Eu me considerava uma pessoa corajosa, sempre enfrentei meus problemas de frente. O único problema que sempre pareceu maior que minha coragem foi Erika. Mas até ela eu consegui enfrentar, mas Ethan? Agora, depois de beijá-lo? Eu simplesmente não parecia capaz de encarar. Eu não me orgulhava disso, mas vinha fugindo dele desde o nosso beijo.

  Eu estava em pânico.

  O que eu estava sentido me assustava. A ideia de amá-lo era demais pra mim, logo eu que sempre vivi mais na ficção que realidade. Assustava-me pensar em ter que encará-lo, mas também tinha medo do que eu faria se nunca mais o visse, eu tinha virado uma confusão de sentimentos e ainda tinha as crianças no meio disso tudo, esses pestinhas tinham ganhado o meu coração e eu não podia sonhar em magoá-los.

  Suspirei em frustração, vi Molly com Susan perto da mesa do bolo e segui em direção à cozinha para buscar um copo de refrigerante. Era a festa de Seth, meu encrenqueirozinho estava fazendo onze anos e eu estava feliz por ele. Por que ele parecia feliz. Sorri, em meio a tudo isso pelo menos alguma coisa para me distrair, por que organizar uma festa de aniversário era estressante e complicado.

  Enchi dois copos e levaria um para Susan quando fosse buscar Molly, já tinha tempo demais que eu estava longe da minha bebê de bochechas fofas e olhos curiosos. Virei-me pronta para seguir outra vez para a sala e o vi ali, dei um gritinho de susto e derrubei os copos, Ethan me olhava com um sorriso divertido do batente da porta.

  - Ethan – sussurrei quando ele começou a se aproximar, dei um passo para trás e ele mais dois em minha direção. - O-o qu-que vo-você está fa-fazendo a-aqui? – pergunto me amaldiçoando. Essa maldita gagueira que não me deixa em paz quando estou nervosa.

  - Vim conversar com você, e dessa vez, você não vai fugir – ele responde me prendendo entre ele e a pia e nem respiro diante de sua ação. Estou imóvel, olhando fixamente em seus olhos azuis que tanto me desconcertam. Quero beijá-lo desesperadamente e também quero fugir, quero Ethan pra mim, mas me falta coragem para tomar alguma atitude.

  Ele me encara de volta, se quisesse me beijar agora eu não acharia ruim, muito pelo contrário, mas Ethan não faz nenhum movimento em minha direção mesmo que encare meus lábios antes de voltar a me olhar nos olhos. Estamos a poucos centímetros um do outro, eu poderia beijá-lo se quisesse, porém não faço nenhum movimento também.

  - Por que você está fazendo isso? – Ethan pergunta finalmente e não sei ao que ele está se referindo, mas não preciso, por que ele continua. – Por que está fugindo de mim, Olivia?

  - Eu n-não...

  - Vamos Olivia, você é melhor que isso. Vai fingir agora? – ele me desafia sustentando meu olhar e engulo em seco antes de voltar a falar. Cansei de fugir.

  - Você quer mesmo saber? – pergunto e ouvimos a voz de Charlotte ao longe, eu e Ethan nos viramos na mesma hora para a porta vazia e ele nega com a cabeça voltando a me olhar.

  - Quero, mas aqui não. Vem – ele chama se afastando e me puxando pela mão. Não tenho escolha se não segui-lo pela porta dos fundos até o jardim, nós damos a volta até estarmos perto da mesa de ferro na qual eu e Brianna dividimos um lanche. – Pronto. Fale, eu quero saber. Saber por que tem me evitado. Por que parece que o beijo te deixou tão triste, quero saber se fiz ou disse algo que te magoou. Eu quero saber, Livy, por favor, não me deixe no escuro.

  Seu pedido me pega de surpresa. Ninguém nunca tratou minha opinião ou minhas ações como se fossem tão importantes. Especiais.

  - Eu não fiquei triste. Eu só não sei o que fazer! Por que se isso tudo entre nós for uma brincadeira pra você eu não vou aguentar, nunca me senti assim por ninguém e não quero me magoar!

  - Brincadeira? Quando foi que eu fiz parecer que estava brincando? – ele me pergunta parecendo irritado. – Na verdade faz tempo que eu não falo tão sério, faz tempo que eu não me sinto assim, faz tempo que eu quis realmente socar a cara de alguém por puro e simples ciúme. Eu vi você ontem na rua rindo com aquele sujeitinho e quis muito ir até lá e jogá-la sobre o ombro e levá-la comigo como um verdadeiro homem das cavernas.

  - Espera, do que você está falando? Você me viu ontem e...? Ah! Você está falando da hora em que fui buscar as crianças? Do...? Ai me Deus! Você está falando do Mike!? – exclamo entre divertida e surpresa. Ethan me viu ontem com meu primo e ficou com ciúmes? Eu o encontrei por acaso na rua e simplesmente engatamos numa conversa. Quando fomos à casa de tia Sarah ele não estava por causa do trabalho e por isso Ethan não o conhece. Estou rindo, rindo tanto que tenho que me apoiar no homem irritado e confuso a minha frente para não cair.

  - Eu estou aqui te dizendo como eu me senti e você está rindo de mim? – Ethan está muito irritado e quando tenta se afastar o seguro pelos braços.

  - Por favor... Por favor, espera – peço parando de rir. – Mike é meu primo, o filho mais novo da tia Sarah que não estava naquele dia da festa por causa do trabalho, ele é médico, nos encontramos por acaso. Ele é meu primo – volto a repetir ainda sorrindo e Ethan sorri também assim que minhas palavras fazem sentido pra ele.

  - Você está dizendo que quase morri de ciúmes e arranquei o volante do carro fora à toa? – ele me puxa para perto pela cintura colando nossos corpos, a diversão dá lugar a outra coisa bem mais intensa. – Em?

  - Eu não sabia que você estaria vendo, muito menos que era ciumento assim, Sr. Price.

  - Eu sou, descobri que com o que importa, eu sou muito ciumento. Eu tenho ciúme do que é meu – ele sussurra a centímetros dos meus lábios. Meu coração bate tão descompassado que tenho medo de ter um infarto, as pernas tremulas já não me aguentam, mas Ethan me segura no lugar, por isso sei que não vou cair.

  - E e-eu sou s-sua? – gaguejo num fio de voz.

  - Se você quiser, Olivia. Vai ser sempre se você quiser – ele sorri colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – Eu estou aqui, por mais que pra mim seja tudo assustador também, eu estou aqui e não vou a lugar nenhum. Estou aqui e não estou brincando nem por um segundo. Estou aqui por inteiro e te quero, quero te beijar, quero ouvir sua risada, quero ver seu sorriso, quero comer sua comida e ouvi-la gritando com meus filhos que já a amam de todo o coração. E você, Olivia, o que quer?

  - Eu achei que quisesse fugir, me esconder por que estava com medo de me machucar, mas descobri nesses últimos dias que vou me machucar ainda mais se eu me afastar. Então eu vou ficar, vou lutar, por que foi assim que fui criada, foi isso que minha mãe me ensinou, a lutar pelo que eu quero, sempre. E eu quero você, quero ficar aqui com você, beijar você, quero cuidar das crianças e gritar com elas. Quero que nossos pequenos momentos durem para sempre, por que é com vocês, com você, que me sinto em casa de um jeito que não me sentia há muito tempo.

  Eu só tenho tempo de terminar de falar antes de Ethan cobrir a minha boca com a sua. Ele me apertar mais contra si e parece querer me devorar e quero que me devore, puxo-o para mais perto de mim e o beijo me arrebata de um jeito que me desconcerta, confunde ao mesmo tempo em que parece certo, fácil e normal estarmos assim, um nos braços do outro. Separamo-nos apenas por que o ar se faz uma necessidade, estamos os dois vermelhos, ofegantes e sorridentes quando tocamos as testas tentando acalmar a respiração.

  Nós nos olhamos, sorrimos e voltamos a nos beijar, acho que não quero mais nada por um tempo, posso continuar beijando-o pelo resto da vida que pra mim vai estar ótimo. Nós paramos para respirar e Ethan aproveita para me dar um beijo no pescoço, estou derretendo em seus braços quando o chorinho agudo me deixa alerta outra vez. Ele para, nós voltamos a nos olhar e depois encaramos a porta.

  - Molly – dizemos os dois juntos. – Será que tem muito tempo que nós saímos? – pergunto e ele sorri bobo me encarando.

  - Não tenho nem ideia e se não fosse sua bebê exigente querendo o seu colo eu nem me importaria.

  - Minha bebê? – me faço de ofendida e ele ri.

  - Claro, o colo que ela quer não é o meu, acredite – Ethan diz e não parece nem remotamente chateado com a constatação, ele me dá um selinho, se afasta e me estende a mão. – Vem?

  - Vou, claro que vou.

  Ele me leva de volta para a cozinha e antes de chegarmos à sala Susan nos alcança com Molly aos berros em seu colo.

  - Graças a Deus achei vocês, ela já estava impaciente esperando. Viu Molly? Vovó achou seus pais, pronto, pronto – ela dizia a bebê antes de me entregá-la. Peguei minha pequena e a aclamei.

  - Pronto meu amor, estou aqui, tudo bem... – eu dizia ninando-a em meu colo e beijando sua testa.

  - Livy! Papai! Finalmente achei vocês, eu tava procurando, mas nunca achava! – Charlotte aparece seguida de Seth que nos olha com curiosidade. Susan também nos olha finalmente e o sorriso bobo de Ethan nos entrega, eu coro e Susan está sorrindo.

  - Olivia, quando que vamos cortar o bolo? – Seth pergunta ainda nos encarando. – Você tava com meu pai?

  - Nós estávamos, bem... Estávamos... Que tal cortar o bolo agora? Por que depois você e seus amigos podem brincar de alguma coisa – digo desconversando e isso só faz Susan tentar segurar o riso ainda mais, eu quero sumir e Ethan parece a ponto de gargalhar, esse idiota.

  - Pode ser – Seth concorda ainda nos olhando curiosos. – Você e o papai tão esquisitos.

  - Não estamos, não, agora vai lá chamar todo mundo pra cantar os parabéns – peço e ele nos dá uma última olhada antes de sair.

  - Eu vou também! – Lottie exclama e sai atrás do irmão.

  - Espero que vocês estejam bem, mas a julgar pelos sorrisos, estão – Susan diz e estou morrendo de vergonha. – E Olivia, sua tia e um dos seus primos veio, eles estavam lá na sala.

  - Tia Sarah? – pergunto grata por mudar de assunto.

  - Essa mesma. Seu primo Jake e a esposa, o filho, enfim tem um pessoal querendo vê-la e perguntando por você também – ela diz a Ethan.

  - Bem, se é assim, vamos vê-los antes dos parabéns? – Ethan me convida e pela terceira vez no dia aceito sua mão estendida, algo me diz que eu aceitaria segui-lo para qualquer lugar.

  Nós encontramos minha tia, Jake, Lis, suas irmãs e Eliot que já tinha sumido com Seth há muito tempo. Em algum momento entre a hora que minha tia chegou e Susan foi recebê-la elas viraram melhores amigas e isso me faz sorrir, já trocaram receitas, histórias e quem as visse juravam que se conheciam a vida toda. Jake e Ethan engataram numa conversa assim que se viram e só não se afastaram para fofocar como duas velhas por que eu e Lis não deixamos, não antes de cantarmos os parabéns.

  Teve a musiquinha que todos conheciam, tiveram inúmeras fotos, ainda mais do que já havíamos tirado. Teve a Charlotte quase derrubando o bolo inteiro, mas no fim deu tudo certo. Seth pegou o primeiro pedaço e quase não conseguiu nem olhar para Ethan quando o deu. Eu só consegui sorrir vendo a cena, eu amava vê-los assim, se reaproximando mais cada dia, se tornando o que são, pai e filho.

  Depois do bolo algumas pessoas se despediram entre elas um moreno alto para o qual Brianna parecia que não conseguia nem olhar, ele estava acompanhado da irmã menor que era amiga de Lottie, eu não sabia o que estava acontecendo, mas pretendia descobrir o quanto antes. Seth foi brincar com os amigos que sobraram, Eliot incluso, Charlotte exausta dormiu no sofá, as irmãs de Lis foram explorar a casa, Ethan e Jake finalmente conseguiram fugir de nós para o escritório, tia Sarah e Susan engataram numa conversa enquanto começavam a arrumar umas coisas e sobramos eu e Lis no sofá com Charlotte dormindo ao meu lado e Molly em sua cadeirinha em cima da nessa de centro. Brianna alegou estar com dor de cabeça e foi se deitar, mas eu não acreditava nem por um segundo nisso.

  A festa se estendeu até o jantar, mas essa altura só tinha mesmo minha família que tinha ficado para passarem a noite conosco antes de irem, Susan até tentou oferecer sua casa para dormirem, mas Ethan insistiu que ficassem. Jantamos todos juntos antes de Susan e Brianna se despedirem e irem embora prometendo voltar logo cedo pela manhã.

  Depois de todos terem se acomodado eu só fui dar uma última checada nas crianças. Ajeitei as cobertas de Seth e lhe dei um beijo na testa, o garotinho que tinha corrido a tarde toda nem mesmo se mexeu, fui até o quarto de Charlotte e fiz o mesmo, minha pequena abriu os olhos momentaneamente, sorriu e voltou a dormir logo em seguida. Quando sai do quarto dela sufoquei um gritinho ao encontrar Ethan parado ao lado da porta me olhando.

  - O que você está fazendo aí? – perguntei entre irritada e surpresa.

  - Esperando você – ele sorriu simplesmente.

  - Claro, você está... Como assim me esperando?

  - Você sempre faz isso, independente de tudo checa cada um deles antes de ir dormir e então eu sabia que a encontraria aqui. Queria te ver.

  - Nós nos vimos o dia todo – brinco sorrindo e ele dá um passo em minha direção, dessa vez me aproximo dele também.

  - Vou reformular então, queria te beijar. Queria não, quero e vou.

  - Estou contando com isso – digo sorrindo antes dele tomar minha boca com a sua no meio do corredor escuro me fazendo sorrir como boba em meio ao beijo.

  Se o tempo parasse agora bem, eu não iria me importar.