Famous escrita por Ero Hime


Capítulo 5
Proposta indecente


Notas iniciais do capítulo

EU TO SEM COMPUTADOR E TO POSTANDO PELO CELULAR perdão eventuais erros!
Fora isso, eu tô amando num tanto essa fic ❤ Espero que estejam gostando também! Estou investindo nesses edits fofos pra deixar o mais top possível, me sinto a própria photoshoper
Juro que respondo com carinho quando consertarem meu note, muito obrigada por cada comentário e cada favorito, isso motiva DEMAISSSS



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RAPIDINHAS DO FIM DE SEMANA

Por: Redação

KIBA INUZUKA REALIZA O ÚLTIMO SHOW DA TURNÊ E PRETENDE VOLTAR PARA LOS ANGELES. O cantor fez três apresentações na Europa, da sua tour ‘Thankless Girl’, e esperar voltar para a cidade ensolarada no começo do mês. Em entrevista, Kiba disse estar animado para começar as gravações do novo CD. “Rever antigos amigos e antigos amores”

INO YAMANAKA BATE RECORDE DE SEGUIDORES NO INSTAGRAM. A modelo da Victoria Secrets e digital influencer acaba de deixar sua marca como a garota mais nova a ter quinze milhões de curtidas em uma foto na rede social, neste domingo. Se trata de um photoshoot tirado para a nova campanha das angels, e a loira comemorou com uma live.

NARUTO UZUMAKI SURTA EM COLETIVA DE IMPRENSA E CHOCA ZERO PESSOAS. Acho que não teria polêmica do vocalista nesse fim de semana? Achou errado, otário! Depois de se recusar a responder uma pergunta sobre seu relacionamento com Ino Yamanaka, o loiro perdeu a calma e derrubou os microfones na entrevista cedida depois da participação especial no programa Good Morning America. Ficaram curiosos? Aguardem nosso editorial, estará quentíssimo!

HINOISHI ALCANÇA UM MILHÃO EM VENDAS NO NOVO SINGLE E CONQUISTA DISCO DE PLATINA. Apesar da mídia negativa que o vocalista insiste em atrair, a banda se torna reconhecida por mais um grande feito musical. Seu último single, ‘Photograph’, bateu um milhão de compras digitais, apesar de não ter sido divulgado como ‘Rock Me’, que ganhou um videoclipe. A balada romântica foi elogiada por críticos como uma ‘inovação que há tempos não se via’.

BOMBA! NARUTO UZUMAKI E MORENA MISTERIOSA? BA-BA-DO! Logo após surtar com pergunta em coletiva de imprensa, uma foto borrada vazou nas redes sociais, parecendo ser o vocalista, acompanhado de uma garota morena desconhecida. Não temos confirmações nem testemunhas, então fica aí o mistério!

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Proposta indecente

A vida de Hinata havia se tornando um inferno.

— Impressionante, não existe uma informação sobre essa garota na internet. – Sakura resmungou, trocando de posição e fazendo a cama ranger. Com os pés apoiados na parede, ela rolava incessantemente a timeline do twitter, analisando cada tweet.

— Pela última vez, Saki, – Hinata suspirou – talvez nem seja ele.

— É claro que é ele! Olha aqui! – ela mostrou a tela, com uma foto borrada e cheia de contornos vermelhos – Claramente é o Naruto. – bufou – Agora, quem pode ser essa garota? Talvez uma parente? Se bem que ficaríamos sabendo, e todos da família Uzumaki são ruivos. – pensou consigo mesma, em voz alta.

— Pelo amor de Deus, vocês são perturbadas! – exasperou, levantando para a cozinha. De costas, estremeceu, com a cabeça latejando e as mãos tremendo.

Ela não contava com o aparecimento daquela foto. Claro que, quando arrastou Naruto Uzumaki pela porta de serviço de uma grande emissora de televisão, rumo a um bar antigo e sujo, ela não tinha pensado exatamente em todas as consequências; só queria ajudar o pobre do garoto – isso antes de descobrir que ele era um grandessíssimo babaca e deixá-lo falando sozinho, claro. Bem, também foi depois dele descobrir que ela trabalhava no tabloide sensacionalista que mais publicava matérias duvidosas e altamente ofensivas sobre ele.

Não era como se ela não pudesse entender a reação dele – ela entendia –. Só não concordou com a forma que ele se indignou por ela não ser mais uma das suas fangirls alucinadas – como Sakura. Sakura, que tinha ficado o maldito fim de semana inteiro teorizando as conclusões mais absurdas para o aparecimento repentino daquela “morena misteriosa” – que apelido ridículo –.

Assim que saiu – furiosa – do bar, Hinata pegou o primeiro táxi que parou para seus braços frenéticos e rumou para a editora. Ainda que fosse sábado, tinha que deixar o material coletado, as anotações, as sonoras e as gravações, que provavelmente já tinham sido entregues pelos câmeras; oh, ela estava tão atrasada. Correu no melhor estilo ‘estagiária em desespero’, e percebeu que sua agonia tinha sido em vão. No momento em que pisou na redação, percebeu que eles estavam mais interessados em outro acontecimento inexplicável; mais especificamente, na foto dela com Naruto Uzumaki.

Dava para ver que foi tirada por uma câmera amadora; estava borrada e desfocada. Por sorte, ela estava de óculos escuros e o cabelo cobriu boa parte de seu rosto. Infelizmente, Naruto não teve a mesma sorte, e, mesmo borrado, ainda era visivelmente reconhecível. Para completar, eles estavam de mãos dadas – Hinata estava puxando-o como um guincho pela rua, mas isso era irrelevante. Todos estavam simplesmente enlouquecendo. O vocalista sempre teve fama de bom moço, e uma possível traição seria o escândalo do ano. Ela sequer podia esclarecer a situação, porque teria que se entregar, entregar sua identidade, lidar com fãs loucas e a mídia selvagem – ela trabalhava para uma, sabia como poderia ser.

Todas essas coisas passaram por sua cabeça em um átimo de segundo, enquanto segurava a porta aberta do elevador. Tsunade sequer ligou para o atrasado, apenas agradeceu o trabalho e disse que as informações estavam ótimas – ela foi surpreendentemente simpática –. Dispensou a Hyuuga até segunda-feira, enquanto os redatores mais experientes elaboravam notas rápidas e os mestres da edição procuravam quaisquer traços que pudessem lhe dar uma pista da garota. Hinata – que não era idiota – escapou daquele inferno, se afundando no banco do metrô e querendo morrer, pronta para dormir até o próximo mês em seu medíocre porém reconfortante quarto.

Doce engano.

Sakura conseguia ser pior que a Famous. Chegou depois das duas da tarde, e foi recebida por uma garota muito surtada. A Haruno falava alucinadamente com alguém pela chamada de voz, e ambas gritavam em níveis que não poderiam ser considerados normais. Em seguida, ela desligou, recebendo a amiga e apontando para o twitter, já tomado por prints e retweets do The Sun – foi assim que a morena descobriu também. Sakura não parou de falar sobre teorias da conspiração, parentes distantes, amigas fora da fama, qualquer merda que fizesse o menor sentido bastava para ela compartilhar no grupo de mensagens de garotas igualmente estranhas.

Hinata não teve outra opção a não ser entrar na dela e xingar ocasionalmente – apenas o que faria em um dia normal. Não tinha dito que cobriria a apresentação no GMA, e já estava em dívida com a melhor amiga; aguentá-la falando daquela maldita foto era o mínimo que podia fazer sem levantar suspeitas. Cada vez que pensava, pior eram suas expectativas para o futuro. A única coisa com a qual podia contar era mais uma das polêmicas absurdas do vocalista, para tirá-la de cena.

Não conseguiu dormir a noite – em partes porque a luz do computador e o teclar rápido de Sakura reverberavam pelo cômodo minúsculo, em partes porque sua mente não parava de trabalhar. Quando finalmente adormeceu, despertou poucas horas depois, com o barulho dominical costumeiro dos quartos ao lado, que eram realmente próximos. Mal humorada e preocupada, não demorou muito até que deixasse Sakura falando sozinha e fosse para a cozinha, não muito distante – já que tentá-la convencer de que aquele não era Naruto não adiantaria muita coisa.

Respirando fundo e procurando se acalmar, colocou um pouco de chá para ferver e abriu as redes sociais. Não se falava de outra coisa, e, quanto mais olhava para a foto borrada, mais se convencia de que dava para perceber claramente que era ela.

— Ok, parece que uma das garotas que seguem meu fã-clube conseguiu uma informação da morena misteriosa! – Sakura gritou da cama, assustando Hinata. A Hyuuga se virou, pálida, esperando – Uma conhecida da conhecida dela disse que viu o Naruto correndo perto da Seven Drive, onde fica o estúdio da KABC. – a de cabelos rosas apareceu, raciocinando consigo mesma como se fosse algo de suma importância – E ela disse que acha que a garota era baixinha, com a pele bem branca, assim, tipo a sua, sabe? – mãe de misericórdia, deuses de todos os universos, me ajudem — Tem certeza que não ouviu nada na redação? – perguntou, se jogando na cadeira improvisada do balcão. Hinata suspirou tão forte que foi quase um espirro.

— Já disse que não, eles me expulsaram antes que eu pudesse saber o que estava acontecendo. – emendou rapidamente, virando-se para que ela não visse suas maçãs coradas.

— Qual a vantagem de trabalhar na Famous se você não me conta as fofocas em primeira mão? – resmungou, emburrada, e Hinata riu, nervosa.

— Eu sempre te trago os exemplares, sua ingrata. – colocou duas xícaras e serviu o chá. Sakura pegou a sua e soprou. Hinata gostava daqueles pequenos momentos que dividiam; apesar de tudo, Sakura foi a primeira pessoa que a acolheu, uma estranha na cidade, no país. Com sua astrologia, seu cabelo colorido e suas camisetas da HiNoIshi, ela era sua melhor amiga – Da próxima vez, vou trazer fotos exclusivas para você. – prometeu, verdadeiramente. A garota deu um gritinho e se jogou em seus ombros, derrubando um pouco de chá.

— Obrigada, obrigada, obrigada! – cantarolou. Hinata xingou e riu um pouco.

— Para, vai me sujar inteira! – sorriu, terminando sua bebida – Você não tem uma aula para ir, um curso para fazer? – provocou.

— Bom, eu estou com uma janela hoje, então vou ficar em casa atualizando minhas contas e surtando. – deu de ombros e Hinata rolou os olhos – E você? Não tem que trabalhar? – deu uma olhada rápida no relógio.

— Eu estou com algumas horas sobrando no banco, então vou entrar mais tarde. – voltou a se sentar, aproveitando o chá – Provavelmente eles nem vão precisar de mim. O que pode acontecer?

 

EDITORIAL DA SEMANA

ESTRELA EM DECADÊNCIA OU MÁ INFLUÊNCIA EM ASCENSÃO?

Por: Tsunade Senju

Caros leitores, eu sei que há um nome que vocês conhecem muito bem. Está na ponta da língua e no topo dos trends topics. Ele é o vocalista da banda do momento, e protagoniza nossas manchetes de capa. E hoje, também o assunto do nosso editorial especial.

Naruto Uzumaki é muitas coisas tem um bom visual, uma boa voz e uma boa carisma. É um bom compositor, bom modelo e bom piadista. Entre todas essas qualidades, é de se surpreender que ele faça parte de tantas polêmicas e atraia tanta mídia negativa. Há quem diga que é perseguição; eu discordo. Minha revista está comprometida com a verdade, e nós publicamos nada mais do que a realidade.

Para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de trabalhar em uma redação, eu vos digo: são as matérias que chegam até nós. Estamos no mesmo lugar, esperando pelo telefone tocar, pelo pop-up de mensagem surgir, pelo e-mail atualizar. São vocês, caros leitores, que fazem a Famous. E são vocês que nos trazem cada pequena nota, matéria ou reportagem. São vocês que nos re-encaminham as fotos, as fofocas. Nós só repassamos. É por isso que digo que não, não é perseguição ao queridinho da América.

Naruto me permito aqui a intimidade de tratá-lo pelo primeiro nome começou muito bem. Bom moço, publicava covers em seu canal do Youtube. Banda de garagem com os amigos. Foi descoberto pelo acaso, e virou sensação. Conseguiu um contrato, lançou um CD. Atingiu as paradas de sucesso, e não parou mais. O que um garoto de dezessete, dezoito, dezenove anos, milionário, famoso, pode querer?

Nada.

Essa é a resposta. Nada. Naruto Uzumaki não tinha mais nada a buscar, e foi assim que começaram as polêmicas. As festas, as ressacas. As agressões aos paparazzi, os xingamentos. De ídolo exemplar à delinquente juvenil. Compreensível afinal, a juventude é uma estrada de descobrimentos, e todos nós erramos. Mas, e quando essa estrada se torna obscura demais? Quando os erros passam do limite?

Naruto é reservado e não gosta de ser fotografado incessantemente nós entendemos. A fama tem seus preços, e nem sempre eles são justos. É jovem e gosta de se divertir ora, e não gostamos todos? Ele é só um garoto.

Contudo, é um garoto famoso. Ele é assistido, acompanhado e ouvido por todas as partes do mundo, por crianças de todas as idades. É uma figura pública, e deve ter consciência disso. A partir de que momento é aceitável se apresentar em rede nacional de ressaca?

É isso mesmo, caros leitores. Minha ótima equipe a qual sou eternamente grata é empenhada em seu trabalho, e pôde trazer análises sutis sobre o comportamento de nossa estrela. Há fortes indícios que sugerem a recuperação alcoólica de Naruto, durante o show no programa Good Morning America, no último sábado. Pequenos detalhes, traços que passariam a olhos despercebidos.

Longe de mim fazer acusações por Deus, sou apenas uma humilde editora-chefe de uma companhia midiática. Meu trabalho é manter as pessoas informadas, e é com esta missão que eu venho trazer essas suposições. Fica a seu critério, leitor, o que é certo ou errado. O que é real ou falso.

E, por fim, é com grande alegria que afirmo que a Famous está prestes a passar por grandes mudanças, e revolucionar o mundo das notícias. Vejo um futuro novo e extraordinário. O material que temos é simplesmente incomparável.

Aguardem. E não irão se arrepender.

Enquanto isso, deixo aqui a reflexão: que tipo de ídolo estamos permitindo que a próxima geração engrandeça? Até onde vão as fachadas, e quando começam a cair as máscaras?

 

Merda, merda, merda.

Hinata tropeçou metrô afora, correndo pelas escadas enquanto ajeitava a bolsa que insistia em escorregar. Seus olhos saltados para fora encaravam a tela brilhante do celular, enquanto engolia em seco.

Recebeu a notificação da publicação online do editorial semanal, escrito pela própria Tsunade. O título lhe chamou a atenção – a chefe era conhecida por se abster das meias-palavras, e sempre falava sobre os assuntos mais comentados da semana, ou do que tratavam as edições mais vendidas da revista física –. Abriu o texto, apenas para afogar e tossir descontroladamente durante todo o trajeto do meio de transporte. A cada linha que lia, mais branca ficava, e mais seu ar lhe faltava. Não acreditava no que ela havia escrito, e nas coisas que tinha dito descaradamente — aquilo renderia um belo de um processo, mas era a menor de suas preocupações.

Hinata tentou se lembrar desesperadamente do que tinha entregado para seu editor no sábado, apenas para lhe ocorrer meio segundo depois, cristalino como água – furiosa, não se importou em separar o material oficial do seu bloco de anotações pessoais. Cada pensamento, cada frase desconexa, cada suposição que fizera, para si. Tudo nas mãos de Tsunade. Até mesmo o mais ridículo dos raciocínios.

Recordava-se, claramente agora, de quando escreveu que Naruto parecia bêbado. Muito mais que isso, a carranca dele com os repórteres, o sorriso frio e endurecido quando Ino entrou para participar – que Deus a ajudasse, aquilo se tornaria um escândalo! E ela sequer tinha provas!

Subiu a escadaria da praça em um só fôlego, tropeçando nos próprios pés e quase caindo. Entrou na empresa e esqueceu-se de cumprimentar a recepcionista, como sempre fazia; tudo que pensava era em chegar no andar da redação e achar uma maneira de corrigir aquela confusão – como se não bastasse a foto miserável circulando por toda a internet!

Eu estou tão fodida.

Poucas foram as vezes em que viu o prédio tão movimentado. Além dos editores habituais, aos quais já estava acostumada ver correndo de um lado a outro com lattes e celulares, também passou – atormentada e afoita – por um grupo de homens engravatados, que destoavam do clima descontraído e apocalíptico da redação. Não precisava ser um gênio para perceber que se tratava dos advogados da empresa – preparados para os processos que certamente viriam.

Hinata, ofegante, apertou diversas vezes o botão do elevador, impaciente. Arrumou a bolsa nos ombros e ajeitou os fios rebeldes da franja, que já grudava com o suor que escorria por sua testa. De repente, não entendeu como sua vida deu uma guinada de trezentos e sessenta graus daquela maneira. Chegou no corredor já ouvindo o farfalhar de papéis retirados da impressora e conversas aos gritos.

Andou em passos rápidos e curtos, desviando dos distraídos. Não conseguiu chegar na sua mesa. Foi interceptada por Tenten, que organizava furiosamente algum relatório, pendurada no telefone.

— Hina! Graças a Deus, a Tsunade está te esperando na sala dela! – arregalou os olhos, como quem dizia “eu vou enlouquecer mas quero todos os detalhes depois!”. A morena suspirou, percebendo que seria incapaz de evitar a fera.

— Obrigada, Tenten. – contornou as mesas de repartição, torcendo os dedos enquanto se aproximava da temida porta.

Não importava quantas vezes entrasse naquela sala, nunca deixaria de se surpreender. Com os abafadores de barulho, era um lugar totalmente diferente; silencioso e aromático, a atmosfera era tranquilizante. Menos para Hinata – ela achava intimidante; a calmaria que precedia a tempestade. Tsunade estava de pé, bebericando uma xícara que com certeza não era chá. O cabelo dividido em duas tranças e as roupas chamativas não enganavam a personalidade forte e destemida da mulher – que ninguém sabia a idade correta – que, sozinha, ergueu um império midiático.

— Hinata, que bom que chegou. Venha, sente-se. – apontou para a cadeira de couro, e a morena se acomodou como se tivesse espadas nas costas – Servida? – apontou para uma bandeja de biscoitos. Ela negou com a cabeça, tremendo – Tudo bem, então. Primeiro, eu gostaria de parabenizar seu trabalho de cobertura do evento. Em toda minha carreira, poucas vezes vi um estagiário fazer, sozinho, o trabalho de toda uma equipe. – seu olhar era perspicaz.

— O-Obrigada, Tsunade. Significa m-muito para mim. – pare de gaguejar, sua idiota!

— Você tem um bom faro jornalístico, garota. – continuou, recostando em sua cadeira e a encarando fixamente – Me diga, por que quis fazer jornalismo? – ouvia muito aquela pergunta, mas nunca sabia como responder apropriadamente.

— Honestamente, porque queria fazer a diferença. – tentou soar firme – Quer dizer, eu sei que é uma visão um pouco idealizada – apressou-se, envergonhada – mas eu queria deixar minha marca, ajudar as pessoas de alguma forma. O jornalismo me parece uma boa forma de fazer isso, porque ele está em todos os lugares, de todas as maneiras.

— Não, não, isso é bom. Isso é muito bom. – apoiou os cotovelos na mesa, se aproximando – Você lembra muito a mim mesma, quando mais jovem. – Hinata se iluminou um pouco – Agora, por que escolheu a Famous para estagiar? Não somos exatamente uma empresa de jornais. – a morena sentiu o estômago cair por alguns segundos.

— B-Bem... – respirou fundo, sabendo que ser franca era a melhor saída – Primeiro porque eu precisava do emprego. – Tsunade riu brevemente – Eu passei no processo seletivo, e aceitei. Também, porque eu sabia que trabalhar em uma revista como a Famous, com seu nome – deu ênfase – poderia me abrir outras portas em grandes mídias, para eu fazer o que eu gosto. – não soube identificar o olhar penetrante que recebeu da editora-chefe.

— Ambiciosa. Sem medo de falar a verdade. Determinada. Eu gosto disso. – disse, por fim – Pois bem, está decidido. Hinata, eu quero te contratar efetivamente.

A morena sentiu os olhos se arregalarem vergonhosamente, e ela perdeu o raciocínio por um instante. Abriu e fechou a boca algumas vezes antes de encontrar sua própria voz.

— É-É sério? – tinha ido pensando que seria dispensada, e agora ela seria contratada?

— Com certeza. Vou assinar seu contrato e te dar total liberdade para trabalhar de casa, para que os horários não coincidam com a faculdade. Você virá uma vez por semana, ou mais, se achar necessário, reportar o que está trabalhando, e seu salário será o mesmo de qualquer outro funcionário deste setor. – parecia um sonho se tornando realidade.

— E-Eu nem sei o que dizer! – deixou os ombros caírem, incrédula – Obrigada!

— Ora, que isso. – abanou com as mãos.

— E, e eu vou continuar nessa seção? – perguntou, deslumbrada.

— Na verdade, sobre isso... – inclinou-se – Foi o seu material que me deu essa ideia. Além das suas anotações oficiais, que foram muito boas, eu tive a impressão de que o outro caderninho não era exatamente para mim. – Hinata corou, abaixando os olhos – Mas eu tive acesso a ele, de qualquer maneira. Foram suas observações, muito curiosas, que me deram novas motivações para a revista. Eu estou te contratando para fazer parte de uma equipe especial, que vai averiguar sobre o namoro falso de Naruto e Ino, e sobre a garota que estava com ele no sábado.

Ah.

Era bom demais para ser verdade.

— Iremos lançar uma edição especial apenas com esse material. Eu quero entrevistas, fotos, pistas, tudo que puder ser descoberto. Vai ser um furo exclusivo, exposto por nós. Um namoro por contrato nunca deixa de ser escandaloso, ainda mais com essa garota na jogada. – seus olhos estavam ferozes.

Hinata, por outro lado, tentou disfarçar a falta de ar e o sorriso travado. Por dentro, sua cabeça estava em um pane, um surto fora de proporções. Ela sabia que alguma coisa daria errado, no momento em que se meteu com ele. Eram de mundos diferentes, realidades diferentes. Ela mexeu com a ordem cósmica, e agora estava pagando o preço. Como Sakura dizia? Ah, seu inferno astral.

Pensou em fingir um desmaio, ou começar a hiperventilar; contudo, não podia passar uma vergonha daquelas na frente de Tsunade. Era uma chance em um milhão. Poder juntar dinheiro, viver um pouco melhor, começar uma carreira em uma das revistas mais famosas e conhecidas da cidade. No entanto, por outro lado, era errado. Aquilo era perseguição com o garoto – e ela seria a culpada.

— M-Mas Tsunade, por que isso? – argumentou.

— Não é nada pessoal. – a loira suspirou, cansada – Eu gosto do garoto, ele é uma boa pessoa. Mas eu faço o que tenho que fazer. Publico o que as pessoas querem ler, querem consumir. Também tenho uma empresa para gerir, e o mercado é assim. Quem não sai na frente, fica.

Hinata sentiu que ia vomitar. O que ela faria?

— Bom, já disse tudo que eu tinha para falar. Espero que eu possa contar você, Hinata. – se levantou, pegando sua xícara, outrora esquecida – Quem sabe no futuro eu possa escrever uma carta de recomendação para alguns de meus amigos editores do LA Times ou do Post. – mas que maravilha.

— Muito obrigada, Tsunade. – murmurou em uma espécie de ganido. Se levantou com a deixa e saiu, de costas, temendo tropeçar nas próprias pernas antes de deixar o escritório.

Voltou para o caos reconfortante da redação, e teclas de computador se sobressaiam as conversas entusiasmadas. Hinata se sentiu sem fôlego, subitamente claustrofóbica. Decidiu descer pelo mesmo elevador, sem se importar em ficar para o expediente; tinha muito o que pensar. As pessoas passavam como cenas de um filme, borradas e facilmente esquecíveis. A Hyuuga caminhou até a frente do prédio, parando sob o sol e respirando profundamente, até encher todo seu pulmão.

Só percebeu que estava tremendo quando tentou pegar seu celular na bolsa. O crachá de estagiária estava precariamente preso sobre seus botões. Ela o analisou, distraída – tudo que mais queria era sair da Famous com uma carta de recomendação de Tsunade Senju, a chave que abriria todas as suas portas. Ser uma jornalista investigativa de verdade, publicar a verdade. Bom, não daquele jeito. Ela estava mesmo pronta para passar por cima de todos seus valores morais e éticos, pela sua carreira?

Fechou os olhos por dois segundos. Foi quando o sol desapareceu, e, estranhando, ela voltou a abri-los.

Dois brutamontes, leões de chácara, de terno e óculos escuros tinham tampado o sol. A cara de poucos amigos não deixava dúvida que eles não estavam perdidos e precisavam de uma informação.

— Hinata Hyuuga? – só a voz dele já a fez querer não ser ela – Precisamos que nos acompanhe.

Oh, Deus.


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