Assim que deixou o salão de baile abandonado, voltou para o hall tentou mais uma vez anunciar sua chegada para seu bondoso anfitrião.

— Bem, seja lá quem você for… Eu vou só me aquecer perto da lareira. – Disse alto para as paredes e se aproximou do calor. - Ah, assim é melhor! Muito melhor! - Comentou para si mesmo antes de uma tosse irritante. Pelo visto, tinha se livrado dos lobos, mas não de pegar um resfriado devido mudança brusca do clima.

Novamente ouviu sons, mas agora de louças e pratos, curioso seguiu para um salão anexo que possuía uma longa mesa de jantar posta para um. A comida quente fumegava e os aromas dos temperos enchiam a sala dando água na boca. Maurice, extremamente grato, não hesitou ao se dirigir para a comida.

— Oh, obrigado! - Rapidamente o homem partiu o pão comendo um pedaço, para logo em seguida destampar as travessas repletas de batatas e legumes cosidos na manteiga, frango assado, frutas frescas e uma sopa quente.

O inventor comeu até estar satisfeito, a sopa nutritiva e bem temperada tinha sido ideal para lhe aquecer o corpo e revigorar as forças. Foi quando estava passando uma camada de manteiga caseira no último pedaço de pão que se atentou para um bule e xícara de chá próximo a si, não tinha bebido nada em todo o jantar, um chá cairia perfeitamente bem nesse momento. Antes que fizesse qualquer movimento em direção à xícara, essa se arrastou pela mesa até estar ao alcance da mão do homem que horrorizado levantou–se apressadamente, arrastando a cadeira pelo chão, quase a derrubando. Saiu apressado do salão, imaginando que bruxaria maligna rondava aquele castelo assombrado.

— Eu… Não posso agradecer o suficiente pela sua hospitalidade… - Começou a falar apressado voltando para o hall e vestindo sua capa desajeitadamente. Eu… Desejo a você um adeus e… Boa noite! - Mas antes que pudesse correr para seu cavalo escutou a resposta que naquele momento não queria mais receber.

— Se está grato pela minha hospitalidade, não faça a desfeita de recusar um último chá. - A voz profunda ecoou pelos corredores entediada.

O inventor tentou encontrar o dono da voz, e vendo-o de costas, sentado em uma das três poltronas de encosto alto que estavam posicionadas entorno de uma pequem mesa de centro, perto da mesma lareira que Maurice tinha de esquentado quando chegou. O inventor tinha certeza que não havia ninguém ali quando ele passou correndo pela lareira saído da sala de jantar, se o homem misterioso estivesse sentado lá minutos atrás, Maurice com certeza o teria notado.

— Sente-se e termine o chá. É uma infusão especial de uma amiga muito querida, sei que ela detestaria que fizesse uma desfeita dessas. - Continuou o jovem, com seu tom monótono, como se falasse apenas por educação.

— Eu… Ah, eu… Bem se o Senhor insiste eu… - Maurice gaguejava, visivelmente assustado, já suspeitava da natureza daquele castelo e de seu anfitrião, a última coisa que queria era permanecer mais um segundo naquele lugar.

— Insisto. O chá o ajudara na viagem de volta.

O homem sem poder recusar tamanha gentileza frente ao outro que o acolhera, se viu na obrigação de se aproximar e se sentar em uma das poltronas. Entretanto não foi só suas boas maneiras que o levaram a agir, alguma coisa nas palavraras do estranho o compeliam a desejar o chá com a mais forte das certezas de que ele não poderia seguir viagem sem antes ter uma boa xícara da bebida quente.

Ao se sentar, murmurou um obrigado quase inaudível, Maurice pode finalmente colocar os olhos em seu anfitrião. Era um jovem extremamente belo, entre seus vinte cinco anos, mesmo que aparentasse ser mais velho, o rapaz poderia muito bem ter a mesma idade de Hermione e isso assustou o inventor mais do que se estivesse na presença de um homem-feito beirando seus quarenta anos. Os cabelos loiros, quase platinados,junto a pele clara contrastavam com as vestes profundamente negras e ricamente cortadas em conjunto com a postura impecável lhe davam um ar majestoso e sobrenatural.Seus movimentos precisos e devidamentecalculados ao preparar uma perfeita xícara de chá demonstravam um poder letal e intimidador hipnotizante. Todavia, nada se comparavam aos olhos mortais que deixaram Maurice mudo, eles eram de um cinza tempestuoso, carregados de um profundo desprezo.

— Assim que terminar a chá deve partir. - Não era um pedido, mas uma ordem direta e clara. - Pois mesmo minha hospitalidade tem limites. - Continuou o jovem desviando os olhos para as chamas que dançavam na lareira.

Maurice não queria admitir, mas ficou extremamente grato por não ter mais aqueles olhos sobre si e rapidamente tomou a bebida que apesar de tudo estava divina.

— Seu cavalo está descansado e sua carroça pronta, devidamente abastecida.

O inventor apenas assentiu virando o último gole de chá rápido de mais para se quer ser considerado educado. Levantando-se, assim que o jovem o fez com uma graça mortal, constatou que o estranho era ainda mais intimidante do que havia percebido quando o mesmo estava sentado displicentemente.

— Obrigado e... Boa noite... - Falou o homem, trêmulo ao ser analisado pela figura de negro cujos olhos cruéis. Claramente descontente apenas lhe direcionando um anuir de cabeça, dispensando-o.

Maurice não precisou de mais incentivo que aquele para sair do castelo quase correndo, descendo rapidamente as escadarias, não olhou para trás um minuto. Não quis se perguntar como sua carroça estava lá ou como havia sido concertada, não a queria mais de qualquer forma, queria apenas deixar o mais rápido possível aquelas terras amaldiçoadas.

— Vamos, Philipe! Vamos! - Incitava o cavalo, que ganhou velocidade cruzando novamente o estranho jardim congelado da propriedade.

O inverno continuava ininterrupto e gelado, mas a refeição quente o tinha revitalizado. Foi perto de cruzar os portões que viu um roseiral, cujas flores eram tão brancas como a neve que caia silenciosa.

— Não! Espere. Espere! - Falou o homem puxando as rédeas. - Rosas! Quase me esqueci da rosa. Espere aqui. - Falou desmontando. - Eu prometi à Mione uma rosa.

Maurice adentrou o espaço enquanto admirava as flores, buscando uma para sua filha. Sem perceber que uma sombra, acima das árvores, se moveu assustando Philipe que relinchou inquieto.

— Essa. Essa aqui… Hermione vai gostar. - Mas quando foi tentar arrancar a flor, feriu–se com seus espinhos. Rapidamente soltou a flor com uma exclamação de dor, analisando a mão ferida. Não ouviu o rosnado profundo que o cercava, alheio ao perigo, arrancou de vez a flor sem dar importância ao relinchar de alerta do cavalo.

— Ai está!

Antes mesmo de se virar, um monstro saltou a sua frente, uma besta com asas negras, rugindo ferozmente contra o homem. Uma criatura horrenda cuja aparência bestial se assemelhava à de uma harpia. Maurice estava petrificado de medo balbuciando coisas sem sentido enquanto dava passos trêmulos e hesitantes para trás tentando se afastar da fera que se aproximava lentamente, raivoso a ponte de suas passadas fazerem o chão tremer. Quando o homem escorregar e cair de costa no gelo a última coisa que viu foram os olhos cinzas cruéis.