Double Trouble escrita por Carol McGarrett


Capítulo 2
Capítulo 02 - Dois pais, Duas mães, Duas garotas encrencadas e Duas equipes sem noção


Notas iniciais do capítulo

Desde já peço desculpas pelo tamanho dos capítulos. São muitos pontos de vista para cobrir então, eu prefiro não cortar o que está acontecendo...
Boa leitura e aproveitem, MCRT e BAU se encontram nesse capítulo!



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Como se fosse sincronizado, dois carros pararam cantando pneus em frente da cara e exclusiva escola particular. Dois casais desceram dos veículos com a mesma expressão no rosto e, muito provavelmente, o mesmo destino em suas mentes.

Cada um dos casais sequer notou o outro. Estavam preocupados demais com suas filhas e com o misterioso telefonema que haviam recebido para notar qualquer outra coisa que não fosse o motivo da inesperada ligação.

Se identificaram na porta principal e o porteiro, muito lentamente permitiu o acesso ao interior do estabelecimento de ensino. Com a calma do homem, as duas mulheres quase fizeram o serviço por elas mesmas.

No longo corredor de acesso à diretoria, só eram ouvidos o ecoar dos saltos altos da bota e do sapato chique das mulheres. Por todo trajeto cruzaram com pouquíssimas crianças, mas nenhuma delas era uma garotinha de cabelos pretos e olhos castanhos ou uma de cabelos vermelhos e olhos verdes. A expressão no olhar dos dois homens era tão determinada que as pobres crianças saiam correndo, com medo do que eles pudessem fazer.

Finalmente a sala da Diretora ficou á vista, e, sem perceber que o faziam, os quatro adultos prenderam a respiração.

A jovem secretaria que há menos de meia hora havia ficado apavorada no telefone ao conversar com um dos pais das duas encrencadas garotinhas que estavam sentadas na sala de Miss Jones, levou um susto quando quatro vozes ordenaram ao mesmo tempo:

— Precisamos falar com Miss Jones.

A pobre moça olhou para os adultos e, muito particularmente pensou, que as meninas tinham quem puxar.

Vou avisá-la que vocês chegaram. Aguardem somente um minuto.

Foi somente neste instante, que os casais notaram a presença um do outro.

Como agentes federais treinados que eram, começaram a analisar as pessoas a sua frente. Mas a resposta que eles buscavam não estava ali. Então eles apenas se cumprimentaram polidamente e passaram a fitar as paredes do local.

Emily Prentiss batia o pé nervosamente no assoalho, não importava o tanto que seu marido falasse para que ele se acalmasse, ela não conseguia. Algo tinha acontecido com sua pequena e, ela jurava, que ia estrangular quem tivesse feito mal a ela.

Aaron Hotchner tentava manter a máscara neutra que ele estava tão acostumado a usar. Mas, infelizmente, não estava dando tão certo assim, sua preocupação com a filha mais nova o estava levando no limite do tolerável, mas ele buscava toda a paciência e calma possíveis dentro de si, para que pudesse acalmar a esposa que, mais hora, menos hora, iria explodir de ansiedade.

Leroy Jethro Gibbs estava contando mentalmente as voltas no relógio da parede à sua frente. Ele estava a segundos de perder a sua paciência e invadir o escritório da diretora. Que palhaçada era aquela? Pediram que ele chegasse com urgência, ele chegou, e agora o faziam ficar esperando por notícias de algo que ele nem sabia o que era, mas sabia que tinha relação com sua menina? A única coisa que o impedia de chutar aquelas portas duplas era o aperto firme em seu braço esquerdo.

Jenny Shepard tinha três missões naquela sala, primeiro ver sua filha, ela precisava ver e tocar sua filha para saber que ela estava a salvo e bem, segundo, saber o motivo de ser sido chamada com tanta pressa até a escola, terceiro, e, até este momento o único que ela efetivamente estava tendo êxito, segurar o seu marido ao seu lado para que ele não invada o escritório da diretora. E ela sabia muito bem que ele era capaz disso, quantas vezes ele havia feito o mesmo em seu escritório? O problema era que, quanto mais demorava, mais forte ela tinha que segurá-lo. E ela não sabia até quando ele teria paciência para esperar e ela teria forças para mantê-lo ao seu lado.

Foi depois de um momento meio complicado de segurar seus parceiros no local que a secretaria saiu do escritório e permitiu que os quatro entrassem.

— Os quatro? Ao mesmo tempo? A senhorita tem certeza?

— Sim, senhora, a diretora quer ver os pais da senhorita Elena e da senhorita Elizabeth conjuntamente, por favor, podem entrar.

Os quatro se olharam, sobrancelhas arqueadas, rumaram para as portas duplas. Mulheres na frente, os maridos ficaram um passo atrás para fecharem a porta atrás de si, e, pela breve troca de olhares, eles só tinham uma certeza, eles não gostavam um do outro, e não tinha nada no mundo que mudasse essa opinião.

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A educação e as boas maneiras tão repetidas na sua cabeça por sua mãe quando ela era criança diziam que, ao entrar em um local você deve cumprimentar quem está lá dentro primeiro. Mas não hoje, jogando pela janela toda a falação da embaixadora Prentiss, a primeira coisa que Emily fez foi escanear o escritório elegante por sua filha. E lá estava ela, sentada ao lado das janelas, Elena olhava preguiçosamente para fora, sem se importar com o que acontecia ao seu redor. Por curiosidade, Emily olhou para o lado oposto, e, concentrada nos títulos dos livros dispostos na imensa estante na sua frente, havia uma garota de cabelos vermelhos. E, na mesma hora veio na sua mente uma única pergunta: o que essas duas meninas aprontaram para que a diretora chamasse ambos os pais para uma reunião na presença delas?

Prentiss caminhou na direção da filha, parando a alguns centímetros, ela tocou o braço da menina e, quase imediatamente, dois olhos idênticos aos de seu marido olharam para ela. Perfiladora treinada que era, ela notou que algo estava errado. Muito errado. Era para sua filha ou estar comemorando a vitória no concurso de soletrar, ou remoendo a dolorosa derrota, mas não com aquele olhar triste daquele jeito. Poucos segundos se passaram quando ela sentiu a mão de Aaron sobre seus ombros, e ele, da mesma forma, olhava para a filha. E viu os mesmos sinais que a esposa.

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Jenny Shepard teve a consciência de dizer boa tarde e pedir licença para entrar no escritório, mas não se alongou no aperto de mão. Logo que a Diretora Jones soltou um pouco o aperto, ela foi em direção à filha. Logicamente não precisou procurar muito, os cabelos vermelhos destacavam em qualquer lugar. Chegando perto da perfeita manifestação do DNA da família Shepard, ela ajoelhou em frente à filha e procurou por machucados ou qualquer outro sinal de que ela não estivesse bem. Não encontrou nada, apenas recebeu de volta daqueles olhos verdes iguais aos seus um breve sinal de que tudo estava bem, claramente aprendido com o pai, e depois mais nada. Ela conhecia a filha, sabia que ela tinha uma ideia ou um pensamento ruim na cabeça. Ela lutou contra a vontade de pegar a garotinha no colo e tirá-la de lá o mais rápido possível, mas ainda haviam pendências a serem resolvidas.

Com pouco, ela sentiu a presença de Jethro antes mesmo de vê-lo, e ele tinha o mais preocupado dos olhares. Qualquer coisa de ruim que pudesse acontecer com Liz sempre trazia aquele olhar sombrio e atormentado dele à tona. E hoje não era diferente. Ele, assim como ela, se ajoelhou em frente à filha adotiva e, apoiando o queixo da pequena ruiva entre o polegar e o indicador, a fez olhá-lo. E, nitidamente, ele não gostou do que viu ali. Pois na mesma hora ele lançou um olhar assustador na direção do outro casal.

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Até aquele momento, a diretora Jones não havia me manifestado, aparte por um cumprimento de cabeça vindo do Sr. Hotchner e do aperto e mão e um leve aceno do casal Gibbs, ela deixou que os pais verificassem as filhas. E isso foi bom, ela pode notar a dinâmica entre pais e filhas para ter certeza de como ela iria navegar nessa reunião.

Jones havia notado que tanto a Sra. Hotchner quanto o Sr. Gibbs seriam os mais complicados de lidar. Os dois pareciam não serem dotados com o dom a paciência, e, qualquer palavra errada, um deles explodiria. Por outro lado, o pai de Elena e a mãe adotiva de Elizabeth, pareciam um pouco mais sensatos, mas ela não tinha certeza, boa aparência nem sempre é sinônimo de sensatez, e quando se trata de filhos, nada é como o esperado.

As palavras das duas garotas naquele palco ainda ecoavam na cabeça da diretora quando ela notou seis pares de olhos a fitando. Parecia até surreal que as garotas pudessem ter sido tão frias e perceptivas ao ponto de soltarem informações tão pessoais e confidencias uma da outra.

Elena não tinha como ter certeza que Elizabeth era adotada, Jones mesmo teve que conferir no arquivo da garota para confirmar, e, mesmo depois de lê-lo, ainda duvidava, pois a menina ruiva era a cópia daquela que se dizia mãe adotiva.

Já Elizabeth por sua vez, como descobriu que os pais de Elena viajavam muito? Era claro na ficha da menina de cabelos escuros que várias pessoas eram autorizadas a buscá-la na escola. E, o motivo para tantas autorizações era um único, os pais viajavam muito a trabalho e nem sempre poderiam ir pegá-la.

Essas garotas eram mais espertas e inteligentes que qualquer um naquele colégio poderia prever.

Notando que nenhum dos olhares diminuiu a intensidade em sua direção, Jones deu um último suspiro e, levantando-se, ofereceu assento para os quatro em frente à sua mesa. As duas meninas ficaram sentadas em suas cadeiras.

 - Boa tarde, agradeço terem vindo com tanta imediatidade. Como vocês já notaram, as duas meninas estão bem – disse olhando de uma para outra que permaneciam no fundo da sala.

 Os quatro assentiram e as meninas, sem notar, se encolheram. Passado o momento de competição, ambas ficaram em silêncio e, pelo que pareceu até agora, haviam se arrependido de tamanha falta de educação e, na presença dos pais, estavam se sentindo muito mais culpadas.

  - Bem, eu gostaria de discutir com vocês quatro o comportamento das senhoritas Prentiss-Hotchner e Shepard-Gibbs durante o concurso de soletrar que tivemos hoje. – O olhar que ambos os pais lançaram para suas filhas foi o mesmo que elas lançaram uma contra outra no palco. Já as mães ficaram mais preocupadas em ouvir o que acontecera.

Neste momento, uma sombra passou atrás da janela, e isto atraiu a atenção das duas meninas. Que, pela primeira vez desde os pais haviam entrado naquela sala, deixaram de prestar atenção em seus movimentos.

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Não tinha demorado três minutos, quando mais dois carros pararam cantando pneus logo atrás dos outros dois. O porteiro da escola, acostumado com uma calmaria sem precedentes se assustou quando, no total, mais nove pessoas rumavam para a porta da escola.

— Boa tarde! – Uma simpática moça de cabelos loiros começou. – É que nossa sobrinha parece estar tendo problemas hoje, seria possível que nós cinco pudéssemos entrar?

O homem olhou para as quatro pessoas que se posicionaram atrás da loira, não acreditando nem por um minuto que eles pudessem ser da mesma família.

— Infelizmente não será possível, desde que não sejam os responsáveis por alguma criança ou adolescente que estuda aqui, não podem entrar.

— Mas, meu senhor, é muito importante.

— Não podem.

E, ao mesmo tempo notou que os outros cinco se olhavam insistentemente e para o seu azar, uma ameaçadora mulher de cabelos castanhos tomou a frente:

— Aqui... -  quando o rapaz logo atrás dela coçou a garganta ela continuou com seu estranho sotaque – Boa tarde. Nós cinco aqui precisamos realmente entrar nessa escola. Abra esse portão, agora. – Ela estava invadindo o seu espaço pessoal e o ameaçando com a ponta do dedo.

— Não é não, senhora. E agora pare de  me ameaçar.

A mulher ficou ainda mais brava, mas foi contida por duas moças, uma vestida com roupas pretas e levando consigo uma sobrinha preta de rendas e a outra de aparência normal, mas carregando um pacote de salgadinhos. E o porteiro esperava que estes não viessem com a famigerada desculpa de família.

Dando um passo para trás, os dez se afastaram e pareciam confabular entre si. Com medo de que pudessem ser assaltantes ou um grupo louco que quisesse fazer mal a algum dos ricos estudantes, o homem ameaçou:

— Se não saírem daqui agora, eu irei chamar a polícia.

Normalmente isso tem efeito imediato, mas ele recebeu de volta apenas olhares e meios sorrisos.

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Depois da negativa ao pedido nada cordial de Ziva, Tony estava com um plano na cabeça e ele incluía buscar uma outra entrada, bastava somente uma boa desculpa.

Mas antes, ele precisava ter certeza de onde ficava a sala da Diretora, pois algo lhe dizia que era ali que a Pimentinha estava.

— McCyberCrimnoso, você consegue descobrir onde, nesse prédio, fica a sala da diretora?

— Sim, Tony, por quê?

— É, por que? – Ziva e Ellie olharam desconfiadas.

— Eu tenho um plano!

— E eu tenho medo do seu plano, Tony! – Abby resmungou.

— Fique tranquila, Abbs, comigo no comando não tem problema! E aí, McGoo?

— Última sala no final do corredor, parece que tem algumas janelas em duas das paredes.

— Ótimo! Vamos lá. Se não podemos entrar, podemos tentar saber o que se trata.

— Beleza, é aqui.

— Bom trabalho, McGPS. Agora temos que ver se conseguiremos algo ficando atrás dessas janelas...

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Quando Miss Jones acabou de explicar e detalhar todo o ocorrido, estava impressionada. Nenhuma das duas garotas havia chorado ou tentado interrompê-la durante a explicação. Ficaram ali, simplesmente sentadas, olhando para a janela?

Foi então que ela notou um sombra, e essa sombra parecia ter maria-chiquinhas e carregava uma sombrinha?

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Quando Miss Jones foi distraída com algo atrás dela, Jenny encarou a filha. Como ela poderia ter dito algo assim? Não fora assim que ela fora criada! Mas ela notou que Liz estava distraída com algo atrás da mesa da Diretora, e, levando seu olhar até lá, a única reação que ela teve foi cutucar o marido:

— Você por acaso chamou a equipe?

Jethro, por sua vez, ainda encarava a filha, pensando o que poderia fazer... um castigo simples não seria o bastante pelo tamanho da grosseria que Liz tinha feito. Quando Jen o cutucou, ele olhou irritado para a esposa e, depois de ouvir o que ela tinha para lhe dizer, mirou atrás da janela na mesma hora e...

— Não... é possível.

— Abby está ali fora! - Jenny fitou o marido e ambos ficaram olhando com cara de paisagem para fora, até que outra sombra, essa desconhecida apareceu...

Já Lizzy, agradeceu aos céus a presença de Abby, mas para ter a certeza absoluta que seu pai não a colocaria de castigo imediato, ela esperava ver Tony também, afinal, ele poderia fazer seus pais serem justos com ela...

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Aaron olhava para a filha, tentando descobrir onde tinha errado. Talvez, se ele não tivesse sido tão complacente com as vontades dela, isso não teria acontecido. Mas pouco importava, agora ele teria que agir para consertar tamanha falta de educação e teria que ser imediatamente.

Mas o fato de a filha ficar olhando pela janela o estava fazendo pensar que o castigo, dessa vez, deveria ser bem mais rigoroso, até que Emily sussurrou em seu ouvido:

— Temos companhia.

— Em?!....

— O restante da equipe está aqui.

Como qualquer pessoa faria, ele olhou em direção à porta esperando ver as pessoas que trabalhavam com ele, mas Emily pegou seu braço e apontou para a janela que tanto a diretora quanto as demais pessoas da sala estavam fitando.

Por trás da cortina era possível ver a silhueta de uma pessoa, e essa pessoa usava orelhas de gatinho?

— Garcia?!

Emily não disse nada, apenas o olhou com olhos arregalados.

— E agora?

Por outro lado, Elena, ao reconhecer a silhueta, ficou aliviada, por mais que soubesse que o que tinha feito era errado, ela tinha plena certeza de que nenhum de seus tios ou tias deixaria que ela tivesse aquele castigo imenso...

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Diretora Jones parecia assustada, era a primeira vez que aquilo acontecia, e ela não sabia se mandava o segurança ir trazer aquelas pessoas, ou se terminava a conversa.

Ela escolheu a segunda opção e, deu o veredito para ambas as meninas:

— Então é isso. Eu fico sentida de dizer que o que foi dito em alto e bom som perante toda a escola me preocupou, além de ter sido um péssimo exemplo para o restante dos alunos. Então, como forma de punição, sou obrigada a suspendê-las de aula por uma semana. E, ainda gostaria que vocês conversassem seriamente com elas sobre competitividade. Até certo ponto isso é bom, mas no caso delas já está passando do tolerável.

Nesse momento, ouviram um baque, e imediatamente nove sombras saíram correndo em direção à saída da escola. E uma frase foi claramente dita:

— Pessoal, por favor, esperem por mim. Tony! Ellie! Ziva!

Muito a contragosto, Jones foi obrigada a abrir a janela para saber quem eram os baderneiros que estavam interrompendo o seu trabalho.

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Se a sombra de Abby já tinha deixado Liz um pouco mais feliz, quando ela reconheceu a voz de McGee ela ficou ainda mais animada. Acontece que sua animação desapareceu quando, seus pais a olharam enquanto a Diretora buscava por quem a estava incomodando. Sensatamente ela resolveu ficar calada. Cinco anos de convivência com Leroy Jethro Gibbs a tinham ensinado que, quando ele lança aquele tipo de olhar, é melhor ficar quieto e acatar com a cabeça baixa o que quer que seja que ele tinha como castigo. E para piorar a sua situação sua mãe também tinha o seu olhar intimidador dirigido à ela.

E foi encarando os pais que ela teve a certeza de que tudo o que ela fez realmente foi uma grande falta de educação e respeito pelo próximo. Ela tinha consciência de que seu castigo não seria nada agradável.

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Emily olhava para, agora, espantada Elena. Desde que a sombra de Penelope aparecera do outro lado, ela notou que a confiança da filha havia aumentado, mas a menina só não imaginava que desta vez, ela não teria tanta sorte.

Chamando a filha, apenas disse:

— Conversaremos em casa, e não se anime com a presença da equipe, desta vez Derek e Penelope não vão te salvar.

Elena engoliu em seco e apenas assentiu. E passou a rezar para que tudo isso não bastasse de um pesadelo.

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A Diretora, pedindo desculpas, tornou a dizer a punição das meninas e notou duas coisas: 1) Os dois casais apenas assentiram. E, 2) que ambas as garotas teriam muito que explicar nessa semana de suspensão. E, tendo em vista a reação do pai de Elizabeth e do pai de Elena, as duas garotas estavam em maus lençóis.

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Uma semana de suspensão. Elena tinha tomado uma semana de suspensão por ter sido nada mais, nada menos que mesquinha. Eu não sabia se ficava envergonhada sobre a atitude e palavras da minha filha ou sobre a punição que ela tomara.

Quando a diretora anunciou a sua decisão, pude notar que Elena se encolheu, mas, incerta sobre quem teria a pior das reações, não nos encarou, somente balbuciou sua expressão preferida: “eita”. Espero sinceramente que essa não seja sua única explicação.

Agradecendo a diretora, me levantei e, pegando o braço de minha filha um pouco mais forte do que devia, rumei para a saída.

— Papai – escutei ela murmurar – solta um pouquinho meu braço, não tô sentindo minha mão.

Eu soltei sem olhar pra ela. Emily também não estava nada feliz. E pela expressão em seu rosto, estava esperando somente um lugar sem testemunhas para explodir com a filha.

Se o caminho até a sala da diretora havia sido longo na ida, na volta estava mais longo ainda. Ainda mais quando o barulho irritante de um par de saltos ecoava atrás de nós.

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Não precisei olhar para Liz para notar que ela sabia que estava encrencada, e de castigo. Mas, mesmo assim, gostei da forma como ela, em momento algum demonstrou medo ao aceitar a punição imposta. Ela sabia que tinha feito algo ruim, muito a contragosto havia se desculpado e aceitado as desculpas que lhe foram dirigidas. Essa foi a única vez que precisei a olhar seriamente, tendo ela ouvido tantas vezes a regra 06, ela se recusava a se desculpar com qualquer um, foi só depois que Jen lhe lançou a pior das olhadas que ela caminhou em direção à menina de cabelos pretos e pediu desculpas.

Tenho que admitir que a outra garota era bem educada. Assumiu o erro e se desculpou pelo que disse.

Acontece que desculpas e um aperto de mãos não vão mudar o estrago que as palavras já fizeram. E o olhar da minha filha diz tudo isso. Ela sabe que é adotada. Não é isso que a incomoda. O que a perturba é ser lembrada todas as vezes que essa palavra é pronunciada, dos pais que ela perdeu.

Acenei para a diretora e, guiando Liz com minha mão apoiada atrás de seu pescoço e tendo uma furiosa e muito sem jeito Jenny do meu lado, caminhamos rumo à saída, e, pelas sombras que vimos pela janela, sabíamos muito bem quem iríamos encontrar.

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Mal abrimos as portas duplas e fomos praticamente derrubados por dez pessoas completamente ansiosas. Duas foram fáceis de serem reconhecidas, eram as sombras da janela, já as outras, nem fazíamos ideia de que estavam lá.

Penelope, como de costume, foi a primeira a perguntar se tudo estava bem.

— Tá tudo bem sim, Tia Pen. Foi só um mal entendido. – Respondi a ela e automaticamente me arrependi das palavras, pois o aperto em meu braço foi mais forte, um claro sinal de que mamãe não concordava com isso.

Tio Derek, que estranhamente estava calado, chegou perto de mim e me olhou nos olhos.

— Desembucha, princesinha, o que aconteceu?

Eu não queria falar sobre aquilo, ainda mais na presença de outras pessoas que eu nunca tinha visto na vida. Sinceramente, eu já estava envergonhada de ter começado tudo aquilo. Estava com vergonha de ter sido suspensa de aula e de a diretora ter chamado os meus pais ali.

— Eu fui uma pessoa ruim... muito ruim... tio Derek. Mas eu não quero repetir o que aconteceu. – eu queria chorar. Mas as únicas pessoas para quem eu poderia correr agora e enterrar o meu rosto eram papai e mamãe, e eles estavam realmente furiosos comigo.

Tia JJ se ajoelhou na minha frente, mas antes que ela pudesse ser o conforto que eu queria, papai nos mandou andar. Quando olhei para o lado, a cena não era muito diferente.

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Que estava encrencada, muito encrencada, eu já sabia. O aperto de papai ao me guiar porta afora era firme, nada para machucar, apenas para me dizer que era muito bom eu me comportar até o carro ou meu castigo seria eterno, me dizia isso. Já mamãe, ela não falava muito nessas horas, mas somente o jeito como seus sapatos clicavam no chão me davam o ideia de quanto irada ela estava. E, era quando, ela costumava deixar a persona de mamãe esquecida em algum canto e assumia a faceta de Diretora.

A família de Elena já havia saído, e o portão estava aberto esperando por nós. Não era segredo que a equipe toda estava aqui, tinha visto a silhueta de Abby e escutado o pedido de ajuda de McGee, mas mesmo com todos eles aqui, a minha situação não era melhor. Se eu bobeasse e soltasse as palavras erradas, tenho certeza que sobraria para todo mundo, menos para Abby, é claro. Ela nunca se encrenca com papai.

Eu nem tinha pisado para fora da escola, quando Abby veio na minha direção, fazendo a cena que ela normalmente fazia, e, me pegando em um abraço de urso disse:

— Meu Deus, Lizzy! Que susto! O que aconteceu? Vocês está bem? Bem de verdade? Não está ferida, nem nada, não é? El Jefe saiu com tanta pressa que todos nós nos assustamos! Você não pode fazer isso com a gente!!

— Abs... – eu ia dizer que tudo estava bem, mas eu tava começando a ficar sem ar...

— Abby, deixa a Pimentinha respirar. O que aconteceu, Chefe?

Eu sabia que primeiro Tony iria se certificar com papai se eu estava bem, para depois começar com o interrogatório comigo.

— Ela está bem, mas está de castigo. – Papai não me deu a chance de falar, mas eu estava tão envergonhada com aquela situação que nem podia encarar a minha família...

Vi McGee arregalar os olhos, Ellie olhar assustada na minha direção e depois voltar a fitar meus pais e Ziva chiar alto. Algo tinha clicado na cabeça da ninja do Mossad e ela olhou muito ameaçadoramente para o lugar onde Elizabeth era recebida por um bando de gente mais doida do que as que estavam comigo.

— Mas chefe, ela...

— Não aqui Tony, aliás, o que vocês estavam pensando quando quase quebraram a janela lá trás? – Mamãe interveio, mas como ela estava usando o tom de Chefa, ninguém ousou responder, ou sim, já que Ziva não teme ninguém mesmo...

— Nós viemos para conferir se Liz estava bem. Como aquele homem ali – e ela olhou para o Sr. Harris - também conhecido como Hagrid, por sua semelhança com o personagem dos filmes de Harry Potter— que se encolheu de medo – não nos deixou entrar. E para piorar a situação, toda aquela horda de malucos – e ela somente meneou o pescoço para todos os que estavam do outro lado – também queriam entrar, e como só conseguiram atrapalhar mais ainda, Tony (e nessa hora eu aposto que ele desejou que a israelense tivesse esquecido isso) teve a ideia de procurar outra entrada, acontece que todos eles foram também. O que acabou por atrapalhar ainda mais. Tudo estava indo bem, conseguimos escutar alguma coisa – e ela não tinha um pingo de vergonha na cara ao dizer isso - até que o magrelo ali se desequilibrou e acabou por pisar no pé do Tim que caiu...

— Tudo bem, Ziva, já entendemos... – papai estava cansado de ouvir a longa explicação – vamos embora.

— Ok, Chefe, Liz pode ir conosco.

Bem, Tony até tentou me salvar do sermão iminente, mas não deu certo. Papai lançou O olhar na sua direção, e ainda me guiando, praticamente me arrastou em direção ao carro.

Olhei para meu italiano preferido, agradecendo a ajuda. Ele me lançou um de seus muitos sorrisos de palhaço, até que ele notou mamãe, que não via graça nenhuma na situação.

Quando virei a cabeça para onde a família de Elena estava, vi que ela estava tão encrencada quando eu. É, nós duas tínhamos estragado tudo....


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Notas finais do capítulo

Well, eu amo Tony DiNozzo e ponto final! Amo JJ sendo fofa e Ziva, bem, Ziva vai ser sempre ela. Mas que temos duas garotinhas bem encrencadas, ah, isso temos!
Obrigada por lerem!

xoxo



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