Colegas de apartamento escrita por calivillas


Capítulo 3
Boa vizinhança




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/778599/chapter/3

Já no fim da noite, estou bem adiantada na minha arrumação, feliz de pelo meu novo e espaçoso quarto, posso girar bem no meio dele com os braços abertos sem esbarrar em nada, muito diferente do meu apartamento anterior, sei que terei que pagar um preço, não poderei andar de camiseta e calcinha pela casa ou sair do banheiro enrolada na toalha, mas valeria a pena aquelas pequenas concessões.

Em certo momento, ouço a porta em frente se abrir, em seguida, a porta do banheiro se fechar, o barulho do chuveiro, Ed devia estar se aprontando para sair.

Um pouco mais tarde, ouço batidas na minha porta, vou abrir e o encontrei todo arrumado e perfumado. Está mais bonito ainda.

— Estou de saída — avisou.

 — Tudo bem.

Por pouco, não perguntei se iria demorar, mas, felizmente, a pergunta parou na ponta da minha língua. Afinal, não tinha nada a ver com isso.

— É sábado à noite, você vai ficar em casa? — ele interrogou, franzindo a sobrancelha.

— Eu estou cansada, depois, não sou muito de sair, vou assistir um filme no meu computador e dormir. — Dou de ombros.

— Então, até mais.

— Até mais — Ele foi embora, deixando um rastro de perfume para trás, com certeza, vai se dar bem essa noite, de novo.

Aproveitei para tomar um bom banho, lavar os cabelos. Estou com fome, vou para cozinha, a fim de fazer um sanduíche, procurei pelo meu pacote de pão de forma e me assustei quando o encontrei quase pela metade, abri a geladeira, onde havia organizado meus potinhos muito bem. Meu queijo! Meu presunto! Quase não sobrou nada! Ed deve ter comido, sem me pedir, como pode? Precisarei ter uma conversa muito séria com ele, quando voltar! Ainda bem, que restava um pouquinho para eu não morrer de fome. Assim, fiz um sanduíche, peguei um suco e vou para o me quarto, liguei para a minha mãe para contar sobre a mudança, mas omiti a parte do meu companheiro de apartamento, isso deve ser dito e bem explicado, com calma, desliguei. Acomodei-me diante do meu computador e escolhi um filme. Para mim, não era esquisito passar um sábado à noite assim.

 Estava exausta, que acabei adormecendo antes do final do filme. Tive um sono tranquilo e reparador.

Acordei cedo, com a claridade entrando pela janela, esqueci de fechar as cortinas, pretendia terminar de ajeitar os meus pertences, nesse fim de semana.

Sai do quarto, o apartamento estava silencioso, a porta do quarto do Ed fechada. Na cozinha, preparei o café e estou com a caneca na mão, quando ouço a porta da frente se abrir, logo depois, Ed surge na porta da cozinha, estava arrasado, em nada parece com o homem que saiu ontem, à noite.

— Já acordada?

— Aram! Café?

— Não, obrigado. Só quero dormir — E sumiu.

Percebi que não é uma boa hora para termos uma conversa séria.

Estava bem-disposta, por isso, resolvi dar uma volta pelas redondezas, conhecer melhor a vizinhança, talvez, ir até a praia ali perto, aproveitando o sol da manhã. Então, sai de casa, andei e andei, sem me preocupar com nada, nas ruas ainda pouco movimentadas, do começo da manhã de domingo.

Volto algum tempo depois, não sei se estou preparada para ter essa conversa sobre limites com Ed, mas, quanto mais cedo melhor.

 Demorei demais, ao regressar ao apartamento, é quase hora do almoço, me espantei ao ouvir barulhos na cozinha, vou até lá e parei na porta, diante daquela visão inusitada de Ed cozinhando, picando e mexendo nas panelas.

— O que está fazendo?

— Minha especialidade: Estrogonofe de carne. Você gosta? — ele se voltou para mim, interrogando com o olhar.

— Você está fazendo isso para mim? — Estou pasma.

— Para nós, como prova de boa vizinhança.

— Legal!

— Mas, você arruma a cozinha depois.

Reparei em volta e vi toda aquela bagunça e sujeira, um monte de louça usada, respirei fundo, mas, mesmo assim, sorri, satisfeita.

— Certo — Com certeza, não era o momento de uma conversa séria.

Almoçamos juntos, o estrogonofe não estava tão ruim assim, tivemos uma conversa banal, falamos das nossas vidas. Descobri que a família dele é do interior, por isso, precisou de morar ali. Temos histórias parecidas.

— Agora, que você apreciou meus dotes culinários, vou dormir um pouquinho. — Levantou e foi direto para o quarto dele.

 Dei um longo suspiro, revirando os olhos, levantei e tirei os pratos da mesa. Levou um bom tempo para limpar e arrumar toda aquela confusão na cozinha.

No dia seguinte, por força do hábito, acordei e sai no mesmo horário para a faculdade e, apesar de ir andando, cheguei bem cedo, quase não havia ninguém por lá. Para passar o tempo, me sentei na escada da frente, ouvindo música e lendo, quando percebi alguém se sentando ao meu lado, mas não dei atenção.

— Oi! – Olhei na direção da voz, que vinha de um garoto, e a primeira coisa que pensei era que ele parecia um anjo, com os cabelos castanhos cacheados caindo em volta do seu rosto de uma beleza quase feminina.

— Oi! — respondi, tirando meu fone de ouvidos.

— Meu nome é Felipe e eu queria lhe apresentar uma oportunidade imperdível — disse de um modo dissimuladamente sério, ergui as sobrancelhas, esperando. — Convites para a festa do 3° ano da medicina, nesse sábado.

— Não, obrigada — sacudi a cabeça e sorri com sua expressão de decepção.

— Mas, por quê? Será o evento do ano!

— Eu não conheço ninguém para ir comigo.

— Chame uma amiga — Sacudi a cabeça em negativa. — O namorado.

— Eu não tenho namorado.

— Crush?

— Sem crush — balanço a cabeça para enfatizar.

— Que bom! Quer dizer, que chato! Você pode ir comigo, se quiser.

— Isso é um convite? Como você pode saber se não sou uma pessoa chata? Até mesmo uma psicopata?

— Estamos passando pela psiquiatria agora, sendo assim, eu saberia se fosse uma psicopata.

— Quantas aulas você teve?

— Uns duas, mas já é um bom caminho.

Não consegui evitar o sorriso.

— Eu preciso ir, tenho aula agora — Eu me ergui, apressada.

— Eu também, estarei aqui por algumas semanas. A gente se encontra amanhã? Quem sabe, posso convencê-la quanto a festa.

Fingi refleti por alguns segundos, ele me olhava, ansioso.

— Certo, aqui, amanhã. Então, até amanhã, Felipe.

Sai andando depressa, me juntando aos outros alunos.

— Até amanhã.  Eu não sei o seu nome?

— Paula — falei alto para ele ouvir.

— Até amanhã, Paula.

Quando voltei para casa, Ed não estava, ele estudava a tarde, assim, tinha uma certa liberdade por algumas horas, então, tomei um banho e coloquei uma camiseta comprida e um short, fui para a cozinha preparar algo para mim. Vi que Ed comeu todo o restante do estrogonofe de ontem, mas não tem problema, fiz um macarrão rapidinho, o bastante para sobrar para o jantar e para Ed, se ele quiser. Vou lavar roupa e estudar o resto da tarde.

Depois do almoço, deitei no sofá e comecei a ler, então, as pálpebras pesaram as palavras, ficaram embaralhadas e sem sentidos.

E se eu tirar um cochilo de alguns minutos?

Não pensei duas vezes, fechei os olhos, mergulhei no meu inconsciente.

Acordei sobressaltada, com o barulho das chaves e a porta abrindo, em um pulo, me sentei no sofá, Ed parou diante de mim.

— Boa noite.

— Boa noite? — Reparei na suave penumbra anunciando o fim do dia, passei a mão no rosto, afastando alguns fios de cabelos. — Que horas são? Eu acho que peguei no sono.

— Um pouco depois das seis. — Percebi os olhos deles em mim e um ar divertido, sem entender o que está acontecendo, olho para baixo, para as minhas pernas completamente de fora, morro de vergonha e puxei a blusa para cobri-las.

— Eu não esperava por você.

— Deu para perceber.

— Fiz macarrão, se quiser está na geladeira.

— Obrigado. Como mais tarde. — Ele some pelo corredor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colegas de apartamento" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.