Perigosa Beleza escrita por Akiel


Capítulo 1
Prelúdio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773395/chapter/1

Perigosa Beleza

 

Prelúdio

Dor. A mente do rei consegue se focar apenas nas afiadas sensações que atravessam o corpo. Os choques de dor que passeiam pelos músculos machucados e pelos ossos quebrados, o toque frio da terra molhada que atravessa a armadura e mancha o rosto ferido, umedecendo o curto cabelo negro. Os gritos da batalha ecoam na mente cansada, cada vez mais distantes. Olhos da cor do céu diurno, nublados pela névoa que antecede a morte, se mantêm fixos nas raízes da floresta, que se tornam cada vez mais negras. A terra sob o corpo ferido se torna mais dura, escondida por uma capa de pedra. O súbito silêncio cai como uma manta sobre os pensamentos exaustos, a mente não conseguindo se focar nem ao menos no suave som de passos se aproximando.

Logo, uma face pálida surge no campo de visão dos olhos desfocados, jogando um pouco de luz na consciência já envolta pelas sombras. Olhos da cor da terra, contornados por finas linhas negras, observam o rei caído com intensa curiosidade. Fios ondulados, intensamente azuis, caem como um cortina que ameaça esconder o curioso olhar, algumas pontas tocando os cantos da boca vermelha, esticada em um calmo sorriso. Dedos longos e elegantes, de unhas pintadas de ébano, tocam a mão machucada e espalmada contra o solo, o toque delicado contornando os cortes e hematomas deixados na pele que cobre o músculos trêmulos.

Lábios molhados com sangue tentam falar, mas a voz permanece presa na garganta seca. Na ausência de palavras, o toque sobre os ferimentos continua, como um desenho distraído em uma tela abandonada. O rei sente o frio acompanhar o toque da desconhecida, fazendo com que um arrepio corra pelo corpo imóvel sob o peso dos machucados.

— Muito tempo se passou, mas o seu sangue ainda canta. – a desconhecida sussurra sem parar o toque.

Não a conheço, o rei quer responder, mas não há voz. Não há nem mesmo força para afastar a mão do alcance da bela desconhecida. As írises da cor da terra parecem perceber a resposta no enfraquecido olhar azul, o sorriso nos lábios vermelhos se tornando mais intenso.

— Memórias apagadas, esquecidas. – a bela mulher diz com um leve timbre de divertimento na voz – Um passado mantido em segredo. Mas você é o rei, não é? Que segredos eles podem manter de você?

O toque suave se afasta da mão ferida, levando consigo o frio, mas deixando o fogo para ocupar o seu lugar. O calor desperta o corpo anestesiado pela dor e liberta a mão para perseguir a desconhecida, segurá-la e impedir que desapareça. Quando os dedos se fecham sobre o punho fino, a luz retorna com toda intensidade para a mente, o corpo acorda por completo e o som da guerra explode como um trovão. Entretanto, não é o punho da desconhecida que o rei caído segura. É o braço do soldado que o afasta do campo de batalha.

— Onde...? – a pergunta vive apenas um segundo nos lábios descosturados. O suficiente para que o fogo na mão retorne e roube a consciência para a escuridão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, deixem comentários. Críticas e sugestões são sempre bem vindas. Obrigada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perigosa Beleza" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.