaram os disparos. O saguão entrou em extremo silêncio. Legendary, também paralisada, tentou sorrir alegre...

Para um oficial da policia que acabara de entrar e ter se deparado com; Matt com as vestes sujas de sangue em cima de um dos atiradores. Mello de ponta cabeça após ter dado uma pausa na sua acrobacia no meio do chão. Os homens armados até os dentes e uma estranha de pele doentemente pálida com sua arma também em riste.

Não demorou para que todos estivessem na delegacia para assinarem um termo. 

Houve uma grande confusão, mas no final os homens das espingardas foram apreendidos por já haverem tidos diversas passagens pela policia. Legendary deu um jeito de se responsabilizar por Mello e Matt e após muita conversa os três iriam sair da delegacia. Se não fosse pelo caso do Matt com um dos caras e ter ficado mais horas numa sala com um oficial, que o liberou pois os ferimentos e sangue eram do menino que haveria se machucado no momento.

Na sala de espera Legendary encarava o urso rosa sentado ao seu lado. Mello fazia o mesmo.

— Quer bala moça? - Perguntava o urso após minutos.

— Quero!

Os dois começaram a conversar. Mello ficou muito curioso sobre aquela garota de figura estranha com a pele palidamente acinzentada e uma bandagem num dos olhos e também ficou mais curioso sobre a idade dela já que a mesma haveria se responsabilizado por eles. Ela deveria ser bem mais velha apesar do seu físico não revelar muito. E madura o suficiente para poder fazer porte do uso de armas...

— Por que você não está na floresta?? - Perguntava Legendary ao urso rosa interrompendo seus pensamentos.

— Por que lá é perigoso oxi, vai que algum bicho me mata...

— M-Mas você é um urso!!!  

— Ah... É fantasia...

— Fantasia???

Mello iria se explicar melhor se não visse a expressão de Matt ao sair da sala com o oficial. Seus olhos que antes haviam um brilho luminoso estava num tom intenso de vermelho. Suas mãos estavam tremendo e os lábios apertados.

— Ei moço, tudo bem?? Quer uma bala? Senta aqui com a gente.

— Vou. Procurar. Marley. - A voz de Matt saía pausada, fria e caótica...

— É MESMO!! ESQUECEMOS DO SEU CACHORRO!!

 Mello saltou da cadeira deixando Legendary confusa.

— Que cachorro?.. Ah... Cachorro... POR ACASO ELE FALA AU TODA HORA??!

— Que??

— É que... Nossa!... Eu deixei o Sr.Au Au Au no escritório me esperando!! PRECISO CORRER, TCHAU!

 

A garota saiu em disparada da delegacia correndo ladeira abaixo nas ruas e logo notava que estava sendo perseguida por Matt e Mello.

Os três agora a toda velocidade juntos seguiam pelos caminhos as estradas tortuosas e lamacentas causadas pela chuva. 

Chegaram no prédio e seguiram Legendary que ultrapassava os degraus da grande escada até o último andar. Lá dormia Marley na poltrona em que a menina havia o colocado mais cedo.

— MARLEY!! - Matt se atirou em cima do cachorrinho o abraçando desesperado.

O cachorro acordou aos latidos lambendo agitado o rosto do dono.

— Achei que fosse Sr.Au Au Au... - Diria Legendary desapontada - Cão mentiroso!!

— Que bom que você o achou! - Mello se aproximava para dar tapinhas nas costas de Matt mas logo se afastou após Marley ranger assustado para a grande fantasia rosa de urso do menino.

Uma onda de alegria preencheu Legendary no momento.

— Estou feliz que tudo tenha dado certo! Ninguém se feriu nem nada parecido!! Estamos todos bem!

Matt e Mello, a encararam como se a mesma houvesse dito o maior insulto do mundo. Ambos feridos com as roupas rasgadas e super híper cansados.

 

Não demorou para que a mesma os convidassem para sentar em poltronas e os oferecer chá. 

Ela havia perguntado o que teria acontecido e riu com a história das balas de caramelo trocadas pelas balas de cereja.

Mello havia elogiado o jeito que ela saltava as escadas e contou mais sobre sua carreira de acrobata de circo.

— Você é um acrobata? - Perguntava Matt calmamente como se nada de ruim houvesse ocorrido antes, agora com Marley de barriga para cima em seu colo.

— Sim eu moro num circo com minha tia desde pequeno! É muito empolgante tudo o que acontece por lá, é bem mais legal que a escola!

— Ursos também vão para a escola? - Perguntava Legendary bebericando seu chá.

— Éhr.. Então moça, eu na verdade sou uma pessoa igual a você...

— Não é possível... Você é um urso rosa!!

Mello tirou a parte de cima da fantasia, revelando por dentro o corpo de uma bela moça.

— Espera... - Matt ficou paralisado no sofá - Você.. Não... O que...

Mello tinha curtos cabelos loiros e vestia um casaco largo e shortinhos com bolinhas.

— Você... E-Era uma menina esse tempo todo??!! - Matt continuava paralisado.

O loiro fazia uma pose estilosa exibindo suas longas pernas com meias 3/4 coloridas.

— Eu sou homem gente.

— M-M-Mas... Espera.. OIII??? - Agora era Legendary a paralisada no canto.

Matt e Legendary estavam com os olhares vidrados nas feições femininas de Mello. Seus cílios imensos ladeando grandes olhos azuis. Bochechas rosadas, lábios delicados. Ambos confusos o espiavam de cima abaixo e agora pareciam que iriam ter um colapso em conjunto.

— Gente! Relaxem... V-Vocês estão ficando... roxos...

Os dois ficaram paralisados e pensativos por um bom tempo, um novo bug milenar estava prestes a ocorrer naquela noite no prédio PaRaLeLoq.

Após muitos ''NÃO ACREDITO'' e ''ISSO NÃO É POSSÍVEL'' e mais uma onda de ''ESTOU CONFUSO(A)'' Eles voltaram a conversar normalmente, apesar do clima ainda carregar a atmosfera confusa e perdida.

 

— Sei que isso pode ser muito de repente mas... EU QUERIA DAR BOAS VINDAS AOS DOIS AO PARALELOQ!!

Ambos os garotos ficaram confusos à abordagem repentina da moça.

— Para o que? - Perguntou Mello.

— PaRaLeLoq!! É uma organização onde estou recrutando qualquer pessoa que esteja disponível e interessada para frequentar regularmente meu prédio e se prepararem para o nosso objetivo maior!! - Diria rapidamente sem parar ou perder o fôlego.

— Do que se trata essa organização..? - Perguntava Matt.

— Ai gente. Quero fazer suspense. Fiquem quietos.

— Mas...

— Eu quero muito contar. Mas vou precisar saber se vocês estão prontos mesmo a se aventurarem... Se aventurarem além do que aconteceu conosco hoje... Tudo por um bem muito maior além de proteger balas de caramelos...

Os meninos ficaram mais confusos ainda. 

Se aventurarem além de um tiroteio? Eles poderiam ter morrido várias vezes naquele dia! Quais seriam as chances de saírem ilesos daquela vez?? Com uma completa desconhecida que não caducava da cabeça?

— EU TÔ DENTRO! 

Mello já topara sem rodeios. Para um acrobata que viveu no circo a vida inteira e sobreviveu à diversos acidentes fatais, o que mais seria intimidador?

Chegou a vez de Matt se pronunciar. Legendary e Mello o encararam ansiosos.

O garoto dos cabelos grisalhos pensou por um tempo calado enquanto acariciava Marley.

— Se é para um bem maior... seja qual for... Estou dentro também!

Os três comemoraram alegres naquele momento. O resto da noite foi seguido de conversas e risadas até chegado o horário de irem embora. 

Legendary se despediu dos novos primeiros membros e provavelmente novos amigos.

 

*** 

 

Eram três da madrugada. A menina estava na sacada do último andar respirando o ar puro e admirando as estrelas naquele momento. 

Pensava sobre o destino do PaRaLeLoq e sobre como seriam as coisas adiante. 

Ela estava se preparando para entrar quando ao fechar as janelas, foi pega de surpresa por uma figura estranha perambulando rua abaixo.

— O que é aquilo?.. - Legendary pôde notar que alguém muito pequeno estava andando sozinho pelas ruas em plena escuridão da madrugada.

Sem mais nem menos a mesma deu um enorme salto de onde estava. Seu sobretudo negro esvoaçava ao vento. Sua queda foi pesada, porém sem danos à ela.

Logo foi caminhando em direção a pequena figura, uma criança. Ela estava vagando pelas ruas com os olhos fechados!

— Com licença?.. - Aproximava-se Legendary da criança.

Era uma menina loira. Usava um grande vestido estufado e maria-chiquinhas para baixo.

Logo a mesma tombou nos braços de Legendary que a apoiou no chão tentando reanimá-la.

— Menina...Menina?? Você está bem??

 

A garotinha abriu os seus olhos lentamente encarando Legendary e sibilou coisas inaudíveis, com uma feição de puro mistério...


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