O Recomeço escrita por Caroline Miranda


Capítulo 11
Capítulo Dez




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Será que podemos ir à Caffè Benevolo II amanhã? Precisamos conversar. p.s.: chame de emergência, urgência. Eu pago o café e depois o sorvete de morango e calda extra. Eu prometo!!!

 

Elizabeth deu um pulo da cama ao ler aquela mensagem de Kimberly. Não estava acreditando, fazia um tempo que não se falavam. Desde o julgamento exatamente e, de fato, no  nascimento dos gêmeos a propósito, mas Kimberly havia dado o braço a torcer? Ou será que ela queria terminar de falar coisas para Elizabeth? Ela não queria ocupar Jennifer com suas preocupações, agora ela era mãe, tinha preocupações mais sérias. Procurava John para exatamente tudo. Muitas vezes tinha medo de parecer egoísta, principalmente porque ele tinha ido ao bar com os amigos para beber e se divertir. Quem ela tinha? Ninguém para alugar no telefone por horas. Conhecia Kimberly o suficiente para saber que ela jamais a chamaria para um lugar para brigar, a mensagem também pareceu um pouco humorada. Elizabeth decidiu ir, tomou suas boas doses de coragem e tentou relaxar naquele momento.

Aquela noite não seria fácil, seu jeito intenso de ver o mundo fazia com que situações tomassem proporções catastróficas. Ozzy miava em seus pés, queria chamar a atenção de Elizabeth, animá-la possivelmente. Dizem que gatos têm uma sensibilidade incrível para sentir as emoções de seus donos. O bichano alongava o corpo gordo pelo chão e o entortava, depois rolava e esfregava sua cabeça nos pés de sua dona.

— Ozzy — ela disse, rindo —, você sabe de tudo. Os seres humanos são complicados, eles adoram dificultar tudo.

Ozzy olhava como se estivesse entendendo as lamentações. Esfregou novamente sua cabeça nos pés de Elizabeth, voltando a olhá-la.

— Você tem uma dona muito complicada, Ozzy. Às vezes eu queria ser despreocupada como os felinos — ela disse, dando de ombros.

 

 

Normalmente Elizabeth estaria dormindo com John, mas essa noite seria diferente, ela iria dormir sozinha. Estava sendo muito estranho para ela, era estranho não dormir sem os braços fortes do John envolvendo seu corpo, sem o seu cheiro fazendo parte do ambiente, sem o seu calor a esquentando do frio predominante das noites. Notou que havia se acostumado a dormir com alguém novamente, suspirou quando deu-se conta disso. Fechou seus olhos para abraçar o travesseiro e imaginar que era John, talvez assim dormiria melhor aquela noite, quem sabe? Mas, quem ela queria enganar naquela altura? Ela estava apaixonada. Quando foi que ela deixou-se cair nos encantos de John Phillip? Possivelmente tenha sido nas histórias ao redor do mundo, ou nas vezes que foram jantar em restaurantes românticos. Poderia ter sido nas diversas vezes que fizeram amor, ou quando ficaram dando doses de coragem um para o outro. Será que John sentia-se da mesma forma sobre ela? Será que aquelas coisas significavam para ele também? Os pensamentos de Elizabeth iam nesse ritmo, até o sono engoli-los sem pena alguma.

 

 

Duas xícaras de café com creme e raspas de chocolate, quatro biscoitos amanteigados, duas mulheres encarando-se em uma das ruas mais movimentadas de Verona. Elizabeth movia uma mecha de cabelos para frente e para trás da sua orelha, desviava o olhar de Kimberly algumas raras vezes, mas voltava a olhá-la novamente.

— Você está bem? — Elizabeth questionou, bebericando um pouco do café.

— Sim, é claro que sim! — Kimberly disse, um pouco seca.

— Eu fiquei surpresa com a sua mensagem, eu deveria admitir — ela pensou alto.

Kimberly ergueu uma sobrancelha. — Eu estou muito brava com você, Elizabeth. — Ela desviou o olhar para a xícara, começou a mover a colher sobre o creme. — Você não tinha o direito de esconder aquilo de mim, não deveria ter escondido aquela gravidez. Qual porcaria estava pensando? Você por algum acaso pensou que eu gostaria de ter te ajudado? Eu havia perdido o meu irmão, você estava mal, eu também — ela deu de ombros. — Eu só achei um péssimo jeito de saber das coisas, naquele dia de merda.

Elizabeth agora entendia o porquê ela estava tão magoada. O dia do julgamento havia sido muito exaustivo para Kimberly, Elizabeth estava sendo egoísta demais por não ter entendido o lado da sua amiga, só o seu; também não havia pensando como Kimberly se sentiria ao saber daquilo em pleno julgamento, ainda mais envolvendo George daquela forma. Tudo estava mais coerente na cabeça de Elizabeth, exatamente tudo.

— Sinto muito se minhas palavras foram duras para você naquele dia, não quero que você apodreça sozinha — Kimberly disse, acenando negativamente com a cabeça. — Eu fui intensa demais com as palavras. Me perdoe.

Elizabeth suspirou, um pouco pensativa a respeito daquilo. — Eu fui egoísta com você. Eu não deveria ter escondido isso de ninguém, no final não foi justo nem mesmo comigo, entende? — ela sorriu ao ver Kimberly assentir. — Na época foi tão assustador, eu não pensei em absolutamente nada. Acho que acordar do coma e receber tantas notícias ruins, foi assustador. Estamos perdoadas!

Elizabeth levantou sua xícara em direção a Kimberly, que prontamente levantou a sua, batendo uma na outra suavemente.

— Amigas! — elas falaram juntas.

— Muito bem — Elizabeth disse, bebericando seu café. — Diga-me as fofocas dos últimos tempos.

— Só tenho algo para dizer.

— O quê?

Kimberly levantou sua mão esquerda, revelando um lindo anel de noivado em seu dedo anular. Um anel realmente muito belo, tinha uma pedra chamativa e grande. Ao que se via era bem caro, algo que Kimberly deveria ter gritado muito ao ganhar. Elizabeth teria gritado muito com a amiga também, mas precisava manter a classe, afinal, ela estava em público.

— Eu juro que estou tentando manter a classe e não gritar — Elizabeth disse, histérica. — O homem animal finalmente fez algo decente.

Kimberly fez cara de nojo. — Richard? Que nojo, não.

— O quê?

Kimberly balançou a cabeça negativamente. — Meu bem, nós terminamos. Sabe, eu adorava ele, mas era muito sexo, e chega uma hora que isso não basta mais. Eu quero além. Sou uma mulher de trinta e cinco anos, os meus vinte e dois anos foram embora — ela suspirou de modo tristonho, bebericando o café cabisbaixa.

— Entendo perfeitamente, eu acho. Mas, quem é o seu noivo?

— Lembra quando fui estudar moda em Londres? — ela sorriu ao ver Elizabeth assentir. — Você se recorda do Harry? Acho que certamente.

— Claro, você o amava muito.

— Ele me mandou mensagem dizendo que estava vindo para a Itália, então sugeri para irmos ao restaurante de frutos do mar — ela explicou, rindo. — O resto você pode imaginar.

Elizabeth ergueu as duas sobrancelhas, batendo palmas. — Eu estou chocada com você, Kimberly. Parabéns, você merece toda felicidade do mundo — ela disse, sorrindo.

Elizabeth passou a próxima meia hora contando para Kimberly sobre ela e John, sobre os últimos tempos, como tudo tem sido incrível. Kimberly por sua vez, falou por diversas vezes o quanto esperou por esse casal, mas, que no dia do parto havia notado um certo clima entre os dois e que tinha adorado. Entre risadas, lágrimas e fofocas, a tarde das meninas fora o mais incrível possível, não tinha modo mais digno para matar a saudade.

Elas também ficaram observando as pessoas gastando suas vidas preocupadas com tantas questões; como telefonemas para os chefes, e-mails, horários para voltar ao trabalho. A vida passava tão rápido, era tudo uma questão de ver. Então, elas deram-se conta de que estavam amadurecendo mais do que podiam prever. Jennifer havia se tornado mãe de gêmeos, Elizabeth estava novamente se aventurando no mundo do amor, mas dessa vez com um homem muito experiente, Kimberly estava prestes a se casar. As meninas de Verona estavam dando passos grandes, isso era libertador.

 

 

Depois de uma tarde incrível ao lado da amiga, Elizabeth pensou em passar na biblioteca para ler alguns livros, isso gastaria o restante das suas horas. Um pequeno copo de café para viagem seria o suficiente, não mais do que isso. Por ali perto havia uma biblioteca pequena, não muito movimentada para Verona. As pessoas preferiam as livrarias, não gastavam o tempo em bibliotecas, Elizabeth pensava o contrário, pensava que era um tesouro e que merecia ser apreciado de perto.

O cheiro de livro antigo invadia o seu nariz e, de fato, ela amava. A madeira rangendo a cada passo era delicioso de se ouvir, aquilo era o paraíso. As prateleiras baixas com os livros organizados por ordem alfabética, não por gênero, a fazia sorrir suavemente. Passava o dedo maviosamente pelo móvel enquanto analisava as obras minuciosamente. Sorriu ao ver Sonho de uma Noite de Verão de William Shakespeare, há quanto tempo estava procurando esse livro? Não poderia contar em seus dedos.

Elizabeth pegou o livro com todo cuidado da prateleira, como se fosse desmanchar em suas mãos ou como se fosse um recém-nascido. — Você está em ótima companhia — ela murmurou, sorrindo.

Sem nenhuma dúvida Elizabeth adorava o modo como Shakespeare conseguia tocar o seu coração com todas aquelas palavras, isso a inspirava demais. Lembrou dos sentimentos que teve quando estava lendo Hamlet, eram parecidos com esses, eram parecidos com os mesmos que sentira quando se dedicava a ler outras obras de Shakespeare. Ele a fazia sonhar todas às vezes. Novamente sua cabeça voltou naquela conversa que tivera com John sobre como se imaginava nos próximos cinquenta anos.

— Como você se imagina, Elizabeth? — ela questionou-se.

Bebericou seu café, imaginando estar em uma biblioteca escrevendo alguma obra literária. Porém, deu-se conta do quanto isso era ilusório, ao menos para ela era. Acenou negativamente com a cabeça, mas novamente seus pensamento à guiaram, fizeram com que caísse em transe.

O que eu preciso fazer agora? Ela pensou.


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