Eu estava no carro voltando pro acampamento, não conseguia parar de pensar nas palavras daquele diário. Eu o estudei durante todo o tempo que passei em casa, - não o levei pra escola, só iria me encrencar se fosse descoberto. – Mas ele só me deixava mais intrigado.

  Ao chegar à colina meio-sangue me despedi da minha mãe. Aproveitei que estavam todos jantando e fui direto pro meu chalé, ele reluzia ao luar como sempre, - não tanto quando o de Ártemis deveras, mas isso era só à noite!- era o mais bonito de todos os chalés, nunca vou me cansar disso.

 Fiquei um pouco surpreso o ver um dos meus irmãos deitado no chão perto do beliche observando as estrelas pela janela. Josh tinha 7 anos, ele era o mais novo do chalé - talvez do acampamento.- Percebi que ele estava chorando mas tentou disfarçar as lágrimas, então eu o ignorei, comecei a guardar minhas coisas(o que inclui o diário, que escondi num lugar que nem mesmo o mais furtivo dos filhos de Hermes poderia encontrar.) Espontaneamente, Josh se aproximou de mim e começou a me contar o que houve, como eu sabia que faria.

  Contou-me que havia chego um novo garoto no acampamento, um indeterminado, já estava lá a 3 meses e nada, seu nome era Kevin, e os dois se já se conheciam de quando moravam no Arizona, o que me deixou pasmo. Se UM meio sangue atraia uma quantidade imensa de monstros, imagine dois numa mesma vizinhança? Mas esse não era o ponto. Josh me disse que o tal Kevin nunca havia perdido uma oportunidade de atormentá-lo na vida. E agora aqui estava Kevin, o atormentando novamente... Pobre Josh, eu queria o ajudar mais o que eu poderia fazer? Além do mais, minha cabeça já estava girando, meus pensamentos confusos, quero dizer, eu acabei de descobri que minha tia, que jurou virgindade eterna, teve um filho!!!

 Não é todo dia que alguém descobre uma coisa dessas, provavelmente isso vai destruir a imagem Ártemis, irá desmoralizá-la, as caçadoras irão sentir-se traídas e ela será a "vergonha" do Olímpo, por mais que eu queira ajudar meu pai naquela discussão dos dois eu não sou capaz de fazer algo assim... Provavelmente eu irei atrair a fúria de uma deusa ressentida. - O que, creio eu, não será agradável... - Percy Jackson atrai a fúria de deuses demais para o bem dele, e olha que é filho de um dos três grandes, um dos semideuses mais poderosos do século e ele mal agüenta. E eu? Sou apenas um filho de Apollo, não que meu pai seja fraco, é o deus do sol desde que Hélio se mandou e deixou essa responsabilidade para ele, de qualquer forma eu não sou fraco, mas não sei se posso agüentar a ira de um deus...

 Ainda mais Ártemis, que já tem um rincha milenar com meu pai... Que legal, agora estou falando sozinho em meu pensamento, enquanto tenho um irmão triste e com um destino que fez a ironia de trazer o "amigo amável", que o infernizou por toda a vida pro único lugar que ele podia chamar de lar. Como se não bastasse minha tia não-virgem. Isso já estar me dando dor de cabeça, seria uma grande fofoca os deuses e os meio-sangues ficarem sabendo disso... Ah que droga! Mas que pensamento é esse?! É isso que dar se deixar influenciar pelos filhos de Afrodite, eles podem ser os mais bonitos, mas tem a língua maior que a boca (sem ofensa a deusa, nós de Apollo também adoramos uma fofoca, admito.). Ótimo, ainda não parei de "falar mentalmente", e Josh está me olhando estranho, no mínimo, pensa que fiquei louco, acho melhor para com isso antes que eu realmente me torne louco! 

  - Ei Josh, não fica assim!- Ok isso ajuda muito.

  - Ele não vai me deixar em paz... Eu sei que não... Nunca deixa! Justo quando eu comecei a me ajustar...

  Fiquei com pena. - Vai te deixar em paz sim, não vou deixar que ele o maltrate ok?! - Promete? – Tive que ceder ao ver o brilho nos olhos de meu irmão caçula.  -Hã... Eu..eu prometo!

  Nota mental: arranjei mais um problema. Ótimo, como se fossem poucos. Mas ele é meu irmão, o que eu podia fazer? Ele saiu pelo chalé feliz, provavelmente iria se juntar a fogueira agora.

 Pelo menos me senti feliz em colocar um sorriso no rosto daquela criança. E agora o que eu faço? Pensar é uma ótima idéia, mas sozinho não é tão legal. Só às vezes preciso de alguém pra conversar também, acho que assim ficaria menos louco. Ah que droga! Já to começando a falar sozinho de novo, e que é pior não é "mentalmente". Ainda bem que não tem ninguém aqui!

 Acordei na manhã seguinte de uns pesadelos horríveis (todo meio-sangue tem pesadelos, eu sei. Mas isso não torna a coisa melhor). Fui tomar o café com meus irmãos de chalé ainda com o diário na cabeça, a questão é: “O que eu vou fazer com aquela coisa?”

 A coisa certa seria, entregar ao Sr.D e tirar esse problema das minhas mãos. Mas eu não poderia fazer isso, primeiro; por que ele é o maior fofoqueiro do Olímpo, segundo;divulgar essa coisa só faria Ártemis me matar, e eu não acho que sentiria pouca dor, terceira; vou acabar me ferrando, por que decidi que o certo é achar essa criança e fazer Ártemis carregá-lo com ela ou o que quer que seja. Mas pra isso preciso conseguir uma missão... O que me leva à... Quarto; pedir ajuda a Percy Jackson. Segui pra mesa de Poseidon depois que terminei de comer agora lá tinha mais 2 crianças, uma menina de 9 e outra de 10 anos, esses deuses não tomam jeito.

 - Percy... Posso falar com você?

  - Hm.. Claro... E você é..? - Ele perguntou um pouco confuso. Viram, sou só um joão-ninguém, as pessoas me conhecem por filho de Apollo, ou algo assim. - Ah me lembrei! Você é o Kurt Maison, filho de Apollo! Bela flechada cara! - Ele sorriu, o que me deixou um pouco sem graça, agora eu era popular por dar uma flechada nas nádegas de filhos de Dionísio. Hm... Não sou contra esse titulo honorário.

 - É, sou o Kurt. Podemos? - Ele se levantou e cruzamos a mesa principal, juro que senti os olhares na minha nuca, comecei a achar que o Sr. D iria me matar a qualquer momento.

  Acho que isso é culpa.

 - Bem, o que aconteceu Kurt? - Ele perguntou assim que chegamos aos bosques.

 - Bem, Percy, você não me conhece, e eu vou fazer um pedido bastante estranho e... - O vi ficar tenso, ao que parece não sou o primeiro a pedir-lhe ajuda. - Você não precisa fazer nada!- Me aprecei a dizer. – Eu só quero um pequeno favor, poderia me dar o telefone, ou o local onde encontrar aquela sua amiga Rachel Dare?

 Ele me encarou com uma cara estranha, não fazia idéia do que ele estava pensando.

 - Sabe Kurt, oráculos não podem namorar... Mas eu ouvi dizer que um das filhas de Athena gosta de você...

 Nunca vou poder exemplificar o tom de vermelho da minha pele nesse momento. Mas fiz uma nota mental pra perguntar mais tarde quem era essa filha de Athena. (O que foi? Apesar de tudo sou filho de Apollo!)

 - Percy, eu não queria... Você me entendeu mal! - Disse ainda escarlate.

 - Ah, me desculpe, mas o modo como disse... Enfim, por que quer saber isso? - Ele também parecia envergonhado agora.

 - Preciso pedir um favor a ela.

 - Calma ai rapaz, você não acha que está se precipitando? Rachel nem te conhece! Explique-me o que está acontecendo, ai posso te ajudar.

 Claro que eu podia confiar em Percy Jackson, mas eu não queria envolver-lo nisso, já era um fardo pesado demais á se carregar. E ele já tinha seus problemas.

 Mas por outro lado, ele seria de grande ajuda nisso...

 Não, esse não era um problema dele.

 AH DROGA! Olha eu falando com minha mente de novo, preciso parar com isso!

 - Kurt? Tudo bem? - Ele pareceu preocupado, ótimo, agora acha que sou louco.

 - Sim, só que... Não quero te trazer mais problemas.

 - Cara, considerando os que já tenho um a mais não fará diferença. - Ele concluiu sorrindo.

 - Se você diz... - Expliquei pra ele toda a história, tá, sei que cedi muito rápido, mas eu precisava seriamente de ajuda.

 - Cara... - Foi o que ele me respondeu depois de tudo que eu disse. Não o culpe, eu também fiquei em choque. – O que você está dizendo é muito sério Kurt, mas se é verdade... Precisamos da ajuda de Annabeth e Grover!

 - Er... Percy, tem certeza que isso é uma boa idéia? Já é ruim o bastante que nós dois saibamos entende? - Só que tem um problema, não posso esconder nada do Grover e se eu não contar pra Annabeth ela me mata.

  Eu tive que rir desse comentário. Concordei em falar com eles, então fui até aula de esgrima com Percy, eu não era muito bom naquilo, mas dava pro gasto. Encontramos Grover nos esperando na porta, ele pareceu intrigado do por que estarmos juntos, mas não disse nada.

 - Oi Kurt, Percy. O que você queria me dizer? - Me senti meio desconfortável.

 - Pois é, o Kurt precisa da nossa ajuda.

  E explicou toda a situação, conforme ele foi contando Grover arqueava as sombracelhas e por fim soltou um sonoro “béééé” e murmurou algo como “Por que sempre atraio os maiores problemas?” e saiu andando em direção aos bosques.

 - Ele está bravo. Conclui tristemente.

 - Não, tudo bem... ele só está preocupado. - Respondeu tentando me animar.

 - De qualquer forma vou pra minha aula de arco e flecha. Tchau Percy, e obrigado.

  Fui pro meu treinamento achando que seria melhor ter ficado calado o tempo todo.

 Na hora do jantar eu estava exausto, Josh passou o dia todo comigo e finalmente me mostrou o tal de Kevin que o perturbava tanto. Ele tinha os olhos escuros e cabelo liso ensebado, era feio e grande demais pra ter 9 anos. Parecia ter 12, talvez 13.

 Eu sabia exatamente a que chalé ele pertencia só de ver o olhar que ele lançou ao meu irmão. Isso me deixou irritado, aquele garoto encrenqueiro tinha que parar de mexer com Josh. Mas eu estava exausto demais pra bancar o irmão mais velho, então fui direto pra minha mesa. Mas fui interrompido por Annabeth Chase.

 - Kurt, Percy me contou o que ouve. - Por um minuto me senti assustado, ela estava séria e os olhos cinzentos dos filhos de Athena sempre me hipnotizavam. Resumindo, não mexa com um filho de Athena ou terá muitos problemas, são simpáticos e legais, mas não pisem no seu calo. E sim, eu tenho medo deles.

 - Bom, vamos ajudá-lo. - Ela concluiu sorrindo, e me senti aliviado. Consegui a ajuda de 2 meio-sangues e um sátiro, isso é mais do que eu podia sonhar.

- Annabeth, obrigado! Nem sei como agradecer...

- Agradeça me contando seu plano. Mas não acho que esse seja o momento. - Ela disse olhando pra algum lugar à minha esquerda. Merda! Esqueci que Josh estava aqui. Assim que Annabeth se afastou em direção à mesa de Athena Josh me fez uma avalanche de perguntas.

 - Não é nada, depois explico. - Disse me guiando pelo cheiro de carne, minha barriga roncava.