Recomeçar escrita por bia
Narrado por – Igor
Eu sei, eu sempre me esqueço de desligar o despertador no sábado, mas eu nunca aprendo. Agora eu estou acordado às seis da manhã, sem conseguir dormir de novo.
Minha mãe ainda está em Baitibá e eu não tenho nada para fazer.
Fui até a geladeira e peguei um refrigerante, abri o armário e peguei um salgadinho – eu sei, eu como muita porcaria – e fui até a TV. Não tem nada passando às seis da manhã.
Renata é legal. Minha primeira impressão dela foi: menina bonitinha, educada, comportada, sonsa, sem atitude, sem opinião própria, sem graça. Mas depois de ontem eu mudei completamente meu modo de pensar sobre ela. A loirinha não é apenas bonitinha, tem atitude, é espontânea, engraçada e é ótima com arrotos.
Lembra-me a... Não pense nela, esqueça aquela garota, ela não te fez bem. É impossível esquecer Marina. Se eu pudesse esquecer Marina e recomeçar com Renata. Mas é impossível esquecer uma pessoa que teve tanta importância na sua vida.
Certo, se eu ficar aqui, sentado pensando nela vou acabar voltando para a depressão e lembra como é Igor? É horrível, você não quer isso. Se bem que era legal conversar com os psicólogos, eles te ouvem sem interromper ou dizer o quão errado eu sou. Mas não justifica nada, você não quer ter depressão. Quer saber Igor? Cansei de conversar com você – mas é impossível ir embora ou sair de perto da sua própria mente.
Vamos jogar tênis na parede de casa.
Peguei uma raquete e uma bolinha. Joguei a bolinha contra a parede e ela voltou, rebati. Poc... Poc... Poc... PRASKT!
- Ai merda – quebrei o porta retrato do papai, merda, merda, merda!
Ah não Igor, você é tão idiota.
Sai correndo para meu quarto, procurei um porta retrato que estivesse sem foto, mas quem põe aquele negócio que vem a foto de uma menininha sorridente na cabeceira?
Peguei um que tem a foto da minha bisavó. Eu nunca a conheci mesmo, eu coloco a foto na gaveta. Desci as escadas e coloquei a foto do papai no ex porta retrato da bisa.
Certo, sem tênis dentro de casa. Peguei meu celular – mamãe é tão teimosa que mesmo eu insistindo em não comprar outro celular ela vai lá e compra, pelo menos assim eu sei como convencer ela de me deixar fazer algumas certas coisas – e mandei uma mensagem para Renata.
Igor diz: Bom dia!
Lembrei-me de Tiago, eu não converso muito com ele. O pipoquinha é muito estúpido, principalmente com a Renata.
Ela não respondeu, deve estar dormindo.
Eu sou a única pessoa que está acordado em pleno sábado às seis horas da manhã.
O celular vibrou.
Renata diz: Obrigada por me acordar às seis horas da manhã de sábado!
Igor diz: Não queria ser o único.
Renata diz: Conseguiu!
Igor diz: Quer fazer alguma coisa?
Renata diz: Ainda estou de castigo.
Igor diz: Foi por causa do castigo que inventaram as janelas, aproveite.
Renata diz: Você está me desvirtuando.
Igor diz: Vem aqui.
Renata diz: Daqui a pouco, vou dormir mais.
Eu sei que isso não vai durar muito, ninguém consegue dormir depois que já está despertado.
Renata diz: Certo, você venceu. To indo.
Não demorou muito para a campainha tocar.
- Entre!
A porta se abriu e ela estava linda. Com uma calça de moletom e uma blusa de manga comprida.
- Estou de pijama, não repare – ela disse, mostrando o conjunto, seu cabelo prezo em um rabo de cavalo balançou.
- Eu também – mostrei o samba canção. Estava meio frio e ela estranhou – Eu sou calorento – dei de ombros.
Renata se sentou no sofá.
- O que quer fazer? – ela parecia um zumbi falando, estava mais dormindo que acordada. Já eu... Bem, é difícil ficar com sono depois que se joga tênis.
- Quer jogar jogo da vida? – perguntei quase pulando de felicidade.
- Fala sério, eu tenho quinze anos.
- Nossa, desculpe adultinha.
- Eu sou o carrinho vermelho! – ela gritou, sentando-se à mesa – ainda embrulhada no papel bolha -, onde estava o tabuleiro.
- Eu sou o azul.
Começamos jogar, às vezes ela me passava, eu passava ela, às vezes estourávamos o papel bolha, riamos.
***
- Não é justo.
- Na vida nada é justo – disse a ela, tentando fazê-la se sentir melhor.
- Eu casei com um milionário, tive UM filho e acabei virando mendiga.
- Você não soube administrar seu dinheiro.
- Ainda bem que é um jogo, não quero morar na rua.
Foi então que o assunto acabou.
- O que se faz no sábado?
- Eu vou ficar de castigo, depois que eu cheguei ontem minha mãe me acordou falando que ela me chamava, mas eu não respondia, e era para eu ter mais respeito por ela e blábláblá. Então ela prolongou meu castigo. Hoje o dia inteiro eu to de castigo. Então não posso aparecer na quadra.
- Vamos sair do condomínio.
- O porteiro vai contar para minha mãe.
- Vai nada.
- Já sei! Podemos ir ao clube – disse ela empolgada.
- Eu não sou sócio.
- Você entra como meu convidado.
- Vamos então.
- Tem piscina, e fica do lado de uma floresta. É muito legal, eu conheço um lugar no meio do mato que ninguém aparece lá – ela gosta de mar, eu também. Ela gosta de mato, eu também. O que mais essa pequena exploradora gosta hein?
- Você conhece muitos lugares secretos hein.
- Eu tenho que sair de casa para ter sossego.
- Bem, eu vou me trocar, depois eu vou com você até sua casa.
- Tá.
Eu sai da sala e fui até meu quarto. Coloquei meu calção e uma blusa. Quando passei pelo corredor vi Renata vendo TV, ela estava dormindo no sofá. Essa loirinha é foda viu. É linda na verdade, suas bochechas são tão fofas, as mãos tão delicadas.
- Ae folgada, vamos acordando que minha casa não é hotel! – eu disse batendo palmas, brincando lógico.
- Nossa, cavalheirismo não morreu hein – disse sarcástica, coçando os olhos de sono.
Saímos porta a fora, para a casa dela. Ainda estava frio, eram sete da manhã, a neblina parecia um manto sobre o condomínio. Ela subiu pela janela.
- Eu já volto – disse ela, fechando as cortinas.
Um tempo depois Renata aparece. O cabelo dela é lindo, muito lindo.
- Fica um pouco mais longe do que a praia.
- Tudo bem, eu ainda quero parar naquela padaria – pedi, abrindo o portão do prédio.
- Você é tão esquisito – ela disse, rindo.
- Você nem me conhece.
- Conheço o suficiente para dizer isso – retrucou ela.
- Não conhece nem a metade.
- Certo, vamos fazer um jogo. Cada um pergunta uma coisa que morre de curiosidade sobre a outra – explicou ela, andando devagar.
- Tudo bem. Pode começar.
- O que aconteceu com seu pai? Claro, diga se não se importar, é que você disse que não tinha pai, ele faleceu? – perguntou delicadamente, como se estivesse tratando de um assunto delicado, é, talvez ela estivesse mesmo.
- Teve uma noite que eu estava deitado na cama, me preparando para dormir, ele chegou a mim de disse: ”Filho, eu te amo muito”, como se estivesse se despedindo, ele sempre foi muito frio e dificilmente demonstrava afeto. Eu estranhei, mas simplesmente respondi que eu também o amava. E no dia seguinte eu vi a funerária levar o corpo sem vida do meu herói para um buraco no chão.
- Sinto muito.
- Já faz tempo.
- Sua vez de perguntar.
- Não tenho nada para perguntar.
- Você não tem curiosidade de nada sobre mim?
- Certo, me conte uma coisa importante na sua vida.
Eu sei, fui meio frio. Mas eu não tenho nenhuma curiosidade sobre ela, me contento sabendo que ela é meiga, engraçada, espontânea, sorridente, meio mandona e amável.
O pior de tudo é que ela percebeu minha falta de interesse sobre sua vida. Renata abaixou a cabeça e ficou quieta.
- Sabe, eu sempre gostei de ouvir sobre as férias das pessoas... Não quer me contar suas melhores férias?
- Teve uma que foi a melhor de todas. Ainda me lembro do cheiro de capim. A grama verde e recém cortada. Eu fui para a chácara da minha amiga e ela é tão caipira que chega a ser engraçado. Amamentamos os bezerros, rimos e fizemos guerra de estrume. Depois com dez graus entramos na piscina. Eu peguei um resfriado e fizemos um chocolate quente que ficou horrível – ela riu discretamente – E ela acabou pegando uma virose e ficou com diarréia. Foi a melhor semana.
- Parece divertido e meio nojento – eu sorri, fazendo uma careta.
- Foi mesmo. Conte-me umas férias legais.
Eu pensei e pensei, mas não achei nenhuma que Marina não estivesse envolvida.
- Não foi nas férias, mas foi um acampamento... Na verdade O acampamento. Nós jogamos futebol, pescamos, entramos na piscina, fomos pro meio do mato. Assamos marshmallow na fogueira, com chocolate quente e dormimos em barracas. Foi ótimo.
- Parece emocionante. Eu nunca dormi em barraca.
- O que? Está brincando?
- Não – respondeu sem graça, com um sorriso inocente.
- Vamos acampar então, eu tenho barraca. Dá para umas três pessoas. Podemos fazer uma fogueira.
Eu realmente me animei com isso.
- Claro, mas tem que ser no meio do mato.
- Sem duvida alguma! – rimos – Podemos chamar o Tiago e você chama uma amiga.
Ela abaixou um sorriso e respondeu um “ótima idéia” bem falso.
- Vou chamar minha melhor amiga... A pandinha. Ela mora lá no condomínio.
- Nunca a vi – respondi.
- Ela é legal.
- Você dorme comigo e ela com Tiago.
- Não! Eu vou dormir com ela – sorriu Renata, ficando sem graça.
- Veremos – respondi rindo.
- Não quero que ela durma com Tiago – respondeu.
Ela não queria colocar em risco o pouco de atração que Tiago sentia por ela.
- Vai demorar muito para chegar ao clube? Estou cansado.
- Para de ser chorão – respondeu me dando um toque no ombro.
- E a padaria hein? A gente passou e você nem me avisou.
- Você come lá no clube.
- Mas eu to com fome, não vou agüentar até lá!
- Você resmunga demais.
Tudo ficou em silencio, ela mexeu no cabelo, cutucou as unhas e pigarreou, mas nada quebrava o gelo.
- Qual é sua comida preferida?
- Ãn? – perguntou ela confusa.
- Qual é sua comida preferida? – perguntei novamente – E não vem falar que é suco de laranja que eu sei que você é viciada nele.
- Uau, conhece metade da minha vida agora – disse brincalhona – Eu adoro arroz e feijão. Mas é complicado, se não tiver feijão eu não como arroz, mas se não tiver arroz eu como feijão.
- Bem brasileira – eu disse, ela sorriu orgulhosa – Adoro as brasileiras.
- Realmente são muito bonitas – ela não entendeu a cantada pelo jeito.
***
- Chegamos – ela disse.
O efeito das porcarias que eu como começaram a aparecer, quando eu fiquei muito cansado de andar uns três quilômetros.
Entramos no clube, é enorme e muito chique.
- Vamos até a lanchonete.
- Até eu to com fome – informou-me Renata, tirando dinheiro do bolso.
Paramos em uma cabana de palha, como se fosse um quiosque, mas de simples não tinha nada. Era bem decorado, com um cheiro delicioso.
- O que vão querer?
- Suco de laranja – pediu Renata.
A atendente encheu um copo com um liquido laranja, colocou um canudo e passou para a loirinha.
- Vou pegar uma mesa – ela me avisou.
- Tudo bem. Vou querer um pão de queijo, achocolatado, e um misto quente.
- Já estou levando.
Sentei ao lado de Renata, não tinha mais suco nenhum dentro do copo.
- Esse é seu café da manhã? – perguntei, a garçonete chegou, com meu pedido e eu já dei uma mordida no pão de queijo.
- Na maioria das vezes – ela respondeu, dando de ombros – Quando está em casa também come bastante?
- Não tanto, mas eu não sobrevivo sem meu leite de manhã.
Ela deu uma pequena risada.
- Você é uma criançona.
- Não tive infância, fui uma criança reprimida – eu disse, sarcástico, tomando meu leite.
- Se você comer muito vamos ter que esperar umas três horas para fazer digestão – ela choramingou.
- Calma, você vai me mostrar seu lugar secreto do mato.
- É uma cabana, acho que está abandonada, mas é linda. Está mobiliada. Mas fica bem pra dentro da floresta.
- Tudo bem, eu gosto de mato.
Renata parece tão inocente, seus olhos meio azulados se perderam no mar, as mãos delicadas enrolavam nas pontas do cabelo loiro, o corpo tão chamativo, e ela tão meiga. Distraída, ela olhava pro nada
- Está olhando o que? – perguntou ela.
- No que está pensando? – perguntei de imediato.
- Na vida. Vamos pro mato.
***
A mata é bem fechada, piso em galhos secos e sem vida que consistia o chão, os troncos soltam um cheiro tão delicioso que me da fome. As folhas são tão verdes que acalmam o ambiente. O céu é quase invisível com essas arvores altas. Minha cabeça gira de prazer por esse lugar.
- Ali está à cabana.
- É tão pequena – parecia minúscula, habitada por um anão ou coisa parecida.
Aproximando-me eu pude ver o que realmente era. Tão simples. Abrimos a porta e dentro havia tudo, moveis cozinha, cama, até TV e geladeira.
- Então é pra cá que você vem se esconder do mundo?
- É – respondeu simplesmente. Ela viu meu olhar curioso em cima dos eletrônicos – A TV não funciona, não tem eletricidade.
- Posso fazer um arranjo, tipo um gato para puxar energia do clube.
- Hum, homem perigoso – brincou ela, devido ao fato de fazer o gato ser crime.
O lugar era uma sala só, com uma cama no canto, sofá e coisas em geral.
- Já estava tudo aqui quando você chegou? – perguntei, apontando os objetos.
- Não, a maioria eu trouxe como a coberta, travesseiro, jogos e outras coisas.
- Nossa, é bem aconchegante.
Esse lugar me lembrava Marina, simples e vazia.
- É mesmo, e andando mais tem tipo um muro gigante e em baixo fica o mar, como se fosse um abismo, não sei explicar direito, você tem que ver.
- Vamos lá, acho que já fez digestão.
- Não vamos entrar, só se você pular de uma altura de mais o menos dez metros, no meio ao desconhecido.
- Me leve lá.
Saímos da cabana e voltamos a andar. Chegamos a um lugar que parecia que acabava o chão. É tão esquisito, parece mesmo um abismo. A uns dez metros a baixo fica o mar. As ondas batem fortes contra a parede rochosa. O calor é tanto que mesmo sem camisa eu suo feito um búfalo.
- Gostei da idéia de entra na água – disse ela, analisando de perto o mar embaixo – Não tem pedras ali em baixo... E se eu der um impulso? – Conversava com ela mesma – Pode dar certo, estou com calor – comentou.
- Você não está pensando em pular né?
- Nós vamos pular – disse ela sorridente, tirando a blusa e ficando só de biquíni.
- Nós nada, ninguém vai pular, você vai morrer.
- Não, olha só. Não tem pedras, você sai correndo, pega impulso e tenta empurrar os pés contra a parede, assim evita de se machucar.
- Evita? – estremeci.
- Sim, vamos vai.
- Não! Eu não vou pular, é como mergulhar na morte!
- Então nos vemos no inferno – disse ela, saindo correndo e mergulhando no ar.
- Meu Deus, Renata!
Sai correndo para perto de beira, vi seu corpo cair na água e afundar, pelo menos não é raso. Sua cabeça apareceu na água.
- Vamos Igor, é maravilhoso, a água esta tão quente.
- E nossas roupas? – perguntei, tentando inventar muitas desculpas para não pular.
- Para de ser cagão. Pule seu covarde – gritava, se divertindo.
Tirei meu tênis, olhei mais uma vez para o abismo, desejando não morrer.
Fiz igual Renata mandou.
- Maluca – disse a mim mesmo enquanto sai correndo para pular.
Meu coração disparou, a adrenalina tomou conta de mim, o medo veio em primeiro lugar. Que burrada em Igor. Cai na água, afundei de imediato, e comecei a nadar para cima. Ela tem razão, é maravilhoso. O mar está delicioso, a sensação é inexplicável, foi a coisa mais maneira que eu já fiz em toda minha vida.
- Viu, nós não morremos – riu ela.
Meus pés chacoalhavam na água, lutando para me manter na superfície.
- Legal e como saímos daqui? – perguntei.
- Vamos nadar até encontrar terra firme.
- Plano legal hein – debochei.
- Então fique aqui, esperando morrer.
Ela começou a nadar e eu a segui, mas que menina determinada. Não demorou muito, achamos uma praia. Ela estava deserta, pegamos carona com uma onda e fomos levados até a areia. Ficamos deitados, recompondo o fôlego.
Ela olhou para mim, olhei para ela e rimos.
- Esse final de semana está sendo melhor que minha vida já foi um dia – eu disse, tirando a franja do olho.
Re levantou e começou a olhar em volta.
- Essa praia está deserta – observou ela.
- Porque será?
- Porque ninguém a descobriu ainda. Olhe em volta da areia, é uma mata fechada, ninguém achou esse lugar, só nós.
- Então é assim que você encontra seus lugares secretos – disse, a mim mesmo em particular.
- Esse vai ser nosso segredo, assim como o lugar dos sonhos e a cabana, não conte a ninguém sobre isso.
- Pode deixar – disse, colocando a mão na testa e me curvando, como os militares fazem a seus lideres.
- Nossa, aqui podemos ficar pelados que ninguém vai ver – disse ela.
Comecei a tirar meu calção, ela viu e virou de costas, corando. Tive que sorrir.
- O que está fazendo? – perguntou, assustada.
- Ué, você disse que poderíamos ficar pelados.
- Mas eu estou aqui, vou ver você.
- Vai nada, tampe seus olhos que eu vou pro mar, fique na areia ou longe de mim eu aconselho – disse malicioso. Sai correndo para o mar e mergulhei, sem roupa alguma.
Renata ficou na areia olhando, ela ria por algumas vezes que as ondas me engoliam. Ela se deitou para tomar um pouco de sol. Sai da água.
- Pelado passando – avisei, indo pegar meu calção que estava ao seu lado.
- Você não adora a vida? – perguntou ela, fitando o vazio enquanto eu sentava-me ao seu lado.
- Agora eu adoro – admiti.
- Posso fazer uma pergunta?
- À vontade.
- Quem é você Igor? O faz aqui em Registro? Porque é tão triste? Porque não da tanta importância para a vida?
Eu percebi que teria que dizer a verdade, porque Renata já sabia de tudo, sabia de minhas mágoas.
- Meu nome é Igor Ferreira. Eu vim para Registro porque eu queria fugir de alguém. Queria ficar longe daquela pessoa...
- Quem?
- Marina, ela foi minha namorada desde que me conheço por gente. Ela sempre parecia vazia e sem sentimentos, como se estivesse perdida no mundo. Teve um dia que ela veio me dizer que me traia e que não queria mais nada comigo. E eu amo ela muito, então fugi. Ainda sou meio triste, ela me fez de bobo, mas eu ainda queria ter-la em meus braços de noite.
- Você ainda pensa nela?
- Muito.
- Desculpe.
- Desculpe por quê?
- Por te fazer tocar nesse assunto.
- Não tem importância, ele me persegue – dei um falso sorriso – E você? Qual é seu segredo?
- Eu não tenho segredos – ela disse, sorrindo.
- Porque sua mãe te pôs de castigo? Porque ela te prende dentro de casa? – era uma coisa que eu só tinha reparado agora.
- Ela tem medo que as pessoas que me seqüestraram ainda venham atrás de mim – disse ela, olhando pro nada.
Ela já foi seqüestrada e ainda sorri.
- Você foi seqüestrada? Por quê?
- Lembra da história do truta? Ele é meu irmão mais velho, meu irmão Gabriel.
Agora eu fiquei pasmo. Eles não se parecem, se bem que eu só o vi uma vez.
- É ruim? – perguntei, tentando imaginá-la nas mãos de pessoas com más intenções.
- O que? – perguntou distraída.
- O cativeiro.
- Pior mesmo são os seqüestradores. Eles não perdoam, mesmo se for com uma criança ou uma mulher.
- Eles...
- Sim.
Preferi tirar a imagem disso da minha cabeça. Seu brilho radiante, seu sorriso contagiante se foram, eu me senti culpado.
- Então loirinha, agora eu quero ver irmos embora, como vai ser? – perguntei, cutucando sua barriga.
- Vou te fazer escalar aquela parede de pedra – disse ela, me empurrando.
- Quero ver você tentar – retruquei, fazendo cócegas nela. Renata se contorceu inteira e rolou na areia.
- Para com isso – ela se levantou e saiu correndo, fui atrás dela, mas essa garota é muito mais ativa e saudável que eu.
- Eu vou te pegar – acelerei e pulei em cima dela, caímos e saímos rolando na areia.
Eu fiquei por cima da loirinha, com uma perna de cada lado de seu corpo. Flashbacks do rosto de Marina passavam em minha cabeça.
- Igor!
- QUE? – perguntei assustado.
- Você é pesado demais!
- Você é muito fraquinha.
- Sei, vamos ver – ela me empurrou, se ergueu e foi pra cima de mim – Quem é fraquinha? – sussurrou perto da minha orelha.
- Adoro uma brasileira.
***
- Agora vou voltar para meu castigo.
- A gente se vê amanhã, pelo jeito você vai fazer meu domingo surpreendente.
- Veremos.
Ela subiu pela janela de casa, eu fui andando até a minha.
Abri a porta e estava tudo igual, e no final do dia eu sempre me sentia vazio e sozinho. É isso que eu mais temo, sozinho com minha própria mente, pois ela sempre diz: Marina, Marina, Marina e mais Marina.
O pior de tudo é que eu gosto, gosto de sofrer, gosto de perdoá-la sempre, gosto de ser traído. Por quê? Porque ela é quem eu amo, e no amor existe algum tipo de restrição ou entre linhas? Nós assinamos um contrato dizendo não perdoar caso haja traição? Não.
Vitorioso é aquele que consegue controlar a si próprio, mas eu não sei me controlar na frente de Marina.
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Espero que gostem, mande comentarios com palpites
A história com a Marina ficou mais claro agora
Beijinhos Bia