Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 8
Um porto seguro.




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No meio da semana, Fernanda recebeu um telefonema urgente do hospital informando sobre o estado de sua mãe. Constança teve alteração na pressão e era muito grave.

Aquela notícia a abalou profundamente. Fernanda correu em busca da chave do veículo. Mas ela estava tão nervosa, que demorou a raciocinar sobre seus temores em dirigir o carro. Mas não poderia perder tempo!

Ela ligou o carro, mas lembranças do acidente vieram a sua mente. Aquelas lembranças lhe atormentavam... Ela sentiu a respiração alterar e suas mãos começaram a tremer. Não podia! Sem conseguir superar seu trauma, as lágrimas começaram a rolar em seu rosto.

Samuel que chegava naquele momento avistou Fernanda, que parecia estar muito nervosa. Achou estranha aquela situação e aproximou-se para saber se estava tudo bem. Ele parou ao lado do veiculo, e viu que Fernanda pressionava com as duas mãos o volante. Ela fazia força e batia no guidão descarregando toda sua frustração.

Ele abriu a porta do veículo e segurou suas mãos dela. Elas estavam geladas e muito trêmulas. Fernanda o encarou como se estivesse retornando para a realidade.

Samuel nunca a tinha visto daquele jeito e sentiu medo, pelo que poderia ter ocorrido.

— Samuel... — ela segurou o braço dele apertando com força. Era como se ela tivesse encontrado um bote de salvação. — Que bom que você está aqui!

— O que houve? Porque a você está assim?

— Por favor, me leve para o hospital. Minha mãe... Por favor!

Ele não sabia do que se tratava, mas rapidamente assumiu o volante e partiu em direção ao mesmo local onde esteve antes. Durante o trajeto, Fernanda não falou nada, mas o modo como ela estava, era o suficiente para revelava o seu nervosismo.

O trajeto até o hospital foi rápido, graças ao trânsito tranquilo naquele momento. Samuel parou e antes que ele estacionasse o veículo, Fernanda rapidamente abriu a porta e saiu apressada entrando no hospital.

Passaram alguns minutos, mas para Samuel foram horas. Ele viu Fernanda surgir no corredor do hospital. Seu olhar estava abatido e ela andava com dificuldade.

— Fernanda. — ele chamou-a quando percebeu que ela parecia perdida.

Então lentamente ela se aproximou dele.

— Minha mãe... — A voz soou como um sussurro. Em seguida, o corpo dela perdeu as forças. Se ele não estivesse ali, ela teria ido de encontro ao chão. Em poucos segundos alguns enfermeiros se aproximaram para socorrê-la.

Fernanda teve uma súbita queda de pressão, por isso foi preciso levá-la para a emergência. Segundo o médico, não era nada sério.

 

Samuel olhava pela janela e verificou a hora no relógio. Quanto tempo levaria até o esposo de Fernanda chegar ali? Indagou-se. Havia informado a Sandra o que tinha acontecido. Ela ficou muito tensa.

Ele se aproximou da cama onde Fernanda dormia. Seus lábios estavam pálidos e ela respirava lentamente. Samuel ficou tentado em tocá-la. Ela parecia tão frágil e indefesa.

Deixando-se ser vencer pela tentação, ele lentamente aproximou suas mãos para tocar a face delicada. Mas naquele momento ela abriu seus belos olhos e o encarou.

— Samuel... — ela estava confusa e um pouco desorientada olhava ao entorno para entender onde estava.

— Você desmaiou... O que houve?

Fernanda recordou-se de sua mãe e lágrimas vieram a seus olhos. Ela começou a chorar e seu corpo tremia. Na tentativa de acalmá-la, Samuel segurou suas mãos e a abraçou. No primeiro momento ela chorou e apenas chorou sem dizer o que havia acontecido. Ele não lhe pressionou.  Queria apenas que ela se acalmasse.

Ela se afastou, mas continuava chorando. Samuel lentamente tocou em sua face para afastar as lágrimas e perguntou:

— O que houve?

— Minha mãe... Eu quase a perdi hoje.Não sei o que faria.

Fernanda estava muito frágil e tremia muito, mas ele mantinha a mão dela entre as suas na tentativa de confortá-la.

Eles estavam tão inertes a situação e não perceberam o momento que Lorenzo entrou no quarto.

— Fernanda!

Eles olharam para o homem que havia entrado no quarto. Samuel percebeu que Lorenzo não gostou da cena que viu. Rapidamente, ele soltou as mãos de Fernanda e se afastou assumindo o seu lugar de empregado.

— Lorenzo? — ela estava confusa ao vê-lo ali naquele quarto de hospital.

— A Sandra me avisou que você estava no hospital... — Ele virou para Samuel e seu olhar era autoritário. O modo como ele o encarou demonstrava superioridade. Ele não era burro. Sabia muito bem enxergar isso no olhar de Lorenzo. De modo hostil ele o dispensou.

— Você já pode ir Samuel!

Samuel apenas assentiu e se despediu. Antes de sair, ele olhou para Fernanda e percebeu que ela o olhava. Mas não esboçou nenhuma reação. E nem deveria fazê-lo! Constatou. Ele fechou a porta do quarto e saiu.

— Porque você o tratou assim? — exclamou Fernanda assim que ficou sozinha com o marido.

Ele se aproximou da cama onde ela estava deitada e com cinismo disse:

— Não sabia que você se importava tanto assim com esse negro!

Fernanda sentou na beira da cama e encarou o marido. No seu semblante estava evidente sua irritação pelo modo como ele se referia a Samuel.

— Ele foi apenas educado num momento delicado. Apena isso!

Lorenzo se parou em frente a esposa e segurou forte em seu pulso.

— Espero que você não tenha nenhum pensamento maluco nessa tua cabecinha!

— Você está louco! — Ela puxou o braço e notou que havia ficado marcado das mãos no local onde ele tinha pressionado.

— Vamos!

— Eu vou ficar aqui com minha mãe!

Lorenzo não protestou. Ele olhou-a de cima a baixo e sorriu com cinismo. Em seguida, saiu do quarto batendo a porta. O barulho causou um impacto e ela ficou assustada. Ela levou as duas mãos a face e percebeu que suas bochechas estavam quentes. Talvez fosse pela irritação momentânea. Ela suspirou tentando se acalmar. Recordou do motivo de sua ida ali. Sentiu alívio porque sua mãe tinha conseguido sair com vida depois daquele susto. Os médicos foram unânimes em dizer que ela era um milagre. Fernanda acreditava em milagres!

Samuel estava dentro do carro e pareceu notar a presença de alguém. Ele virou o olhar para a janela e deparou-se com Lorenzo que o encava fixamente. Ele não disse nada. Não foi  preciso palavras para demonstrar seu descontentamento com a aproximação dele e Fernanda. Ele permaneceu assim durante alguns segundos. Em seguida, virou de costa e partiu.

Samuel ficou tenso e nervoso. Mas sabia que não tinha motivos para isso. Lembrou que ele havia presenciado o momento em que tentava consolar Fernanda. Ao recordar dela sentiu um impacto em suas emoções. Nunca tinha vivido algo tão diferente e difícil de coordenar. Quando esteve com ela em seus braços foi maravilhoso! O cheiro suave de seu perfume. O toque suave de sua pele. Todos ainda estavam marcados em sua memória.

Não devia sentir essas coisas por Fernanda, recriminou-se! Mas ainda assim, eram sensações muito boas para simplesmente abandonar.

No dia seguinte, Samuel chegou ao trabalho no horário de sempre. Notou que a casa estava silenciosa. Sinal que todos da casa estavam ausentes. O que era estranho. Ele entrou na cozinha e abriu a geladeira para tomar água. Nesse momento, Fernanda entrou na copa trajando uma roupa casual. Ao vê-lo ela o cumprimentou.

— Bom dia senhora.

Ela riu, pois realmente não gostava daquela “senhora” que ele sempre falava.

— Samuel...

Ele já sabia o que ela iria dizer e se adiantou.

— Desculpe.

Ela sentou à mesa e serviu-se do café da manhã. Nada sofisticado, apenas um café com torrada.

— Servido?

Samuel ficou tentado, mas não seria correto.

— Obrigado.

Fernanda não era boba. Tinha notado o incômodo dele, mas não comentou nada sobre o tema.

— Daqui a meia hora esteja pronto.

Após comer sua refeição ela saiu da cozinha. Meia hora depois, ela encontrou-se com Samuel que a aguardava com o carro pronto para saírem.

— Me leve até o hospital!

Ele partiu para o local onde esteve no dia anterior. Fernanda pediu que ele a aguardasse, pois não demoraria.

Poucas horas depois, ela retornou. Samuel saiu do carro para abrir a porta traseira, mas Fernanda se adiantou abrindo a porta da frente e entrou no carro.

Já deveria ter aprendido a reconhecer aquelas atitudes impetuosas dela. Pensou ele dando a volta e tomando seu posto ao volante.

Samuel retornava para casa, mas quando eles passavam pela orla, Fernanda ordenou que ele parasse o carro. Ele olhou para ela e obedeceu parando o carro. Em seguida ela apontou para a sorveteria e disse:

— Quero tomar sorvete!

Fernanda abriu a porta do carro e saiu em direção à sorveteria. Samuel encostou-se ao carro enquanto a aguardava. Minutos depois ela retornou trazendo nas mãos dois sorvetes. Ele sorriu surpreendido, mas na verdade não o deveria.

— Tome! Um é para você... Não sabia seu gosto, então trouxe de morango.

Não era exatamente o que ele gostava, mas pegou e provou. O sabor acabou lhe agradando.

— Muito bom!

Ela sorriu e abriu a porta e sentou no banco olhando para a Baía .

— Adoro isso tudo... É muito lindo!

Samuel olhou para ela. Fernanda parecia tranquila e serena, enquanto olhava para a paisagem.

— Sim. Muito bonito. — ele provou mais uma vez o sorvete e virou para ela quando notou seu sorriso. — O que houve?

Fernanda apontou na direção de seus lábios e indiciou que estava sujo. Samuel sentiu-se constrangido e limpou o rosto agradeceu a ela por ter avisado.

— Sobre ontem... Sinto muito pela atitude do Lorenzo — Ela comentou depois de alguns minutos em silêncio. — Ele foi hostil com você... Enquanto que você foi muito gentil em me ajudar.

Samuel olhou para ela. Fernanda tinha o olhar baixo e não notou que ele a encarava. Naquele momento vieram as lembranças do dia anterior quando esteve com ela nos seus braços. O cheiro suave do perfume dela ainda estava gravado em sua memória... Rapidamente afastou aquele pensamento.

— Isso não me importa. Na verdade, acho que com o tempo você aprende a conviver com certas dificuldades.

Como lhe dizer que já havia passado por coisas pior? Como lhe dizer que já tinha sofrido preconceito? Como lhe dizer, que ficava triste quando via Emir ser discriminado? Coisas como aquelas sim lhe incomodavam! Odiava ver seu filho triste. Pensou ele.

Ele amassou o papel do sorvete e o jogou na lixeira.

— Eu gostaria de perguntar algo a você.

Fernanda curiosa sobre o que seria pediu que ele perguntasse.

— Ontem... Eu nunca a tinha visto daquele jeito. Você estava nervosa e tremia muito.

Ela fechou os olhos e suspirou fundo. As lembranças do dia anterior vieram a sua mente. Tentou superar o trauma, mas as lembranças do acidente com Isabella perturbavam sua mente. Ainda podia ouvir o choro de sua filha que havia ficado presa dentro do carro.

Lágrimas começaram a rolar em sua face. Ela cobriu o rosto com as duas, era como se aquilo pudesse apagar as lembranças. Mas elas ainda eram vivas demais!

Samuel percebeu que aquelas lembranças eram dolorosas. Ele abaixou e parou em frente a ela. Ele segurou as mãos dela. Fernanda abriu os olhos e o encarou.

— Você acha que pode contar?

Ela balbuciava as palavras, enquanto contava sobre o acidente. Relatou que tentou fazer de tudo para que Isabella pudesse viver. Infelizmente ela não tinha conseguido. Seu corpo pequeno e frágil não foi resistente diante dos baques.

— Eu tentei... Eu parei o carro... Mas ele não parou... Porque Samuel?

Samuel sentiu seu corpo ser pressionado pelos braços frágeis dela. Fernanda tremia demais e chorava muito. Ele não era psicólogo, mas tinha aprendido com seus pacientes, que às vezes, era melhor enfrentar os traumas.

Ele apenas deixou que ela dissipasse sua tristeza. Ela o abraçava forte, enquanto chorava como uma criança. Depois de alguns minutos ele sentiu que os braços dela o soltaram e ela limpava o rosto. Samuel pegou o lenço de papel e entregou a ela.

Fernanda sorriu pela gentileza dele.

— Você não é culpada pelo que aconteceu... Existem coisas que fogem de nossas mãos.

A voz de Samuel soou triste. Fernanda percebeu que ele se lembrou da esposa que havia morrido. Certamente ele ainda sentiria aquela dor.

— Quando perdi a Kenya, me senti o pior dos homens... Senti culpa por não tê-la protegido. Hoje eu entendo que não podia ter feito nada.

— Obrigada por repartir sua dor comigo... Certamente não são lembranças fáceis.

Ela tinha razão. As lembranças eram sua pior inimiga. Doía a ausência da mulher que ele tanto amou.

— Eu gostaria de poder ajuda-la Fernanda... Guardar tanta dor para si mesma nunca é bom.

Fernanda limpou o rosto e levantou o olhar para ele. Ela concordou com o que Samuel havia dito. Guardar dores nunca era bom. Durante aquele tempo ela tinha guardado dentro dela lembranças dolorosas.

— Você tem razão... Essa é a primeira vez que eu falo isso com alguém.

— Você deveria consultar um profissional.

Fernanda sabia que sim. Chegou a pensar nisso várias vezes, mas sempre relutou.

— Obrigada... Obrigada por estar aqui e por me ouvir. — Ela entrou no carro e fechou a porta. Samuel entendeu que era momento deles irem. Ele deu a volta e entrou no carro, mas antes de partirem ele disse:

— Quando precisar de mim, eu estarei aqui.

Fernanda olhou para ele. Guardaria aquelas palavras! Ela sorriu e colocou os óculos escuros e virou o rosto para a rua. Definitivamente sentia-se grata a ele.


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