Enquanto as ruas passavam pela janela do carro eu virei para observar Derek dirigindo. Ele estava concentrado nas ruas movimentadas de Port Angeles.
Observei sua concentração, seus labios cheios em linha reta, seus olhos azuis, seus cabelos castanhos claros agora arrepiados para cima e bagunçados.
Charlie havia me salvado do pedido aquele dia, mas era hora de seguir em frente. Alguns dias depois tive uma conversa com Derek explicando a situação toda para ele. A situação envolvia Will estar de volta e meus sentimentos ainda estavam vivos por ele, mas se Derek tivesse paciencia eu faria de tudo para darmos certo.
E consegui fazer isso com a ajuda de Will. Ele me evitava nos corredores e so me cumprimentava quando era necessario. Tinhamos praticamente todas as aulas juntas e a maioria ele era meu companheiro de classe. Conviviamos bem e ele se mantinha o mais longe possivel de mim o que eu agradecia.
Derek tinha ciumes é claro, mas com o tempo notou que Will estava respeitando toda a situação e que eu estava disposta a ficar com ele. Com Derek tudo era mais agitado e calmo ao mesmo tempo. Eu era somente humana com ele e faziamos as coisas normais de namorados. Tirando o fato "sexo".
Ja tinhamos tentado, mas eu nunca tinha conseguido ir ate o fim. Ele  dizia que entendia o meu lado, mas na verdade não entendia. Sabia que eu não era mais virgem. Mas estava me dando um tempo. Isso era um ponto de interrogação. Ate onde iria o tempo e a paciencia dele? E ate onde eu iria ficar travada assim?
— Por que esta me olhando assim? - Ele me lançou um olhar de canto de olho e eu sorri.
— Não posso admirar você? - Ele riu.
— Não mente.
Balancei a cabeça e lancei um olhar para a rua de novo estavamos chegando em Forks.
E logo Derek estacionou na frente da casa.
— Obrigada. - Murmurei me inclinando para beijar seus labios.
— Comprei algo para você. - Ele pegou do banco de tras um pacote e me entregou.
Sorri ao ver que era um livro. Um homem de sorte. Nicholas Sparkes.
— Obrigada. - Falei voltando a beija-lo. - Ate amanhã.
Assim que entrei em casa senti um cheiro de queimado, corri para a cozinha ao mesmo tempo em que Bella descia as escadas correndo.
Desliguei o micro ondas e abri a porta, o recipiente de molho de espaguete estava praticamente pegando fogo, Bella foi rapida em tira-lo de lá.
— O que eu fiz de errado? - Charlie perguntou.
— Você tinha que ter tirado a tampa antes, pai. Metal não é bom em micro-ondas. - Bella falou enquanto tirava a tampa.
Ela colocou metade do molho em uma tigela depois levou ate o microondas de novo e colocou o resto no congelador. Liguei o microondas.
— Eu fiz o macarrão direito?
Bella olhou para a panela no fogão.
— Mexer ajuda. - Bella falou pegando uma colher e tentando desgrudar a massa do fundo da panela.
Charlie suspirou.
— Então pra que é tudo isso? - Bella perguntou e eu cruzei os braços.
Charlie cruzou os braços e olhou para a janela dos fundos.
— Eu não sei do que você está falando. - Ele falou.
— Pai o que esta tentando fazer? - Perguntei.
— Eu perdi alguma coisa? - Bella perguntou. - Desde quando você faz o jantar? Ou será que eu devo dizer “tentar” fazer o jantar? - Charlie levantou os ombros.
— Não há nenhuma lei que diga que eu não posso cozinhar em minha própria casa.
— É você quem sabe. - Bella respondeu sorrindo enquanto olhava para o distintivo no seu casaco de couro.
— Ha. Essa foi boa. - Ele tirou o casaco.
— Ok. Eu vou tomar banho. - Murmurei saindo para o corredor.
Peguei minha mochila que eu havia deixado pelo meio do caminho e subi as escadas para o meu quarto. Olhei para a parede ainda com as marcas de que um tempo atras havia fotos aqui. William me entregou todas em nosso ultimo encontro, mas as guardei em uma caixa embaixo da cama.
Depois de arrumar as minhas coisas desci para jantar.
Estava distraida trocando mensagens com Derek quando Charlie estalou a lingua. Como eu podia controlar melhor meus poderes não quis ler a sua mente somente o encarei.
— Eu não sei pra quê você lê o jornal, pai. Ele só te tira do sério. - Bella comentou.
— É por isso que todo mundo quer viver em cidades pequenas. Ridículo!
— O que foi que as cidades grandes fizeram de errado agora?
— Seattle está entrando para a lista das cidades com mais crimes do país. Cinco homicídios sem solução nas últimas duas semanas. Você pode imaginar viver assim?
— Na verdade eu acho que Phoenix está mais no topo da lista, pai. Eu vivi assim.
— Bem você não me pagaria o suficiente.
Encarei o macarrão que Bella tentava salvar.
— É melhor deixar assim. - Comentei.
Bella cortou o macarrão com uma faca de carne e eu quase ri da situação. Coloquei o molho por cima e ataquei. Estava pessimo é claro, mas eu ja tinha comido as comidas de Renee então conseguia comer esse macarrão e estava morrendo de fome. Foi tão silencioso quanto qualquer um.
Depois do jantar comecei a ler o livro que Derek havia me dado e so voltei a realidade quando Charlie limpou a garganta e jogou o jornal no chão.
— Você está certa. - Charlie falou. - Eu tenho uma razão pra ter feito isso. - Ele acenou com o garfo para o macarrão grudento. - Eu queria falar com vocês.
— Você podia ter só pedido. - Bella falou.
— Ou deixado um bilhete. - Completei.
Charlie balançou a cabeça com as sobrancelhas juntas.
— É. Eu vou lembrar disso da próxima vez. Eu pensei que te livrar de fazer o jantar ia te amaciar. - Bella riu.
— Deu certo seus talentos culinários me deixaram molinha feito marshmallow. Do que você precisa, pai?
— É sobre Jacob. - Bella mudou sua expressão de alegre para dura.
— O que tem ele?
— Calma Bells. Eu sei que você ainda está brava porque ele te dedurou, mas foi a coisa certa. Ele estava sendo responsável.
— Responsável. - Bella revirou os olhos. - Certo. Então o que tem Jacob?
— Não fique brava comigo, ok?
— Brava?
— Bem é sobre Edward também. - Bella semi cerrou os olhos. - Eu o deixo entrar em casa não deixo?
— Você deixa. Por breves períodos de tempo. É claro você também me deixa sair de casa por breves períodos de vez em quando. Eu tenho sido muito boazinha ultimamente.
— Bem é mais ou menos aí que eu queria chegar com isso... - Charlie sorriu.
— Eu estou confusa, pai. Nós estamos falando sobre Jacob, Edward ou sobre o meu castigo? - Ele continuou sorrindo.
— Um pouco dos três.
— E como eles se relacionam?
— Tudo bem. - Charlie ergueu as mãos. - Então eu acho que talvez você mereça uma condicional por bom comportamento. Para uma adolescente você é incrivelmente não-reclamona. - Bella ergueu as sobrancelhas.
— Sério? Eu estou livre?
— Tem um "mas" ai. - Comentei erguendo uma sobrancelha e Charlie ergueu um dedo.
— Com uma condição.
— Fantástico. - Bella resmungou.
— Bella isso é mais um pedido do que uma ordem ok? Você está livre. Mas eu espero que você use essa liberdade mais... Equilibradamente.
— O que isso significa?
— Eu sei que você fica satisfeita passando todo o seu tempo com Edward...
— Eu passo tempo com Alice também.
— Isso é verdade. Mas você tem outros amigos além dos Cullen, Bella. Ou costumava ter. - Eles ficaram se encarando. - Quando foi a última vez que você falou com Ângela Weber?
— Sexta no almoço.
— Fora da escola?
— Eu não tenho visto ninguém fora da escola, pai. De castigo lembra? E Ângela tem um namorado também. Ela está sempre com Ben. Se eu realmente estou livre talvez possamos sair em casais.
— Tudo bem, mas então... Você e Jake costumavam fazer tudo juntos e agora...
— Dá pra você chegar ao ponto pai? Qual é a sua condição exatamente?
— Eu não acho que você deveria abandonar os seus amigos pelo seu namorado, Bella. Não é legal e eu acho que a sua vida estaria mais bem balanceada se houvessem mais algumas pessoas nela. O que aconteceu setembro passado... Bem... Se você tivesse uma vida além de Edward Cullen, as coisas podiam não ter sido daquele jeito.
— Teria sido exatamente daquele jeito.
— Talvez sim, talvez não.
— O ponto?
— Use a sua liberdade pra ver os seus outros amigos também. Equilibre as coisas. - Bella assentiu.
— Equilíbrio é bom. No entanto eu tenho cotas de tempo pra seguir? - Charlie balançou a cabeça.
— Eu não quero complicar as coisas. Só não esqueça os seus amigos particularmente Jacob.
— Jacob pode ser... Difícil.
— Os Black são praticamente da família, Bella. E Jacob foi um amigo muito, muito bom pra você.
— Eu sei disso.
— Você não sente nem um pouco de saudades dele?
— Sim eu sinto saudades dele. Eu sinto muita falta dele.
— Então por que é tão difícil?
— Com Jacob existe um... Conflito. Eu quero dizer um conflito sobre a coisa da amizade. Amizade não parece ser o suficiente pra Jake.
— Será que Edward não está a fim de um pouco de competição saudável?
— Não tem competição.
— Você está machucando os sentimentos de Jake evitando-o desse jeito. Ele iria preferir ser seu amigo do que nada.
— Eu tenho certeza absoluta que Jake não quer amizade de jeito nenhum. Afinal de onde foi que você tirou essa ideia?
— O assunto pode ter aparecido hoje com Billy...
— Você e Billy fofocam como mulheres velhas.
— Billy está preocupado com Jacob. Jake está passando por um momento difícil agora... Ele está deprimido. E além do mais você ficava tão feliz depois de passar o dia com Jake.
— Eu estou feliz agora. - Bella retrucou.
Ela estava brava e dizendo que estava feliz. Nós acabamos rindo da situação.
— Ok, ok. - Bella falou. - Equilíbrio.
— E Jacob.
— Eu vou tentar.
— Bom. Encontre esse equilíbrio, Bella. - Então ele se virou para mim.
— O que eu fiz desta vez? Estou me comportando perfeitamente.
Ele nao tinha o que reclamar de mim. Era de casa para escola da escola para o ballet e do ballet para casa. Alem disso eu não fazia nada. Nos finais de semana ficava em casa com Charlie ou ia para a reserva.
Ficava com Derek na escola e quando ele podia me levar para Port Angeles. Não saiamos juntos nem com os nossos amigos. Não fui mais surfar. E eu evitava Edward o maior tempo possivel aqui em casa e na escola.
Eu estava sendo a filha perfeita. Comportada.
— Sim. Isso eu tenho que admitir.
— Vai me propor o fim do castigo com uma condição? - Perguntei.
— So o fim do castigo. - Ele respondeu. - Tenho que admitir que gostei de que mesmo com a volta de Willian para cidade você não voltou com ele.
— Mas?
— Mas todos na cidade estão comentando sobre seu "namoro" com Derek.
— Pai. - Murmurei balançando a cabeça.
— Vocês ja estão juntos por um tempo bom, Lizzie. Não acha que esta na hora de traze-lo aqui ou ele não quer? Com o fim do seu castigo você vai poder sair mais. E as pessoas vão falar mais.
— Bom deixe elas falar. Elas não pagam as minhas contas, eu pago! A unica pessoa que devo alguma coisa é a você que moro e como aqui. - Ele ergueu as sobrancelhas.
Pega pela minha propria boca. Suspirei olhando para o livro em minhas mãos.
— O que me diz então?
— Eu não estou pronta para isso. É serio demais. E ja cometi um erro antes.
— Posso te dar um prazo ate a formatura. - Ele comentou.
— Ok. - Murmurei.
— Vocês conseguem. - Ele sorriu. - E oh é vocês tem correspondência. Está no balcão.
Charlie levantou e levou seu prato ate a pia, mas antes jogou dois envelopes na nossa direção, eles escorregaram na mesa e nos atingiram.
— Er, obrigada. - Bella falou.
Uma carta era da universidade dos Alaska para Bella e a outra era de Julliard para mim.
— Isso foi rápido. Eu pensei que havia perdido o prazo de entrega dessa também. - Charlie gargalhou.
Os dois envelopes estavam abertos.
— Está aberto. - Bella murmurou.
— Eu estava curioso.
— Eu estou chocada xerife. Isso é um crime federal.
— Oh leia logo. - Bella puxou a agenda dos cursos. - Parabéns. Sua primeira aceitação.
— Obrigada, pai.
Peguei o envelope com as mãos tremendo e puxei tambem uma agenda dos cursos, meus olhos se encheram de lagrimas.
— Fui aceita. - Murmurei. - Fui aceita! - Praticamente gritei levantando e começando a pular. - Ai meu Deus! Ai meu Deus! Eu fui aceita na Julliard!
— Parabéns sua primeira aceitação tambem. - Charlie comentou.
— Primeira e unica. Não havera outra escola. É so essa. E eu fui aceita!
— Nós deveríamos falar sobre o custeamento. Eu tenho algum dinheiro economizado. - Charlie falou.
— Ei, ei nada disso. - Bella falou. - Eu não vou tocar na sua aposentadoria, pai. Eu tenho os meus fundos para a faculdade.
— Alguns desses lugares são muito caros, Bella. Eu quero ajudar. Você não tem que ir para o Alaska só porque é mais barato.
— Eu já tenho tudo coberto. Além do mais tem um monte de auxílios financeiros por aí. É fácil ganhar empréstimos.
— Então... - Charlie torceu os labios.
— Então o que?
— Nada. Eu só estava... Só me perguntando quais... Quais são os planos de Edward para o ano que vem.
— Oh.
— Então? - Alguem bateu na porta e Charlie revirou os olhos quando ela levantou correndo.
— Já vou!
— Va embora. - Charlie murmurou e eu sorri.
— Como foi a sua tarde? - Ouvi a pergunta de Edward.
— Lenta.
— Pra mim também.
Charlie foi para o corredor para atrapalhar o casal. Eu ja disse que amo o meu pai? Pois então, eu amo.
— Boa noite, Charlie.
Ouvi um grunhido de Charlie.
— Eu trouxe outras inscrições. Ainda haviam prazos de inscrição em aberto. E alguns lugares a fim de fazer exceções... - Ouvi a risada de Edward. - Vamos lá?
Eles entraram na cozinha e eu aproveitei que estava em pé para pegar as minhas coisas rapidamente.
— Boa noite, Lizzie.
— Boa noite, Edward. - Murmurei.
— Alguma resposta? - Ele perguntou educamente e eu pressionei os labios.
Ele ja sabia é claro. Mas queria manter um dialogo normal entre nós.
— Julliard. Fui aceita. - Ele sorriu.
— Meus parabéns! Era o que você queria desde o começo.
— Sim. E eu consegui. - Retruquei mais mau humorada desta vez.
— Falando em inscrições para a faculdade, Edward. - Charlie falou. - Bella e eu estávamos falando sobre o ano que vem. Você já decidiu onde vai estudar? - Edward sorriu.
— Ainda não. Eu recebi algumas cartas de aceitação, mas eu ainda estou pensando as minhas opções.
— Onde você foi aceito?
— Syracuse... Harvard... Dartmouth... E eu acabei de ser aceito na faculdade do Sudeste do Alaska hoje. - Edward encarou Bella.
— Harvard? Dartmouth? Bem isso é muito... Isso é interessante. É, mas a Universidade do Alaska... Você realmente está considerando isso quando pode ir para a Ivy League? Quer dizer o seu pai iria querer que...
— Carlisle sempre está de acordo com qualquer escolha que eu fizer.
— Humph.
— Adivinhe Edward? - Bella falou.
— O que Bella? - Ela apontou para o grosso envelope em cima do balcão.
— Eu acabei de receber a minha carta de aceitação da Universidade do Alaska!
— Parabéns. - Ele sorriu.  - Que coincidência.
Bufei antes de levantar e sair da cozinha.