Persistente escrita por Ginger Bones


Capítulo 4
Você está viva!




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TOBIAS EATON 

 

Já era final de tarde e eu estava começando a fazer um lanche depois de chegar de mais um dia de trabalho supervisionando a restauração do antigo prédio da Erudição, um dos mais afetados pela guerra de alguns anos atrás, que até hoje precisava de reparos. 

 

Não fazia mais de meia-hora que eu havia chegado em casa, o cabelo ainda úmido do banho quando escutei o interfone tocar. Achei estranho, não esperava ninguém e não me lembrava de nenhuma conversa sobre visitas hoje. Fiquei pensando em quem podia ser, mas atendi a chamada do porteiro, e segurança, do prédio onde morava. 

 

—Senhor, sinto muito interrompê-lo, sei que acabou de chegar.- Ouço a voz do velho porteiro dizer.- Tem uma jovem aqui dizendo que quer falar com você. 

 

Uma garota querendo me ver? Christina talvez? Às vezes ela aparecia aqui me chamando para sair com seus amigos. 

 

—Ela disse o nome?- Pergunto. 

 

—Não, Senhor, mas o garoto moreno com a loirinha disse que te conhece. Dizem que precisam muito falar com você, e tem que ser agora. 

 

Zeke e Shauna, provavelmente. Meu relacionamento com Zeke jamais voltará a ser como era antes de Uriah ter ido ao Departamento, mas Zeke dizia que já tinha me perdoado. E se ele precisava falar comigo, não iria recusar. 

 

—Deixe que subam, John.- Peço. 

 

—Sim, Senhor.- Ouço um clique e a ligação se encerra. 

 

Deixo o prato com meu sanduíche sobre a mesa e vou atender a porta quando ouço a campainha tocar. 

 

Ao abrir a porta do meu apartamento, paraliso de surpresa e choque ao reconhecer a figura loira e baixa me olhando esperançosa. 

 

Ela demonstra estar calma e muito saudável, mas eu nunca pensei que voltaria a vê-la fora dos meus sonhos. Continua tão bonita. Os olhos azuis como o céu, a pele clara e os cabelos dourados compridos de novo. Tris, minha Tris. 

 

—Olá, você é Tobias Eaton?- Ela me pergunta como se realmente não tivesse certeza da resposta. 

 

Eu queria responder, mas são tantos pensamentos passando em minha cabeça agora. Como ela pode estar viva? Eu vi seu corpo já frio há 3 anos atrás. Estou sonhando de novo?

 

Ela espera em silêncio por uma resposta, mas temo estar em choque. Sinto meu corpo tremer e meus olhos pesam, e tudo que me lembro antes de apagar é de sua voz gritando meu nome. 

 

Acordo com uma imensa dor de cabeça, como se realmente tivesse desmaiado no chão do apartamento. Só podia ter sido um sonho, ela se foi há muito tempo. 

 

—Ah, que bom!- Ouço sua voz com um tom aflito.- Pensei que teria que chamar a ambulância. Fiquei preocupada. 

 

Me sento no chão em um pulo, olhando-a sem saber se ainda estou sonhando. 

 

—Você é real?- Pergunto tocando seu rosto de leve. 

 

Ela olha para minhas mãos em sua bochecha, parecendo nervosa. Não podia ser verdade, podia? 

 

—Sim, eu sou real, Tobias.- Ela responde e me lembro que já tivemos uma conversa assim antes, quando fugíamos da Erudição graças ao plano de Peter.  

 

—Você está viva!- Ela assente confirmando e apoia sua mão sobre a minha em seu rosto.- Como? 

 

—É uma longa história.- Ela diz suspirando. Levanta-se de sua posição meio ajoelhada ao meu lado e noto um aparelho metálico em suas pernas, muito parecido com o que Shauna também usa. O que teria acontecido com ela? Está paraplégica? 

 

—Caleb me disse que eu deveria conversar com você, então me mandaram até aqui.- Explica sentando-se no sofá. 

 

Eu também me levanto e a sigo até a sala. Há tanta coisa que eu gostaria de falar para ela agora, mas tudo que consigo fazer é olhá-la com fascínio. Eu tinha a chance de vê-la de novo, e se isso fosse um sonho, eu não queria acordar. 

 

—Caleb sabe que está viva?- Ela assente.- Há quanto tempo?

 

—Ele já estava lá quando eu acordei.- Explica. 

 

—Ele sempre soube que você continuava bem e nem sequer se deu ao trabalho de nos avisar?- Começo a me exaltar.- Ele tinha total consciência de que nós estávamos de luto por você, mas foi embora e não nos disse nada. Como ele pôde? Caleb é mesmo um covarde. 

 

—Ele é meu irmão.- Tris retruca. 

 

—É, eu sei.- Respondo.- Mas se você não lembra, ele te deixou sozinha para morrer. Duas vezes. 

 

—Eu o perdoei.

 

—Não importa.- Digo e me levanto, mas antes de conseguir dar um passo, Tris segura meu braço e me puxa para que me sente ao seu lado de novo.- Mais alguém sabia sobre você além de Caleb? 

 

—Sim.- Ela confirma.- Eram poucos, mas sempre tiveram pessoas que sabiam a verdade desde a época em que eu continuava em coma. 

 

—Quem sabia?- Questiono.

 

—Isso não é importante.- Murmura.- Eram só cientistas. 

 

—Como não é importante?- Exclamo em tom mais alto. Ela se encolhe de susto e tento me acalmar ao ver isso. Não era isso que eu queria.

 

—Desculpe, Tris.- Peço.- Eu só queria poder estar perto de você esse tempo todo. Tive péssimos anos pensando que você estava, você sabe, morta. 

 

—Eu sinto muito por ter ficado tanto tempo fora.- Ela diz.- Muita coisa aconteceu nesses últimos anos, e eu não me lembro muito da minha vida antiga.

 

—Não se lembra de mim?- Questiono. 

 

Eu não sabia o que pensar a respeito, de fato. 

 

—Mais ou menos.- Tris explica.- Eu tenho esses sonhos constantes. Você está em todos eles. Eu nem sempre sei se são lembranças ou só imaginação minha. Quando eu perguntava por você, ninguém me respondia nada, então eu nunca tive certeza se você existia fora da minha mente. 

 

—Você têm sonhado comigo desde quando?

 

—Desde que acordei, há mais de 2 anos.- Ela me esclarece.- Eu não tinha certeza se você era real. 

 

—E o que você está pensando agora que sabe a verdade?- Pergunto-lhe.

 

—Estou pensando que estou feliz em te conhecer.- Tris me responde e vejo seu sorriso, aquele sorriso que eu pensei que nunca veria mais uma vez.- Ou pelo menos saber que você é real mesmo. 

 

— Tanto tempo...- Acaricio uma de suas bochechas rosadas.- Você nunca desconfiou de nada? 

 

— Até desconfiava, mas por muito tempo eu nem podia me levantar da cama.- Ela coloca uma de suas mãos sobre a minha em seu rosto.- Então nós estávamos juntos? 

 

— Sim.- Explico.- Antes e durante a guerra, até que pensei que estava morta. 

 

— Eu sinto muito.

 

— Pelo quê?

 

— Você deve ter sofrido pensando que eu estava morta esse tempo todo.- Ela parecia mesmo sincera, mas eu já tinha esquecido qualquer ressentimento sobre o passado no momento em que a vi viva de novo.- E o pior é que eu escolhi entrar naquela sala sozinha. Não cumpri a promessa que te fiz, que continuaria aqui. Sinto muito. 

 

— Você se lembra? 

 

— Eu sonhei com isso algumas vezes.- Ela fecha os dedos sobre os meus e tira minha mão do seu rosto, mas continuamos de mãos dadas.- Prometo que vou fazer o possível para me lembrar de tudo com você. 

 

— Leve o tempo que precisar, Tris.- Respondo sorrindo.- O importante é que está aqui agora. 

 

Me abaixo um pouco para ficar com o rosto próximo do seu e tento beija-la, mas ela se afasta antes que eu chegue muito perto. Fico confuso ao vê-la se desvencilhando de mim. Achei que estava tudo bem. 

 

— Ainda não tenho certeza se quero ir tão rápido. Quer dizer, acabei de chegar.- Ela tenta se explicar.- Desculpa. 

 

— Tudo bem. Eu entendo.- Na verdade não entendia tanto assim, mas me esforçava para ter paciência. Era como começar tudo de novo. Tinha passado por isso há 2 anos, podia passar de novo, desde que ela estivesse aqui.- Pare de se desculpar por besteiras. 

 

Ela se aproxima outra vez, já mais calma, e segura minha mão como estávamos antes. 

 

— O que houve com as suas pernas, Tris? 

 

Ela dá de ombros. 

 

— Uma das balas acertou minha coluna.- Explica.- Meus ossos estão intactos, mas alguns neurônios foram prejudicados. Os médicos acham que eu só vou me curar completamente quando todas as falhas na minha memória forem supridas. Já andei muito pior. Esse exoesqueleto é mais para estabilidade que qualquer outra coisa, não estou totalmente paraplégica. 

 

Isso era bom. Ela poderia se curar totalmente. Eu amaria Beatrice Prior do jeito que fosse, mas era bom saber que ela tinha chances de voltar a caminhar como antes. Shauna, infelizmente, não teria tanta sorte. 

 

— Ainda não entendo como chegou até aqui.- Tento mudar de assunto.- Você nem se lembrava de mim, por que veio?  Por que agora? Não que eu esteja reclamando. É ótimo saber que está viva, mas... 

 

— Caleb me trouxe aqui para ver se ajudava a minha memória. Eu só segui ele. Nem sabia onde iria até chegarmos aqui.- Conta.- Mas quando você disse que haviam outras pessoas sofrendo a minha perda, você falava de quem? 

 

Sorrio. 

 

— Está afim de dar uma volta pela cidade?- Pergunto.- Tem algumas pessoas que iam adorar te ver de novo. 

 

Se era para ajudá-la, andaria até o outro lado do mundo para encontrar todas as memórias que lhe faltavam.


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