Mãe Solteira escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 10
Eles crescem tão rápido...


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei!
Desculpa a demora, mas algumas coisas consumiram completamente o meu tempo... foi mal :c
Esse capítulo ficou meses no meu celular, sempre que eu podia alterava algumas coisas, mas só consegui terminar de escrever ele hoje. A iludida aqui achou que ia conseguir postar antes da estréia de Félix, kkkkks.
Espero que gostem!
AVISO: mesmo com a estréia do capítulo do desenho onde o Félix aparece, o Félix da fanfic vai continuar o mesmo.



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Eram quatro e quarenta e seis da manhã e Felix estava começando a ficar nervoso.

Nathalie tinha tido duas crises de tosse, fortes o suficiente para que ambos acordassem, mas não necessariamente preocupante para que ela desse alguma explicação. No entanto, Felix se manteve acordado depois da segunda e lutou contra o sono ao máximo possível: precisava notar qualquer padrão anormal no sono da mãe.

Agora, quase uma hora depois, ela estava começando mais uma crise. Rapidamente, ele se levantou e a ajudou a se sentar na cama. Ela dormia sempre como uma pedra, mas uma vez que estava acordada de novo, era possível notar sinais preocupantes: ela parecia perder completamente o ar durante as crises – coisa que ele não conseguiu notar antes-; também parecia se incomodar com as tosses... dor, talvez?

— Água... — ela pediu assim que as tosses ficaram mais repassadas.

— Água? Quer água? — depois de um aceno positivo, ele apressadamente saiu do quarto.

Finalmente sozinha, Nathalie enterrou o rosto no travesseiro e tentou abafar ao máximo a continuação da crise de tosses. Aquilo já estava começando a incomodar mais do que ela estava disposta a permitir.

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Gabriel estava olhando para o teto do próprio quarto, seguindo os relevos decorativos do gesso e tentando ignorar ao máximo os ruídos estranhos e as sombras ameaçadoras que estavam ao seu redor. Aquilo era o resultado de horas e mais horas assistindo filmes de terror.

O papel com o placar para o figurino dos personagens estava jogado no mesmo lugar onde a lista de crueldades estava. Já não eram mais as roupas o objeto de frustração satisfatória para o estilista, agora eram as criaturas horripilantes e mal configuradas o seu alvo.

Porém, como bom criacionista que é, ele parou de prestar atenção no enredo dos filmes e começou a fantasiar sobre quais histórias de terror aquela mansão já presenciou. Era antiga, provavelmente centenária, palco para intrigas e traições da família Agreste por gerações... talvez também fosse o local de um crime ou um assassinato.

E se, por ventura, em algum lugar do subsolo houvesse uma bela dama perdida em um sono profundo provocado por um tirano? Quem sabe a alma dela estivesse pronta para assombrar qualquer um que fosse em busca de ajuda...

Só de pensar todas essas coisas, Gabriel sentiu a garganta ficar seca. Os relevos do teto não seriam mais o suficiente, ele precisava de água. Provavelmente de um exorcista também.

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A tremedeira pelo nervosismo fez com que Felix jogasse mais água no chão do que dentro do copo. Agora, ele estava bisbilhotando nas gavetas em busca de algum remédio qualquer para gripe – já tinha visto uma caixa de primeiros socorros por ali, mas não deu a atenção suficiente e agora não se lembrava de onde ela poderia estar.

Quando ele finalmente encontrou a bendita caixa, quando estava prestes a jogar o conteúdo de uma das cápsulas junto à água, ouviu passos se aproximando. O desespero fez com que ele esparramasse tudo na pia em uma tentativa falha de esconder o que estava fazendo pelas costas da mãe.

— filho?

A voz paciente e ligeiramente preocupada de Gabriel Agreste foi mais do que o necessário para que Felix sentisse o corpo inteiro se congelar. Ele estava acabado, arruinado, ele e a mãe. Nathalie iria esfregar a culpa na cara dele até a morte, a menos que...

— Oi... pai... — o rapaz loiro sussurrou sentindo a voz sair falhada pelo pânico. Jamais imaginou chamar alguém desse jeito, ainda mais se fosse um Agreste.

— O que está fazendo acordado a esta hora? E o que está fazendo com a caixa de remédios da sua mãe?

O rapaz não moveu um músculo. Eram perguntas demais e ele não sabia o que responder. Precisava de uma desculpa, mas precisava sair daqui antes que fosse descoberto por uma mentira mal contada.

— D-Dor de cabeça...

— Você é muito novo para começar com o vício em remédios, volte para a cama agora mesmo! — por mais autoritário que soasse, era possível notar a preocupação nele.

— Tá... E-Eu estou indo...

Tentando controlar a apoquentação, Felix respirou fundo e caminhou em direção a saída o mais rápido que suas pernas trêmulas permitiram. Quando já estava na porta, prestes a se livrar daquele pesadelo, Gabriel entrou no caminho dele.

O mais velho o encarou por alguns segundos, aproveitando a claridade das janelas. Depois de uma análise rápida, ele saiu da frente do rapaz. Felix voltou a andar, agora pensando se seria mais seguro começar a correr.

— você está crescendo rápido, filho.

Aquela frase de Gabriel, dita com tanto orgulho, fez com que Felix estagnasse na mesma hora. O rapaz se lembrou de todas as vezes que ouviu aquilo da mãe e de tantas outras pessoas, mas era a primeira vez que estava ouvindo aquilo do “pai".

— Obrigado... — ele sussurrou e voltou a andar apressadamente. Queria respostas. Respostas que a mãe já tinha demorado demais para dar.

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Adrien acordou com o estômago rosnando de fome.

Andava se alimentando melhor desde que Felix começou a cozinhar, mas ainda não era o suficiente. Ele precisava de muito mais para conseguir manter o monstro glutão que habitava dentro dele em paz.

Precisava de biscoitos.

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Felix entrou no quarto pronto para atirar suas dúvidas e injúrias sobre a mãe e não aceitar quaisquer que fossem as tentativas de fuga dela. Porém, bastou que ele visse o estado em que Nathalie se encontrava para esquecer completamente tudo o que estava pensando.

A mãe estava visivelmente mal, arfando em busca de ar e claramente incomodada por cada vez que fazia tal coisa.

— Mãe?

— A... A água? — ela encarou o rapaz se controlando ao máximo para não iniciar uma crise de tosses.

— Eu esqueci! — o rapaz passou os dedos pelo cabelo — mas eu não esqueci de propósito, eu só esqueci porque o Agreste entrou na cozinha e...

— Adrien?

—Não, não, o outro Agreste — notando o quão surpresa com a resposta a mãe ficou, o rapaz começou a tentar se explicar de um jeito melhor — Ele não descobriu quem eu era! ... Eu acho... mãe, ele falou coisas estranhas sobre eu ter crescido rápido, como se eu fosse o filho dele. Eu não sou o filho dele! Como ele pode me confundir com o Adrien!? — enquanto reclamava, o loiro caminhava de uma ponta a outra do pequeno cubículo — A não ser que... E-Ele não é meu pai, é?

Nathalie apenas respirou fundo e se levantou vagarosamente.

— Mãe, ele é meu pai? — ele se sentou na cama, atônito — Mãe, responde! Ele não pode ser meu pai, ele não pode ser a pessoa que eu sempre... Mãe, onde está indo?

— pegar água, filho... — ela sussurrou, pouco antes de encostar a porta em um pedido subentendido de que ele não deveria sair de lá.

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Gabriel estava mais uma vez observando os relevos do teto do próprio quarto.

Ele ainda estava orgulhoso do homem elegante que Adrien estava se tornando, seria mais uma geração de honra da Família Agreste.

Em parte, ele também se sentia triste: mal acompanhou o crescimento do filho e em breve Adrien iria sair de casa para estudar em uma boa faculdade ou o que parecia ser o mais provável: se tornaria um modelo internacionalmente reconhecido e começar a trabalhar cada vez mais longe. Ele perdeu momentos preciosos com ele, mas estava satisfeito de ter proporcionado tudo do bom e do melhor a ele em troca disso.

Em um lampejo, o Agreste se sentou na cama: Adrien estava mexendo na caixa de remédios! Aquele arsenal de calmantes e demais substâncias perigosas estava a mercê do inocente garoto. Gabriel precisava se livrar daquilo o quanto antes, ou melhor, esconder em um lugar seguro o suficiente para nunca mais ser encontrado.

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Adrien tinha caminhado entre as sombras e conseguiu chegar a cozinha como se fosse ChatNoir se infiltrado em um esconderijo secreto do inimigo.

Agora, ele estava sentado em cima de um dos balcões de mármore com o pote de biscoitos recheados no colo e, provavelmente, cinco ou seis dos petiscos enfiados dentro da boca. Apesar da superlotação, ele ainda estava tentando enfiar mais um: queria quebrar o próprio recorde antes de completar os dezesseis.

Estava sendo uma madrugada calma e feliz, até que a voz de um furioso Gabriel Agreste soasse pela cozinha, fazendo o rapaz pular de onde estava é encarar o pai sem entender absolutamente nada.

— ADRIEN, FIQUE LONGE DESSA AMEAÇA DE MORTE AGORA MESMO!

Guiado pelo instinto de sobrevivência, Adrien colocou o pote de biscoitos onde estava sentado antes e se afastou. As bochechas estavam preenchidas de biscoito, ele não conseguia falar absolutamente nada.

— ADRIEN, QUANTAS VEZES EU JÁ DISSE QUE... Isso é biscoito? Onde estão os remédios!? Você... você estava comendo biscoitos de madrugada!? BISCOITOS!

O rapaz apenas olhava assustado enquanto tentava mastigar tudo o que tinha dentro da boca. Reconhecia aquele comportamento do pai: era claramente um ataque de pelanca pré-estreia. Porém, ele só tinha visto isso acontecer quando o pai culpava a assistente por algo, mas ela nem ao menos estava ali agora para lidar com a situação...

— E o senhor está gritando em plena madrugada! — a voz séria de Nathalie fez com que Gabriel engolisse as palavras que queria gritar. Ele apenas olhou em volta, a encarou e respirou fundo — Volte para o seu quarto, eu lido com Adrien.

— Você não sabe lidar com ele! — o homem acusou — Nathalie, ele está se entupindo de biscoitos! BISCOITOS!

— Ele só está sentindo o gosto, não chega a comer de verdade. É um acordo que fizemos, certo, Adrien? — ela olhou o rapaz que mais parecia um esquilo com nozes na boca. Ele não tinha como falar nada para se ajudar, mas concordou veemente.

— Bem, nesse caso.... —— sem ter mais motivos para continuar lá, o Agreste mais velho colocou as mãos no bolso de seu belo robe em seda vermelha e continuou — Livre-se da caixa de remédios e do pote de biscoitos até amanhã de manhã.

— Não seria de manhã?

— Nathalie, eu ainda não dormi, logo, ainda é hoje — A secretária apenas suspirou, vencida por estar cansada demais para retrucar mais algumas vezes.

Adrien, aproveitando a saída do pai, já estava se aproximando lentamente do pote de biscoitos. A essa altura, ele já tinha conseguido engolir todos os que tinha enfiado na boca, mas a tensão não permitiu que ele saboreasse tudo adequadamente.

— Adrien — Nathalie chamou com sua voz séria e profissional, fazendo com que ele congelasse no mesmo instante — Venha comigo, por favor.

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Gorila estava deitado em sua minúscula cama, acomodado como era possível. Em sua mente, vários pensamentos não permitiram que ele pegasse no sono depois de acordar com as crises de tosse da sua vizinha de quarto:

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Guardar dinheiro para comprar uma cama melhor;

Comprar pastilhas para tosse e dar a Nathalie;

Verificar se a Máfia Russa implantou agentes biológicos contaminantes com um vírus mortal no quarto dela;

Comprar a versão Mecha BMW – Carros Robôs, 6ª edição;

Separar o mafioso mirim da mãe antes que ele fique doente também;

Manter Adrien seguro;

Comprar o Fusca Azul – Carros de Época, 13ª edição;

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Antes que ele continuasse pensando em mais e mais coisas e começasse a bolar mais uma de suas teorias beirando a verdade, o som de batidas na parede fez com que ele despertasse para o mundo real, era Félix. Gorila considerou por alguns segundos se a melhor coisa a fazer não era ignorar o garoto, mas acabou dando uma chance a ele:

— O que quer? — tentou soar mal-humorado. Uma das vantagens de não estar cara a cara com o clone mais jovem de Gabriel é que não precisava encarar os olhos de gelo.

— E-Eu... — o rapaz gaguejou — A minha mãe, ela.... Er... Gorila, eu quero que você faça algo por mim — Ele não estava nem perto de ser autoritário. Parecia alguém completamente diferente, até mesmo como se fosse um Adrien mais velho.

— O que você quer, Félix? — dessa vez, Gorila não disse de uma forma grosseira, daria uma chance a ele.

— A minha mãe está um pouco doente, eu acho... — ele soava triste, o que fez com que Gorila reconsiderasse todas as imbeciliddades que aquele ditador tirano já havia feito e começasse a pensar nele apenas como um garotinho ciumento.

— Eu sei, Félix...

— Como assim você sabe!? Há quanto tempo você sabe e não considerou nem ao menos me contar, seu imprestável!? Se algo acontecer com a minha mãe, você...!

Félix, novamente em seu estado normal, fez com que Gorila tomasse medidas drásticas, considerando a situação. Ele ainda estava vendo Félix apenas como um garotinho ciumento e preocupado, mas com seu lado ditador atrapalhando o foco:

——Diz logo o que você quer, antes que eu mude de ideia sobre te ajudar!

— Vai ver se a minha mãe está bem! — o rapaz suplicou com um dengo semelhante a Adrien implorando para faltar em algum compromisso, mudando da água para o vinho — Ela não quer que eu saia do quarto, mas não voltou até agora!

— Está bem, Félix...

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Nathalie e Adrien estavam no ateliê. Ambos encaravam silenciosamente uma balança de banheiro posicionada estrategicamente em frente a um espelho.

— Não quero fazer isso... — o rapaz disse fazendo uma de suas melhores feições de gato abandonado.

— Você precisa fazer isso, Adrien. É a consequência por comer biscoitos fora do tempo — ela se mantinha séria.

— Mas mãe... — ele apelou mais uma vez. Porém, a sua “mãe emprestada” permaneceu séria, ele não tinha escolhas.

O rapaz subiu na balança de olhos fechados, odiava passar por aquilo: ele via o mesmo Adrien de todos os dias no espelho, mas a maldita balança sempre mentia falando que ele estava mais pesado do que parecia, principalmente quando comia biscoitos.

— Adrien... — Nathalie suspirou — Sessenta e um.

— Eu só comi biscoitos, eles não pareciam pesar um quilo! — incrédulo, o rapaz olhou o número na balança e se perguntou como poderia ter ficado tão pesado em tão pouco tempo. Ele só não notou que, no cantinho da balança, Nathalie estava forçando o pé para estragar a medição.

— Você deveria ter comido alguma fruta ou algo assim... — ela comentou enquanto o rapaz saia da balança, ainda em choque.

— Mas eu queria biscoitos... — ele disse, manhoso — Se eu não comer mais nada proibido até o desfile, eu volto ao peso de antes? — quando recebeu um aceno positivo, o rapaz se animou um pouco — Então prometo não comer mais nada escondido: nem os biscoitos, nem doces, nem fatias de torta e...

— Adrien, está comendo tudo isso escondido há quanto tempo?

— Só nos meus sonhos, mamãe... — com um sorriso adorável para esconder a mentira, o rapaz abraçou a mãe e escondeu o rosto. Não era culpa dele, ele apenas acordava quase todas as madrugadas e assaltava a cozinha... era seu instinto de sobrevivência salvando-o do monstro glutão que habitava dentro dele.

— Sei... — A mentira era óbvia para ela, afinal, Félix era bem melhor nisso do que Adrien. Mas, acima das mentiras, ela se sentia culpada por privar o garoto de todas as porcarias que ele tanto gostava de comer: era o melhor para a saúde dele e, o ideal, é que ele mantivesse as mesmas medidas para garantir o caimento perfeito das roupas... mas ele era só um rapaz. — Por que você não vai para o quarto e sonha que está comendo mais biscoitos?

— E batatas fritas? — ele sorriu.

— Com sorvete de chocolate e bacon — ela também sorriu.

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Por insistência do “filho mais novo”, Nathalie o colocou para dormir. Foi uma tarefa estranhamente simples e rápida, Adrien dormiu assim que encostou na cama... Félix era exigente desde sempre: histórias, músicas, conversas e intermináveis carinhos até que, por exaustão, era ela quem acabava dormindo. Não podia culpar ele, ela quem o acostumou mal.

Saindo do quarto, Nathalie suspirou pesadamente: Félix era extremamente mimado, tanto por ela quanto pelo... não, não vinha ao caso agora. O ponto de tudo era o quão desprovido de mimos Adrien havia se tornado: ele não exigia absolutamente nada dela, nem mesmo por ser a “mãe” dele agora, o rapaz se contentava com qualquer coisa além da indiferença e ficava feliz até mesmo com nada...

Antes que ela divagasse mais a fundo sobre as diferenças na criação de Adrien e Félix, mais uma de suas crises de tosse começaram. As malditas tosses secas que faziam-na ficar completamente sem ar e, toda vez que ela tentava respirar, sentia tanta dor como se as costelas estivessem quebrando. Ela precisava resolver aquilo... mas não agora. Agora ela precisava se afastar ao máximo dos quartos e daquele salão de entradas: por mais que tentasse conter os sons da tosse, eles davam um eco absurdo.

Quando já estava nos últimos degraus da escada, a crise piorou.

Ela tinha algumas escolhas:

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Consegue acabar de descer as escadas?

[Não!/Melhor parar um pouco e esperar melhorar/Vou descer de uma vez]

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É seguro?

[DESCER!/Não, mas vale o risco/Parar e esperar!]

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Ao menos segure o corrimão!

[Eu sei/Seguro com uma mão/Preciso cobrir a boca, vão ouvir as tosses! ]

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Seguindo uma sequência de decisões erradas, ela cobriu a boca com as duas mãos tentando abafar a crise, mas a dor de cada tentativa de respirar a fez se curvar para frente. Sem equilíbrio e relutante em segurar o corrimão, ela tentou apressar a descida ainda mais: “melhor cair no chão liso do que nos degraus da escada”.

Por sorte, e graças um certo grandalhão chegar no momento exato, ela não caiu. Gorila a segurou cuidadosamente e a ajudou a descer os restantes quatro degraus. Pacientemente, ele esperou até que ela se recuperasse minimamente para poder, mais uma vez, avisar:

— Deveria ir logo ao médico...

Ela não respondeu, nem mesmo poderia. A garganta estava seca e irritada, a dor só a deixava com vontade de se jogar no chão e ficar encolhida... a última coisa que precisava era discutir com alguém, ainda mais quando o outro tinha razão.

— Sabe, o Félix está preocupado com você... — quando recebeu um olhar de pânico, o grandalhão apenas continuou — Ele percebeu sozinho, e vai ser só questão de tempo até o Adrien notar — Gorila suspirou, os dois ficaram em silencio até que ele perguntou: — O que pretende fazer agora?

— Vou... — ela arranhou a garganta, tentando se livrar de um pigarro inexistente — Vou lidar com isso.

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Quando Nathalie disse que lidaria com aquilo, ela estava longe de lidar do jeito almejado por Gorila, indo ao médico. Ela simplesmente se entupiu de pastilhas para tosse e agiu como se nada tivesse acontecido: já eram quase seis da manhã quando uma súbita melhora fez com que ela dispensasse a companhia do motorista.

Ela se aprontou para mais um dia cansativo e quando estava prestes a subir para o segundo andar e acordar Adrien, uma crise a derrubou no começo da escadaria.  Dessa vez não haveria ninguém perto para ajudar, mas também não havia ninguém para ver ela, o que era algo “vantajoso”.

Félix deveria estar preparando o café da manhã, entretido demais para ir atrás dela;

Adrien dormia pesado o suficiente para não acordar;

Gorila tinha ido preparar o carro, nos fundos;

Gabriel provavelmente estava tramando mais dramas para fugir das responsabilidades;

Quando as tosses terminaram e ela conseguia respirar mais uma vez, apesar de todo o incomodo, ela preferiu continuar ali: jogada no chão. Para quem não tinha conseguido dormir, degraus forrados com carpete macio pareciam ser uma cama macia e confortável...

Ela fechou os olhos, sorrindo só por poder aproveitar alguns minutos de descanso... deitar no chão frio de mármore com a cabeça logo no primeiro degrau era maravilhoso – as consequências estavam sendo desprezadas.

— Nathalie! — Gabriel exclamou, descendo as escadas com pisadas tão fundas quanto de um elefante.

Ela continuou de olhos fechados, torcendo para ser só fruto de sua imaginação, um pesadelo, um dinossauro com a voz do chefe ou algo do gênero...

— Nathalie? — ele falou, dessa vez perigosamente perto: chegou a segurar o rosto dela com as mãos, para ter certeza de que estava sendo notado. A mulher apenas abriu os olhos um pouco, encarou o Agreste e fechou-os mais uma vez, se fingir de morta era a melhor opção — Nathalie... — ele continuou — Preciso que você se recomponha, temos uma reunião importante em dez minutos. Entendeu? — mais uma vez, ela olhou para ele e fechou os olhos em seguida — Ótimo! — ele a soltou, deixou no mesmo lugar em que estava, e foi para o ateliê.

Foi melhor assim.

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Adrien acordou com uma certa bolinha de pelos sentando em cima do rosto dele. A experiência que o garoto tinha com animais se resumia no que ele via em fotos ou sabia pelos amigos, ele não tinha ideia se tirar Plagg de cima do rosto era algum tipo de ofensa animal...

Ele ficou parado, imóvel.

Plagg lambeu as patinhas, limpou as orelhas e o focinho. Quando já estava entediado, começou a miar e caminhar pela cama, como se estivesse implorando por algo muito importante.

— O que foi? — o rapaz perguntou, se sentando na cama e tentando entender o “mianês” — Você quer brincar?

Plagg pulou da cama e zanzou pelo quarto, continuando com os miados. Adrien demorou um pouco até entender que deveria levantar e ir atrás do felino...

— Você quer sair? É isso? — ele foi até a porta, o gato correu na frente dele e começou a aranhar o grande obstáculo à liberdade em madeira pura — Foi por aqui que você entrou? — ele não sabia ao certo como que Plagg poderia ter entrado lá com tudo fechado, mas sabia que gatos tem uma natureza bem... “misteriosa”. Bastou a porta ser aberta para o gatinho fugir o mais rápido que conseguia.

Plagg havia se comportado extremamente bem, excerto por ter mordiscado alguns papéis e canetas, mas ao menos prendeu as necessidades para fazer no jardim.

Adrien até tentou ir atrás de sua nova mascote, queria brincar com ele antes que tivesse que sair de casa.

Porém, logo que saiu do quarto, viu a “mãe emprestada” estirada no chão. Aquilo destruiu completamente as expectativas felizes de Adrien. Agora, ele sentia um medo tão grande que ficou paralisado: já havia perdido uma mãe, não queria perder mais uma vez...

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Gorila estava lustrando o carro, como em todas as manhãs. Ele gostava de ver o próprio reflexo como um sinal de perfeição. Porém, uma praga surgiu para atrapalhar seu dia: o gatinho, que ainda cismado em irritar ele, marcou território em um dos pneus.

Não havia muito o que se fazer porque, apesar de pequeno, Plagg era uma fera terrível. O grandalhão respirou fundo, resmungou coisas impronunciáveis e foi se esconder procurar mais coisas para fazer, vulgo, falar com Nathalie.

De acordo com a rotina de todos os dias, ela deveria estar esperando Adrien se aprontar para algo enquanto zanzava pela entrada. Contudo, assim que passou as portas do salão, ele viu uma cena mais assustadora do que qualquer felino em fúria:

Nathalie estava caída na escada com Adrien chorando ao lado dela, um choro mudo.

Pensamentos terríveis tomaram conta da mente dele, indo desde ataques terroristas, Gabriel ter descoberto tudo e assassinado a assistente e até mesmo um acidente infeliz envolvendo ela tropeçar. O físico, por outro lado, agiu primitivamente: ele segurou a amiga pelos ombros e a balançou o mais forte que conseguia tentando acordar ela.

... Sem respostas...

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Tudo estava silenciosamente estranho.

Félix tinha preparado o café da manhã e levado até o salão de refeições, sozinho, sem derrubar nem mesmo uma colher de chá – algo admirável para os padrões dele.

Agora, o rapaz estava olhando ansiosamente esperando a mãe cruzar as portas e ir falar com ele. Desde a madrugada, eles ainda não haviam se visto, mas Gorila avisou que Nathalie já estava melhor.

Tudo estava tão silencioso...

Até mesmo Plagg estava se comportando, nem ao menos implorou por pedaços de comida, apenas sentou-se em uma das cadeiras e ficou esperando ser servido.

Tinha algo de errado.

Nada de gritos, nada de ameaças, coisas caindo, passos, qualquer coisa que indicasse que haviam pessoas apressadas vivendo naquele lugar. Bastou juntar as pecinhas do quebra-cabeças: Plagg sumiu pela noite, Gorila não tinha aparecido para ficar vigiando ele, Adrien não estava tentando roubar nada para comer... sua mãe não estava ali.

Ou o fim do mundo estava próximo ou algo tinha saído dos trilhos.

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Gabriel Agreste estava em seu escritório, em frente sua enorme tela de trabalho.

Passar uma noite em claro observando os relevos do teto e imaginando quais tipos de assombrações moravam naquela casa fez com que ele refletisse e tomasse decisões drásticas – e provavelmente idiotas.

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Mas do que adianta decisões drásticas quando sua assistente não tenta impedir de toma-las? Do que adianta imaginar cada frase sem ter Nathalie para superar qualquer justificativa e fazê-lo agir de acordo com os padrões de bom senso impostos pelo mundo? Do que adianta levantar da cama sem ter ela para irritar com seus dramas ou com a lista de crueldades?

Nhã...

Ela merecia se fingir de morta as vezes, desde que não passasse mais de dez minutos nisso.

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Félix cruzou as enormes portas do salão esperando encontrar o caos e o fim da humanidade, mas encontrou apenas Adrien e Gorila fazendo coisas idiotas enquanto sua mãe tirava um cochilo na escada.

Foi impossível não dar um pequeno sorriso: o mundo não estava colapsando, estava tudo bem. Quanto aos outros dois: eles, realmente, mal a conheciam.

— Adrien, engole o choro! — ele ordenou, encarando o Agreste mais jovem como se fosse uma criança fazendo pirraça. Em si, era praticamente uma pirraça dele ao imaginar coisas ruins tão facilmente. —  E você! — ele apontou para Gorila, encarando-o com sua melhor carranca — Se não tirar suas mãos de perto da minha mãe, arranco seus dedos um a um!

A ameaça e o olhar bastaram para que Adrien e Gorila obedecessem. Os dois ficaram imóveis, dividindo a atenção entre Félix se aproximando e uma “Nathalie morta” na escada.

— Vocês não passam de dois idiotas dramáticos! — Félix acusou, pegando a mãe no colo como se fosse uma pluma leve e delicada — Eu canso de avisar que ela precisa comer e que ela precisa descansar, mas vocês não se importam! Só sabem incomodar a minha mãe!

Agora, Adrien e Gorila se entreolhavam num misto de culpa e preocupação. Os dois encaravam o exagero de Félix apenas como um exagero, mas agora era um tanto quanto óbvio que haviam motivos para tal.

— Se a minha mãe continuar quebrada, a culpa é de vocês dois!

Esta última frase bastou para que Adrien voltasse a chorar e para que Gorila se sentisse um péssimo amigo. O guarda-costas se levantou, respirou fundo e se preparou para entrar no salão e continuar ouvindo ainda mais acusações desnecessárias. O Agreste também se levantou, estava preocupado com a mãe.

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Passaram nove minutos desde que Gabriel Agreste deu uma ordem direta para sua assistente. Mais precisamente: nove minutos e quatorze segundos sem nenhum sinal dela.

Ele poderia ter desperdiçado seu tempo assistindo vídeos de gatos fazendo coisas idiotas, poderia ter rascunhado algo ou até mesmo tentado mexer no computador de Nathalie para descobrir quem era o namorado secreto dela. Mas, dessa vez, Gabriel Agreste se comportou como um homem de elite: se sentou, cruzou as pernas e esperou pacientemente até que a assistente chegasse. Obviamente ele estava tramando mentalmente a melhor encenação para dar a grande notícia.

Nove minutos e trinta segundos.

Ele limpou o pigarro, se levantou e controlou ao máximo para esconder um princípio de sorriso que queria brotar nos lábios. Dessa vez seria verdadeiramente triunfal e não um fracasso como na cozinha, no outro dia.

Nove minutos e quarenta segundos.

Calmamente, ele caminhou até a porta. Não deixaria Nathalie nem ao menos entrar: queria assistir o momento em que ela saísse correndo para subir as escadas e avisar Adrien – ele sabia que ela subia as escadas de dois em dois, apenas faltavam as provas.

Nove minutos e quarenta e cinco segundos.

Ele colocou as mãos no bolso, retirou e deixou os braços relaxarem, por fim cruzou-os nas costas como sempre fazia. Era uma notícia séria, no fim das contas.

Nove minutos e cinquenta segundos... cinquenta e dois...

Céus! O tempo estava demorando para passar! Por quê!?

... cinquenta e nove.

E então, nos exatos dez minutos, absolutamente nada aconteceu.

Gabriel perdeu a paciência, abriu as portas do ateliê pronto para arrastar a assistente até lá, ela dormindo ou não, nem que fosse pelos pés! Era uma notícia séria e importante, como ela ousava descartar assim uma ordem!?

Ela não estava mais na escada...

—  NATHALIE!!! — ele vociferou em plenos pulmões, ignorando por completo o seu “estado de saúde” e saindo em busca da assistente pela casa.

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No salão de refeições, sentados à mesa, Félix e Adrien cercava Nathalie de mimos enquanto Gorila observava tudo atrás das cadeiras, pronto para intervir caso as duas “crianças” saíssem dos trilhos.

— Mamãe, já está melhor, né? — faltou pouco Adrien colocar o arco de orelhas de gato, porque a cara já estava igualzinha.

— Bem melhor... — Nathalie respondeu com um quase sorriso.

— Mas ainda precisa descansar, mamãe... — Foi a vez de Félix usar o bom senso, enquanto fazia a mãe comer uma torrada coberta de geleia.

Como resposta, Nathalie apenas apreciava o café da manhã estranhamente tranquilo enquanto mexia nos fios loiros dos dois filhos. Passar os dedos entre os cabelos macios e finos era melhor do que qualquer tipo de anti estresse.

Tudo continuou bem até que um “NATHALIE” na voz de Gabriel ecoou por toda a casa. Ele estava irritado e provavelmente estava procurando por ela...

— É o seu pai! — Félix encarou Adrien em pânico, quase exigindo com o olhar que o mais novo desse um jeito na situação.

— Meu pai está vindo! — Adrien pulou da cadeira, nervoso — Debaixo da mesa, rápido!

Félix obedeceu, escorregou do acento e se encolheu embaixo da enorme mesa de jantar. Adrien, provavelmente devido ao nervosismo, se escondeu junto com ele. Gorila apenas observou tudo, imóvel, tentando adivinhar se Nathalie estava apenas calma para lidar com a situação ou se ela nem tinha notado o que aconteceu.

— NATHALIE! — Gabriel vociferou mais uma vez, arrombando as portas do salão — Você está atrasada! —— ele acusou, caminhando na direção dela como rinoceronte.

— É verdade... — ela comentou calmamente,  enquanto entupia uma torrada com geleia antes de comê-la.

— É tudo o que vai dizer!? Assume a culpa por estragar a minha grande notícia!? — Nathalie o encarou com certo desdém, esperando a tal novidade como se não fosse nada demais, isso só provocou ainda mais irritação em Gabriel: — Vamos viajar hoje mesmo para a Austrália!

Aquilo bastou.

Nathalie se engasgou com a torrada, Adrien ficou em completo choque e Félix ativou seu modo como besta desenfreada. A assistente até tentou segurar um dos filhos com as pernas para evitar piorar tudo aquilo, mas prendeu o errado.

Félix bateu a cabeça no tampo da mesa, empurrou as cadeiras, mas finalmente conseguiu sair do esconderijo, no próprio estilo. Ele se levantou, tirou a poeira das roupas, apontou para o Agreste e avisou em seu tom mais frio:

— Minha mãe não vai a lugar nenhum!

— Ah, claro... ela agora é sua mãe emprestada, eu tinha me esquecido disso, filho... — Gabriel revirou os olhos, apertou a têmpora e tentou lidar com a situação: — Contratamos uma babá, é isso o que os pais fazem quando precisam de férias dos filhos, certo?

Nathalie escondeu o rosto com as mãos, ela já não sabia se queria rir de tudo aquilo, chorar por pensar no que poderia acontecer ou apenas deixar mais uma de suas crises de tosse aparecer e acabar com tudo.

— Você não está me entendendo, Gabriel Agreste: a minha mãe FICA, ela vai ficar COMIGO, ela é MINHA!

— Tá, tanto faz... — o homem ignorou o “filho” e encarou Nathalie — Realmente prefere ficar aqui, com ele, do que ter a chance de tirar férias esse ano? Não vai ter uma oferta como essa nem tão cedo, temos pelo menos cinco desfiles até o fim do ano...

— Não posso simplesmente sair e deixar todas as responsabilidades, não sou como o senhor — ela respondeu, bebericando a xícara de chá — E eu não poderia viajar e deixar meu filho sozinho com um estranho.

Aquilo fez com que Félix abaixasse a guarda completamente: sua mamãe estava defendendo ele contra o chefe. Em parte, ele se sentiu culpado imaginando todos os lugares nos quais a mãe se recusou a ir simplesmente para não ficar ainda mais longe dele...

— Nesse caso... — O Agreste suspirou — Eu vou com o guarda-costas e você fica com o Adrien.

Nathalie se engasgou. Se não fossem as tosses, ela estaria gargalhando só por imaginar os dois juntos em uma viagem.

— Mas você não pode viajar por ai sem a Nathalie! Você e o Gorila não são nada sem a minha mãe! — Adrien, movido pela preocupação, acabou falando isso do esconderijo.

— Filho? — o Agreste mais velho encarou Félix com uma das sobrancelhas arqueadas — Foi você quem disse isso?

— E-Er... Foi... — o rapaz já sentia as pernas bambas — mu-mudança de voz! Puberdade! — ele se explicou, sorrindo nervosamente.

— Nesse caso, agradeço a preocupação, mas eu vou ficar perfeitamente bem sem a Nathalie.

— Então me leva junto! — mais uma vez, Adrien equivocou-se e falou com o pai. Como resposta, Nathalie o apertou um pouco mais, como um aviso de que era para ele ficar quieto.

— É uma viagem para tratar da minha saúde, filho... não posso levar você para este tipo de coisa, principalmente quanto nem mesmo eu sei quais são as minhas chances — Gabriel respondeu em uma mistura de drama com culpa — É melhor você ficar aqui com sua a Nathalie, num ambiente seguro e longe de indígenas canibais... — ele disse um tanto sarcástico.

— Senhor, não tem canibais na Austrália e...

— Não precisa tentar me poupar, Nathalie. São riscos que eu preciso correr... — ele suspirou — Se o pior acontecer: cuide do Adrien como se fosse seu filho. — E, mudando completamente de ânimos, ele disse animado: — Vou ir arrumar minhas malas! O voo é em uma hora!

Todos respiraram um pouco mais aliviados quando Gabriel deu as costas. Félix se sentou novamente ao lado da mãe, Nathalie soltou Adrien, Gorila começou a tramar ficar resfriado no meio do caminho para o aeroporto.

Entretanto, quando o Agreste chegou até as grandes portas, ele segurou as maçanetas douradas e olhou mais vez para trás:

— Nathalie, quando eu voltar quero que meu filho esteja mais apresentável. Marque o HairStylist antes que esse cabelo desgrenhado estrague completamente todos os meus designers!

— Como quiser, senhor — A assistente sorriu, mexendo novamente no cabelo de Félix e piorando ainda mais o “ninho de pássaros” que ela tinha feito.


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Notas finais do capítulo

Alguém já viu o episódio do Félix? Se sim, quantos % acham o "meu Félix" parecido com o "Félix original"? kkkks
Alguém tem alguma ideia de quem seja a pessoa misteriosa no passado do Félix?



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