Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 16
We Are Loud Like Love


Notas iniciais do capítulo

Nota: o seguinte capítulo cobre um longo período de tempo. Espero que não esteja confuso.

Boa leitura!



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Fazer os últimos procedimentos e finalmente encerrar uma reunião é um prazer imenso para So. Quando todos os assuntos são encerrados e nenhum dos ministros ou representantes dos clãs consegue pensar em algo para alongar a conversa, ele sente uma onda de alívio tomar conta e todos os deveres do resto do dia parecem se tornar um paraíso. So sente que está flutuando quando sai da Sala do Trono. Ele está com o espírito leve e até com vontade de tomar um pouco de chá e retomar suas leituras. Para as coisas ficarem melhores, ele só precisava que Soo estivesse aqui agora. 

Mas assim que ele entra em seu quarto, as portas se abrem e Baek Ah adentra. E imediatamente sua tranquilidade se torna em apreensão e ele sente que o mundo está prestes a acabar. Porque se seu irmão está aqui, então alguma coisa aconteceu com Hae Soo. Algum coisa ruim e horrenda, pela urgência na chegada dele e sua respiração errática.

No entanto, antes que ele possa perguntar ou fazer qualquer coisa, Baek Ah se ajoelha para cumprimentá-lo, e com um sorriso suave ele fala num tom animado.

— Se me permite a ousadia, Pyeha, gostaria de se juntar a mim numa caça?

So pisca os olhos, confuso, até que a ficha cai. E então sua dúvida se apaga.

— Uma caça?

— Sim, — Baek Ah responde como se seu pedido fosse algo completamente normal, — Fui informado que um grande javali foi visto na floresta ao norte da capital.

— Uma área incomum para um javali. Mas uma bela presa assim mesmo, — So dá de ombros, como se não houvesse nada de incomum na oferta de seu irmão, — Eu vou com você.

O eunuco atrás dele dá um passo à frente, pronto para sair e convocar os guardas do palácio e os servos para se juntar a ele. Mas So o interrompe antes sem pensar duas vezes. 

— Eu vou sozinho dessa vez, então sem escolta, — ele ordena em sua voz assustadora e o homem congela, — Estou sentindo falta de uma caça solitária, então é melhor que o resto do palácio não saiba onde estou.

A mensagem não passa despercebida pelo homem, que se curva e seus olhos se voltam para o chão.

— Como desejar, Pyeha.

So olha de volta para seu irmão, que não se moveu do lugar desde que chegou, e sorri afavelmente.

— Vou me trocar, então espere por mim nos estábulos e nós iremos juntos.

Baek Ah se curva e se retira sem dizer uma palavra. So dispensa os servos que o seguem também. Então ele começa a missão de se vestir em roupas de caça em menos de dois minutos e sair correndo de seu quarto. 

Cinco minutos depois, ele está se juntando a Baek Ah, que está olhando ansioso para os dois cavalos selados. Ele monta num deles e se prepara para partir assim que o vê, So fazendo o mesmo, e eles galopam às pressas para a casa de seu irmão. 

— Por um instante eu pensei que você tinha esquecido do código e realmente achou que a gente ia caçar, — Baek Ah grita acima do barulho dos cascos dos cavalos assim que eles estão longe o bastante para não serem ouvidos. 

Na frente dele, seu irmão suspira impaciente e grita de volta sem se virar.

— Fui eu quem criou o código.

— Você também esqueceu de prender o cabelo direito.

— Cala a boca e ande mais rápido.

 

 

A espera está matando ele. 

Jung está sentado no chão, suas mãos tremendo e sua cabeça batendo na parede enquanto ele tenta controlar seus nervos. 

Ele tenta evitar, mas a única coisa que ele ouve são os choramingos de Soo dentro do quarto e os murmúrios tranquilizantes da parteira, embora ele não consiga entender palavra alguma. E de vez em quando ela grita de dor e Jung sente como se tivesse sido atingido por um raio.

Ele já tinha caminhado de um lado para o outro da cozinha. Então ele tinha tentado comer alguma coisa e distrair a mente, mas ele não podia nem sequer se forçar a engolir a comida. Então ele voltou a caminhar, mas logo se cansou disso e se jogou no chão.

Ele só podia esperar, mesmo que a espera o esteja matando. 

Mas antes que ele possa perder toda a sanidade, as portas se abrem e seus irmão entram às pressas, cansados e ofegantes. Jung se levanta de vez, pronto para perguntar por que eles tinham demorado tanto para chegar, mas So marcha até ele e pergunta ansioso antes que ele tenha a chance de abrir a boca.

— Já faz quanto tempo?

— Não sei ao certo, — ele dá de ombros, tentando lembrar quanto tempo ele passou no cubículo minúsculo, — Umas duas horas?

— Isso tudo? O que aconteceu?

Baek Ah vai até o lado deles, logo depois de fechar as portas que So deixou escancaradas, e tira as mãos do Rei dos ombros de Jung, que nenhum dos dois tinha notado que estavam lá. 

— Mulheres costumam demorar para dar à luz, hyungnim, — seu décimo-terceiro irmão explica com uma voz calma, mas que não parece acalmar ninguém ali, nem mesmo ele, — Leva tempo para... você sabe... o bebê...

Como se fosse uma deixa, Soo grita no quarto. Aquele grito de partir a alma que faz arrepios descerem pelas costas de Jung, e os três parecem petrificar de horror. A ansiedade tira qualquer tipo de calma e tranquilidade que eles podiam ter conseguido depois da interferência de Baek Ah.

— Eu vou lá! — So exclama firmemente e começa a se retirar, mas Jung recobra os sentidos rapidamente e pula na sua frente, bloqueando a saída.

— Você não pode.

— Saia da frente.

O comando do Rei é grave e ameaçador, mas Jung não se move. Qualquer outro dia ele não teria entrado entre ele e Hae Soo, mas se seu irmão perdeu a cabeça, é dever de Jung não permitir que ele faça alguma imprudência.

— Já foi difícil encontrar uma parteira sem levantar suspeita. Se você entrar lá agora, vai colocar todo o seu e o sacrifício dela a perder, — ele diz devagar, tentando fazê-lo se acalmar a agir racionalmente, — Agora sente-se e espere. Ela vai ficar bem

Baek Ah assiste a conversa deles em silêncio, esperando que eles esfriem a cabeça antes de dizer alguma coisa. E depois que So suspira e se deixa reclinar na mesma parede que Jung estava escorado antes, ele relaxa visivelmente. Sua cabeça cai para trás, mesmo embora seus olhos continuem afiados e atentos, e seus ombros mostram que ele está alerta e pronto para entrar em ação, apesar de seu silêncio. 

Ele não diz coisa alguma, e Baek Ah assume que ele não vai começar a ameaçá-los a deixar que ele a veja, então ele faz menção de sair.

— Eu vou esperar lá na porta, — seu décimo-terceiro irmão diz numa voz baixa, e ele não espera a resposta do irmão deles antes de ir, — Quando for seguro, eu venho te buscar.

Alguns segundos depois, Jung e So estão à sós. O silêncio se firma entre eles e Jung finalmente volta à sua rotina inicial de caminhar de um lado para o outro do pequeno cômodo, tentando acalmar seu coração. Então ele pára e observa seu irmão, que não se moveu desde que encontrou seu apoio, e sente a tensão do homem emanando até ele.

— Você quer que seja menino ou menina? — Jung pergunta baixinho, tentando distrair a mente dos gritos de dor de Soo, mas seu quarto irmão não parece gostar da ideia.

— Isso é pergunta que se faça? — Ele o encara e Jung dá de ombros, sabendo que So é quem está com os nervos mais abalados.

Eu não tenho como culpá-lo por isso.

— Eu não sei o que mais perguntar, — Jung fala miseravelmente, — Ou dizer.

— Então não diga nada, — So retruca, suas mãos cobrindo seus olhos, o desespero interno evidente no tremor de suas mãos e na sua respiração errática, — Eu estou no limite, aqui.

Jung pode entender e respeitar isso. Mesmo que uma conversa possa distrair sua mente, ele se pergunta se poderia acabar por aumentar a ansiedade de seu irmão. Seria melhor esperar lá fora com Baek Ah, mas se a parteira o visse e o reconhecesse como o 14º Príncipe que fora banido, as coisas ficariam complicadas.

Por agora, isso é tudo o que posso fazer, ele pensa relutantemente, e volta a caminhar pela cozinha de Baek Ah.

E então a espera volta a matá-lo mais uma vez.

 

 

As portas se abrem e So finalmente deixa seus pulmões respirarem. E sua cabeça parece ficar ainda mais leve com a visão diante de seus olhos.

O quarto está na penumbra. O Sol já se pôs há algumas horas, e só algumas velas foram acesas quando a parteira foi embora. Mas seus olhos se acostumam rapidamente à pouca luz, e ele entra cuidadosamente, segurando a respiração mais uma vez.

Soo está deitada imóvel na cama, seu rosto branco e pálido contrastando com seu cabelo negro, que se espalha nos lençóis de seda. Por um tempo ele só a observa, incerto de como se aproximar, ou do que fazer. Ele inspira e expira lentamente, tentando fazer sua mente entender o que acabou de acontecer.

Ela parece ouvi-lo, mesmo que ele tenha tido cuidado de não alertá-la. Mas então ele vê o sorriso dela, e sua hesitação se estilhaça quando ele sorri de volta.

Hae Soo se senta graciosamente, como se ela não tivesse acabado de dar à luz. Os olhos dela brilham com alegria mesmo na penumbra, como se ela não estivesse gemendo de dor alguns momentos mais cedo. Ela olha para ele como se soubesse o maior segredo do mundo, e então ela levanta a mão, chamando-o para se sentar ao lado dela.

— Venha ver sua filha, So-nim, — ela diz, e como que preso num transe, ele vai até ela.

Sua filha.

O mundo parece parar, e aquela palavra é tudo o que importa. 

Ele é um pai agora. Ele tem uma filha. Uma filha que é tanto de Hae Soo quanto é dele. Ele tem uma filha e nada mais importa agora.

Wang So não é um rei, ele é o pai de uma bebezinha.

Ela é pequena e preciosa, seus punhos cerrados e seus olhos bem fechados a deixam adorável. Em volta dela está o seu primeiro presente para a recém-nascida, uma manta macia de um tecido roxo, bordada com flores brancas. A cabeça dela tem um leve tufo de cabelos pretos e curtos, o rosto dela está amassado e enrugado, e ela é perfeita.

So percebe que está prendendo o fôlego de novo por conta do completo espanto por ver sua filha pela primeira vez.

Então ela o solta, e seu deslumbre só parece aumentar quando ele deixa afundar o conceito de que ele e Hae Soo agora são os pais de uma coisinha tão preciosa.

— Se o mundo estivesse nos eixos, — ele diz melancolicamente quando finalmente consegue falar, — Goryeo teria ganhado uma nova princesa hoje.

— Se eu sou sua Rainha, então ela é sua Princesa, — Soo diz baixinho para não acordar a bebê, se apoiando nele, — Ela é nossa Princesa. Isso é mais que o bastante.

— A 1ª Princesa de Gwangjong. — Ele suspira baixinho, e então se vira para olhar para ela, e quando seus olhos se encontram ele reclina sua testa sobre a dela, — Obrigado.

Mas antes que Soo possa dizer alguma coisa, um leve grunhido soa ao lado deles, e os dois se viram instantaneamente para a pequena criança embrulhada perto deles.

Os olhos dela estão abertos e seu cenho está franzido. Ela só tem algumas horas de idade, mas faz uma expressão tão parecida com a cara de descontentamento de Hae Soo, que ele sente que já sabe tudo o que há para saber sobre ela.

— Aqui, — Soo diz, pegando o bebê nos seus braços e então a oferecendo para ele, — Segure ela.

Wang So nunca tinha segurado um bebê antes. Muito menos um recém-nascido. As pessoas não costumam oferecer seus filhos para um cão lobo. Mas Soo o ajuda, guiando suas mãos, e cuidadosamente ela coloca o pequeno peso em seus braços. E de repente, So não consegue respirar de novo. Ele só consegue olhar para aqueles olhos escuros que olham para ele, e ele não consegue se mexer. Ele só consegue sentir o peso dela, sentir o toque dela, a mão dela segurando seu dedo.

— Então essa é a pequena que não te deixava dormir direito à noite? — Ele fala sorrindo em voz alta quando reencontra suas palavras.

— É, — Soo concorda, rindo e brincando com o cabelo escasso dela, — Essa é a culpada.

— Ela é tão pequena e adorável, — ele argumenta, ainda fixado nos seus olhos, — Ela não parece ser desse tipo.

— Ela provavelmente ainda vai me deixar acordada à noite, — A reclamação dela é num tom afetuoso, e So sorri também, — Você ouviu aqueles pulmões?

A memória ainda está fresca na sua mente. Ele tem quase certeza de que ainda vai estar mesmo daqui a uns anos. O instante em que ele ouviu a voz de sua filha pela primeira vez e como ela pareceu reverberar em cada músculo de seu corpo. Foi um momento mágico, e o encheu de uma alegria que ele nunca sentira antes, nem mesmo quando ele soube que Soo estava grávida.

Também o encheu de um pouco de medo e espanto, porque era muito alto e agudo, e o atravessou como um raio.

— Eu nunca tinha imaginado que recém-nascidos tinham tanta força assim.

— Lembra dos chutes dela? — Ela cutuca a barriga dele e ele ri, empurrando-a de leve com o cotovelo, — E agora ela tem esse choro superpoderoso que não vai parar até que ela esteja satisfeita.

— Ela não está chorando agora.

— Claro que não, ela está feliz agora. Não é? — A última pergunta é para o bebê confuso, que fica alternando o olhar entre eles, e Soo dá uma risadinha quando sua pergunta – num tom um pouco mais alto que o normal – faz a pessoinha virar os olhos para ela. Depois de alguns segundos, no entanto, ela continua seu discurso de instruções, — Mas daqui a algumas semanas, ela vai acordar no meio da noite e exigir ser trocada e alimentada. Recém-nascidos dormem muito, então, por enquanto, ela só vai ficar acordada por um tempinho.

— Então ela vai dormir logo?

A pergunta dele não é bem uma pergunta e eles dois sabem. E eles também sabem que ele não vai estar presente durante a maior parte dos momentos de choro que Soo acabou de descrever.

Mas essa não é a hora de conversar ou pensar nessas coisas, então eles só continuam a cuidar da filha deles enquanto ela ainda está acordada e alerta, se familiarizando com as pessoas que, até algumas horas atrás, ela só conseguia ouvir as vozes.

 

 

— Bebês podem ficar do lado de fora? — Jung pergunta preocupado, sem saber como se comportar perto da bebê que dorme profundamente nos braços do seu irmão. Desde que conheceu sua sobrinha, ele começou a achar que tudo era perigoso, mesmo o leve sopro da brisa sobre eles, que estão esperando Soo se trocar dentro do quarto.

Parecendo estar tão nervoso quanto ele, So traz sua filha para mais perto de seu peito, atento para o vento também, mas ele franze o cenho e responde asperamente.

— Como eu poderia saber?

— Bebês não despertam um instinto natural dos pais? — Baek Ah pergunta embasbacado, surpreendido pela discussão repentina entre eles.

— Eu sinto o instinto de recusar que vocês dois a segurem, — So retruca, segurando a pequena protetoramente, como que demonstrando seu ponto, — Mas isso não me explica nada sobre bebês.

E antes que Baek Ah possa intervir e sugerir algo que possa tranquilizar os dois, e a si também, já que ele também está preocupado com a menina, o bebê começa a chorar e outro estardalhaço começa.

Ele e Jung estavam mantendo uma distância respeitável do novo pai e sua filha, mas assim que o choro agudo enche a noite, eles estão todos em cima dela, tentando ver o que há de errado, o que a está incomodando, e consertar as coisas, para ela parar de chorar, para ela dormir em paz de novo. A verdade é que os três estão entrando em pânico, e a garotinha não está muito feliz com suas péssimas tentativas de acalmá-la.

— Me dê ela. — Uma voz repentina os congela, e eles se viram para a porta agora aberta e veem Hae Soo de pé, os braços estendidos para a filha. Ainda é cedo demais para ela estar caminhando por aí desse jeito, especialmente com o vento, que provavelmente não vai ajudar com sua doença – agora mais evidente no seu corpo depois de um dia exaustivo – e elas ficam ansiosos por ela.

— Você não precisa...

— Você não pode...

— Soo-yah...

— Ela está com fome, — Soo explica, e Baek Ah se pergunta por que nenhum deles pensou nessa possibilidade, — E ao menos que um de vocês tenha desenvolvido a habilidade de produzir leite, é melhor me dar ela.

Sem mais argumentos, So vai até ela e lhe dá o bebê que está chorando impaciente, e Jung e Baek Ah continuam congelados no mesmo lugar.

— Você devia comer também, — ele diz seriamente antes que ela entre, — Baek Ah vai preparar alguma coisa para você.

E ele vai mesmo, não só porque o irmão dele pediu – meio que mandou – mas porque já está na hora de todos eles comeram, especialmente ela. Soo não comeu nada desde manhã cedo, pouco antes de sua bolsa estourar e eles começarem a correr por tudo quanto é canto. E a parteira tinha dito a ele para ter cuidado extra com ela, já que o parto tinha tirado muitas de suas forças. Ela também não devia estar caminhando, mas descansando na cama. E ele devia estar contando isso para seu irmão, e não guardando para si.

Mas essa não é hora para tristezas e preocupações desnecessárias. Hae Soo vai ficar bem, desde que ela não se esforce muito e ele faça o mingau que a mulher lhe ensinou antes de partir.

Vai ficar tudo bem. Baek Ah continua repetindo para si mesmo enquanto volta para a cozinha, Jung o seguindo. Vai ficar tudo bem.

 

 

— Por que vocês estão aqui?

Soo pergunta aos três homens que entram inesperadamente, assim que ela acaba de trocar as roupas da sua garotinha.

— Para ter certeza que você vai comer, — Baek diz austeramente, carregando uma bandeja com comida quente. Ele a coloca do lado de sua cama, e se senta no chão. 

Esse tipo de método é comum para ele, já que ele sempre se recusa a sair até que ela tenha acabado a comida, mas os outros seguindo o seu exemplo é uma novidade para ela. 

Ela vira os olhos para So, que se sentou na beira de sua cama, olhando para ela de um jeito autoritário que ela acha fofo, mas que nunca disse para não ferir seu ego.

— E você? — Ela pergunta, — Você não ia embora de tardezinha?

— Eu ia. Mas aí lembrei que alguém tem que segurá-la enquanto você come.

Para mostrar que está sendo sincero, ele estende os braços, se aproximando um pouco para ela passar o bebê para ele em segurança. E ela só consegue sorrir ao ceder, sabendo que na verdade ele está morrendo de vontade de segurá-la de novo e que ele não tem como ir embora sem fazer isso.

— Não é pra isso que nós estamos aqui, hyungnim? — Jung reclama de seu lugar, próximo a Baek Ah, que também clama em protesto.

— É, é sim. Dê ela pra mim, Soo-yah.

— Não, eu fico com ela, — Jung se levanta antes que Baek Ah tenha a chance, — Era eu quem estava acordado quando Soo começou a sentir as dores.

— Não, eu fico, — Baek Ah puxa seu irmão pro chão, sua altura lhe dando uma vantagem, — Foi eu quem chamou a parteira.

— Nada disso, — So fala firmemente, pondo um na briga deles, — Eu sou o pai dela. Eu vou segurá-la.

— Se você não voltar para o palácio agora, — Baek Ah tenta argumentar, sem nem tentar ocultar suas verdadeiras intenções, — Todo mundo vai pensar que você é um péssimo caçador.

— Como se eu me importasse, — ele ri em escárnio e então chama a atenção dela para si mais uma vez, gesticulando seus braços vazios, — Soo-yah.

E, porque ela o ama mais, Soo passa o bebê para ele. Também porque ele vai ter que ir embora mais cedo ou mais tarde, e ela quer que ele tenha o máximo possível de memórias com a filha deles. Os irmãos dele, no entanto, parecem não notar esse fato.

— Isso não é justo, hyungnim, — Baek Ah choraminga e Jung concorda ao lado dele.

— A gente também quer segurar ela.

So aninha a garota adormecida para mais perto do seu peito, fazendo careta para a dupla birrenta e murmura em desagrado.

— Como se eu fosse deixar alguém segurá-la.

— Não se preocupem, Baek Ah-nim, Jung-nim, — Soo não consegue tirar o sorriso do rosto, — Vocês terão muitas chances para segurá-la quando So-nim voltar para o palácio.

Depois de dizer isso, ela pega sua tigela de arroz e começa a comer calma e lentamente, observando a transformação em seus rostos. Baek Ah e Jung começam a sorrir aliviados e os olhos de So se arregalam em choque quando ele protesta.

— Soo-yah! Você não pode!

 

 

— Primeiro você reclama que está com fome e depois demora meia hora para se arrumar pra tomar café?

Jung está visivelmente irritado com o atraso, já que isso significa que ele vai ter que acender outro fogo para esquentar a comida dela. Mas quando ele se aproxima ele vê que Hae Soo está com um sorriso enorme no rosto, e ela está dando pulinhos pelo quarto.

— Jung-nim! — Ela se vira para olhar para ele, sem perceber sua irritação, — Ela levantou a cabeça!

E de repente o descontentamento de Jung desaparece.

— O quê? Sério? — Ele se aproxima da bebê, que está olhando para eles com olhos questionadores, como se ela quisesse saber a causa daquela comoção toda. Uma parte dele espera que ela repita a proeza, mas ele sabe que seria esperar demais de uma criança pequena.

— Ela acordou quando eu estava saindo, — Soo explica, tentando se acalmar um pouco, se sentando na cama ao lado da garotinha, — Então eu virei ela de barriga pra baixo, e quando eu chamei ela, ela levantou a cabeça pra mim.

— Mentira!

— Não, é sério! — O sorriso dela fica mais afetuoso quando ela olha para a neném, e ela começa a conversar com ela, — Não foi? Não foi, minha menininha?

— Eu vou contar pra hyungnim. Ele não vai acreditar.

 

 

Soo segura a risada, se contentando com um sorriso largo, enquanto os observa. Ela acabou de se banhar e de se trocar já faz um tempo, mas quando ela saiu do quarto em silêncio, com medo de acordar sua filha, ela descobriu que ela não estava dormindo.

A pequena está deitada num dos lençóis que So comprou, suas roupas claras e coloridas se agitando quando ela chuta e agita os braços no ar. Ao lado dela, Baek Ah está cuidando dela, e ele brinca com ela com uma bola de seda.

Pelo menos, era para ele estar brincando com ela, mas acabou começando uma briga com o bebê.

Soo observa Baek Ah oferecer a bola pequena e colorida – sua favorita – para a garota, mas então tirar do seu alcance pouco antes dela tocá-la. Então, fazendo uma cara irritada, ela começa a chutar e a sacudir os braços, abrindo as mãos o máximo que consegue, sua vozinha aguda choramingando em protesto. Depois, quando parece que ela desistiu do brinquedo, Baek Ah o oferece de novo, e seu sorriso cresce, sua voz muda para um tom mais satisfeito.

Isso é, até ele puxar a bola de novo.

Na terceira vez que ele faz isso, ela não consegue mais segurar o riso, e acaba deixando escapar, fazendo os dois se virarem para ela. 

— Eu quero te dar uma bronca por ser malvado, mas é tão fofo, — Soo fala rindo, caminhando para perto deles e se sentando ao lado dele, olhando para ela. 

— Eu sei! — Baek Ah concorda sorridente, e ele retoma seu jogo de provocação, — Eu prometo que eu não queria perturbá-la, mas olha para ela!

Ele aperta o nariz dela, e ri quando ela faz um som de indignação com o gesto, seguida da exigência em ter seu brinquedo de volta. 

— Se seu irmão ver isso, ele vai te proibir de chegar perto dela.

O aviso de Soo sai de lábios sorridentes, mas Baek Ah dá de ombros com um sorriso convencido.

— Ele não vai saber se você não contar.

 

 

So criou um hábito. O que quer dizer que, a essa altura, ele o faz subconscientemente, sem sequer notar seus arredores.

Ele conversa com o bebê.

Claro, não há problema algum em conversar com um bebê, pra início de conversa, a própria Soo faz isso o tempo todo. Mas há uma grande diferença entre seus murmúrios agudos e carinhosos de quando ela brinca com a filha deles, e os diálogos sérios e profundos dele.

— Ei, hyungnim! Pára! — A reclamação de Jung é com Baek Ah, mas So e Soo se viram para eles. E considerando o que estava acontecendo até então, e também como os dois irmãos estão lutando para não cair na risada, não é difícil entender o que está acontecendo.

— Estão zombando de mim? —So ergue uma sobrancelha, tentando parecer o mais intimidador possível ao mesmo tempo em que segura uma bebê sorridente. Parece funcionar um pouco, uma vez que Jung começa a se remexer sem graça e Baek Ah de repente parece estar muito interessado em sua tigela de arroz.

Soo sorri discretamente e mastiga sua comida lentamente.

— É Baek Ah-hyungnim que está fazendo graça, — Jung tenta se esquivar acusando seu irmão.

Com essa declaração, Baek Ah guincha em ultraje, apontando um dedo acusador para ele.

— Mas você também acha que é estranho.

— Mas eu não tô falando nem fazendo nada.

— Parem, os dois, — Soo interfere antes que uma discussão entre irmãos se torne uma briga séria e então se vira para olhar novamente para o Rei, — E, So-nim. Eu acho ótimo que você esteja tão disposto a conversar com sua filha logo cedo, isso ajuda no desenvolvimento dela. E também é muito fofo.

Jung e Baek Ah tossem para disfarçar a súbita crise de riso que cai sobre eles, mas Soo consegue manter o sorriso sereno e polido. 

So estreita os olhos e os encara, claramente insatisfeito em ser uma minoria no momento, e murmura em desagrado.

— Nenhum de vocês tem respeito pelo Rei, — ele faz um muxoxo em desaprovação e volta para sua conversa com a bebê, — Exceto você, não é, pequena? Você não acha que eu seja bobo, e jamais vai rir às minhas custas.

— Pequena, — Soo se intromete na conversa dele, seu sorriso ficando ainda maior, — Por que você não diz pro seu pai que ele parece um bobão muito fofo quando conversa com você?

 

 

— Então, quando vocês vão escolher um nome? — Jung pergunta a eles depois que eles dizem que a filha deles está crescendo tão rápido que eles mal podem acompanhar, — Ou é pra gente chamar ela de “pequena” até ela crescer?

Baek Ah, que estava começando a cochilar na sua posição, sentado e apoiado num dos pilares da varanda, fica mais focado neles, piscando os olhos curiosos.

— Nós já escolhemos. Hoje de manhã, — Soo responde e ri da expressão embasbacada de Jung e Baek Ah, — Só que ainda estamos acostumados com “pequena”.

— Você dois são estranhos. — É o veredito dele, mas não é como se So e Soo discordassem com isso, então eles dão de ombros depois de seu comentário.

— Então, como minha sobrinha vai se chamar? — Baek Ah pergunta entusiasmado e Soo sorri para So antes de olhar para eles e responder.

— Seol.

— Seol?

— Escrito como “neve”, — So esclarece, olhando para a garota sorridente no colo de Soo, — A neve do primeiro dia do ano.

— É um belo nome. — Baek Ah está com aquela expressão sonhadora que sempre faz quando está tocando sua gayageum ou desenhando, e So e Soo estão presos naquele olhar que o deixa meio sem-graça. E todos eles sorriem como se soubessem um segredo, e ele é o único de fora.

— Mas é verão, — Jung finalmente desiste e expressa sua confusão, — E estamos no meio do ano.

Seu argumento lhe ganha um coque na cabeça do seu décimo-terceiro irmão e uma bronca de Hae Soo.

— Só porque você não entende a beleza do nome dela, não seja cético.

— Eu acho que é perfeito, — Baek Ah diz, ganhando um meneio de gratidão dela.

— Bem, não são vocês que vão ser chamados assim pelo resto da vida, — Jung continua a retrucar, massageando o local que seu irmão acertou, — Vocês já perguntaram para a pequena como ela se sente sobre isso?

Soo abre a boca, provavelmente para dizer a ele o quão ridícula a ideia é, mas então ela a fecha e se vira para seu quarto irmão. E porque So é quem tem mais experiência na área, ele se inclina um pouco mais perto da bebê, que os observa com olhos curiosos, e pergunta.

— Seol-ah?  — O nome sai de sua boca naturalmente, — O que você acha do seu novo nome?

So está de costas para ele, então Jung não consegue ver sua expressão. Isso quer dizer que ele pode argumentar que seu irmão estava trapaceando e fazendo uma careta para a garotinha reagir de forma positiva, e exigir uma maneira mais apropriada de medir a reação da bebê. 

Jung não sabe o que seu irmão fez, mas descobrir isso é a última coisa em sua mente depois do que acontece a seguir.

A neném ri. Não um risinho ou uma tentativa de fala entre sorrisos, como eles estavam acostumados. Uma risada de verdade, cheia de diversão e alegria, saindo de seus pequenos pulmões, enchendo o espaço em volta dos adultos enquanto eles olham atônitos para ela, um evento único acontecendo para todos eles.

O momento de estupor parece durar apenas meio segundo, a risada de Seol parece contagiar todos eles. E logo o lugar está cheio de risada e alegria.

E é então que Jung percebe o quão feliz ele está por ter uma família mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

Dessa vez a música tem tudo a ver com o capítulo -> https://youtu.be/MWsjsI2A2yk

Opiniões são bem-vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

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