A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 2 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 2
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Capítulo Dois
36 horas parte 1

— Akin, nós precisamos fazer alguma coisa. Abie não pode morrer. Não pode! — Tori se desesperou e dezenas de lágrimas começaram a molhar seu rosto.

— Fique calma. Eu vim cedo justamente porque vou até o Ministério conversar com uns conhecidos que entendem de Poções. Mas adianto, Tori, que dificilmente alguém tem coragem de se arriscar usando Poções em trouxas. Como eu já disse, é perigoso. Mas como prometi, eu vou tentar achar alguém, só me dê algum tempo. — explicou Akin, enquanto se abaixava para pegar o saco de pão que a menina havia derrubado com o susto.

— Tudo bem, Akin, e eu agradeço muito por isso, por todo seu esforço em ajudar alguém que nem teve algum contato antes. Cada dia tenho mais certeza de que é mesmo meu amigo. — passou as mãos trêmulas pelo rosto para secá-lo.

— Então quer dizer que antes disso você não tinha? — o adulto brincou, fingindo-se de ofendido.

— Não é isso, bobo. — acabou rindo, mesmo se brevemente.

— Eu sei, Tori, só estou brincando. — mexeu os ombros e entregou o saco de pães — Enfim, vou indo. Mas antes, me prometa que vai se comportar, que não vai assustar seus tios e nem explodir nada! — a encarou bem nos olhos.

— Eu sempre me comporto, a não ser que alguém tente me machucar... Eu só me protejo, Akin. — se justificou Tori, enquanto abraçava o saco de pães.

— Prometa logo, para que eu vá tranquilo. — revirou os olhos, desacreditado naquelas palavras.

— Tudo bem, tudo bem. Eu prometo, chatinho! — ela suspirou pesado.

— Obrigada. — depositou um beijo breve no topo da cabeça da menina e depois a encarou — Se cuida, está bem? — sorriu.

— Me cuido sim! — acenou toda sorridente para o amigo adulto e se virou para entrar em casa.

Tori ainda ficou encarando Akin entrar na viatura e dar a partida, antes de se virar de vez, abrir a porta e entrar.

— O que seu protetor faz aqui tão cedo? — Petúnia surgiu de repente, surpreendendo a sobrinha.

— Que susto, tia! — tocou o peito e suspirou — Protetor? A senhora quis dizer o policial Akin? Ele veio me informar sobre a Abie, mas já teve que ir porque vai ficar fora por algumas horas resolvendo umas coisas do trabalho. — explicou.

— E como se sente estando desprotegida agora? — cruzou os braços.

— Desprotegida? — a menina arqueou as sobrancelhas, estava confusa por não saber onde a parente queria chegar com aquele papo.        

— Toda essa sua prepotência era por estar na sombra dele, porque sei que não tem coragem de usar magia na frente do Harry, sei que ele teria medo de você e não é isso que você quer. Agora vamos ver como as coisas vão funcionar sem o policial por aqui. — um sorriso presunçoso se abriu nos lábios de Petúnia.

— São só algumas horas. Aliás, a senhora deveria saber que sei me defender sozinha. Ou se esqueceu do que eu fiz ontem? — rebateu Tori.

— Explodir coisas? Grande ensinamento essa Hogwarts te trouxe nos últimos meses! — resmungou.

— Se quer saber, aprendi muitas coisas, tia. Entre elas, aprendi que pode passar o tempo que for, mas a senhora, o tio Válter e Duda vão continuar os mesmo desprezíveis de sempre. As pessoas de Hogwarts tem muita sorte por pessoas como vocês não serem aceitas lá! — a menina se alterou um pouco.

Mal terminou de falar e um tapa forte atingiu o rosto de Tori, a pegando de surpresa. Ela ficou alguns segundos paralisada e tentando entender se aquilo havia mesmo acontecido ou estava sofrendo algum delírio, antes de engolir o choro e erguer um pouco o queixo, orgulhosa. 

— Aprendi também que a senhora não é capaz de ter um bom argumento e parte para a agressão. Sinto muito, tia, mas não sou eu que estou precisando aprender alguma coisa por aqui. — Tori respondeu e empurrou o saco de pães para a mulher, que havia ficado um pouco abatida de repente, antes de sair caminhando para a escada e se virar — Ah, e se me bater e novo ou bater no Harry, eu faço seu braço sumir! — deu um último aviso, antes de subir rapidamente.

◾ ◾ ◾

Na hora do almoço, Tori colocou toda a mesa em completo silêncio enquanto a tia terminava de preparar a refeição. Ainda estava irritada pelo tapa de graça que levou, mas nunca ousaria devolver. Seu nível de respeito a irritava às vezes.

O silêncio acabou apenas quando puderam ouvir o som dos meninos chegando da escola, onde Duda fazia escândalo, para variar, e Harry reclamava sobre alguma coisa. Também pôde ouvir a voz de Pedro, onde ele e o amigo berravam ao mesmo tempo.

— Parte para fora daqui, canela seca! — Duda gritou enquanto adentrava a cozinha logo após Pedro e tentava empurrar o primo para fora, que também tentava entrar.

— Pare com isso, seu folgadinho! — Tori interveio e puxou o primo pela roupa.

— Sai, sua chata! — a empurrou — Mamãe, tire esses dois idiotas daqui. Eu e meu convidado queremos almoçar em paz! — gritou para a mãe.

— Ninguém quer atrapalhar seu jantar romântico, Duda! — a prima revirou os olhos e pegou um prato, seguindo para o fogão e o ocupando com a refeição do almoço.

— Mamãe, não vai fazer nada? — o menino ficou vermelho de tamanha irritação.

— Tori! — Petúnia tentou avançar para a sobrinha.

Mas ela entregou o prato para o irmão, antes de puxar um braço para dentro da camiseta, o escondendo.

— Seria tão ruim não ter braço... — ameaçou indiretamente, fazendo a tia parar no lugar — Ótimo. Vamos para meu quarto, Harry?— sorriu satisfeita e puxou o irmão para sair dali.

Os dois seguiram rapidamente para o andar de cima, para o novo quarto da menina, que já estava livre de toda a bagunça. Ela entrou primeiro e se jogou na cama, sendo seguida pelo irmão que se sentou e começou a comer em silêncio.

— Que foi, Tigrinho? — ela perguntou, fazendo o menino erguer os olhos brevemente.

— Você está estranha, Lene. — confessou.

— Não estou não, Tig, é impressão sua. — negou Tori, enquanto sorria para mostrar que estava tudo certo.

— Impressão minha? Eu te conheço faz tempo, sei quando alguma coisa mudou. E já faz um tempo que te vejo enfrentando a tia, mas piorou muito quando você voltou da escola. Não é mais a menina respeitosa de antes, que até tinha pavor da palavra "você" por achar falta de educação, não é mais aquela que eu me inspirava... — desabafou Harry, enquanto mexia na comida sem interesse em comê-la.

— Não estou enfrentando ninguém. — ela ergueu o corpo para se sentar.

— E ainda aprendeu a mentir. Quer dizer que nossas regras acabaram? — perguntou e se levantou — Lene, se é para mudar tanto a ponto de não me reconhecer, prefiro nunca ir para essa tal escola dos nossos pais! — cruzou os braços.

— Harry, não... Eu só... Só estou crescendo, aprendi várias coisas na escola e que você vai entender quando passar por isso também. — Tori tentou argumentar.

— Crescer significa se tornar uma pessoa ruim? — aquela pergunta de Harry pegou a irmã de surpresa.

A menina moveu a boca para responder qualquer desculpa para mudar de assunto, mas acabou desistindo. Continuar mentindo só iria piorar as coisas.

— Harry, vem, senta aqui comigo. — bateu no espaço do colchão ao seu lado — Quer que eu pare de mentir? Pois vou ser sincera com você sobre o que está acontecendo comigo. — avisou.

Mesmo um pouco emburrado, Harry foi para perto da irmã ainda com braços cruzados. Mas ela o soltou e segurou uma das mãos de maneira firme.

— Eu confesso que minha vida saiu um pouco do controle nesses meses longe de casa. Antes eu tentava ser perfeita, tinha o comportamento perfeito porque, talvez, cobrar tanto de mim mesma estava me impedindo de crescer de verdade... — Tori começou, enquanto brincava com os dedos do irmão de maneira distraída.

— Crescer? Lene, você é a menina mais adulta que eu conheço! — o menino ergueu uma das sobrancelhas.

— Sim, crescer. Mas crescer de outras formas que não consigo explicar. Eu só sei que nesses meses pude ser a criança que nunca me permiti ser. Então, depois comecei a crescer conforme o tempo certo. É por isso que estou informal, meio boca suja e respondona. Essa sou eu agindo com idade certa. — ergueu o olhar para encará-lo e suspirou de leve — Você consegue me entender, irmãozinho? É uma fase fora do meu controle e preciso que você me apoie ou eu vou pirar. Cada hora percebo uma coisa nova e que nem sempre consigo lidar... — uniu as sobrancelhas enquanto abaixava o olhar para o colo.

— Não se preocupe, Lene, eu também cresci nesses últimos meses. Eu vou te ajudar. Sou o irmão aqui e tenho que cuidar da minha irmãzinha, acho que é o que nossos pais iriam querer. — disse Harry, dando um leve aperto na mão da irmã.

— Sim, nossos pais... — Tori concordou e ficou pensativa.

— Eu disse algo errado? Se sim, não fui eu que pensei, eu ouvi num filme! — ele se defendeu.

— Bobo. — riu — Obrigada por você existir, Tig. E saiba que independente de qualquer coisa, nada muda isso que temos. Sempre vamos ser uma dupla e os esquisitões de Little Whinging! — com a mão livre mexeu nos cabelos rebeldes do irmão de maneira carinhosa.

— Estar melosa desse jeito faz parte da sua fase? — novamente ele arqueou uma sobrancelha em gesto de dúvida.

— Harry! — resmungou e riu ao mesmo tempo.

— Brincadeira. Eu amo você, chatinha, você sabe! — por fim, a abraçou para reafirmar que tudo entre eles estava certo, que o relacionamento era o mesmo.

◾ ◾ ◾

Após o almoço, Tori pegou alguns dos seus últimos trocados do trabalho como Entregadora de Jornais e seguiu até uma padaria próxima de onde morava. Ela comprou alguns cookies e depois torceu para que os pedacinhos de chocolate não derretessem ao longo de seu caminho, onde faria uma visita para Marie no hospital.

Chegando ao lugar, Tori seguiu até a recepção e esperou sua vez em ter atenção, enquanto observava o fluxo de pessoas ali, que era constante de uma forma organizada. 

Ficou observando os desconhecidos até que uma mulher com aparência de modelo de comercial coreano a encarou.

— O que faz aqui sozinha, menininha? Está esperando seus pais? — ela perguntou.

— Não posso esperar por eles, moça, pois seria perda de tempo. Eles estão mortos, entende? — Tori avisou e sorriu um pouco — Por gentileza, a senhora sabe me dizer se Marie McGregor está aqui? Ela é acompanhante de Abigail McGregor. — perguntou e esperou.

Achando graça na formalidade de uma menina tão jovem, a recepcionista assentiu e abaixou o olhar para a tela de seu computador, onde digitou algumas coisa e ficou algum tempo lendo a tela.

— Sim, está sim. No momento ela está na Sala de Espera do Quinto Andar. — a mulher informou.

— Obrigada. — agradeceu e se virou.

Tori correu até o elevador a tempo de entrar, poucos segundos antes da porta se fechar. Ela cumprimentou algumas pessoas desconhecidas por pura educação e esperou enquanto o elevador subia até seu andar.

Após quatro paradas, o elevador enfim parou no quinto andar. Tori saiu devagar, carregando consigo sua sacola de cookies enquanto treinava seu sorriso otimista para tentar reconfortar Marie de alguma forma. Sabia que sem treinamento não iria soar verdadeiro e não iria ajudar em nada.

Assim que foi se aproximando do que imaginou ser a sala de espera, um lugar que era para ser totalmente silencioso, a menina pôde ouvir algumas vozes alteradas vindas de lá. Apressou os passos e se deparou com o que parecia ser uma discussão familiar.

Além de Marie, que estava chorosa, havia uma mulher que parecia uma super modelo, alta e bonita o suficiente, com cabelos loiros e longos, além de olhos tão claros quanto. De alguma forma, ela pareceu semelhante a Abigail. Talvez fosse a mãe dela, cujo Tori nunca teve a oportunidade de conhecer.

Em sua frente havia um homem magro e alto, com o cabelo castanho-claro penteado para trás com algum gel que o fazia parecer recém-molhado, e o rosto era livre de barba.

Ambos não pareciam ser tão velhos, mas perto de uma terceira pessoa que estava ali, de canto, pareciam dois avós, principalmente ele. Era uma jovem mulher de cabelo curto e escuro, maçãs do rosto marcantes e lábios pequenos.

— Baby, aqui é um hospital, abaixe o tom pois o que está fazendo é falta de respeito. — a morena falou e tocou o braço do homem.

— Olha só a super respeitosa falando... A amante do meu marido! — a loira rebateu, soltando um riso inconformado.

— Ex-marido. Agora sou futura esposa e meu passado não importa, a não ser presente e futuro! — se defendeu.

— Seja lá o que for, isso não te dá o direito de se meter em algo familiar. Se tivesse um pingo de vergonha na cara, se colocaria em seu devido lugar, sujeitinha! — deu um passo à frente, que foi contido pelo ex-marido.

— Eu não vou me rebaixar ao seu nível, Hilary. — ela rebateu tranquilamente.

— Vamos finalizar isso? Daqui a pouco a Segurança vem expulsar todo mundo. Vocês querem isso? — Marie os advertiu.

— O que eu quero é toda essa palhaçada bem longe da minha filha agora! — Hilary resmungou, irritada.

— Nossa filha. — o homem a lembrou.

— Agora faz questão em ter uma filha? Passa semanas sem vê-la e agora quer seus direitos? Me poupe, Alex! — revirou os olhos e deu alguns passos para longe enquanto cruzava os braços.

— Me poupe você. Me diz: quantas vezes por semana você participa de uma refeição com a Abie? Quando você a leva para passear? Para fazer coisas que é dever de toda mãe? Ah, claro, me esqueci, tem a Marie para fazer por você! — Alex, o pai, rebateu.

— Como anda sabendo tanto da minha rotina? Espera... — a loira estranhou e se virou para a ex-cunhada — Marie, você anda falando com esse crápula? — voltou a cruzar os braços de maneira impaciente.

— Esse "crápula" é meu irmão, não se esqueça disso, Hilary. Com todos os defeitos que tem, não  o diminui como pai. Prefere que eu não informe nada sobre a filha dele e isso gere uma briga na justiça? O divórcio já estressou Abie o suficiente, querem estressar outra vez começando uma nova briga? — a mulher se defendeu e se virou para o irmão, apontando para a nova cunhada — E a Malu realmente não deveria estar aqui. Casar com meu irmão não dá direitos sobre a família que ele montou antes dela. Al, você deveria ter o mínimo de noção disso, pois não é mais uma criança! — rebateu.

— Tudo bem, nós vamos embora. Mas meu advogado vai aparecer por aqui. Eu tenho o direito de estar com a minha filha numa situação como essa! — Alex pegou na mão da noiva e fez menção em se virar.

— Agora que ela está mal? Francamente, você quer se aparecer! — Hilary insistiu na discussão.

— Chega! — Marie se estressou — Al, vai tomar um café, ou esfriar a cabeça de alguma forma. Hilary está quase de saída, então você volta e vê a Abie. Por favor, colabore! — suplicou, exausta demais não só por tudo o que estava acontecendo nas últimas semanas, mas por aquela discussão.

— Tudo bem. Eu estava mesmo ficando de estômago embrulhado! — falou e outra vez se virou para sair dali.

O casal mal deu dois passos, quando um barulho de aparelhos vindo do quarto de Abie atraiu a atenção. A enfermeira que estava lá abriu a porta, revelando uma palidez de susto, ao mesmo tempo que uma equipe de outros enfermeiros surgia carregando uma máquina que Tori não sabia dizer o que era.

— PCR. Rápido! — ela falou para os enfermeiros, alarmada.

O médico responsável surgiu correndo assim que a equipe toda entrou no quarto.

— Doutor, o que está acontecendo? — os três parentes perguntaram ao mesmo tempo.

— Um momento e eu já falo com vocês! — e entrou no quarto, logo fechando a porta.

O som abafado de vozes vindo do quarto, além de aparelhos apitando e fazendo ruídos estranhos, eram os únicos sons agora.

— Senhora Marie! — assustada com a situação, Tori correu para perto da adulta e a abraçou.

Sua tentativa em dar seu total apoio havia falhado e agora era ela quem precisava de ajuda.

— Vai ficar tudo bem. Shh... — a adulta massageou as costas da mais nova tentando acalmá-la.

— Aguenta firme, Abie, por favor, aguenta firme. — soluçou e ergueu a mão livre até o rosto.

A suspense acabou quando o quarto ficou silencioso e os enfermeiros começaram a sair outra vez, deixando o médico por último. Quando saiu, ele fechou a porta e parecia meio abatido, apesar de ter tentado sustentar uma expressão tranquila.

— E então, doutor? O que aconteceu? Como ela está? — Hilary foi a primeira a perguntar, um pouco trêmula.

— PCR. Ela teve uma Parada Cardíaca. Quase a perdemos, mas a trouxemos de volta. Foi por pouco... — o doutor explicou — Vou me reunir com o restante da equipe agora. Precisamos resolver isso nas próximas 36 horas, pois o saúde de Abigail está piorando enquanto não recebe o tratamento adequado. E não tem como receber o tratamento adequado se não descobrimos a raiz do problema. Pai, mãe, caso tenham alguma fé, seria uma boa hora para colocá-la em prática. Com licença! — e se afastou, enfim parando de disfarçar e permitindo a derrota ao murchar sua postura.

— Ai, meu Deus. Minha menina... Não! — Marie se desesperou e foi amparada pelo irmão.

— Eu vou para a Capela fazer minha parte. Se precisarem de alguma coisa, sabem onde me procurar! — Malu avisou e se virou para sair dali.

— Malu? — tão chorosa quanto a ex-cunhada, Hilary chamou e esperou que se virasse — Obrigada por isso. — agradeceu, mesmo com visível orgulho ferido.

— Senhora McGregor, com licença. — Tori se aproximou da loira, que a encarou.

— Hilary Simmons agora, na verdade. — a corrigiu e esperou. 

— Desculpa, senhora Simmons. Enfim, eu trouxe cookies de chocolate para a Marie, será que pode entregar para ela quando ela se acalmar um pouco? É que preciso ir, tenho que rezar pela Abie também. — explicou, enquanto fazia um esforço enorme para não chorar.

— Entrego sim, menina. Hum.. Você que é Tori Evans? — perguntou enquanto pegava o pacote e encarava os cabelos ruivos da mais nova.

— Sim, senhora. — assentiu enquanto se virava para sair dali, não mais perdendo tempo com conversas por mais que sentiu que não foi muito educada com essa atitude.

Assim que virou o corredor e chegou ao elevador, Tori apertou o botão para o Térreo milhares de vezes até que ele se fechasse e começasse a descer. Ela caminhou de um lado para o outro no pequeno espaço, enquanto tocava as têmporas e relutava para não chorar.

— Seja lá quem você for, só para. Se o problema é comigo, me machuca e para de machucar inocentes. Por favor... — murmurou sozinha, enquanto falhava na batalha em se manter firme.

Quando o elevador parou e abriu as portas, o rosto de Tori já estava quase completamente úmido pelas lágrimas, que vieram acompanhadas de soluços de choro.

— Menininha, está tudo bem? — a mesma recepcionista apareceu e perguntou.

— Não. — Tori soluçou — Mas vai ficar! — e saiu correndo para a saída do lugar.

  ◾ ◾ ◾  

Onze horas mais tarde |

Já se passava da 1h da manhã e os postes estavam acesos, iluminando a Rua dos Alfeneiros que estava completamente deserta e silenciosa. Todos os moradores deveriam estar em seu décimo sono.

Ou quase todos.

Tori caminhava pela rua em passos apressados e vez ou outra olhava para trás para ver se alguém a seguia, para ver se sua fuga havia sido tão bem sucedida quanto na madrugada anterior.

Não havia nada. Nada além de seu corpo rebelde, que havia ignorado todos os pedidos de Akin para que ela não fizesse nada imprudente para tentar ajudar Abigail, nada que custasse sua vaga em Hogwarts.

Mas lá estava ela, com uma mochila semi-cheia nas costas e alguns trocados no bolso do jeans. Em sua cintura estava seu objeto mais inseparável dos últimos meses, aquele que aprendeu a jamais andar sem: sua varinha.

E foi isso que a menina puxou para fora usando seu braço destro, o erguendo e esperando acontecer alguma coisa.

O silêncio pairou sobre a rua por algum tempo, uma brisa fresquinha causava refrescancia em seu rosto que transpirava um pouco não só pelo nervosismo, mas também pelo verão que havia chegado na Inglaterra.

O silêncio durou pouco, quando o som de algo grande e barulhento foi se aproximando da rua em que ela estava, parecendo cada vez mais rápido. Até que um enorme ônibus de três andares e roxo-berrante se materializou diante dela, fazendo o enorme cabelo voar para todos os lados e alguns fios entrarem na boca.

— Bem-vinda ao Nôitibus Andante, o transporte andante para bruxos e bruxas perdidos, e... Eu a conheço de algum lugar? — o condutor, Stan até onde Tori se lembrava, perguntou.

— Eu peguei esse ônibus uns meses atrás para minha primeira ida ao Beco Diagonal. — Tori respondeu as interrogações e sorriu.

— Ainda acho que não é daí que te conheço. — ele insistiu.

— Vamos indo enquanto você tenta se lembrar do meu rosto? Estou com um pouco de pressa... — pediu e se aproximou da porta.

— Onze cicles. — Stan estendeu a mão para a menina, que ficou um pouco sem jeito.

— Vou pagar assim que encontrar meus dois amigos, pode ser? Eu não tenho dinheiro bruxo ainda, mas eles tem, posso garantir! — ela prometeu.

— Sei não. — ele duvidou e levou a mão ao queixo, enquanto a analisava.

— Pareço alguém que vai te tapear? — insistiu, agora unindo as sobrancelhas em um gesto magoado.

— Não, ninguém tapea Stanislau Shunpike! — gabou-se o magricelo condutor — Anda, entre. Mas, vai ficar em pé enquanto não pagar. — avisou e entrou.

— Obrigada pela confiança, senhor. — sorriu e entrou logo atrás, toda contente.

— Melhor se segurar firme. E, hum, como disse que se chama mesmo? — se sentou no assento ao lado do motorista e olhou para trás para encará-la outra vez.

— Victória. — a menina respondeu rapidamente — Boa noite, senhor Ernesto! — tentou mudar o rumo daquela conversa ao cumprimentar o motorista velhote, que apenas assentiu.

— Ah, ok, Victória. — voltou a se virar — Manda ver, Ernesto! — gritou ao mesmo tempo que se segurou.

Tori mal teve tempo de se segurar em uma barra de ferro no teto baixo daquele andar, quando o Nôitibus se moveu muito rápido e ela sofreu um forte solavanco. Alguns segundos depois ele fez uma curva muito brusca e a menina bateu o rosto na janela, amassando seu nariz contra o vidro.

Recuperada com uma nova curva, ela usou as duas mãos para se segurar e passou a sofrer menos o impacto. Até que percebeu ter sorrido cedo demais, quando o jornal que Stan abriu para ler se soltou e voou em sua direção, ficando preso em volta da cabeça dela e a fazendo soltar as mãos instintivamente para se livrar daquilo, o que a fez cair com força no chão logo em seguida.

— Tudo bem aí? — Stan perguntou, com um leve humor ácido no tom de voz.

— Ótimo, não percebeu? — Tori gemeu, irônica, e arrastou o corpo para se levantar ao mesmo tempo que o jornal se soltava de seu rosto.

Então ela percebeu que seria muito melhor que ele tivesse continuado a dificultar sua visão, pois a pouparia do que viu logo em seguida.

A HERDEIRA ROSIER

Logo abaixo, uma foto recente sua que não se lembrava de ter pousado. Alguém a havia tirado sem seu consentimento e isso a aborreceu, principalmente sendo uma matéria assinada por Rita Skeeter.

— Que droga! — ela murmurou.

— Ah, claro. Então é daí que seu rosto me é familiar! — disse Stan, espiando o jornal por cima da cabeça da menina — Você é Victória, ou Tori, a filha bastarda de Evan Rosier! — concluiu.

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