Ele é Will escrita por Laís Cahill


Capítulo 4
Desaparecido


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários no último capítulo!
Estava meio desanimada pra escrever, mas de repente eu mergulhei de cabeça na escrita novamente o.O
Aproveitem a leitura!

PS: a minha irmã fez o rascunho da imagem do capítulo, e eu passei pro digital! É assim que imagino o Dipper na minha história



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Dipper manteve as mãos firmes em cima da folha papel na superfície de vidro da copiadora. As cópias começaram a ser impressas e amontoadas na saída da máquina em instantes, o que era bem impressionante para uma máquina velha caindo aos pedaços. Todo o cuidado era pouco com essa geringonça, pois, se acidentalmente acabasse escaneando alguma parte do próprio corpo, Dipper teria de lidar com réplicas de papel de seus membros rastejando pelo escritório. Uma longa história.

— Obrigado por me ajudar, Mabel — Will disse, sorrindo. Os dois estavam sentados em cima das bancadas de madeira do lugar e ele balançava os pés inocentemente.

— Não há de quê, seu bobo — a garota respondeu em tom de brincadeira, mas logo acrescentou seriamente. — Eu sabia que os meus talentos artísticos seriam necessários um dia.

— O desenho ficou maravilhoso!

De costas, Dipper revirou os olhos com a bajulação do outro. O cartaz em suas mãos exibia os dizeres “Garoto perdido”, em letras garrafais, e, na parte de baixo, informações sobre quando Will apareceu na Cabana do Mistério, descrições da sua aparência e o telefone para contato. Bem grande, no meio, estava o desenho de Mabel, que retratava com uma fidelidade considerável o rosto do garoto hospedado. O queixo era fino como na realidade, o nariz comprido e até o cabelo estava bagunçado sobre o rosto como o dia em que ele chegou. Tá certo que o desenho estava legalzinho, mas como Mabel não percebia nada de estranho nos elogios de Will?

— Ah, eu sei, hehe — Mabel respondeu, convencida. — Mas é o mínimo que eu poderia fazer pra te ajudar.

Dipper revirou os olhos novamente. Não acreditava que aquela busca iria render frutos, e estava ajudando mais por obrigação.

Tudo estava melhor quando ele acordara naquela manhã. Os sonhos com o Estranhagedon haviam cessado. Ao invés de se revirar e ter pesadelos a noite toda, Dipper dormiu como um bebê e acordou bem disposto. Chegou a esquecer completamente do que tinha acontecido na noite anterior, e de que Mabel e ele estavam brigados.

Estava arrependido por ter sido tão impulsivo. Devia ter previsto a reação de sua irmã caso não desse certo. Bill era uma criatura muito esperta, e Dipper não conseguiria pegá-lo se não tivesse provas concretas. Era como o conselho de Soos no primeiríssimo dia do garoto na cabana: “Você precisa ter provas. Se não, ninguém vai acreditar em você”.

Dipper ficava indignado ao ver que ninguém mais suspeitava do garoto loiro. Afinal, quem garante que Will apenas não tinha fechado o olho no dia anterior e fingido que ele não abria? Com um arrepio, imaginou um olho amarelado de pupilas reptilianas debaixo do tapa-olho. Claro que Dipper não ia tentar forçá-lo a mostrar as pupilas, não sem nenhum apoio, mas devia haver outra maneira de conseguir provas.

E falando em provas, o que Dipper tinha visto mais cedo naquele dia, quando visitou o quarto de Will, era estranho, para dizer o mínimo.

 

 

 

— Will, você tá aí? Posso entrar? — perguntou Dipper antes de subir as escadas, com um tom levemente culpado. O procedimento normal seria bater na porta e esperar a resposta, mas a escadaria levava diretamente ao sótão. — Will?

O outro demorou a responder.

— Que seja.

Já pensando no que ia dizer, Dipper subiu e encontrou o sótão bastante diferente de quando tinha ajudado a arrumá-lo há alguns dias. As paredes de tábuas de madeira e vigas grosseiras continuavam lá, assim como todos os móveis. A disposição em que estavam, porém, era muito incomum. Will tinha resolvido colocar a cama no meio do quarto, encarando a parede do fundo, e o armário aos pés dela com as portas para o outro lado. O garoto, no momento, estava deitado na cama com as pernas para cima, apoiadas no armário, enquanto tentava resolver um cubo mágico que tinha achado em qualquer lugar. O modo como a luz atravessava a janela de vidro avermelhado e atingia o corpo de Will fez Dipper ter calafrios. O mosaico do vidro tinha o desenho de uma figura triangular com um olho no centro. Era assustador como aquela cabana tinha sido construída antes mesmo do tivô Ford conhecer Bill Cipher, e, no entanto, aquela figura no vitral claramente retratava o demônio. E agora Dipper desconfiava que o próprio estava usando o local como dormitório. Perturbador.

Will parou de mexer no cubo. Dipper interpretou isso como um sinal de que estava escutando e limpou a garganta.

— Ei, Will... Sinto muito pelo que aconteceu ontem. Eu... Eu não sabia pelo que você tinha passado. — Dipper coçou a nuca, desajeitado. O outro ainda não olhava para ele. — É só que... A gente já teve que enfrentar umas paradas bem sinistras por aqui, e como você chegou do nada, sem dar muitos detalhes, achei que... Que talvez tivesse vindo espiar ou coisa parecida. — Deu de ombros. — Bem estúpido, né? Foi mal.

Will voltou a mexer distraidamente no cubo mágico. Dipper se aproximou e sentou na beirada da cama, ao lado da cabeça do outro. Resolveu continuar.

— Então... Eu gostaria de algumas respostas. Você realmente não se lembra de nada da sua antiga vida? Não quero ter motivos para desconfiar de você.

O outro suspirou e finalmente deixou o cubo mágico de lado, ainda olhando para o teto.

— O que você quer que eu responda, Pines? Que eu não lembro de nada? Você não vai acreditar, mesmo.

— Certo, mas nenhum detalhe? — ele retrucou, impaciente. — Por onde você passou antes de chegar aqui na cabana? Qualquer coisa.

Will abaixou as pernas e virou o corpo, ficando de pernas cruzadas de frente para Dipper. Respirou fundo. Parecia extremamente irritado em ter de fazer isso.

— Eu acordei no meio da floresta. — Deu de ombros. — Sem roupas, sem nada. Eventualmente cheguei à cidade, mas todo mundo parecia chocado ao me ver. Uma mulher fez o maior escândalo. — Soltou uma risada sarcástica. Dipper deu um sorriso nervoso. — Até parece que eles não sabem o que tem por baixo da roupa dos outros, mas enfim... Eu tentei voltar para a floresta, mas antes uns policiais me pararam. Eles me deram aquelas roupas que eu estava usando. Até ofereceram um lugar para passar a noite, mas aquele lugar era tão deprimente que acabei voltando pra floresta. — Will analisou suas unhas por um momento. — Eu só não achava que fosse ficar tão frio à noite, o que me obrigou a procurar um abrigo que, tcharam! É aqui.

Dipper encarou o olho aparente de Will, digerindo a informação.

— Certo, e quanto àquilo que você disse, que era zoado por causa do seu outro olho? Quem fez isso?

— Ah, me esqueci de contar. — Will olhou para cima e riu, como se tivesse esquecido de propósito. — Os caras do abrigo gostavam de tirar onda com o meu olho. Aparentemente eles não têm nada melhor pra fazer naquele fim de mundo.

Os dois ficaram se encarando em silêncio por um momento.

— Isso é tudo?

— Bom, o que esperava, Pines? — O de tapa-olho deu de ombros e foi se virando de costas novamente, voltando à posição de antes. — Estou aqui faz poucos dias, não é um tempo de vida muito longo.

— Nenhuma ideia do que pode ter feito você perder a memória?

— Sei lá, talvez estivesse em uma excursão, tivesse escorregado e batido a cabeça numa pedra.

Dipper sentiu-se frustrado. Toda aquela ansiedade para nada. A história parecia fazer sentido e não havia nada pelo que pudesse acusar Will. Sem mais nada a perguntar, não lhe restou opção senão levantar.

— Tudo bem, Will. — Ele respirou fundo. — Valeu por me contar. Ficamos de boa, então?

Já distraído pelo cubo mágico novamente, o outro demorou a responder.

— Ah... claro.

Com esta resposta, o que estava claro era que nada mudaria.

Havia alguma coisa errada com aquele garoto sem memória, mas assumir que se tratava de Bill Cipher poderia ser precipitado. Talvez ele fosse algum tipo de criminoso tentando se esconder, o que era bem mais provável do que ser um triângulo demoníaco interdimensional se abrigando justo na casa dos seus inimigos. O que quer que o hóspede estivesse escondendo, Dipper iria descobrir o que era, custe o que custar.

 

 

 

E ali estava Dipper Pines, imprimindo folhetos para distribuir pela cidade, enquanto Will agia de uma maneira tão óbvia e insuportavelmente falsa com Mabel que bastaria mais um minuto daquilo para Dipper se atirar pela janela.

— Eu amei a sua blusa! É uma estrela cadente, não é? — perguntou o hóspede, muito interessado. — Todos os seus moletons são bonitos assim?

— Ah, eu também adoro esta blusa! Tenho ela desde os dez anos, mas não consigo me desfazer.

— Neste caso, posso te chamar de estrela cadente?

Mabel riu.

— Pode me chamar como quiser, Willy.

O gemido torturado de Dipper foi abafado pelo som da campainha. Mabel gritou e saltou da bancada, quase derrubando a coruja empalhada de cima dela.

— Deve ser a Candy e a Grenda! Já vai!

Will acompanhou prontamente a amiga e, como os folhetos já estavam quase prontos, Dipper logo os seguiu. Lá embaixo, Mabel já estava recebendo um abraço de urso de Grenda.

— Haha, já deu, Grenda — ela ria.

— Oi, Dipper — Candy cumprimentou, ao lado da amiga.

— Oi, garotas. — Ele acenou em resposta.

Candy foi a primeira a notar Will.

— Ei, Mabel, é esse o menino que perdeu a memória de quem você falou?

— Ah, é sim — ela respondeu ao ficar livre do abraço, e então os apresentou. — Will, essas são Candy e Grenda.

Mabel apontou para a menina baixa e asiática primeiro e depois para a grande que tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo. Will cumprimentou-as com a cabeça, sorrindo, e depois trocaram apertos de mão.

— Nós estamos torcendo pra você achar sua família, Will — disse Candy enquanto ajeitava os óculos.

Depois que o hóspede agradeceu, o foco da conversa mudou totalmente. Segundo as meninas, a piscina pública de Gravity Falls estava promovendo um luau que aconteceria dentro de alguns dias, ali mesmo, com direito a música, drinques e uma decoração de arrasar. O objetivo era arrecadar fundos para caridade, além de fazer a manutenção do local. Até mesmo Dipper ficou animado com a ideia da festa. Quem sabe Wendy e seus amigos também estivessem lá?

— Aí a gente aproveita e vê se conhece uns gatinhos, hein, Mabel? — Grenda piscou para a amiga, que negou com a cabeça.

— Haha, parece divertido, mas eu tô namorando agora, esqueceu? Aliás... — Ela cutucou a outra. — Como vão você e o Marius?

A garota enorme fez uma careta e um gesto de afastamento com uma mão.

— Nah, o Marius era muito grudento e ciumento, então resolvi terminar com ele.

Candy confirmou o que a amiga disse com a cabeça. Mabel ficou boquiaberta. Ela tinha terminado mesmo com o barão austríaco?

— Não acredito!

Num momento de silêncio, Will soltou o comentário:

— Por que a grandona tem voz de ogro?

As garotas ficaram chocadas.

— Will! — repreendeu Mabel.

— Grosso! — xingou Candy, pondo a mão no ombro da amiga que já começava a chorar.

— O quê? Só tô falando a verdade…

Grenda socou o estômago de Will com tanta força que ele fez uma careta e se dobrou de dor. Dipper não conseguiu segurar uma risada, e as meninas o encararam com raiva.

— Hã, foi mal — ele pigarreou e se ajeitou. — Não é engraçado.

Mabel tentou consertar as coisas.

— Gente, gente, pega leve com o Will, tá? Ele perdeu a memória, não falou com muita gente, ainda tá se acostumando...

— É, deve ter perdido o bom senso também — observou Candy, brava.

Mabel ignorou o comentário.

— Grenda, vamos ao banheiro.

Gentilmente, ela guiou a menina que chorava e lhe ofereceu papel higiênico. Quando voltou à sala, cruzou os braços e olhou feio para Will, que evitou contato visual. Ele já sabia o que devia fazer quando a outra voltasse do banheiro.

— Ei, Grenda... Me desculpe — Will disse quando a garota voltou com o rosto vermelho. Apesar disso, ela parecia mais brava do que triste. — Eu não achei que isso fosse magoar você.

Claramente Grenda não estava com vontade de falar com o outro, mas consentiu de leve com a cabeça e pareceu aceitar as desculpas.

— Quer dizer — Will acrescentou, com um sorriso —, claro que sua voz é incomum pra uma menina da sua idade, mas eu gosto de coisas incomuns. Elas me fazem sentir como... como se eu pertencesse a esse lugar.

As palavras de Will ecoaram na mente de Dipper. “Eu gosto de coisas incomuns, elas me fazem sentir como se pertencesse a este lugar.”.

O garoto parecia ter achado as palavras certas, pois conseguiu fazer Mabel rir e até arrancar um sorriso de Grenda. Mas, para Dipper, isso não era bom. Suas suspeitas eram mais fortes do que nunca, e Mabel parecia acreditar em qualquer coisa que Will dissesse. Precisava alertá-la antes que fosse tarde demais.

O resto do pessoal recomeçou a conversa. Sem parar pra pensar, Dipper tocou o braço de sua irmã.

— Mabel, hã, eu preciso conversar com você sobre uma coisa. Vem comigo.

Ela franziu as sobrancelhas.

— O quê? Só eu?

Dipper ignorou o olhar de Will, que o encarava.

— É. Pessoal, vocês ficam aí um pouco? A gente já volta.

E sumiu puxando o braço de Mabel antes que qualquer um tivesse chance de responder. Assim que se viram sozinhos dentro de um quartinho de limpeza minúsculo, a garota cruzou os braços.

— O que foi, Dipper?

— Mabel... Você não vê nada de estranho no jeito que o Will tá agindo? Quer dizer, elogiando você o tempo todo, tentando ser fofo?

— Eu não sei? Talvez ele seja assim comigo porque eu trato ele bem, pra variar — ela disse, ainda de braços cruzados. — E dou um tapa-olho pra ele ao invés de arrancar.

Dipper levou uma mão à testa.

— Olha, desculpa por ontem, okay? Eu sei que posso ter sido precipitado, mas mesmo assim tem algo de muito estranho nesse cara. O jeito como ele me chamou antes, pinheirinho, e como ele quer chamar você, estrela cadente, não parece familiar pra você?

Mabel deu de ombros. O garoto continuou.

— E este nome, Will? Quer dizer, só é diferente de Bill por uma letra. — Dipper teve calafrios ao pronunciar o nome. — Será que isso não é motivo o suficiente pra desconfiar? “Eu gosto de coisas estranhas, elas me fazem sentir em casa!”.

— Dipper!

— Mabel! Aquele triângulo maligno transformou a cidade inteira em pedra, depois construiu uma espécie de trono macabro com os corpos e quase matou um de nós só porque acha divertido. Eu tenho pesadelos com isso até hoje! — Dipper segurou os ombros dela, suplicante. — Eu entendo que você não quer acreditar nisso porque Will é seu amigo, mas não pode ignorar as evidências. A gente não pode correr o risco de isso acontecer de novo!

A garota olhava para o seu irmão sem acreditar. Para ela, ele soava como um maluco. Pareceu ficar um pouco triste.

— E ainda tem esse olho. O que pode ser mais suspeito do que ficar sempre cobrindo um dos olhos para uma criatura que tinha um olho só? Ele pode ter, sei lá, só fechado o olho quando eu tirei o tapa-olho e pronto! E se ele tiver voltado aqui para descobrir nossas fraquezas? Ou encontrar os diários para construir um portal de novo e voltar pra dimensão dele?

Para Mabel, essa foi a gota d’água. Ela ficou agitada e quase derrubou um balde da prateleira.

— Ah, o seu problema é com o olho dele, é isso? Há. Bem, acontece que eu sei muito mais coisa sobre o Will sendo amiga dele do que ficando de birrinha pelos cantos. — Ela cutucou o peito do irmão com o dedo.

— Fala baixo, Mabel, vão ouvir a gente! — ele sussurrou com irritação.

— Quem liga se eles vão ouvir? E se você quer tanto assim saber do olho, eu vou te dizer que eu já vi ele aberto. É um olho completamente normal que não funciona.

Dipper não soube o que responder. Sua irmã continuou.

— Agora, será que dá pra você parar com essa paranoia e pelo menos tentar ser amigo do Will por um instante?

Sem querer, Mabel esbarrou em um esfregão ao gesticular e o derrubou da parede. Dipper se encolheu com o barulho. Depois rosnou de frustração e olhou para o chão, resoluto.

— Eu não vou te convencer, né?

— Não.

Mabel encarava o irmão, inflexível.

— Eu só... Quero que você esteja certa.

Quando os gêmeos voltaram para a sala de estar, encontraram Will deitado de cabeça para baixo no crânio de dinossauro que havia ao lado da poltrona, conversando com as garotas. O grupo ficou quieto com a chegada dos gêmeos.

— Eu ouvi alguma coisa caindo. Vocês estão bem? — ele perguntou.

Os irmãos trocaram um olhar.

— Estamos, Will.


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Notas finais do capítulo

Estão do lado de Dipper ou de Mabel? Hauhsuahush
Okay, eu não vou fingir que alguém ainda está em dúvida de que é o Bill.
Tenham um bom dia ou noite, ou o que for pra vocês ;)



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